Uma espécie de blog a partir da fotografia

|[img[Saúde| ./wikiImages/ginastica.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''sem título'', Matosinhos, 2007^^//}}}}}}
Confesso que estranho este aparente consenso nacional - com excepção de umas poucas vozes isoladas - relativamente à nova lei do tabaco. Esta lei insere-se claramente numa perspectiva autoritária, em que o estado se arroga o direito de zelar à força pela nossa saúde. Não é uma iniciativa isolada, antes se enquadra num pacote de medidas alargado, de que as recentes notícias sobre o zelo da ASAE são um outro exemplo. Vão por este andar um dia proibir a carne gorda ou o chocolate nos restaurantes, começando com certeza por obrigar os supermercados e os fabricantes de chocolate a mostrar de uma forma bem visível a informação "A carne gorda engorda e mata!" e "O chocolate engorda e mata!".

Tão preocupados com a nossa saúde mas estranhamente esquecem muitos outros factores que a prejudicam bem mais do que o tabaco. E já não falo do automóvel. Bastará olhar para o crescimento sem igual de doenças do foro psiquiátrico, provocado em grande parte pelo modelo social de precarização e de stress laboral.

Deixem-me reafirmar, [[porque o fiz há um ano atrás|2007-01 - Proibido fumar]], que eu não fumo e que muitas vezes o fumo dos outros me incomoda, mas apesar disso tenho a maior das desconfianças relativamente a iniciativas legislativas que imanam de um modelo, em que se pretende impor à força um tipo de cidadão exemplar, sem vícios e, se possível, elegante, saudável e bonito. E para que não haja dúvidas até se define o que é ser elegante e bonito. É só pena termos de envelhecer. O mundo não é perfeito...

Eu que gosto de praia, de mar, de montanha, que sinto um prazer enorme em andar a pé ou num bom passeio de bicicleta, temo até deixar de gostar de o fazer, se o estado pensar um dia, em nome desta santa cruzada em nome da defesa da nossa saúde, em me obrigar a fazer uma hora de exercício físico por dia...

Tal como disse há um ano //"O que me assusta é uma sociedade onde o prazer não é valorizado. O nosso prazer e o prazer dos outros. E o seu direito a esse prazer, mesmo que faça mal à saúde..."//

E esquecemos quantas vezes na história o génio apareceu associado ao vício...

//^^Todo o prazer é um vício, porque buscar o prazer é o que todos fazem na vida, e o único vício negro é fazer o que toda a gente faz.^^//
{{indent{{{indent{//^^Fernando Pessoa^^//}}}}}}

|[img[Saúde à força| ./wikiImages/fumar3.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''sem título'', Matosinhos, Janeiro 2008^^//}}}}}}
Senti-me obrigado a regressar ao tema, [[pois nunca um tiddler meu teve tantas reacções|2008-01 - A guerra santa contra os vícios]]... A favor e contra! Volto também, porque senti que houve quem não entendesse exactamente a minha posição.

Perdoem-me para já ter de voltar a repetir pela 3ª ou 4ª vez que eu não fumo e que muitas vezes o fumo dos outros me incomoda. Prefiro normalmente locais sem fumo. Considero por isso que poderia ter sido positivo regulamentar o fumo. Concordaria com alguns aspectos desta lei. Acho no entanto que esta lei é excessiva. Por exemplo, considero que um bar deveria poder optar entre permitir ou não permitir o fumo. Eu e outros não fumadores escolheríamos onde preferiríamos ir. Acho igualmente que se não deve fumar numa sala de aula, ou por princípio em qualquer local público, que seja fechado, mas já me parece excessivo proibir o fumo dentro das escolas, mesmo no recreio, obrigando professores e alunos ao triste espectáculo da ter de vir para a rua para fumar. Quando me lembro como, antes do 25 de Abril, os estudantes do secundário só conseguiram fumar nas escolas depois de lutas prolongadas.

Mas mais grave, quanto a mim, repito é o espírito sacrossanto e puritano que entrevejo por detrás desta e de outra leis.

Podem argumentar que os fumadores podem fumar fora dos locais, onde fumar é proibido. É verdade, mas não me surpreenderia se dentro de alguns anos houvesse a tentação de ter para o tabaco uma proibição idêntica à que existe para outras drogas e eu sou favorável à legalização de todas as drogas e parece-me que só não o é quem não compreende a forma como o negócio ou a criminalidade se escondem por detrás dessa proibição, ou quem o compreende muito bem.

O Presidente da ASAE declarava numa entrevista ao Sol e cito:

"Estamos numa sociedade cada vez mais controlada e se nós não quisermos viver nesta sociedade temos hipótese de emigrar".

Claro que mal ele sabia que passados uns dias ele próprio seria controlado e apanhado a fumar no casino do Estoril, para cuja festa teria sido convidado com tudo pago. Lembram-se das suas explicações? - sem comentários

Respondeu o mesmo Presidente, depois de ter afirmado que o fumo do cigarro e das lareiras era o principal poluidor interno, quando questionado se estaria de acordo em proibir as lareiras " Porque não?" - mais uma vez sem comentários.

Disse ainda o mesmo Presidente que mais de metade dos restaurantes em Portugal poderiam ser obrigados a fechar.

Eu prefiro ir comer uma boa cabidela ao Rei dos Frangos, preparada com colher de pau pela cozinheira e dona do restaurante, numa cozinha sem linha de congelação sofisticada, a ter de comer hamburgers no ~MacDonalds, por muitas colheres de plástico que eles introduzam na cozinha. E quero continuar a ter o direito a escolher.

|bgcolor(#ffffff):[img[Objecto pousado na paisagem| ./wikiImages/objectoC.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Quinta do Mineiro, Serro, Rebordelo'', Dezembro de 2007^^//}}}}}}
Para começar o ano mais um objecto insólito pousado na paisagem, na paisagem mais bonita do mundo...

Está bem, reconheço, exagero: uma das paisagens mais bonitas do mundo...

|bgcolor(#ffffff):[img[EDP 2007| ./wikiImages/edp1.jpg]]|bgcolor(#ffffff):[img[EDP 2007| ./wikiImages/edp2.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Prémio EDP 2007'', trabalhos de Daniel Melim e Gustavo Sumpta, Central do Freixo, Porto, Dezembro de 2007^^//}}}}}}
Fui à Central do Freixo no Porto, espaço desactivado, que este ano recebe as propostas artísticas dos candidatos ao prémio EDP 2007 para jovens artistas.

Achei que deveria dar a minha opinião sobre essas propostas nesta minha espécie de blog. Bem sei que não existe a tradição de dizermos o que pensamos sobre os projectos artísticos. E isso é surpreendente para mim pois, se há área onde seria natural existir polémica a partir das diferentes opiniões expressas, essa seria a área da arte. Mas por razões, que não vou agora dissecar aqui, a arte, e em particular as artes plásticas, parecem ter criado à sua volta um ambiente asséptico, onde as polémicas, se não proibidas, são fortemente desaconselhadas.

De todos os trabalhos o que mais me agradou foi o de Daniel Melim. Poderão alguns argumentar que se trata de um projecto pouco vanguardista, já que se trata de uma proposta crua de desenho. Mas apresentar hoje, num concurso com estas características, uma proposta tão nua, baseada simplesmente no desenho, poderá corresponder porventura a uma atitude de muito maior ruptura com os valores dominantes, do que apresentar instalações, onde parece valer tudo, como é o caso do grupo Pizz Buin. Deverá com certeza ter sido divertido para as membros do grupo jogar o jogo "Que mais podemos meter aqui?" e reunir todo o tipo de tralha de casa dos pais, dos avós e dos amigos, mas temos de concluir, por mais graça que encontremos num ou noutro pormenor, que é uma proposta que nos lembra tantas outras instalações, que vimos em tantos lugares do mundo.

Um outro trabalho que me agradou, pela sua simplicidade, é a intervenção minimal numa das salas, de Gustavo Sumpta, que no entanto me parece ter sido prejudicada pelo impacto dos espaços adjacentes, destinados aos demais concorrentes. Acho também interessante o trabalho de Mónica Gomes, apesar de no plano conceptual não ser para mim inteiramente claro.

Perante os trabalhos de André Romão, de André Sousa e de Francisco Mesquita tudo o que posso fazer é roubar uma vez mais as palavras sábias de Marta Bernardes:

^^//A inteligência é a capacidade de ficar perplexo.//^^

Espero eu... Pois mesmo no circo - recorrendo à metáfora para a arte utilizada pelo trabalho de Mafalda Santos - os palhaços têm de ter graça, e os malabaristas agilidade.

Deixei propositadamente para o fim o trabalho fotográfico de André Cepeda. Confesso que é um trabalho muito frio, que me diz muito pouco. Tive por acaso a oportunidade de assistir a uma apresentação do André Cepeda no ano passado, em que ele apresentou os diferentes projectos em que se envolveu desde que começou a fotografar e a sensação clara com que fico é de que o André Cepeda poderia estar a fazer trabalhos muito mais interessantes, se porventura se libertasse da pressão, porventura inconsciente, do gosto dominante, vindo sobretudo de pessoas com formação dominante nas artes plásticas. Mas esta é apenas uma opinião de alguém que observa este trabalho de longe.

Para terminar apenas um comentário. Surpreende-me não encontrar nos seleccionados nenhuma proposta na área da arte na WEB, da arte interactiva ou da arte digital, sobretudo quando tenho tido a oportunidade de ver algumas propostas interessantes de jovens artistas, bastante mais interessantes do que outras que, apesar disso, têm uma grande visibilidade, numa grande parte dos eventos artísticos que visito. Claro que não sei se esses artistas concorreram ao prémio EDP, mas esta realidade que não acontece apenas aqui, surpreende-me.

Surpreende-me? Bem, fico perplexo.

|[img[CPF| ./wikiImages/cpf7.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''As directoras abandonam, uma após a outra, o CPF'', 2007^^//}}}}}}
Não sei se repararam numa pequena notícia esta semana que noticiava uma vez mais a substituição da Direcção do CPF. 

O Ministério da Cultura, depois de ter comunicado à antiga directora do CPF que prescindia dos seus serviços e de nomear como directora a sua substituta da área Jurídica, vem agora substitui-la pela responsável pelos Recursos Humanos. Ao que parece, a informação divulgada por alguns órgãos de comunicação social de que nenhuma das duas teria qualquer currículo na área da fotografia, não corresponde à verdade. Confirmámos que a actual directora comprou uma câmara digital e possui em casa a colecção completa dos livros de Sebastião Salgado, editados pela Caminho.

|[img[A roda| ./wikiImages/cpf8.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''A roda'', 2007^^//}}}}}}
Consta que o plano genial do MC é fazer rodar toda a estrutura do CPF, para o que terá adquirido uma roda gigante que instalou no grande largo à frente da cadeia da Relação. Há mesmo quem garanta que a grande área em empedrado de granito, construída aquando da recuperação deste espaço no âmbito das obras da Porto 2001, já foi pensada com este objectivo, o que contraria em absoluta a propalada falta de visão  dos nossos políticos. Quando chegar ao fim da estrutura, com a nomeação do porteiro como director do CPF, então o MC decide-se por encerrar a instituição, tendo dado a todos a oportunidade de dirigir a instituição. 

Há mesmo quem tenha sugerido adquirir uma roda gigante idêntica, para colocar à porta do Ministério da Cultura...

De acordo com fontes do ministério não existe ainda uma decisão final entre reabrir a cadeia - são conhecidas as carências em área prisional em Portugal - ou subalugar o espaço. Sabemos que tem havido muitos pedidos, vindos de um número fantástico de novas empresas de consultoria, na área da engenharia e segurança alimentar, que têm surgido para preparar os restaurantes e congéneres para as fiscalizações da ASAE.

{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{Ó meu rico S. João ó meu santo milagreiro querem matar o Bolhão só por causa do dinheiro.}}}}}}}}}}}}
|[img[Bolhão| ./wikiImages/bolhao.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Alternativa para o Bolhão?'', Porto, Fevereiro 2008^^//}}}}}}
Já há muito que não entrava no mercado do Bolhão. Há alguns anos, quando trabalhava na Baixa, visitava-o algumas vezes. No último sábado, no contexto da contestação aos planos da CMP para o Bolhão, decidi visitar o velho mercado, para fazer algumas fotografias. As pequenas conversas que mantive com algumas pessoas que lá trabalham foram suficientes para perceber pelo menos duas coisas: elas não sabem bem o que os espera - têm sido mantidas à margem de todo este processo - e não são favoráveis a muitas das mudanças que parecem estar planeadas.

Não conheço o projecto previsto para o local. Apenas o que tenho lido e ouvido, e sobretudo tudo o que vi ser feito nesta cidade e neste país ao longo dos anos, me deixa de pé atrás. Como não conheço o projecto não vou falar sobre ele, pois não gosto de falar do que não sei. Gostaria sim de me pronunciar sobre algumas críticas que têm sido feitas, de diversos quadrantes, às pessoas envolvidas nesta contestação.

Afirma-se que os portugueses contestam todas as propostas e se opõem a qualquer medida que pretenda mudar o que quer que seja. Que é assim o português e também o povo do Porto. Reivindicam mudanças e depois rejeitam-nas liminarmente. A todas. Não pretendo contestar poder ser essa uma característica de muitos portugueses. Estar sempre pronto a dizer mal e a criticar. Poderia até acrescentar que das duas uma, ou se diz mal, mas não se está disposto a ir mais longe, ou se deixa andar, porque se acha que elegemos as pessoas para decidir por nós. Mas ser consequente, intervir, lutar se for necessário, muito poucas vezes estamos dispostos a fazê-lo, porque fazê-lo dá trabalho e preferimos o conforto do sofá à frente da TV. Mas neste caso, as pessoas que contestam o projecto para o Bolhão lançaram um movimento, iniciaram uma petição, já com mais de 50000 assinaturas, têm-se multiplicado em iniciativas, reunem-se no mercado todos os sábados, para questionar se a proposta da CMP é a melhor para a cidade e para o país. Podem ter ou não ter toda a razão, mas esta crítica é absurda. Aliás, se a aceitássemos, deixaríamos pura e simplesmente de poder criticar o que quer que seja.

Afirma-se que o mercado necessita de intervenção e que os contestatários não têm uma verdadeira alternativa para o Bolhão. Chega-se a perguntar onde irão os contestatários buscar o dinheiro para reabilitar o Bolhão. Que o mercado necessita de intervenção é evidente para quem o visita. A degradação a que o deixaram chegar é criminosa. Mas as pessoas que contestam o projecto não têm de apresentar uma alternativa acabada. Não se trata de um consórcio a responder a um concurso. Alternativas existem com certeza, pois há sempre alternativas para tudo. E todas as alternativas implicam compromissos e cedências. Há que analisar qual delas é a melhor para a cidade do Porto.

Afirma-se que os contestatários estiveram calados durante anos e só agora, que se pretende solucionar o problema, vêm contestar. Poderão ter razão em que os portuenses estão calados há demasiado tempo, mas mais uma razão para pretenderem discutir agora o projecto pata o Bolhão. Porque mais vale tarde do que nunca.

Ou seja, todas as críticas parecem não ser minimamente fundamentadas.

   
^^{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{''Olha o animal''<br><br>nem sempre é fácil<br> olhar o animal<br>mesmo que ele te olhe<br>sem medo ou ódio<br>fá-lo tão fixamente<br>que parece desdenhar<br>o seu subtil segredo<br>parece ser melhor sentir<br>a evidência do mundo<br>que noite e dia ruidosamente<br>perfura e corrói<br>o silêncio da alma<br><br>//Jean Folllain (Trad. Jorge Sousa Braga)//}}}}}}}}}}}}}}}^^

|[img[Enchidos| ./wikiImages/porcos6.jpg]]|[img[Enchidos| ./wikiImages/porcos2.jpg]]|
|[img[Enchidos| ./wikiImages/porcos5.jpg]]|[img[Enchidos| ./wikiImages/porcos3.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Enchidos transmontanos'', ~Trás-os-Montes, Fevereiro 2008^^//}}}}}}
Queria homenagear o porco, nesta espécie de blog. Sim, porque se há um fiel amigo, amigo de sempre, amigo pronto a dar a vida por nós, não é o bacalhau, como nos pretenderam fazer crer, mas o porco. O bacalhau foi amigo recente e amigo de pouca dura. 

Para homenagear o porco fui de imediato ao Bestiário Poético ''Animal animal'', organizado pelo Jorge Sousa Braga, à procura de uma ode a este animal, mas nada. O livro é uma autêntica arca de Noé, mas falta o porco. Quero por isso lavrar aqui o meu protesto. Poemas ao cão, à vaca, ao touro e ao burro, até acho bem... Poema à borboleta, que como se sabe é capaz de, com um bater de asas, transformar um dia de sol numa tempestade medonha, ainda vá... Mas poemas ao pinguim, ao escaravelho, à medusa e depois esquecer o porco... Bem sei, Jorge, o que com certeza me vais responder. Que procuraste por todo o lado, até debaixo dos nenúfares, e não encontraste. Que tu, que nasceste no alto Minho, quase transmontano portanto, também gostas muito do porco, mas não encontraste nenhum poeta que lhe tenha dedicado um poema. Bem sei também que os homens são uns ingratos e preferem glorificar a pantera ou o urso, a reconhecer o que devem ao porco. Depois de tudo o que o porco por eles fez, esquecem-no, na hora de escrever poemas. Desculpa lá Jorge, mas todas essas desculpas, sendo verdadeiras, não me convencem. Se não encontraste, escrevias tu, ou como último recurso "enganavas-te" na tradução e no poema ''Olha animal'' traduzias animal por porco e estava solucionado o problema. Porque o porco também tem alma, como dizem os japoneses...

^^Tudo isto a propósito de uma visita que fiz a uma pequena unidade industrial de tipo familiar, de enchidos tradicionais, em ~Trás-os-Montes. Não é fácil antever o futuro de regiões como ~Trás-os-Montes. De facto, a médio, longo prazo não me parece sustentável um modelo que já hoje vemos a definhar, assente exclusivamente em serviços, e porventura nalgum turismo, que no entanto só será viável em regiões bastante delimitadas, de natureza mais protegida e mais selvagem. Os enchidos tradicionais parecem ser uma das poucas actividades com hipótese de sucesso. Podemos ainda/já encontrar três tipos distintos: enchidos tradicionais, caseiros, produzidos ainda como se produziam há anos atrás, e vendidos apenas a quem conhece a velha senhora que os produz, pois produz um pouco mais do que as necessidades de consumo da família; enchidos produzidos em pequenas unidades familiares, como a que visitei, que introduziram já algumas modificações de tipo industrial, mas que mantêm em grande parte o fabrico tradicional; e por último verdadeiras unidades industriais, de tamanho pequeno e médio, a produzir em grandes quantidades e, como é óbvio, não garantindo a qualidade gastronómica das primeiras nem das segundas.^^

|[img[Indícios| ./wikiImages/ppoa.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Indícios'', Matosinhos, 2007^^//}}}}}}

Uma das características inerentes ao processo fotográfico é a sua natureza vestigial. Esta característica tem sido o epicentro de muita discussão e de muita conceptualização. Os vestígios que a fotografia da praia de Matosinhos evidencia sugeriram-me o diálogo seguinte entre o senhor X e o senhor Y.

X - As marcas dos pneus na areia indiciam com clareza que um jeep passou por aqui.
Y - Isso são suspeitas sem provas. Quem faz estas afirmações tem de apresentar provas do que afirma.
X - Não me compete a mim investigar que carro foi. Só afirmo que se há rastro de pneus, houve um carro que passou por aqui.
Y - Que se apresentem provas. Sem provas são atoardas!
X - Que querem que eu diga? O modelo do jeep? A cor? Se o condutor usava relógio no pulso esquerdo. De que marca? Até sou capaz de afirmar, que se diz por aí, que o dono desse jeep toma café todos os dias de manhã num bar junto à praia.
Y - Provas! Provas! Ele que apresente provas! 

Nota: o jeep continua todos os dias a passear ao longo do areal.

^^Para o António Marinho Pinto, presidente da ordem dos advogados, pela coragem que tem demonstrado de dizer em voz alta aquilo que tantos dizem em voz baixa e que todos sabem que é verdade...^^

|[img[Indícios| ./wikiImages/carnaval.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Carnaval'', Porto, Carnaval 2008^^//}}}}}}

Gosto de um bom espectáculo, de um bom divertimento e acho graça a alguns aspectos do Carnaval, ainda que não me possam considerar como um grande entusiasta das brincadeiras carnavalescas. Mas cada coisa no seu lugar. 

Hoje confrontamo-nos frequentemente, quando visitamos instituições ligadas à arte contemporânea, com duas situações, à primeira vista opostas. Ou encaramos com projectos artísticos que estamos fartos de ver em todo o lado e que muitas vezes valem mais pelo que se escreve acerca deles do que pelo que realmente nos mostram, ou oferecem-nos projectos onde sobressai a multiplicidade e a grandiosidade de meios, projectos espectáculo, verdadeiros carnavais de cor, de imagem e de som, muitas vezes designados por projectos multimédia. 

No âmbito de uma formação nesta área ajudei a construir um site chamado ''[[Noves Fora Nada|http://www.dznpuro.com/novesforanada]]'', que pretende, pelo absurdo e pelo nonsense de histórias inventadas do Sr. Valéry, que uma vez mais roubei ao Gonçalo M. Tavares, propiciar alguma reflexão sobre o que afinal são, ou podem ser, os projectos multimédia.

^^{{indent{{{indent{Ponha aqui o seu pezinho
devagar, devagarinho
como fora Cinderela

Tem sandália, tem botim
em couro e em cetim
para a mais bela donzela}}}}}}^^

|[img[Cinderelas do Alendouro| ./wikiImages/feira2.jpg]]|[img[Cinderelas do Alendouro| ./wikiImages/feira1.jpg]]|
|[img[Cinderelas do Alendouro| ./wikiImages/feira4.jpg]]|[img[Cinderelas do Alendouro| ./wikiImages/feira3.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Cinderelas do Alendouro'', Rebordelo, Março 2008^^//}}}}}}
Regresso ao Portugal da [[Feira Cabisbaixa|2007-10 - Feira cabisbaixa]] do Alexandre O'Neill, neste cenário onde os sapatinhos alinhados, pousados na paisagem transmontana parecem esperar por Cinderelas à procura de um príncipe encantado...

^^Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.
{{indent{{{indent{//Bertolt Brecht//}}}}}}^^

|[img[Design| ./wikiImages/florestaDesign.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Consensual'', em //Floresta Gráfica//, Porto, Março 2008^^//}}}}}}

Este poema do Brecht foi-me sugerido pela discussão que hoje se trava em torno da necessidade da avaliação do desempenho em todas as áreas profissionais, e em particular dos professores.

Num plano abstracto, tenho visto toda a gente defender a necessidade dessa avaliação. Eu incluir-me-ia nesse grupo.

No entanto muitas interrogações se podem colocar. Desconfiai sempre do parece ser natural e consensual...

Começo por afirmar que tive uma experiência longa com um sistema desses e que fui obrigado a constatar que era um sistema pesado e que conduzia a resultados injustos e incorrectos, de que a própria administração se não servia, quando queria, por exemplo, distribuir prémios aos colaboradores. No entanto, o sistema não só se mantinha, como tinha tendência a crescer e a complicar de ano para ano. Tenho falado com muitas pessoas de outras empresas que me contam histórias parecidas. Curiosamente, muitos modelos são construídos de tal forma que, no fim do processo, não existem responsáveis por essa avaliação. Um dos factores, por exemplo, que contribui para esta completa desresponsabilização nos resultados é a avaliação subordinada a quotas. Encontramos outros parâmetros, muitas vezes de carácter pretensamente objectivo, muitas vezes de uma arbitrariedade total, que contribuem também para essa diluição de responsabilidade. E no entanto não pareceria ser difícil. Todos nós passámos por escolas e todos nós sabíamos quem eram os bons e quem eram os maus professores. Quase sempre nas empresas se sabe quem são os bons e os maus trabalhadores e no entanto não se consegue implementar um modelo simples para explicitar esse conhecimento tácito. É estranho não é?

Gostaria de acabar com uma certeza que tenho hoje, apesar de saber que pode corresponder a algo de politicamente muito incorrecto nos tempos que correm. ''É preferível não haver nenhum sistema de avaliação, a haver um sistema injusto e incredível.'' De facto, é melhor um sistema onde todos evoluem na carreira, em função apenas do tempo, deixando à consciência de cada um a forma como exerce a sua profissão, apesar da injustiça que tal sistema comporta, do que um sistema onde a progressão possa depender da relação pessoal com a chefia, ou até do partido a que se pertence, onde em vez da consciência de cada um está em causa a sua venda a retalho.

|[img[Tempête| ./wikiImages/tempeteF.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Tempête'', Matosinhos, Fevereiro 2008^^//}}}}}}
Voltar a velhos temas é como regressar à casa onde nascemos ou onde crescemos; ajuda-nos a acreditar(enganar?) que somos os mesmos...

|[img[No meu país o céu é azul| ./wikiImages/azul3.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''No meu país o céu é azul'', Porto, Março 2008^^//}}}}}}
^^{{indent{{{indent{O meu país sabe as amoras bravas
no verão. 
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul<br>
{{indent{{{indent{//Sophia Mello Breyner Andresen//}}}}}}}}}}}}^^

No meu pais o céu é azul, o mar é azul, os teus olhos são azuis, mas isso já não me chega...

|bgcolor(#ffffff):[img[Sala de estar| ./wikiImages/tv.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Sala de estar'', Porto, Janeiro 2008^^//}}}}}}
Chegamos a casa e sentamo-nos em frente ao aparelho de televisão para sabermos o que acontece no nosso país. O governo faz as reformas necessárias, a oposição reclama e afirma que fazia melhor, os professores protestam porque não querem trabalhar mais, o Scolari escolhe os melhores para a selecção, e o resto não acontece...

|bgcolor(#ffffff):[img[Livro de contas|./wikiImages/aritmetica.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Livro de contas'', Armazéns Gonçalves, Monteiro&Cª Lda, Porto, Abril 2008^^//}}}}}}
A aritmética da vida é feita de adições e de subtracções. Raramente acontecem multiplicações ou divisões, se é que alguma vez acontecem. Muito menos raízes quadradas, ou cúbicas, potências ou exponenciais... Haverá quem queira fazer bazófia e afirme que lhe aconteceu, até que lhe acontece todos os dias, mas é por certo mentira. As adições e subtracções já são mais do que suficientes para tornar a vida complexa.

Na vida adicionamos memórias e subtraímos tempo, mas o resultado desta conta nunca é exacto, pois o que adicionámos e o que subtraímos nunca é igual. Ao fazermos a prova dos nove da vida, o resultado quase sempre é negativo: errámos nas contas. Mas, surpreendentemente, nalguns casos, a prova dá certa e assim somos enganados e pensamos que a nossa vida está certa. É fácil perceber porquê. Se em vez de 22 eu obtiver 31, por exemplo como resultado do cálculo, a prova dos nove dá o mesmo resultado, 4, apesar do erro ser enorme. Se pensarmos, observamos que a probabilidade de uma conta errada ter como resultado uma prova dos nove positiva é de cerca de 11%, pois um em cada nove resultados errados conduz a um resultado por certo errado, mas com a prova dos nove certa. É portanto exactamente esta a probabilidade de uma pessoa acreditar que tem uma vida certa e de ser feliz: 11%. Não é nada mau se compararmos com a probabilidade ter acertar no totoloto ou na lotaria. A prova dos nove da aritmética vida é falível e ainda bem que o é.

QED.

^^Nota: fiz a fotografia numa visita a um dos últimos e resistentes armazéns de tecidos para grossistas, a convite do meu amigo e fotógrafo Mário Jorge Pedra. Fica na R. Passos Manuel no Porto e vai fechar a curto prazo, porque o prédio vai ser vendido. Lá dentro pesam as memórias e escapa tempo. Fiz a prova dos nove e a conta estava errada.^^

^^{{indent{{{indent{O futuro é o passado que amanhece}}}}}}^^
^^{{indent{{{indent{{{indent{//Teixeira de Pascoais//}}}}}}}}}^^
|bgcolor(#ffffff):[img[Caminho para o futuro|./wikiImages/futuro.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Caminho para o futuro'', FEUP, Abril 2008^^//}}}}}}

^^{{indent{{{indent{O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento}}}}}}^^
^^{{indent{{{indent{{{indent{//Sophia Mello Breyner Andresen//}}}}}}}}}^^
|bgcolor(#aaaaaa):[img[Metro Porto|./wikiImages/metro.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''O poema habitará'', Metro do Porto, S, Bento, Março 2008^^//}}}}}}

No século XXI, as grandes catedrais da Idade Média ou do Renascimento, ou os palácios dos grandes senhores do passado, foram substituídos, em grande medida, como obras civilizacionais, por aeroportos ou por grandes estações. Mas até aí a poesia habitará...

{{indent{{{indent{^^
Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.^^}}}}}}

{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{^^//Sophia Mello Breyner Andresen//^^}}}}}}}}}}}}

|bgcolor(#ffffff):[img[1º dia, 25+1 de Abril|./wikiImages/renata1.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, "1º dia, 25+1 de Abril", 25+1 de Abril 2008^^//}}}}}}

{{indent{{{indent{//^^
Mais do que uma vez
atravessei a primavera
com os ohos fechados

in ''Fogo sobre Fogo'' de Jorge Sousa Braga^^//}}}}}}

|bgcolor(#ffffff):[img[primavera 2008|./wikiImages/primavera2008.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Primavera 2008'', Rebordelo, Serro, Abril 2008^^//}}}}}}

porque aprendi que o que é realmente importante se não vê com os olhos, mas com o coração...

{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{//^^Para a Ana Luísa Amaral (pela paciência com que pedala ao nosso lado)^^//}}}}}}}}}}}}

{{indent{{{indent{^^Lá vai a bicicleta do poeta em direcção
ao símbolo, por um dia de Verão
exemplar. De pulmões às costas e bico
no ar, o poeta pernalta dá à pata
nos pedais. Uma grande memória, os sinais
dos dias sobrenaturais e a história
secreta da bicicleta. O símbolo é simples.
Os êmbolos do coração ao ritmo dos pedais
lá vai o poeta em direcção aos seus
sinais. Dá à pata
como os outros animais. 

O sol é branco, as flores legítimas, o amor
confuso. A vida é para sempre tenebrosa.
Entre as rimas e o supor, aparece e desaparece
uma rosa. No dia de Verão,
violenta, a fantasia esquece. Entre
o nascimento e a morte, o movimento da rosa floresce
sabiamente. E a bicicleta ultrapassa
o milagre. O poeta aperta o volante e derrapa
no instante da graça.
De pulmões às costas, a vida é para sempre
tenebrosa. A pata do poeta
mal ousa pedalar. No meio do ar
distrai-se a flor perdida. A vida é curta.
Puta de vida subdesenvolvida.

O bico do poeta corre os pontos cardeais.
O sol é branco, o campo plano, a morte
certa. Não há sombra de sinais.
E o poeta dá à pata como os outros animais.

Se a noite cai agora sobre a rosa passada,
e o dia de Verão se recolhe
ao seu nada, e a única direcção é a própria noite
achada? De pulmões às costas, a vida
é tenebrosa. Morte é transfiguração,
pela imagem de uma rosa. E o poeta pernalta
de rosa interior dá à pata nos pedais
da confusão do amor.
Pela noite secreta dos caminhos iguais,
O poeta dá à pata como os outros animais. 

Se o sul é para trás e o norte é para o lado, é para sempre a morte.
Agarrado ao volante e pulmões às costas 

com um pneu furado,
o poeta pedala o coração transfigurado.
Na memória mais antiga a direcção da morte
é a mesma do amor. E o poeta,
afinal mais mortal do que os outros animais,
dá à pata nos pedais para um Verão interior. ^^}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{^^// Herberto Helder//^^}}}}}}}}}}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[1º dia, 25+1 de Abril|./wikiImages/bicicletaHH.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, "A bicicleta", 2006^^//}}}}}}

É difícil pedalar a poesia, sem corrermos o risco imenso de nos afogarmos...

|bgcolor(#ffffff):[img[Dar com os pés na arte|./wikiImages/gulbenkian.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Dar com os pés na arte'', a partir de Come and Go de Laurent Grasso, Fiction and Reality, ~CAM-Gulbenkian, Maio 2008^^//}}}}}}
Alguns teóricos da nossa praça continuam a propagar a ideia de que arte é tudo aquilo que um artista diz que é arte. Esta ideia-panaceia poderá à primeira análise parecer brilhante a quem ande distraído, um ovo de Colombo capaz de resolver um problema milenar, que deixou sem sono tantos filósofos, pelo menos desde o tempo da Grécia Clássica, que se saiba.

Eu pretendo afirmar aqui, com convicção, que tal não é verdade. Porque a arte é sim aquilo que um (não) artista é capaz de dizer que não é arte, aquilo que ele é capaz de desprezar, de pisar, de denegrir, de pontapear. Não há na história arte verdadeira, a quem os não artistas e tantos artistas de gabarito não tenham dado com os pés...

  
{{indent{{{indent{
^^Vende-se tudo
tudo, tudo
tudo, tudo
a cinquenta

Pintura, 
poema,
censura
Tudo, tudo
a cinquenta

Afecto, 
esquema,
decreto
Tudo, tudo
a cinquenta

Máscara de Entrudo
desculpa p’ra cornudo
Tudo, tudo
a cinquenta

E pior ‘inda que tudo
é que tal ‘inda me tenta
e eu ainda me junto
a tudo, tudo
tudo, tudo
tudo, tudo
a cinquenta^^}}}}}}

|bgcolor(#ffffff):[img[Tudo a 50|./wikiImages/cinquenta.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, "Tudo a 50", 2007^^//}}}}}}

|bgcolor(#ffffff):[img[Arte é|./wikiImages/lucioFontana1.jpg]]|[img[Arte é|./wikiImages/lucioFontana.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Arte é'', a partir de obra Luciano Fontana, Colecção Berardo, CCB Maio 2008^^//}}}}}}

Alguns amigos têm-me falado desolados. "Se já não podemos confiar nas palavra de um artista e dessa forma ter a certeza acerca da arte, o que fazer?", perguntam-me eles. Eu, desolado, mostro-me compreensivo com esta tendência para encontrar fórmulas milagrosas para resolver as nossas questões e para não termos de pensar. Nós gostamos de ter uma vida reduzida a fórmulas ainda que contraditoriamente, tantas vezes, manifestemos uma enorme tendência para a complicar.

Insistem, não satisfeitos. "Afinal o que fazer?" Eu, obrigado a responder, dou-lhes por fim um critério infalível. 

Uma obra é uma obra de arte, se sentirmos uma atracção irresistível a entrar para dentro dela. E depois de entramos, chamamos muitas vezes mais gente. Todos os que estão à nossa volta. As obras de arte são como as sereias. Somos atraídos. Por vezes comem-nos. São canibais. 

Não sei se os convenci...

^^A propósito, este ano não visitei a festa de Serralves. Não posso pois falar sobre ela, mas o que me chamou a atenção foram os cabeçalhos e as notícias de todos os jornais. "Serralves bate recorde de visitantes". "Mais de 80000 visitantes este ano". Nem uma palavra sobre a qualidade dos projectos. Fico sem saber, se tal como a ano passado, mais uma vez, se assistiu a um grande número de espectáculos de qualidade no mínimo duvidosa, misturados com propostas verdadeiramente interessantes, para encher as 40 horas e para entreter os visitantes. Não sei se assim foi e os jornais nada me dizem, mas dizem que esteve lá muita gente. Já agora, as beiras das estradas em Portugal e na Suiça também se encheram de gente, para ver passar o autocarro da selecção.^^

|bgcolor(#ffffff):[img[ Nem sempre o corpo se parece com um bosque|./wikiImages/floresta.jpg]]|{{indent{Nem sempre o corpo se parece com<br>um bosque, nem sempre o sol<br>atravessa o vidro,<br>ou um melro canta na neve.<br>Há um modo de olhar vindo<br>do deserto,<br>mirrado sopro de folhas,<br>de lábios, digo.}}}<br><br>{{indent{^^//Eugénio de Andrade, O Peso da Sombra//^^}}}|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, '' Nem sempre o corpo se parece com um bosque'', a caminho de Stralsund, Alemanha, Julho 2008^^//}}}}}}
Há um encantamento, uma magia, nas florestas do Norte, que não encontro por cá.

|bgcolor(#ffffff):[img[País de névoa e de não-ser|./wikiImages/nevoa.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''País de névoa e de não-ser'',  Afife, Julho 2008^^//}}}}}}

{{indent{{{indent{
^^E tenho de partir para saber
Quem sou, para saber qual é o nome
Do profundo existir que me consome
Neste país de névoa e de não-ser^^}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{//^^Sohia Mello Breyner Andresen "Há cidades acesas" ^^//}}}}}}}}}

|bgcolor(#ffffff):[img[Paisagem proibida a objectos insólitos|./wikiImages/proibido.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Paisagem proibida a objectos insólitos'',  Koenigstuhl, ilha de Ruegen, Alemanha, Julho 2008^^//}}}}}}

E os objectos insólitos rodopiam à volta da minha cabeça e não conseguem pousar...

|bgcolor(#ffffff):[img[Peter Pan|./wikiImages/peterPan.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Peter Pan'', Stralsund, Alemanha, Julho 2008^^//}}}}}}
Lembro-me de ter escrito este texto sobre o Peter Pan há bastantes anos, depois de reler o livro de J. M. Barrie. A minha ideia era então, recordo, escrever uma série de pequenos textos, dedicados ao Peter e à infância que, contra tudo e contra todos, permanece dentro de nós. Já não sei porquê mas acabei por ficar só pelo primeiro texto, que me voltou à memória agora, quando fiz esta fotografia no Norte da Alemanha, perto de Stralsund, que poderia ter sido mais um objecto insólito pousado na paisagem.

Hesitei depois em colocar o texto aqui, nesta "espécie de blog", pois é um pouco mais longo do que os limites por mim próprio impostos, mas ele olhou para mim, triste por voltar à gaveta escura, e eu condescendi.

PS - Frau Luna não sei quem é. Hoje à noite vou abrir a janela do quarto e esperar por Peter para lhe perguntar...

^^''A visita de Peter''

Abri os olhos devagar. Pareceu-me ver um reflexo junto à janela. Pensei tratar-se de um reflexo de uma luz vinda da rua. Mas o reflexo movia-se e começou a aproximar-se da cama. Comecei a ouvir um ligeiro tilintar que aumentou à medida que a luz se aproximava. Finalmente parou. Esfreguei os olhos. No ar, a flutuar à frente do meu nariz, estava um pequeno ser alado com formas de mulher. Suspirei de alívio: estava a sonhar. Depois ocorreu-me que quando se sonha não se suspira de alívio, pois não acreditamos estar a sonhar. Belisquei-me com demasiada força e gritei. A fada, pois de uma fada se tratava, surpreendida, bateu as asas e afastou-se cerca de um metro. Eu queria falar mas não sabia o que dizer. Comecei por uma pergunta óbvia:
- Quem és tu?
Ela aproximou-se novamente e sussurrou:
- Sou a Sininho. Não me reconheceste?
- A Sininho?...
- Claro, a Sininho. A companheira do Peter. Lembras-te daquela vez em que me escondeste dos piratas no bolso de trás das calças. Tinha perdido o meu poder de voar. Os piratas não me encontraram pois não sabiam que as tuas calças tinham bolsos atrás. Bem se fartaram de te revistar. Lembras-te? Até te obrigaram a despir. Depois prenderam-te a uma árvore, mas eu durante a noite libertei-te.
Ia continuar a contar a história mas eu, que não estava a perceber nada, sacudi a cabeça e interrompi-a:
- E o Peter onde está?
- Vem aí, como te prometeu.
- Prometeu?
- Claro. Prometeu-te ontem que viria, e deve estar a chegar.
Ouvi pancadas no vidro da janela.
- Olha aí está ele - disse a fada.
Dirigi-me à janela. Do lado de fora, Peter acenou-me. Não conseguia entrar porque a janela só tinha uma estreita frincha aberta, por onde Sininho entrara. Abri a janela. Peter entrou, rodopiou no ar e aterrou em cima da cama. Começou a pular. Dava voltas e reviravoltas e pinchava no colchão. Mandei-o parar.
- Está bem, é a tua vez - respondeu-me, e saiu da cama para o sofá.
Começou de novo a saltar. Mandei-o de novo parar. Peter olhou para mim surpreendido:
- Queres brincar a outra coisa? - perguntou-me.
- Não. São três da manhã. Preciso de dormir. Amanhã cedo vou trabalhar.
- Trabalhar? Para quê? - perguntou-me Peter, mas depressa pareceu esquecer a pergunta e recomeçou a pinchar no sofá e a fazer acrobacias no ar.
- Pára Peter! Já te disse que preciso de dormir para amanhã cedo trabalhar!
Peter olhou-me muito sério, como se só agora tivesse realmente compreendido o que eu lhe dissera e de novo perguntou:
- Para quê?
- Ao trabalhar participo no esforço colectivo e contribuo com a minha parcela para o bem estar comum. Numa sociedade cada qual tem de contribuir com o seu trabalho.
Peter arregalou os olhos, desceu do sofá, aproximou-se de mim e perguntou-me:
- Sentes-te feliz quando trabalhas?
- Bem... Nem sempre... Tento conciliar...
Mas ele não deixou que eu terminasse:
- Queres vir comigo para a Terra do Nunca? Lá não precisamos trabalhar. Brincamos, e só quando nos apetece - olhou-me fixamente, à espera de uma resposta.
- Terra do Nunca? - voltei a ter a sensação de estar a sonhar. Belisquei-me de novo, mas desta vez com mais cuidado, para não doer. Senti os meus dedos apertar o músculo da nádega, mas não gritei.
- Claro, para a Terra do Nunca. Eu bem te avisei que irias arrepender de voltar. Ontem tinhas muito melhor ar. Tens ar de cansado, não queres brincar! Estás mesmo esquisito!
Fiz um esforço tremendo para me lembrar, pois no fundo queria acreditar que tinha estado na Terra do Nunca, que tinha tido mil aventuras com Peter e Sininho, mas dentro da minha cabeça existia apenas um vazio que doía.
- Vens ou não vens? Eu disse-te ontem que te viria buscar, e vim - disse Peter.
Cada vez que ouvia Peter referir-se a ontem convencia-me que se tratava de facto de um sonho. Ontem tinha trabalhado todo o dia, como sempre fazia, tinha voltado para casa, visto um pouco de televisão e vindo para a cama. Tinha adormecido até Sininho me acordar. Nessa altura eu ainda não compreendia que o tempo era uma realidade diferente para Peter, nem menos nem mais correcta, apenas diferente. Cada qual vive dentro do seu tempo, Peter vive dentro do seu.
- Vens? Nós temos de partir. Temos marcada uma corrida com os peles-vermelhas para amanhã de manhã. Não podemos chegar atrasados.
- Se eu for, consigo voar como tu?
- Claro, não te lembras? Na Terra do Nunca todos voamos. Basta pensar em coisas boas. Com a ajuda do pó da Sininho é canja!
Peter subiu novamente para o sofá e recomeçou a brincadeira dos saltos.
Tive medo de continuar aquele sonho. Queria dormir descansado. Queria que o Peter fosse embora e me não contasse mais nada sobre a Terra do Nunca.
- Não, não vou! Não posso! Podes sair? Preciso dormir!
- Está bem. Volto amanhã. Vamos Sininho!

Saíram pela janela.
Voltei para a cama. Custou-me muito a voltar a adormecer. Pensei num texto que tinha lido há muito tempo sobre uma árvore que queria transformar-se em pássaro e voar! Rodopiei nos lençóis e acabei por dormir. Não sonhei.
…
No dia seguinte fui para a cama cedo. Certifiquei-me que a janela estava bem fechada pois queria dormir toda a noite sossegado. Bem sei que era uma estupidez, mas foi mais forte do que eu e tranquei a janela! ^^

Regresso às palavras e às imagens como quem regressa ao lar depois de uma viagem. Sinto-me perdido nos corredores da minha própria casa.

|bgcolor(#ffffff):[img[transparência|./wikiImages/transparente.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''transparência'', Matosinhos, Julho 2008^^//}}}}}}
Talvez a melhor forma de medir uma democracia seja medir a transparência das instituições. Em Portugal preza-se muito a confidencialidade e muito pouco a transparência. O governo, as autarquias, os serviços públicos fecham-se em copas. Não se conhecem os contratos com consultoras e assessores. Não se sabe o que se gasta e como se gasta. Se pensarmos um pouco, por exemplo sobre o projecto do novo aeroporto de Lisboa e do TGV, sobre o que aconteceu e está acontecer com o aeroporto do Porto, podemos não compreender mas, se não estivermos distraídos, concluímos imediatamente que a história está mal contada. E com a crise dos combustíveis que se anuncia, ainda está mais mal contada. Nas empresas ninguém conhece os ordenados ou os prémios dos colegas e claro muito menos dos administradores. A chamada avaliação de desempenho é sempre confidencial, como se valesse alguma avaliação em que os objectivos, os critérios e sobretudo os resultados são escondidos. Até nas escolas se está a querer adoptar parcialmente este modelo da confidencialidade!

De vez em quando a imprensa noticia pequenos escândalos de empresas ou de ministérios que são objecto de reparos pelo tribunal de contas. Má gestão, compadrio, prémios exagerados, que ninguém conhecia, carros topo de gama, indemnizações, etc., etc. É bom que se saiba, mas sabemos que vai tudo continuar como se nada fosse, quando muito os administradores vão para outra empresa, até com um aumento de ordenado e vai tudo continuar muito pouco transparente.

Conduzimos quase sempre os nossos actos e as nossas vidas como se fôssemos eternos e eternas fossem as coisas à nossa volta que nos importam. No entanto tudo é efémero e muitas vezes muito efémero. Duas pequenas histórias de efemeridade, da minha visita ao norte da Alemanha, na semana passada.

|bgcolor(#ffffff):[img[Efemeridade|./wikiImages/rugen1.jpg]]|[img[Efemeridade|./wikiImages/rugen3.jpg]]|
|bgcolor(#ffffff):[img[Efemeridade|./wikiImages/rugen2.jpg]]|[img[Efemeridade|./wikiImages/rugen4.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Efemeridade'', Prora, ilha de Ruegen, Alemanha, Julho2008^^//}}}}}}
A ilha de Ruegen no norte da Alemanha foi o local de férias das classes ricas da Alemanha desde o final do século XIX. Locais como Binz, recuperados depois pela DDR para destino de férias dos seus altos dirigentes, surpreendem-nos pela elegância que evidenciam, que só conhecemos dos filmes. Palacetes pintadinhos de branco, transformados hoje em conjuntos de apartamentos de luxo, ostentando muitas vezes ainda o nome da família tradicional que os mandou construir, ou da mulher a quem se destinavam. Villa Jagdschloss ou Villa Isabelle. Mas muito perto, a alguns quilómetros apenas, em Prora, somos surpreendidos por quilómetros de construção maciça ao longo da praia. São edifícios de seis andares, organizados em U, que se estendem ao longo de um longo areal, mesmo em cima das dunas que dão acesso à praia. Estão manifestamente abandonados e degradados, e a sua presença interroga-nos.

A história: Ruegen terá desempenhado um papel simbólico para os nazis. Nesta ilha isolada, por razões compreensíveis, os nacionais-socialistas tiveram um resultado histórico, quando ganharam as eleições em 1933. Este facto terá contribuído para a ideia de proporem um projecto simbólico e megalómano que se propunha construir em Ruegen uma infra-estrutura gigantesca, para destino de férias dos bons trabalhadores alemães. O projecto foi encomendado ao arquitecto do regime Clemens Klotz e incluía, para além dos blocos habitacionais, diversas infra-estruturas, nomeadamente um enorme recinto para paradas militares. A guerra interrompeu e fez abortar o projecto. Depois da guerra houve, parece, alguma polémica sobre o destino a dar aos edifícios, mas acabaram por ser transformados em quartel militar. Depois da queda do muro a discussão reabriu-se. Até hoje. Hoje resistem como um muro inexpugnável, a guardar o areal e o mar...

|bgcolor(#ffffff):[img[Efemeridade|./wikiImages/schloss.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Efemeridade'',  Palácio do Povo, Berlim, Julho 2008^^//}}}}}}
Outra história: em Berlim Oriental havia um edifício emblemático para a DDR. O Palácio do Povo, onde reunia o parlamento, era uma construção moderna, símbolo do grande poder e do orgulho da antiga DDR. Depois da queda do muro abriu-se uma polémica sobre o que fazer ao edifício. A polémica foi acelerada pelo facto do edifício utilizar na construção amianto, que é hoje considerado como cancerígeno. A polémica durou todos estes anos até há pouco tempo se ter decidido demoli-lo para reconstruir no seu lugar um velho castelo que lá teria existido. O Castelo de Berlim. O castelo tinha sido quase integralmente destruído durante e depois dos bombardeamentos da 2ª guerra e os dirigentes da DDR tinham decidido demoli-lo para construir o Palácio do Povo...

|bgcolor(#ffffff):[img[Auto-retrato com arte contemporânea fica sempre bem|./wikiImages/AutoRetratoCulturgest.jpg]]|
//^^©Renato Roque, ''Auto-retrato com arte contemporânea fica sempre bem'',  Culturgest, Porto, Fevereiro 2007^^//

Parece que esta semana se comemorou mais um dia mundial da fotografia. Soube que o dia aconteceu através das referências da praxe na comunicação social e pelas notícias nos jornais, relativas aos eventos organizados pelo CPF, ou deverei talvez dizer do que dele vai restando, nesta lenta e triste agonia, que não sei quanto tempo irá durar.

Vergado por tal efeméride, senti-me na obrigação de escrever alguma coisa. 

O único comentário que estas "comemorações" me sugerem é chamar a atenção para que independentemente da perspectiva crítica que possamos ter sobre a relação entre a fotografia e a chamada arte contemporânea - e eu tenho-a manifestado muitas vezes aqui, nesta espécie de blog a partir da fotografia - teremos de admitir que a arte contemporânea tem contribuido de uma forma efectiva para sermos capazes de perceber que a fotografia pode ser muita coisa, pode ultrapassar largamente as fronteiras da chamada fotografia jornalística, pode ser mesmo aquilo que quisermos que ela seja, como mais uma forma de expressão, ao serviço de quem a ela quiser recorrer. A fotografia pode ser tanta coisa nova e diferente, surpreendentemente mesmo quando parece apenas repetir-se ou repetir caminhos já trilhados, por outras formas de expressão, mas para neles descobrir inesperadamente novos trajectos e novas propostas.

^^PS - bem sei que nada tem a ver mas, ao escrever o comentário sobre o dia mundial da fotografia, não consegui resistir a comentar o triste espectáculo dos comentadores oficiais e oficiosos da nossa praça pública, reagindo com ardor e indignação às pretensas declarações desprestigiantes de alguns dos nossos atletas olímpicos. Apesar de ter uma opinião crítica sobre o chamado desporto de alta competição, não me consigo calar perante a estupidez desses senhores. Perante os pretensos maus resultados, sobretudo se comparados com o sucesso avassalador que se anunciava, tinha-se de encontrar bodes expiatórios e os bodes expiatórios mais fáceis são sempre os mais fracos, neste caso os atletas. Retiram algumas declarações - algumas feitas a quente - do contexto em que se inseriam e incapazes de compreender o sentido de humor de algumas delas, a frontalidade ingénua e a sinceridade sem rodeios de outras, vindas de pessoas - temos de compreender - que não foram treinadas, e ainda bem, para medir as palavras proferidas perante a comunicação social, onde predominam esses senhores comentadores, sempre à espera do clima dominante no país, para assim decidir se levam os heróis aos ombros ou preparam as pás e picaretas para abrir a cova para os enterrar, bramaram aos céus que era inadmissível tal demonstração de falta de patriotismo e protestaram até contra os subsídios chorudos que esses atletas recebem para (n)os representar. Veremos como todos eles vão ter agora um discurso bem diferente, depois das duas medalhas que no fim Portugal lá conseguiu arrecadar, tal como o triste presidente do Comité Olímpico que depois de se demitir já se diz afinal preparado para mais um mandato. Muito triste.... Esquecem-se(??) de que todos os atletas foram aos jogos por mérito, pois tiveram de conseguir os resultados mínimos. Ninguém os conseguiu por eles. Nenhum foi convocado por estar inscrito no partido, ou por ter lambido as botas ao chefe. Não diria o mesmo de todos os comentadores. 

Depois disto tenho primeiro de me regozijar por esses comentários e essas respostas mostrarem que afinal ainda resiste algum do verdadeiro espírito olímpico, onde o desporto é sobretudo festa, onde o desporto é o gozo da competição, depois terei de me entristecer por esses senhores terem sido capazes de "obrigar" o Marco Fortes a pedir desculpas por palavras que apenas traduziam isso mesmo: a brincadeira e o verdadeiro espírito desportivo perante um mau resultado...^^

|bgcolor(#ffffff):[img[Luz de fim de século|./wikiImages/fimseculo.jpg]]|
//^^©Renato Roque, ''Luz de fim de século'',  Hiddensee, Alemanha, Julho 2008^^//

Há nas praias do norte da Europa uma luz diferente, uma luz de cinema, uma luz mais luminosa - não, não creio que tal se possa dizer, pois não há luzes mais luminosas, há luzes de alma diferente - uma luz que me faz sempre recordar os filmes de histórias do fim de século, e só agora me apercebo de que entretanto houve outro fim de século, que tendo a esquecer (porque será?), e que me pretendo referir ao final do século XIX, princípio do século XX.

|bgcolor(#ffffff):[img[Objecto na paisagem|./wikiImages/amazone.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Objecto na paisagem'',  ilha de Ruegen, Alemanha, Julho 2008^^//}}}}}}
Aquilo que vemos, a forma como vemos dependem do que vimos e sentimos antes. Teria eu visto este objecto pousado nesta paisagem e parado propositadamente para o fotografar se no ano passado não tivesse um dia, (por acaso?), decidido iniciar esta série, nesta espécie de de blog, com objectos insólitos pousados na paisagem? Aquilo que vemos varia ao longo do tempo, como se a nossa memória nos levasse pela mão a um patamar mais alto (ou mais baixo), de onde vemos as coisas numa perspectiva diferente.

Lembro-me de há muitos anos, quando descia a Rua da Boavista sentado no 2º andar dos autocarros de dois andares que então existiam, ser atraído por uma sandália de plástico transparente, das que então se usavam, que tinha sido com certeza atirada para cima de uma protecção saliente, da entrada de um dos edifícios situados entre a Praça da República e a Carvalhosa. Durante anos a sandália lá permaneceu e eu via-a, de cada vez que descia a Rua da Boavista de autocarro. Não sei se ainda lá está, pois os autocarros de dois andares desapareceram. Um mistério de qualquer forma: porque me lembro desta história irrelevante? Porque razão aquela imagem da sandália abandonada é tão nítida na minha memória, quando histórias aparentemente muito mais ricas e interessantes, que me contam e que eu vivi, tantas vezes se esfumaram por completo?

|bgcolor(#000000):[img[Abstract #555K9 - não é um Tàpies nem um Cabrita Reis, é um Manuel Silva de Bouças|./wikiImages/abstract.jpg]]|
//^^©Renato Roque, "''Abstract #555K9''",  Bouças, ~Trás-os-Montes, 1 Setembro 2008^^//

|bgcolor(#ffffff):[img[Arribas do Águeda|./wikiImages/agueda6.jpg]]|
//^^©Renato Roque, "''Arribas do Águeda''", Mata de Lobos, Figueira de Castelo Rodrigo, 13 Setembro 2008^^//

Aqueles que tenham alguma experiência de caminhar no monte terão já vivido experiências parecidas. Eu próprio as tinha já vivido antes, várias vezes, mas a tentação de chegar é sempre mais forte...

Perto de Mata de Lobos, junto às arribas do rio Águeda, fronteira com Castela, que eu via já ali, decidi parar o carro na beira do caminho e ir à procura dessas arribas, onde já tinha estado há uns anos atrás. As arribas pareciam visíveis no fim daquele prado, para lá de uma fragas em granito, a umas centenas de metros. Trepando às fragas afinal havia mais um campo coberto de giestas e de mato rasteiro, em cujo fim com certeza, finalmente, as arribas se revelariam, mas de lá descobria-se mais uma extensão de terreno de fraco declive. As arribas continuavam a adivinhar-se ao longe, sempre à mesma distância. Era tarde, mas de cada vez recusava-me a desistir e a regressar, sem ter visto a água do rio. Tinha de ser ali, no fim daquela extensão de terreno, já faltava pouco. Quando teria uma nova oportunidade de ali regressar? E continuava. Acabei por ser vencido pela distância e pelo tempo, quando finalmente cheguei a um local, onde a inclinação do terreno se acentuava bastante, e de onde se conseguíam vislumbrar as pedras do leito do rio, lá muito longe, numa curva do rio e ver os reflexos da luz do sol na pouca água do rio no Verão.

O que surpreende nesta caminhada é encontrar em sítios longínquos e quase inacessíveis muros de pedra, muros que resistem, separadores de propriedade, garantias ilusórias de posse eterna...

Pelo caminho fui coleccionando uns poucos objectos pousados naquela paisagem agreste e doce ao mesmo tempo.

|bgcolor(#ffffff):[img[+ objectos|./wikiImages/objectosD.jpg]]|
//^^©Renato Roque, "''+ objectos pousados na paisagem''", Mata de Lobos, Figueira de Castelo Rodrigo, 13 Setembro 2008^^//

Todos os Verões regresso a casa da minha avó, em Figueira de Castelo Rodrigo, por razões familiares. Este ano, como sempre faço, peguei no meu saco de âncoras do tempo, cada vez mais pesado com o tempo que acumula, e parti para um passeio à volta de Figueira. O acaso dirigiu-me a Mata de Lobos e às arribas do rio Águeda, que faz fronteira com Castela.

|bgcolor(#000000):[img[Avé-Maria|./wikiImages/ave-maria.jpg]]|
//^^©Renato Roque, "''~Avé-Maria''",  Mata de Lobos, Figueira de Castelo Rodrigo, 13 Setembro 2008^^//


{{indent{{{indent{''Reza da Manhã de Maio''

^^Senhor, dai-me a inocência dos animais 
Para que eu possa beber nesta manhã 
A harmonia e a força das coisas naturais. 

Apagai a máscara vazia e vã 
De humanidade, 
Apagai a vaidade, 
Para que eu me perca e me dissolva 
Na perfeição da manhã 
E para que o vento me devolva 
A parte de mim que vive 
À beira de um jardim que só eu tive. ^^}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{^^//Sophia de Mello Breyner Andressen//^^}}}}}}}}}

    
{{indent{^^Um rio de silêncio 
escorre 
e lava as ervas

As palavras 
de gastas 
flutuam à tona^^}}}

|bgcolor(#ffffff):[img[Rio de Silêncio|./wikiImages/rioSilencio.jpg]]|
//^^©Renato Roque, "''Rio de silêncio''",  Bouças, Trás-os-Montes, 1 Setembro 2008^^//

{{indent{{{indent{^^Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.^^}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{//^^Eugénio de Andrade^^//}}}}}}}}}

|bgcolor(#000000):[img[Un=f(n)|./wikiImages/boucas1.jpg]]|
//^^©Renato Roque, "''u~~n~~=f(n)''",  Bouças, Trás-os-Montes, 1 Setembro 2008^^//

Bouças é um pequena aldeia muito perto de Rebordelo, mas que curiosamente pertence a outra freguesia, a outro concelho e até a outro distrito. Coisas a que atravessar o rio Rabaçal obriga. 

{{indent{{{indent{^^Do rio que tudo arrasta se diz que é violento
mas ninguém diz violenta
a ponte que nos separa^^}}}}}}				
Nesta aldeia habitam actualmente 6 pessoas. "Quando eu era rapaz tínhamos aqui uma equipa de futebol", disseram-me. Ou seja, há cerca de quarenta anos, quando viveriam em Bouças talvez oitenta a cem habitantes.

6,9,12,13,18,19,22...  ''u~~n~~=f(n)'', mais uma aldeia que desaparece com tranquilidade...

{{indent{{{indent{

^^O coração do mar
é um cemitério
de navios e de luar

//J.S. Braga//^^}}}}}}

|bgcolor(#ffffff):[img[12pm|./wikiImages/12pm.jpg]]|
//^^©Renato Roque, 12pm, Veidholmen, Noruega, Junho de 2006^^//

Regresso à terra dos fiordes para apresentar o projecto 12 pm na Biblioteca Pública de Trondheim, no sábado, dia 18 de Outubro. Consegui entretanto ter o tempo necessário para terminar o  [[site do projecto|http://www.renatoroque.com/12pm/index.html]]. [[Visitem-no|http://www.renatoroque.com/12pm/index.html]]. É a minha primeira experiência com //flash//.

|bgcolor(#ffffff):[img[12pm 12am|./wikiImages/12am.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''12pm / 12am'', Trondheim, Noruega, 19 Outubro 2008^^//}}}

{{indent{{{indent{ ^^A foto não só nunca é, em essência uma recordação, como também a bloqueia, tornando-se em breve uma contra-recordação^^
{{indent{^^//in ''Câmara Clara'' de Rolland Barthes//^^}}}}}}}}}
Regressei ao local, no fiorde de Trondheim, onde vivi o projecto ''12pm'' há dois anos atrás. Desta vez, por volta do meio-dia. 12am? 12pm? A ambiguidade regressa comigo.

Porque gostamos nós de voltar aos locais de infância, aos locais onde fomos felizes, aos locais de memória? Voltamos à procura de uma ilusão de eternidade. 

Lá está o mar, lá estão os rochedos e as montanhas ao fundo. Mas essa ilusão de eternidade, tal como acontece com as fotografias, em vez de ser reforçada, é destruída. A eternidade só existe fora do tempo e a viagem de regresso, tal como a fotografia, ao congelar magicamente o tempo, destroem a eternidade, quando provam que o tempo passou. Foi e já não é.

Parecem não existir hoje muitas razões para optimismos exagerados. Mas, apesar de tudo, somos de vez em quando confrontados com factos que nos permitem, nem que seja por um momento, acreditar que a esperança é possível.

O Centro Comercial Stop é um dos primeiros centros comerciais do Porto, da década de 80. Estes centros da 1ªgeração eram labirínticos, subterrâneos, escuros. Rapidamente foram arruinados e substituídos por uma 2ª geração de centros comerciais. O fenómeno dos centros comerciais é um dos fenómenos mistério para os quais não consigo encontrar explicações. Hoje continuam a construir-se e cada vez maiores. Os primeiros, e entre eles o Stop, definharam há muito; as lojas fecharam e os centros pareciam não ter qualquer futuro, a não ser a implosão.

|bgcolor(#ffffff):[img[CC Stop|./wikiImages/ccstop1.jpg]]|
//^^©Renato Roque, Centro Comercial Stop, Porto, Outubro 2008^^//

No âmbito de um festival organizado pela UP, chamado "Future Places", fui confrontado com uma dessas histórias, que nos permitem preservar a esperança no futuro. Nos últimos anos, as lojas abandonados do CC Stop têm vindo a ser arrendadas por bandas de música do Porto. Bandas e projectos musicais de todo o tipo. Segundo me disseram existem lá neste momento cerca de cem bandas. Muitas dessas bandas participaram num projecto colectivo no âmbito do festival e o pouco que vi e ouvi permitiu-me uma vez mais constatar aquilo que, noutras ocasiões no passado, já tinha constatado: há em Portugal muitíssimos grupos com propostas originais e criativas, mas que no entanto não têm qualquer visibilidade, neste sistema absurdo, onde todas as estações de rádio, no fundamental, nos "dão" a ouvir sempre exactamente a mesma coisa.

|bgcolor(#ffffff):[img[CC Stop|./wikiImages/ccstop.jpg]]|
//^^©Renato Roque, Centro Comercial Stop, Porto, Outubro 2008^^//

{{indent{^^''Em louvor do vinho''

Serve-me daquele vinho
que mais parece um ígneo rubi
ou uma cimitarra desembaninhada
reflectindo os raios do sol
Daquele vinho que brilha no copo
tão puro como a água de rosas
tão suave como o sono
numa pálpebra sem sono
Não confundas o copo com uma nuvem
e o vinho com as suas gotas celestiais

...Melhor seria
que esse vinho fosse servido entre as nuvens
nas garras de uma águia
Evitar-se-iam assim
as companhias indesejáveis

//Rodaki de Samarkand, Pérsia, séc. X DC, in " O vinho e as rosas", antologia de poemas sobre a embriaguez de J.S.Braga//^^}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[O vinho|./wikiImages/vinho.jpg]]|
//^^©Renato Roque, Quinta das Pias, Provesende, Douro, 25 Setembro 2008^^//

A história da humanidade seria com certeza diferente sem o vinho. Existe, associado ao vinho, um saber milenar construído no desfiar do tempo, um saber não explicitado, um saber invisível, um saber que não assenta em processos descritos formalmente, mas antes é feito de emoções, de sensações e de saberes difusos. Estes saberes-fazeres tendem a ser desvalorizados nos dias de hoje. E o resultado poderá ser perdê-los irremediavelmente.

Está em curso uma política da UE e do governo português com o objectivo de levar os poucos agricultores que ainda continuam a tratar as suas vinhas, com base numa agricultura familiar, a fazerem o arranque. O arranque das vinhas vai ser subsidiado nos próximos três anos. Este subsídio é atribuído pelo arranque das cepas, mesmo que os terrenos de vinha fiquem abandonados. Esta política é justificada pelo excesso de produção, pela baixa rentabilidade e eventualmente pela baixa qualidade do vinho produzido, produção caseira, já rara, ou nas adegas cooperativas. Todos estes argumentos são porventura verdadeiros, mas esta política irá acelerar o abandono dos campos cultivados ou, na melhor das hipóteses, a substituição da agricultura tradicional pela floresta. Argumentar-se-á que o abandono dessas vinhas aconteceria irremediavelmente mais cedo ou mais tarde, pois a sua baixa rentabilidade, hoje, conduziria irremediavelmente a que as vinhas viessem a ser abandonados quando os actuais proprietários, que constituem uma espécie de última geração de agricultores familiares, desaparecem. Isso poderá ser verdade, mas desta forma estamos a contribuir para assistir a esse fim mais rapidamente. Confesso que não sei o que se deveria fazer, mas esta política parece-me errada e entristece-me.

{{indent{{{indent{{{indent{^^Mais umas pedras que flutuam, Jorge...^^}}}}}}}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[O vinho|./wikiImages/pedras4.jpg]]|
//^^©Renato Roque, Fonte Santa, Rio Côa, Almeida, Setembro 2008^^//

As palavras menos densas do que a água – densidade < 1 – vêm à tona, flutuam e conspurcam a transparência da água. As palavras mais densas do que a água – densidade > 1 – vão ao fundo e perdem-se para sempre, enterradas no lodo. 

Por isso, eu prefiro, quase sempre, as gotas de água vazias de palavras.

Bastam-me as pedras que flutuam...

|bgcolor(#ffffff):[img[Biblioteca de Babel|./wikiImages/academica2.jpg]]|{{indent{//^^Letízia Alvarez de Toledo observou que esta vasta biblioteca é inútil: rigorosamente, bastaria um único volume, de formato comum, impresso em corpo nove ou em corpo dez, que constasse de um número infinito de folhas infinitamente finas. (Cavalieri, nos princípios do século XVII, disse que todo o corpo sólido é a sobreposição d um número infinito de planos). O manejo deste vademecum sedoso não seria cómodo: cada folha aparente desdobrar-se-ia noutras análogas; a inconcebível folha central não teria reverso.<br><br>{{indent{In ''Biblioteca de Babel'' de Jorge Luís Borges}}}^^//}}}|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Livraria Académica'', projecto ''Luz de Papel'', Porto, Novembro 2007^^//}}}
A leitura daquela história da biblioteca infinita de Babel deixara-o sem sono. Finalmente compreendeu que a resposta a todas as suas angústias já estava escrita algures num livro da biblioteca. Percebeu ainda que, se na altura em que a história fora escrita não havia tecnologia para construir essa biblioteca, hoje essa tecnologia estava à sua disposição. 

Sentou-se à frente do terminal do computador e começou a programar. Era engenheiro e pragmático e, por isso, achou por bem começar por escrever um programa para gerar aleatoriamente um pequeno texto com apenas quinhentos caracteres. Analisara previamente a obra poética de Sophia e cada poema utilizava em média menos de cinco centenas de caracteres. 

Terminado o programa, lançou-o. Textos de quinhentos caracteres eram gerados a uma velocidade inacreditável. Agora era uma questão de tempo e de paciência até conseguir um inédito de Sophia, um poema que ela não tivera tempo para escrever, mas que teria escrito se a morte a não tivesse impedido. Claro que pelo caminho poderia gerar toda a obra poética de Sophia e de outros poetas, mas isso não lhe interessava.

Sabia que conseguido o poema, poderia ser mais arrojado e tentar um novo romance de Ferreira de Castro ou de José Cardoso Pires.

Exultante, compreendeu que, se em vez dos 25 caracteres necessários à escrita pusesse o programa a gerar pixéis com valores entre 1 e 255, poderia criar novas fotografias de Bresson ou de Edward Weston. 

Encontrara a eternidade para a genialidade criadora.

Foi-se deitar, pois sabia que poderia demorar…

|bgcolor(#ffffff):[img[Museu História Natural Oslo|./wikiImages/museuOslo.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Museu História Natural '', Oslo, Outubro2008^^//}}}
Há nos museus de História Natural uma relação real/irreal que me perturba (fascina). A somar à falsidade inerente da fotografia, há a falsidade do objecto fotografado. Aqueles corpos embalsamados, em cenários vivos e coloridos.

E o que perturba de facto é, apesar disso, as fotografias parecerem algumas vezes mais reais que a própria realidade. Tal como a morte tantas vezes parece ser mais real do que vida.

{{indent{//^^E os corpos espalhados nas areias
Tremem à passagem das sereias^^//}}}
{{indent{{{indent{//^^Sohia Mello Breyner Andresen^^//}}}}}}

|bgcolor(#ffffff):[img[O canto das sereias|./wikiImages/sereias.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''O canto das sereias'', Rebordelo, Novembro 2008^^//}}}
De cada vez que regresso ao Alendouro, procuro fugir do seu canto inebriante mas, de cada vez, elas me atraem e me obrigam a deitar na cama que me preparam com lençóis de silêncio.

No âmbito de um trabalho sobre a memória decidir voltar à casa onde nasci, a casa dos meus avós no Passeio das Fontainhas. Há mais de vinte anos que lá não entrava: desde a morte da minha avó. Lembrava-me de que, há alguns anos, quando lá passara, tivera enorme dificuldade em identificá-la, pois as obras realizadas, para a construção da ponte do Infante, obrigaram à demolição de uma série de casas e a casa dos meus avós foi a primeira a ser poupada, ou seja, é hoje a primeira da rua. Só o número 18 na pedra em granito, por cima da porta, me permitiu ter a certeza de estar a olhar para a casa que procurava. Bati à porta.  O Sr. Francisco abriu a porta e deixou-me entrar. Lá dentro, percebi que aquela casa pouco tinha a ver com a casa onde eu nascera e brincara. Só a escadas me lembravam a casa da minha memória. Mas o cordel que abria a porta lá de cima, do 2º andar, desaparecera. Uma casa de família, com rés-do-chão e dois andares, fora transformada em quatro habitações; no rés-do-chão há um café; o jardim foi fechado. O vulto do Sr. Francisco, em roupão nas escadas, lembrou-me num relance o meu avô João.

Porque acreditamos sempre que o passado continua lá, para nós o visitarmos?

|bgcolor(#ffffff):[img[A casa dos meu avós|./wikiImages/porta18.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''A casa dos meus avós'', Passeio das Fontainhas, Porto, Novembro 2008^^//}}}

''Porta 18''
{{indent{{{indent{{{indent{//^^para o meu pai ^^//}}}}}}}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[A porta 18|./wikiImages/porta18_0.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''A porta 18'', Passeio das Fontainhas, Porto, Novembro 2008^^//}}}
^^Entrei no sonho por uma porta e tu entraste por outra. Percorri o sonho de alto a baixo e de través. Não sabia se te procurava, se fugia de ti. Sentia a tua presença na casa do sonho. Era como se estivesses por detrás de mim, mas quando olhava já lá não estavas. Chamei por ti. É estranho que nos sonhos te trate sempre por tu.
Abri as portadas da varanda, saí, e encostei-me ao gradeamento em ferro, sobre o rio. O chão em granito debaixo dos meus pés parecia tremer. O gradeamento balouçava um pouco. Por detrás de mim, os espelhos reflectiam o fogo de artifício numa noite de S. João. Olhei a rua onde os miúdos jogavam à bola. Era alto. Tão alto como me conseguia lembrar. Senti uma vertigem. Voltei à sala, e sentei-me no sofá onde o meu avô dormia a sesta. Fechei os olhos e entrei noutro sonho. A porta do sonho era uma porta grande em madeira, pintada de vermelho, com um batente em ferro. 
Tinha o número 18. 
Bati e o porteiro dos sonhos puxou o cordel que destravou o trinco. Entrei num espaço escuro e frio de onde partiam umas escadas. Subi. De repente fui engolido por um barulho ensurdecedor de música e vozes incompreensíveis. Por vezes parecia distinguir as palavras “...mais uma viagem...”. As escadas foram invadidas por uma luz cintilante que saltava para as paredes onde escorria e permitia ver os desenhos do papel que as forrava. Mais uma vez ouvi distintamente “...mais uma viagem...”. Entrei num barco à vela com o casco colorido rodeado de borracha. Agarrado ao mastro atravessei um lago de águas lisas, escuras e brilhantes. Desembarquei do outro lado num jardim suspenso com vistas sobre o rio. O meu avô espreitava-me ao cimo de uma escadaria em granito, por detrás das portadas. Tinha a certeza de estar no teu sonho. Só tu não estavas lá. De repente percebi que te procurava.
Vou ter de abrir mais portas de sonhos até te encontrar. Sentar-me no sofá que foi do meu avô, adormecer e sonhar.

{{indent{//^^Em ''Arcas de Sonhos''^^//}}}

|bgcolor(#ffffff):[img[As linhas do tempo|./wikiImages/tempo3.jpg]]|{{indent{//^^O jardim dos caminhos que se bifurcam é uma enorme adivinha, ou parábola, cujo tema é o tempo... ele acreditava em infinitas séries de tempos, numa rede crescente e vertiginosa de tempos divergentes, convergentes e paralelos.<br><br> {{indent{In ''O jardim dos caminhos que se bifurcam'' de Jorge Luís Borges}}} <br><br> Nesta história, Borges conta a história da Biblioteca de Babel de outra forma. Numa escrita, em que em vez de uma narrativa linear, com uma só linha de tempo, a cada instante no tempo se consideram todos os tempos paralelos, vamos ter de escrever uma história infinita, com todas as narrativas possíveis, com todas as ficções escritas e por escrever, com todas as realidades que aconteceram ou que poderiam ter acontecido.^^//}}}|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''A praia dos caminhos que se bifurcam'', Matosinhos, 2008^^//}}}

A leitura daquela história "O jardim dos caminhos que se bifurcam" deixara-o mais uma vez sem sono. Percebeu que teria de tentar o exercício. Sentou-se à frente de uma folha de papel em branco e começou a escrever uma história como a que Albert sugerira. 

"R. ergueu-se do cadeirão e andou até à mesa", escreveu e parou.

Parou porque compreendeu imediatamente que não estava a cumprir o que se propusera. Entre o momento de se começar a erguer e o momento de chegar à mesa havia infinitos instantes que teria de desdobrar para considerar um número infinito de narrativas possíveis. R. poderia hesitar, desistir de se erguer, tossir, morrer...

O escritor continua sentado à frente dos milhares de folhas que já escreveu. R. ainda não chegou à mesa, em nenhuma das narrativas que iniciou...

Antes de mais uma pequena história. No último fim de semana viajei uma vez mais de avião. Depois de passar a zona de controlo, apesar de não ter feito apitar o detector de metais, mandaram-me abrir o pequeno saco que levava comigo e, depois de vasculhar lá dentro, retiraram do seu interior uma embalagem de creme para a barba. O segurança quase pedia desculpa, pois percebeu claramente que se tratava apenas de um inofensivo creme de barba, aliás já a menos de metade, e explicava que tinha de me confiscar a embalagem, pois era de 125 ml e os procedimentos só autorizam até 100 ml. O argumento de que já estava a meio e portanto continha bastante menos de 100 ml não o convenceu, pois 125 ml era o valor escrito na embalagem. Expliquei também que me tinha fartado de viajar nos meses anteriores com essa embalagem, mas ele, que até parecia envergonhado ao confiscar o que sabia ser um creme para a barba, argumentava de novo com os 125 ml e com as regras. E lá fiquei sem o creme, a somar a alguns pequenos canivetes e a várias tesouras para as unhas que, logo a seguir à febre securitária nos aeroportos, tive de entregar, em nome dos procedimentos de segurança. Estranhamente, durante a conversa, o guarda informou-me de que hoje já poderia transportar a tesoura das unhas comigo. Vá-se lá tentar perceber. Mas mais vale não arriscar, pois até à próxima viagem ainda podem alterar os tais procedimentos...

|bgcolor(#ffffff):[img[Para lá do muro|./wikiImages/buraco.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Para lá do muro '', Matosinhos, 2008^^//}}}
Para saber o que está para lá de um muro opaco existem várias soluções simples: dar a volta e passar para o lado de lá do muro, espreitar por cima do muro, espreitar através de um buraco no muro, se nada disto for viável perguntar a alguém que conheça bem o outro lado e em quem confiamos. Mas também podemos elaborar procedimentos complexos, como elaborar um inquérito a toda a gente que mora perto do muro e depois tratar esses inquéritos com base em alguma metodologia estatística, mesmo que o muro tenha um orifício que nos permite ver o que lá está e mesmo que o resultado do inquérito nos revele afinal outra coisa. E nesse caso, essa coisa passa a ser o que de facto está para lá do muro, pois é isso que o procedimento nos determina.

Tudo isto me sugeriu o caos criado (voluntariamente?) nas escolas, em torno do famigerado processo de avaliação. Porque não tenho ouvido ninguém dizer aquilo que é óbvio. Ou seja, toda a gente nas escolas sabe quem são os bons e quem são os maus professores. É conhecimento tácito e público. Mas apesar disso é necessário criar estes procedimentos e regras, algumas ridículas, como a regra das quotas, confundindo avaliação com ocupação de lugares, e que só serve para desresponsabilizar os avaliadores e garantir poupar dinheiro, para fazer essa avaliação. E se acontecer, como aconteceu com o concurso para titulares, que no fim o resultado contraria esse conhecimento tácito, nada a fazer porque os procedimentos são claros.

Para lá do muro afinal o que se vê não é erva, mas um laranjal...

Tenho de esclarecer, para que não restem dúvidas, que nada tenho contra procedimentos, se sensatos, transparentes, sérios e com as responsabilidades bem claras. E gosto muito de laranjas. É mesmo o meu fruto preferido...

|bgcolor(#ffffff):[img[Estamos no Inverno|./wikiImages/acordeao.jpg]]|
|bgcolor(#ffffff):[img[Estamos no Inverno|./wikiImages/descamisados2.jpg]]|
|bgcolor(#ffffff):[img[Estamos no Inverno|./wikiImages/descamisados.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Festa da castanha, Vinhais, Novembro 2008, Rebordelo, Baile dos Descamisados, 26 de Dezembro de 2008^^//}}}

{{indent{^^Numa tarde muito fria
alguém falava assim
da invenção da poesia:

«Os primeiros poetas
que eram deuses iletrados
inventaram o Inverno
sem me prevenir.
Então,
o meu coração laborioso
esculpiu dores de cristal
e gelou doces suspiros.
Depois,
os primeiros poetas tiritantes
inventaram a Primavera
sem me avisar.
Dores e suspiros derreteram
e eu quase me afoguei nas minhas obras.
Mas o meu coração laborioso
verteu toda a água que sobrara
em frascos de solene transparência
em vasos de sublime opacidade.
Por fim,
os primeiros poetas com todas as letras
inventaram a estiagem
à sua imagem e semelhança.
E eu tive água para matar a sede
e perfume de suor para refrescar as fontes.»

Regina Guimarães ^^}}}

O Inverno dá-nos a certeza de que os dias vão crescer, de que a Primavera regressa, de que os dias de calor vão voltar. Por isso o homem de ~Trás-os-Montes festeja o solstício do Inverno, com música, comida e bebida. Em Rebordelo, para além dos tradicionais caretos da Festa dos Rapazes que animam as ruas no Natal, existe este costume estranho, creio que apócrifo, de fazer no largo da velha aldeia, na noite de Natal e no dia 26, um baile de mascarados, a que chamam Baile dos Descamisados, no passado ao som de bombos e de gaitas de foles, hoje animados por um sintetizador e por uma menina que canta canções animadas e brejeiras.

|bgcolor(#ffffff):[img[Um dia voltaremos|./wikiImages/postal2009.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Um dia voltaremos'', Rebordelo, Dezembro 2008^^//}}}
{{indent{//^^''Um dia''

Um dia, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.

O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E há-de voltar aos nosso membros lassos
A leve rapidez dos animais.

Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nós germinará a sua fala.^^//}}}
{{indent{{{indent{//^^                          Sophia de Mello Breyner Andresen^^//}}}}}}
Porque um dia havemos de voltar a viver livres como os animais e a mergulhar as mãos nuas na neve, a correr nos campos e a acariciar os castanheiros...

''BOM ANO 2009''

|bgcolor(#000000):[img[Douro, faina fluvial|./wikiImages/mOliveira.jpg]]|
//^^©Renato Roque, "''Douro, faina fluvial''", Serralves, Setembro 2008^^//

Eu gosto de visitar Serralves. Se algumas vezes critico as suas opções, é porque lá vou. E vou, porque gosto de lá ir.

Aconselho, a quem ainda tiver uma oportunidade, a visitar o museu, antes de as actuais exposições terminarem. Para além da exposição retrospectiva do Manoel de Oliveira, há a exposição, também de alguma forma retrospectiva, do fotógrafo sul-africano David Goldblatt. Esta última termina já a 12 de Outubro.

A exposição do Manoel de Oliveira está muito bem montada e permite rever toda a sua obra, desde o tempo dos primeiros documentários. Goste-se mais ou menos da obra deste cineasta é um nome incontornável do cinema português e o evento em Serralves permite ajudar a compreender o seu percurso.

A exposição do David Goldblatt também está montada de uma forma extremamente cuidada, em particular os espaços onde os trabalhos antigos a PB contrastam com os trabalhos recentes a cor. A montagem permite quanto a mim duas coisas fundamentais: adivinhar a mudança operada na África do Sul, depois do fim do apartheid, ao confrontar as imagens, algumas vezes do mesmo local, de hoje e de há umas décadas atrás, e adivinhar de alguma forma a mudança operado no percurso estético do fotógrafo, aparentemente influenciado por algum gosto dominante do que se poderia chamar arte contemporânea no domínio da fotografia.

|bgcolor(#ffffff):[img[Port Pollenc|./wikiImages/maiorca.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Port Pollenca, Maiorca, Dezembro 2008^^//}}}
{{indent{{{indent{{{indent{^^
Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta - por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.

Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.

E dormem mil gestos nos meus dedos.

Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.

Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.

E de novo caminho para o mar.

//Sophia Mello Breyner Andresen// ^^}}}}}}}}}

|bgcolor(#ffffff):[img[Sou fotojornalista?|./wikiImages/fotojornalismo.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Eu não sou fotojornalista'', Matosinhos, Janeiro 2009^^//}}}
Eu não sou mesmo fotojornalista. Ontem à noite ouvi um guinchar de pneus na rua. Não estranhei, pois muitas vezes, de madrugada, há quem ache por bem vir fazer peões por baixo de minha casa. Ao espreitar pela janela vi que se tratava de uma perseguição policial. Um carro fez marcha atrás e parou por baixo da minha janela sendo de imediato cercado por inúmeros polícias que saíram de um carro e de uma carrinha. Os polícias, de arma em punho, obrigaram o condutor a sair do carro e revistaram com todo o pormenor o veículo e o homem que conduzia, que parecia ligeiramente embriagado.

Assisti a tudo isto e só no fim da cena me lembrei de procurar a máquina fotográfica e de fotografar. Tal como acontecera na Eslovénia em 2006 ([[2007-06 - Eu não sou fotojornalista]]), fotografei já a pensar nesta história (repetida?) para esta espécie de blog.

|bgcolor(#ffffff):[img[há, não há|./wikiImages/hanaoha.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Matosinhos, Março 2007^^//}}}
{{indent{{{indent{^^
- há
- não há
- há
- não há
há, não há,
não há, há
há não há
há há
não há há
não há não há
- há ou não há?
- há, há
- não, não há
- aaaah!^^}}}}}}

Foi o discurso de Ano Novo do Presidente da República e as diferentes interpretações de cada força política que me sugeriram esta intervenção...

|bgcolor(#ffffff):[img[Port Pollenc|./wikiImages/maiorca2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Fermentor, Maiorca, Dezembro 2008^^//}}}
{{indent{{{indent{{{indent{^^
Só tenho uma ponta de
cigarro para fumar
E para apagá-la:
todo o mar

//Jorge Sousa Braga// ^^}}}}}}}}}

|bgcolor(#ffffff):[img[Em Serralves|./wikiImages/munoz.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Em Serralves'', Serralves, Janeiro2009^^//}}}
Um dos riscos que muitas vezes a chamada arte contemporânea corre é a de poder transformar-se numa espécie de circo - sem qualquer desprestígio para o verdadeiro circo e em particular para o chamado novo circo, que muito admiro. Ao jogar com a surpresa e a espectacularidade, nem sempre verdadeiramente justificada diga-se de passagem, corre um risco real de se transformar em entretenimento, multimédia ou não.

Não que eu tenha alguma coisa contra o entretenimento ou contra o espectáculo, mas em minha opinião a arte não pode ser só isso. Esta reflexão, sugerida a partir da visita à exposição de Juan Munoz em Serralves não pretende criticar o trabalho deste artista e também não pretende ser entendida como uma crítica àqueles que se fazem fotografar junto às peças, mais ou menos estranhas ou surpreendentes. Lembro-me de também eu muitas vezes o ter feito, quando visitava exposições com a minha filha ainda pequena e de lhe pedir para se colocar ao lado das peças, muitas vezes interagindo com elas.

A arte é sempre um risco, tem de ser, o problema é quando esse risco se transforma num risco calcu/lado(lista), no traço permanente de artistas, para quem apenas parece contar a dimensão, o choque, a surpresa.

{{indent{{{indent{{{indent{
^^//Never trust any photograph so large that it can only fit inside a museum
''Duane Michaels''//^^}}}}}}}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[Em Serralves|./wikiImages/munoz2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Em Serralves.'', Serralves, Janeiro2009^^//}}}

|bgcolor(#ffffff):[img[Em Serralves|./wikiImages/crise.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Serralves, Janeiro 2008^^//}}}
A opacidade da economia foi algo que sempre me intrigou. Eu bem tento espreitar por detrás dos biombos, mas a imagem nunca é nítida nem transparente.Tenho alguns amigos economistas e muitas vezes tentei com a sua ajuda compreender fenómenos para os quais não encontrava explicação. Quase sempre sem resultados. A economia parece ser menos transparente que a física quântica ou mesmo que a filosofia. Ora, seria de esperar que, apesar da complexidade, houvesse nos processos económicos um determinismo científico que tornasse possível a sua compreensão. Mas o que se verifica é que se o determinismo existe para as pequenas coisas e por isso os planos ou as previsões servem para alguma coisa, parece ser difícil explicar muitas coisas - talvez as mais importantes - que no entanto pareceriam fáceis de explicar. Tudo isto a propósito da crise, onde o principal continua quanto a mim por explicar. Porque razão a crise especulativa e financeira - que se compreende, é ao fim e cabo uma burla, não muito diferente dos jogos em pirâmide - tem este efeito tão rápido sobre a economia real? Porque razão aparentemente ninguém com responsabilidades a previu ou detectou? Se não, porque se persistiu nesse modelo tanto tempo? Porque razão só aparentemente os não alinhados com o sistema alertaram para esta possibilidade? E como é óbvio sem resultados. Tudo isto também a propósito das explicações do governo sobre o negócio com Manuel Fino. O que entendi do que ouvi (será que entendi?) é que o negócio é de facto mau mas foi a forma de a Caixa poder parecer, sublinho ''parecer'', que tinha bons resultados este ano. Extraordinário! Engenharias financeiras... Confesso que as engenharias financeiras - chamar-lhes engenharias é para mim um insulto à engenharia - são outro mistério, pois não entendo como podem continuar a ser utilizadas e aparentemente com bons resultados pelas empresas. A este propósito lembro-me sempre dos anos 80, quando a empresa em que trabalhava decidiu começar a dar vários trabalhos de empreitada a empresas que pertenciam por regra a funcionários, ainda que em nome de outras pessoas, funcionários que não realizavam os trabalhos durante o serviço, para os realizarem fora do período laboral - alguns enriqueceram - e argumentava-se que se aumentava a produtividade e se melhoravam os indicadores financeiros...Nunca compreendi, mas também isso não importava...Eu era um simples engenheiro...e não financeiro!

Depois da minha última entrada nesta espécie de blog sobre arte, recebi um email de um amigo, e não resisti a voltar ao tema.

|bgcolor(#ffffff):[img[A arte é?|./wikiImages/tvs.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Arte é'', Matosinhos, 2008^^//}}}
O mail dizia o seguinte:

^^O homem desceu na estação do metro de Washington DC vestindo jeans, camisa e boné, encostou-se próximo da entrada, tirou o violino da caixa e começou a tocar com entusiasmo para a multidão que  passava, na hora de ponta matinal. Durante os 45 minutos que tocou, foi praticamente ignorado por toda a gente. 

Ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares. Alguns dias antes Bell tinha tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custaram 100 dólares. 

A experiência, gravada em vídeo, mostra homens e mulheres de andar ligeiro, copo de café na mão, telemóvel no ouvido, crachá balançando no pescoço, completamente indiferentes à música do violino. Muito poucos pararam. A iniciativa realizada pelo jornal //The Washington Post// pretendia lançar um debate sobre o valor e o contexto da arte.

A conclusão que se pode tirar é de que só damos dar valor à arte, quando contextualizada. Qualquer lixo numa sala de museu é arte, se a encontrarmos na rua é simplesmente lixo. A performance de Bell era uma obra de arte sem museu. Um artefacto de luxo sem marca e sem etiqueta.

Durante a experiência só uma mulher o reconheceu...^^

Talvez os comissários que afirmam que "arte é aquilo que os artistas dizem que é arte" tenham razão. A culpa é afinal de Bell que não afirmou com veemência que aquilo que fazia na Central Station era arte.

 [[O vídeo da apresentação no metro está no You Tube|http://www.youtube.com/watch?v=hnOPu0_YWhw]]

|bgcolor(#ffffff):[img[desenhar meus próprios pés na areia inexplorada|./wikiImages/areia5.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Não vou por aí...'', Matosinhos, Fevereiro 2009
Uma das primeiras fotografias feitas com a minha nova maquininha^^//}}}
{{indent{{{indent{{{indent{^^
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada. 

//in Cântico Negro de José Régio// ^^}}}}}}}}}

O poema Cântico Negro do José Régio é para mim uma recordação bem viva da adolescência. Talvez a 1ª recordação da poesia, pelo menos da poesia dita. Lembro-me bem daqueles "Não vou por aí!" e de como nos mereciam respeito, quase nos amedrontavam, a nós, putos, a quem sempre nos tinham dito para ir sempre por ali. 

Hoje mais do que nunca, me parece ser de louvar aqueles que têm a coragem(coragem?) de dizer de olhos nos olhos "Não vou por aí", aí, o caminho que têm de trilhar para ter sucesso, para conseguírem o tal lugar, a tal nomeação.

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{{indent{{{indent{{{indent{^^A face humana é igual à daqueles deuses orientais: várias faces sobrepostas em diferentes planos, e é impossível vê-las todas de uma só vez.
//Marcel Proust//^^}}}}}}}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[...|./wikiImages/espelhosMatriciais1.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Projecto Espelhos Matriciais'', Março 2009^^//}}}
Iniciei este ano uma tese de mestrado em multimédia na Faculdade de Engenharia da UP. O título, ''Espelhos Matriciais'', não sei ainda se será o definitivo. 

O projecto pretende partir do retrato e utilizar um conjunto de técnicas estatísticas que permitem decompor e reconstruir retratos, imitando porventura processos sofisticados que existirão no nosso cérebro para memorizar, reconhecer e aprender novos rostos.

Desde há algumas décadas que se têm desenvolvido teorias que defendem existirem zonas do cérebro especializadas no reconhecimento de rostos e que existem mecanismos sofisticados, acredita-se explicáveis com a teoria da informação, que permitem optimizar esse processo, tirando partido de redundâncias, eliminando-as quando desnecessárias, e permitindo fazer o reconhecimento, minimizando a troca de informação entre neurónios, limitando o processo a zonas delimitadas do cérebro e consequentemente minimizando a energia despendida. Existem inúmeras evidências experimentais em humanos e noutras espécies, próximas da espécie humana, que confirmam estas hipóteses, ainda que ninguém saiba com rigor como tudo se passa dentro do nosso cérebro. Parece no entanto ser evidente que estes mecanismos foram fundamentais para a sobrevivência da espécie.

Com ligação a estas visões da psicologia e da neurologia têm sido desenvolvidas uma série de trabalhos na área da computação gráfica que têm tentado tirar partido de técnicas estatísticas sobre vectores-imagem para decompor imagens de rostos humanos em componentes estatísticos de vários tipos, que permitam de uma forma optimizada reconstruir e reconhecer rostos.

No projecto estou a utilizar uma Base de Dados de 442 rostos e estou a trabalhar numa perspectiva fotográfica, procurando componentes a partir desses rostos e reconstruindo-os, somando percentagens de alguns desses componentes, avaliando diferentes técnicas estatísticas.

Decidi utilizar esta espécie de blog para nele registar algumas reflexões ao longo deste trabalho.

<br>{{indent{{{indent{{{indent{^^A face humana é igual à daqueles deuses orientais: várias faces sobrepostas em diferentes planos, e é impossível vê-las todas de uma só vez.
//Marcel Proust//^^}}}}}}}}}
Quase sempre, ao longo da história da fotografia desde a sua invenção no século XIX, que ela tem sido encarada como um processo que envolve mistério e magia. Mesmo hoje, com a banalização da imagem fotográfica, essa aura de magia da fotografia está longe de ter desaparecido. 

Ser confrontado com técnicas estatísticas, capazes de decompor retratos em componentes fantasmagóricos ou abstractos, como os três tipos que apresento (PCA, ICA e NMF), que depois permitem, se somados nas proporções correctas, reconstruir de uma forma perfeita todos os retratos de uma Base de Dados de retratos e mesmo, com um pequeno erro, novos retratos, constituiu para mim um novo mistério a somar ao mistério da fotografia, um mistério que ainda hoje, depois de muitos meses a trabalhar com todas estas técnicas estatísticas, me surpreende e maravilha. 

|bgcolor(#ffffff):[img[PCAs|./wikiImages/pcas.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Projecto Espelhos Matriciais - componentes PCA'', Março 2009^^//}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[ICAs|./wikiImages/icas.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Projecto Espelhos Matriciais - componentes ICA'', Março 2009^^//}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[NMFs|./wikiImages/nmfs.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Projecto Espelhos Matriciais - componentes NMF'', Março 2009^^//}}}
Somar estes componentes na devida proporção e obter um retrato perfeito, de todas as pessoas da Base de Dados, continua a parecer-me inacreditável.

|bgcolor(#ffffff):[img[Reconstruir uma imagem|./wikiImages/reconstrucao.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Projecto Espelhos Matriciais - Reconstruir uma imagem ^^=∑A^^k^^I^^k'', Março 2009^^//}}}
Somar estes componentes na devida proporção e obter um retrato muito parecido com o de uma pessoa, cujo retrato nem sequer foi utilizado para calcular esses componentes, continua a parecer-me ainda mais inacreditável.

E se pensarmos que talvez haja no nosso cérebro mecanismos equivalentes, que permitem optimizar o processo de reconhecimento de rostos humanos, mais maravilhados teremos de ficar.

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|bgcolor(#ffffff):[img[Outra vez fotojornalista?|./wikiImages/fotojornalismo2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Eu não sou fotojornalista'', Matosinhos, Março 2009^^//}}}
Vou afirmando para quem me quiser ouvir que não sou fotojornalista mas o destino parece rir-se de mim e colocar-me as cenas à frente, para me tentar...

Esta semana, mais uma cena policial por debaixo da minha janela! Quase a mesma, com outros protagonistas. Desta vez (desta vez?) o destino brincou comigo. Fui de imediato buscar a câmara, mas já a cena estava no fim. Fotografei, o condutor do Smart entrou no carro e arrancou. Não sei sequer o que originou o aparato policial.

Não sou fotojornalista...

|bgcolor(#ffffff):[img[Já me fazia falta o cheiro...|./wikiImages/primavera2009_1.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Ferreiros, Alendouro, Março 2009^^//}}}

{{indent{{{indent{{{indent{
^^Olhos postos na terra, tu virás 
no ritmo da própria primavera, 
e como as flores e os animais 
abrirás as mãos de quem te espera. 
 
                //Eugénio de Andrade//^^}}}}}}}}}

Já me fazia falta o calor do sol, o cheiro da terra, o silêncio prenhe de ruídos, deitado langoroso sobre as ervas.

<br>{{indent{{{indent{{{indent{^^O sal é o mar servido às nossas praias domésticas de linho
//Carlos Oliveira//^^}}}}}}}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[Salinas em Piran|./wikiImages/sal.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Junho 2007, Salinas de Sečovlje, Eslovénia^^//}}}
Tal como a comida sem sal é desenxabida, as pessoas que não têm opinião própria, que não pensam pela sua própria cabeça, que expressam a opinião da maioria, do chefe, do partido, são quase sempre desinteressantes. Em Portugal, e acredito que quase em todo o lado, ter opinião própria, pensar, discutir, contrariar, perguntar, contradizer, reclamar não são qualidades apreciadas, não são atributos que facilitem a nomeação para lugares de direcção. Por muito que se afirme que se pretende desenvolver nas escolas o espírito crítico, o espírito cientifico, verifica-se facilmente que tal não é mais do que, mais uma vez, expressar uma ideia, só porque é uma ideia politicamente correcta. Basta olhar e assistir ao triste espectáculo que tantos administradores, adjuntos da administração, adjuntos dos adjuntos, secretários de estado, directores, sub-directores, sub-sub-directores, vereadores, secretários de vereadores e secretários dos secretários nos dão dia após dia. E alguns foram ou são nossos amigos. Basta observar aquilo que tantos políticos afirmam, quando no poder ou na oposição. No fundo temos aqueles que dizem com toda a frontalidade que não aceitam quem tenha uma opinião diferente e aqueles que são capazes de produzir anúncios televisivos, onde outros se prestam a afirmar, de uma forma até aparentemente muito ingénua, que protestar e reclamar só serve para atrapalhar quem quer trabalhar e chegar a horas para servir o país...


{{indent{{{indent{{{indent{^^A noite é a nossa dádiva de sol aos que vivem do outro lado da terra
//Carlos Oliveira//^^}}}}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{^^A discussão é uma dádiva de luz aos que vivem na escuridão...^^}}}}}}}}}

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|bgcolor(#ffffff):[img[Serralves|./wikiImages/guy1.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Março 2009, GUY TILLIM, Museu de Serralves^^//}}}
Estive em Serralves na abertura da exposição do fotógrafo Sul-africano Guy Tillim. Confesso que a exposição não me entusiasmou, apesar de haver algumas imagens de que gostei bastante. É o caso da imagem que "reproduzo", que me parece um quadro do pintor de um sentir americano, Edward Hopper.

Aliás o que considero porventura mais interessante na exposição é o facto de em nada me fazer lembrar a África que eu (des)conheço. Imagens quase sempre vazias de gente, mesmo em cidades super-populosas como Luanda e Maputo. Se não houvesse algumas, poucas imagens, com personagens e cenários tipicamente Africanos, poderíamos pensar que estávamos na Europa ou nos Estados Unidos. 

|bgcolor(#ffffff):[img[Serralves|./wikiImages/guy2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Março 2009, BETHAN HUWS, Museu de Serralves^^//}}}
Talvez seja isso que faz pensar ao olhar...
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<br>{{indent{{{indent{{{indent{^^A face humana é igual à daqueles deuses orientais: várias faces sobrepostas em diferentes planos, e é impossível vê-las todas de uma só vez.
//Marcel Proust//^^}}}}}}}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[Um novo rosto|./wikiImages/renata2.jpg]]|{{indent{^^...Eu vi a terra limpa no teu rosto, <br>Só no teu rosto e nunca em mais nenhum^^}}}<br>{{indent{{{indent{{{indent{^^//Eugénio de Andrade//^^}}}}}}}}}|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Projecto Espelhos Matriciais - Um novo rosto'', Janeiro 2009^^//}}}
Se aceitarmos que no modelo de memória e de reconhecimento visual existem dois níveis: memória de curto prazo e memória de longo prazo, coloca-se a questão de como e quando integrar no nosso conhecimento de longo prazo novos rostos. Essa integração consome energia mas permite no futuro reconhecer esse rosto com facilidade. A teoria é de que existem mecanismos que permitem de alguma forma estimar as entropias envolvidas e decidir inconscientemente quando o fazer. Claro que esta entropia (entropia??) terá de ter em conta razões psicológicas, sociais e afectivas.

Neste caso, sobretudo afectivas...
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|bgcolor(#ffffff):[img[Objecto pousado na paisagem|./wikiImages/objectoF.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, "''+ um objecto pousado na paisagem ou uma paisagem pousado num objecto''", Abril 2009, Torre D. Chama, Rebordelo^^//}}}
Quando os objectos não pousam na paisagem é a paisagem que vem pousar nos objectos...
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|bgcolor(#ffffff):[img[Objectos pousados na paisagem!|./wikiImages/objectosE.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, "''+ objectos pousados na paisagem''", Março 2009, Rebordelo^^//}}}
Existe em ~Trás-os-Montes o costume de dependurar dos ramos dos castanheiros, das oliveiras e de outras árvores todo o tipo de objectos. Na maioria dos casos simples sacos de plástico, mas também trapos ou mesmo peças de roupa velha, tapetes e artefactos variados. A ideia seria a de espantar a passarada ou os maus-olhados, que espreitam por detrás da linha do horizonte, mas a verdade é que atraem caçadores de objectos pousados na paisagem.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Oásis|./wikiImages/oasis.jpg]]|{{indent{^^...<br>...<br>Grandes são os desertos e tudo é deserto,<br>Salvo erro, naturalmente. <br>Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado! <br> Mais vale arrumar a mala.<br>//<br>Álvaro de Campos//^^}}}|
{{indent{//^^©Renato Roque, "''Oásis''", Abril 2009, Nozedo de Baixo, Rebordelo^^//}}}
Visitei hoje, 25 de Abril, uma mostra colectiva da chamada arte contemporânea - confesso que arte contemporânea é uma designação que há muito me desperta muitas perplexidades - num espaço em Campanhã, a pretexto de assistir a uma pequena conferência sobre o pensamento de Maria de Lurdes Pintassilgo. Um dos motes que serviu de inspiração à exposição foi "O 25 de Abril existiu?".

De facto, passados 35 anos desse dia, poderíamos perguntar se tal dia existiu mesmo, ou se o inventámos, se as pessoas que naquele tempo, de alguma forma, nele participaram são as mesmas, ou se desapareceram, se terá sido uma miragem de um oásis, provocada pelo cansaço e pela sede, no deserto que atravessávamos?

Em vez de arrumarmos a mala, partamos, com a mala vazia, à procura desse oásis do outro lado do deserto. Durante a viagem encontraremos os objectos para a preencher.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Já não há limites!|./wikiImages/limite.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Já não há limites'', Fevereiro 2009, Matosinhos^^//}}}
{{indent{{{indent{{{indent{
^^''A história da moral''

Você tem-me cavalgado 
seu safado! 
Você tem-me cavalgado, 
mas nem por isso me pôs 
a pensar como você. 

Que uma coisa pensa o cavalo; 
outra quem está a montá-lo. 

//Alexandre O'Neill//^^}}}}}}}}}

O problema é que muitas vezes parece que somos cavalgados e postos a pensar como eles. Pensamos não como o cavalo que é montado, mas que ainda é capaz de dar dois coices, mas deixamo-nos montar como meras bestas de carga.

Tudo isto a propósito do caso Névoa, que ultrapassa os limites do imaginável, só possível onde já nem a vergonha tem limites, pois a impunidade é tal que já nem procuram esconder, os novos senhores do reino, novos ricos da política. Estão tão acima de da ética e da moralidade que, lá de cima, já nem sequer conseguem ver que nem tudo lhes será permitido. Mas talvez o problema seja esse: que quase sempre quase tudo lhes seja permitido. E o mais grave é vermos gente de quem um dia já gostámos (podemos continuar a gostar?) a pactuar com esta gente...
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|bgcolor(#ffffff):[img[9x261=2349/Noves fora nada|./wikiImages/N261.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''9x261=2349/Noves fora nada/Uma imagem fruto do acaso'', Matosinhos,2008^^//}}}
No sábado assisti a uma pequena conferência do fotógrafo catalão Joan Fontcuberta, integrada nos Encontros da Imagem 2009. O tema da coferência era a proliferação de imagens nos nossos dias: o digital e a internet. Quem me conhece sabe bem que considero Fontcuberta como o fotógrafo porventura com projectos mais interessantes na chamada Fotografia Contemporânea. Admiro também muitíssimo os seus escritos e as suas reflexões, até porque, em vez de deixar que outros escrevam sobre o seu trabalho, decidiu ser ele próprio a fazê-lo, o que constitui hoje um enorme risco.

Vou no entanto tentar, neste pequeno espaço de um //tiddler//, rebater duas ideias que ele expressou durante a conferência.

{{grey{''Primeira ideia de Fontcuberta'': A fotografia digital é já outra coisa. Em rigor nada tem a ver com a fotografia. Dever-se-ia mesmo, na sua opinião, ter encontrado outro nome para a designar, em vez de recorrer a um simples adjectivo, "digital", pois esta terminologia gera a confusão, por criar a ilusão que tudo é fotografia. Segundo Fontcuberta, a fotografia constituiu uma espécie de objecto estranho na história da construção da imagem, perturbando o caminho traçado pelo desenho e pela pintura. O caminho anterior da história da imagem é no entanto retomado, segundo ele, com a fotografia digital. A pintura e o desenho escrevem-se ponto a ponto, traço a traço. A fotografia, pelo contrário, inscreve-se, ao roubar de uma só vez o instante ao referente que fotografa e que congela. Para Fontcuberta, a fotografia digital, ao assentar o processo nos pixéis, uma sequência de pontos, linha a linha, coluna a coluna, retoma o processo de escrita sequencial, tal como acontecia no desenho e na pintura. Para Fontcuberta a era da perfeição e da técnica elaborada na fotografia terminou. Por isso o próximo projecto de Fontcuberta vai ser uma instalação construída com milhares de auto-retratos 'roubados' em //blogs// e sites da //net//.}}}

Confesso que esta ideia me parece confusa. É uma verdade inquestionável que o digital provocou e continua a provocar mudanças profundas, mas essas mudanças já apareciam, ainda que por vezes timidamente, é certo, com o filme: a massificação da fotografia, máquinas baratas, até descartáveis, muito simples de usar, processos baratos e rápidos de revelação. Em minha opinião o processo de tomada de imagem não mudou no essencial. Talvez a razão tenha sido a necessidade de reutilizar a tecnologia e o equipamento. As máquinas fotográficas evoluíram a partir das máquinas de filme e contêm interfaces de utilização muito semelhantes. Nas máquinas de lentes intermutáveis, até as lentes podem ser as mesmas. Talvez fossem completamente diferentes se a fotografia e o filme não tivessem sido descobertos antes. Se calhar as máquinas digitais seriam //scanners// de varrimento, linha a linha, coluna a coluna. A grande mudança de paradigma faz-se, em minha opinião, no pós-produção. Mas quanto a mim esta massificação levada ao limite, esta proliferação de câmaras - o maior fabricante de câmaras é hoje a NOKIA - a simplificação de processos podem ser proveitosas para clarificar o essencial da fotografia. A fotografia foi durante muito tempo desvalorizada pela sua simplicidade, pela mecanicidade do processo. Ora, tal como na escrita, que todos ou quase todos conhecemos e que podemos utilizar, se o quisermos, a fotografia está aí hoje ao alcance de todos. O importante é utilizar a fotografia para apresentar e discutir conceitos, ideias, para contar histórias. Talvez pudéssemos portanto estar de acordo com Fontcuberta: o tempo de fazer retratos terminou, é o tempo de realizar projectos fotográficos. Mas, por outro lado, acredito que em vez de fechar portas devemos abrir outras portas e que os novos caminhos não fecham os caminhos anteriores. Novas atitudes perante a fotografia não invalidam novas abordagem em velhas atitudes. Se estas novas e velhas atitudes se confrontarem, mesmo se se digladiarem em determinados momentos, isso é bom, em vez do gosto único, novo-parolo, imposto por um grupo de comissários contemporâneos. Gosto único, que tantas vezes conduz a clonagens ad infinitum mas, se formos capazes de fazer a prova dos nove, noves fora nada.

{{grey{''Segunda ideia de Fontcuberta'': No digital o acidente, o acaso perdeu a importância. De acordo com Fontcuberta a possibilidade de visionamento imediato e a facilidade em fazer várias fotos, umas a seguir às outras, retirou à fotografia um elemento essencial no passado: o acaso. Muitas das grandes fotografias do passado resultaram de pequenos acidentes, de pequenos erros, transformados depois em "punctum", para utilizar a terminologia de Barthes. }}}

Ora, se é verdade que o digital conduz à fotografia repetida à exaustão e possibilita o visionamento imediato, não me parece que tal condicione o acaso, pelo contrário. Por um lado, ao fazer muitas fotografias a probabilidade do acidente aumenta, como facilmente se percebe. Por outro lado o perigo do visionamento e de eliminação imediata dos acidentes não me parece óbvio. Por um lado muitas vezes a eliminação só é feita posteriormente ao visionar o resultado total do trabalho, pois visionar, comparar, eliminar demora tempo e é uma operação arriscada. Não compreendo então porque razão o digital há-de conduzir a uma maior insensibilidade a resultados interessantes fruto de um acaso ou de um acidente. Pelo contrário, ao comparar as muitas imagens feitas, há a possibilidade de descobrir e de construir muitos acasos.

|bgcolor(#ffffff):[img[RR fotografa Steichen que fotografa visitantes de The Family of Man no MoMA|./wikiImages/steichen.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, "''RR fotografa Edward Steichen que fotografa visitantes de //The Family of Man// no ~MoMA''", Arquivo Universal, 2009^^//}}}
É extraordinária esta ambição humana megalómana de pretender colocar o mundo dentro de casa, dentro de uma gaveta, ou num livro. Talvez seja esta a explicação do coleccionismo: a ilusão de que se está a guardar o mundo, do qual nós somos os guardadores.

A fotografia veio oferecer uma ferramenta que parecia adequada para esta tarefa utópica. Um possível paradigma desta visão arquivística estará no projecto ''Museu Imaginário'' de André Malraux. O museu imaginário de Malraux construía-se coleccionando fotografias de todos os objectos de arte. Hoje qualquer pessoa pode facilmente, com a internet, obter imagens de quase todas as obras de arte da história da humanidade e construir esse museu imaginário dentro de casa.

A fotografia serviu pois, desde a sua descoberta no século XIX, como suporte para muitos projectos arquivísticos. A obra de August Sander será porventura a mais conhecida, mas muitos projectos arquivísticos se podem referir na Europa, nos EUA e com certeza no resto do mundo. A exposição Arquivo Universal no CCB, que fui a Lisboa visitar, era o retrato desta fotografia arquivística na Europa e nos EUA. August Sander lá estava, mas também a FSA (Farm Security Administration), e sobretudo a fotografia ao serviço dos movimentos sociais, a fotografia soviética e a fotografia fascista, as exposições universais.

Foi uma exposição importante, ainda que a sua montagem se tornasse por vezes para mim um pouco labiríntica. O livrinho, que era vendido na livraria é essencial para a compreensão da exposição. Talvez pudesse ter existido um desdobrável que resumisse o óptimo texto de Jorge Ribalta.

Serão os ''Espelhos Matriciais'' mais uma manifestação deste sonho arquivístico: encontrar os componentes que nos permitam reconstruir TODOS os rostos humanos?

<br>Se pensarmos em estatísticas construídas a partir de uma BD de retratos, as mais óbvias serão sem dúvida o retrato médio e o retrato desvio padrão. Esses dois resultados estatísticos são apenas resultados marginais do meu trabalho de tese, onde, como expliquei em //tiddlers// anteriores, procuro decompor os retratos da minha Base de Dados em componentes de vários tipos. Numa espécie de jogo de Sísifo, decomponho os retratos para os reconstruir de novo, somando os componentes, recuperando os retratos originais.

|bgcolor(#ffffff):[img[Retrato médio|./wikiImages/media_BDN.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, "''Retrato Médio''", Espelhos Matriciais, 2009^^//}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[Retrato desvio padrão|./wikiImages/STD_BDN.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, "''Retrato Desvio Padrão''", Espelhos Matriciais, 2009^^//}}}
Curiosamente o retrato médio e o retrato desvio padrão que obtive, a partir das 439 pessoas que fotografei, são muito parecidos.

Poderíamos pensar que a média e o desvio padrão de alguma forma integram todos os retratos, como se naquelas duas imagens pudessem estar, se calculadas com todos os retratos do mundo, todos os retratos de toda a gente à face da terra, sobrepostos em camadas: um álbum universal de retratos naquelas duas imagens simplesmente. Tal como nos retratos de telas de cinema do fotógrafo japonês Hiroshi Sugimoto, que ele fotografa do início ao fim do filme, o branco luminoso do ecrã contém as //frames// de todo o filme projectado.

<br>Este //tiddler// resulta da necessidade que senti de esclarecer o que poderia ser interpretado por alguns como alguma falta de rigor no meu último [[tiddler|2009-05 - Espelhos Matriciais 4]], associado ao projecto ''Espelhos Matriciais''. Quase sempre tento ser rigoroso, como se esperaria de alguém que recebeu formação em engenharia. Mesmo quando, de uma forma rigorosa, procuro deliberadamente a ambiguidade e a falta de rigor. No caso em questão, se pretendesse ser muito rigoroso teria de dizer que a 2ª imagem que coloquei em [[2009-05 - Espelhos Matriciais 4]] não é o retrato desvio padrão, mas o negativo do retrato desvio padrão.

|bgcolor(#ffffff):[img[Retrato desvio padrão|./wikiImages/STD_BDN_NEG.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, "''Retrato Desvio Padrão''", Espelhos Matriciais, 2009^^//}}}
Este é o retrato desvio padrão!

É fácil verificar que teria de ser assim. De facto, nas margens esquerda, direita e superior dos retratos nada varia e por isso o desvio padrão é zero - ou seja a imagem desvio padrão vai ser negra nestas regiões. Pelo contrário, os olhos tal como o cabelo são zonas de variação máxima entre retratos - portanto de cor branca ou quase branca na imagem desvio padrão.

Se preferi o negativo do retrato desvio padrão foi para obter uma imagem mais próxima de um retrato, como estamos habituados a vê-lo, porque na realidade o positivo e o negativo contêm exactamente a mesma informação.

|bgcolor(#ffffff):[img[EI 2009|./wikiImages/EI2009.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Fotografia de Dagmar Sippel na Torre de Menagem'', EI, Braga, 2009^^//}}}
Como todos os anos - ou deverei porventura dizer, em nome do rigor, todos os anos em que os Encontros da Imagem acontecem, pois tem havido hiatos por constrangimentos financeiros, mas como este ano é de eleições... - voltei a Braga para visitar os Encontros de 2009.

Este ano os Encontros pretendem, de alguma forma, ser um retrato de o que se poderia chamar uma fotografia feminina ou, de acordo com os textos de apresentação, de uma fotografia feminista. Somos de facto confrontados com alguns projectos influenciados pelo que se poderia chamar feminismo(s), por movimentos empenhados na luta pela defesa dos direitos da mulheres, mas outros parecem nada ter a ver com esta prática política. Por outro lado não sei se existe uma fotografia feminina. Claro que existe uma fotografia feita por mulheres - e é sobretudo disso que se trata - que inclui naturalmente projectos com influências dos feminismos. Trata-se portanto em minha opinião de um conjunto de projectos fotográficos realizados por mulheres, alguns com leituras feministas outros nem por isso, a maioria tendo como 'tema' objectos de natureza feminina, em particular o próprio corpo da mulher, em muitos casos o corpo da própria fotógrafa. E como é óbvio uns Encontros com estes contornos fazem sentido. O que me baralha é o título escolhido. Quando muito //Territórios Femininos//. A polémica permanecia - há territórios femininos? - mas o título seria coerente. Porque uma fronteira pressupõe dois lados. Não há fronteiras sem as regiões dos dois lados dessa linha de fronteira e sinceramente não sei quais são esses lados, quais os dois lados dessa(s) fronteira(s) do(s) género(s), nestes Encontros da Imagem.

Quanto às exposições em Braga cidade, tenho de confessar que só a da Torre de Menagem, da fotógrafa alemã de Dagmar Sippel, me surpreendeu pela força e pela vivacidade. Depois há momentos interessantes, mas também há, e sinto-me obrigado a revelá-los, pelo menos dois momentos bastante maus: o museu dos Biscainhos e uma das exposições do Museu da Imagem, um trabalho a que curiosamente já me referi relativamente ao [[prémio Revelação BES 2007|2007-12- BES Revelação 2007]]! E tenho a certeza de que voltarei a ver esta exposição.

Um dado curioso para análise sociológica poderia ser a percentagem de mulheres a auto-retratarem-se. Um grande número dos projectos dos Encontros assentam no auto-retrato. Porquê?

Reencontro no trabalho de Sippel a reconstrução do rosto humano, feita com pequenos mosaicos de outros (do seu? dos seus?) rostos. E regresso assim aos ''Espelhos Matriciais''. Em vez de reconstruir rostos com pequenos elementos, como Sippel, reconstruo-os com rostos fantasmas, que se somam para dar lugar ao aparecimento, não do meu rosto, mas dos rostos de todos nós.

A exposição do Mosteiro de Tibães é mais difícil de analisar, neste espaço e neste tempo, pela multiplicidade de propostas e de meios. Mas vale a pena a visita.

|bgcolor(#ffffff):[img[Requires involvment|./wikiImages/proibido2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Afixação proibida'', Porto,2007^^//}}}
Há de vez em quando, ainda que raramente, alguns //tiddlers// da minha espécie de blog que provocam reacções, às vezes de amigos e de conhecidos, por vezes mesmo de pessoas que não conheço. Foi o caso do último sobre o voto. Sabia que era uma opinião polémica, mas não quis deixar de a expressar. Pois houve mesmo até quem visse naquela ideia 'perigosa' possíveis tiques anti-democráticos.

Para nos entendermos começo por dizer que sou, no que respeita às liberdades individuais, mais liberal, ou devo dizer talvez libertário para não voltar a ser mal entendido, do que a maioria das pessoas. Defendo o direito dos homossexuais ao casamento, defendo a legalização do consumo e do comércio de todas as drogas, defendo o direito à opção individual por uma morte digna assistida por um médico, defendo o direito à expressão artística dos //graffiters// que, em vez de ostracizados, deveriam servir para integrar socialmente e até para colorir e alegrar as nossas cidades, opus-me a aspectos autoritários da lei do tabaco - em minha opinião por exemplo cada espaço (restaurante, bar, sala de concertos) deveria ter o direito de optar - e defendo ainda que nenhuma destas liberdades individuais deveria ser referendada, pois ninguém tem o direito de impor nestes campos o que quer que seja a outra pessoa.

Mas se defendo as liberdades mais amplas, também acho que há alguns deveres de cidadania. E o voto é um deles, em minha opinião.

Se consideramos tão importante o direito à liberdade do não voto, podemos facilmente com os mesmos argumentos defender o direito a não participar nas reuniões das escolas dos nossos filhos, o direito a não acompanhar os nossos filhos ao médico, ou o direito a recusar participar em simples reuniões e tarefas do condomínio.

O meu amigo Manuel António Pina, numa das suas crónicas diárias no JN desta semana, chamou a atenção para o facto de o PSD nas últimas eleições ter recebido o apoio de cerca de 9% dos portugueses e o PS de cerca de 8%! As contas são fáceis de fazer. Poderão vir a ser governo, apoiados por uma percentagem dessa grandeza de portugueses.

''Votemos e afixemos poesia em todas as paredes de afixação proibida!''

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|bgcolor(#ffffff):[img[IN/OUT|./wikiImages/IN.jpg]]|{{indent{^^Aqui <br>foram sempre cinzentos os muros as portadas o chão<br>as fardas as batas<br>os fatos-macacos<br>pelo menos até terem nas costas a vermelho o nome do patrão<br>os tanques as tinas as máquinas<br>as horas os horários<br>Nesses tempos assim<br>havia a tasca<br>Picar o ponto muito de manhã<br>a sirene cobria os telhados e as ruas<br>os campos até à fonte<br>depois calava-se a sirene<br>não entrava mais ninguém<br><br> //In Corpos de Cidade - texto de Eduarda Dionísio//^^}}}|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''IN/OUT'', Matosinhos, 2007^^//}}}
{{indent{^^IN condomínios fechados e não fechados
OUT fábricas fechadas e a fechar
IN especulação
OUT produção
IN/OUT
IN/OUT
IN/OUT
IN/OUT^^
}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[O teu sorriso permanente escorre de todas as caixas|./wikiImages/espelhosMatriciais2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''O teu sorriso permanente escorre de todas as caixas'', 17 de Junho de 2009^^//}}}

^^Para o André Puga^^

Um dia, há muito tempo, um amigo levou-me a visitar um país novo, desconhecido.

Tu devolveste-me esse entusiasmo antigo e quase esquecido de uma nova partida para uma viagem mágica.

Ele deu-me a mão e guiou-me. Tu deste-me a tua mão e guiaste-me.

Ele levou-me a uma clareira no meio de uma floresta. Contigo, entrei num mundo misterioso feito de caixas: caixas dentro de caixas, caixas de vários tamanhos, caixas que pareciam todas iguais.

À primeira vista pareciam todas vazias. “É necessário habituar o olhar para sermos capazes de eliminar as redundâncias que nos inundam a retina e nos impedem de ver o que é importante”, aconselhavas-me tu, com paciência.

Eu escutava e perguntava-te “Tal como no Principezinho?” e tentava imaginar quantas formas diferentes existiriam para dizer “ver com o coração”.

Tu insistias “Tens de fixar o olhar e ser capaz de isolar as coincidências suspeitas. Se o conseguires, descobres que as caixas não estão vazias, mas habitadas”.

Semicerrei as pálpebras e, depois de abrir e fechar muitas caixas, percebi que lá dentro residiam afinal pequenos seres fantasmagóricos, quase invisíveis, como que feitos de bruma.

Eram seres estranhos e mágicos que estavam dispostos a conceder-nos um desejo. Um só desejo.

E tu pediste “Quero sorrir toda a minha vida. Aconteça o que acontecer, quero sorrir sempre”, e o fantasma-mor, que habitava na maior caixa de todas, concedeu-te o desejo: um sorriso constante que se revelou à medida que foste fechando as caixas, tal como um retrato numa folha de papel branco impressionada pela luz, depois de mergulhada no revelador.

E eu pedi “Quero ter um amigo”. E o fantasma obediente também concedeu o meu desejo.

Mas, o fantasma era um //filho da puta// e enganou-nos. E, agora, eu não consigo libertar-me do teu sorriso. O teu sorriso permanente escorre de todas as caixas e molha o ecrã do computador.

O teu sorriso revelado e fixado. Aquele teu sorriso malandro de quem tudo está a perceber, mas não quer dizer. Que só diz, se lhe perguntarem. O sorriso de quem parece ser capaz de fintar o mundo.

O fantasma fintou-nos. Agora, o teu sorriso permanece no ar como o sorriso do gato de Cheshire.

{{indent{^^“– Gostava que não estivesses sempre a aparecer e a desaparecer assim tão de repente – disse Alice
– Está bem – disse o gato e, desta vez, desapareceu muito devagarinho, começando pela cauda e acabando com o sorriso, que ainda ficou a ver-se durante algum tempo depois do resto já ter desaparecido.”^^}}}

Por isso, talvez, pior do que perder um amigo é perder alguém que sabemos iria ser nosso amigo. E ficar só com o seu sorriso húmido no regaço. E repararmos que, só hoje, tão tarde, temos a coragem de nos tratar por tu…

<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[O transístor à beira mar|./wikiImages/musica.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Foz do Douro,  Junho de 2009^^//}}}
Confesso que tenho dificuldade em compreender a necessidade permanente de música que algumas pessoas parecem sentir. Não compreendo que as pessoas procurem a natureza, um recanto bucólico do rio ou um lugar à beira mar e, em vez de ouvirem o vento e a água, tenham necessidade de levar consigo aparelhagens ou de enfiar auscultadores nos ouvidos, para ouvirem a mesma música que ouvem quando estão no emprego ou em casa. Quantas vezes não é quase impossível encontrar uma esplanada numa praia sem música carregada de decibéis. 

Recordo-me sempre de uma experiência surreal, há uns anos em Maiorca. Um dia, ao fim da tarde, resolvi ir até à zona das praias ao sul de Palma de Maiorca e procurar um restaurante para jantar. Para minha perplexidade não conseguía encontrar restaurantes espanhóis, pois só havia restaurantes alemães, com música, televisão, cozinha e cerveja alemãs. Esses espaços estavam mesmo organizados por regiões da Alemanha: a Baviera, Berlim, Frankfurt, etc. Os alemães queriam exactamente o que tinham em casa, com apenas um pouco mais de sol.

|bgcolor(#ffffff):[img[Requires involvment|./wikiImages/eleicoes.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Perception requires involvment'', Stutgart,2006^^//}}}
Tenho cada vez mais a percepção de que o voto deveria ser obrigatório. Claro que cada um teria depois a liberdade de votar em branco, votar nulo ou até de se abster, se se achasse útil criar essa figura e distingui-la do voto em branco, mas mesmo essa abstenção teria de ser uma abstenção activa e revelada. A cidadania obriga a tanta coisa porventura menos importante. Votar é um envolvimento mínimo. E não faz sentido dizer que não vale a pena, que não há alternativa, pois eu acredito que existem milhares de alternativas. E acredito porque é isso que nos ensina a ciência. Num sistema complexo como são as sociedades humanas há infinitas variáveis e infinitos parâmetros em jogo; há infinitas combinações possíveis. A conversa de que não há alternativa é, curiosamente, ao mesmo tempo a conversa daqueles que nos querem convencer a votar neles "apesar de", mas também a conversa de quem assim justifica a abstenção. E argumentar que a abstenção é um castigo para os que trocam entre si o poder é pura ingenuidade. Mostram-se preocupados no dia seguinte, mas lá continuam cantando e rindo, desde que o sistema não sofra um bom abanão. E mesmo depois de um abanão, se não cair (veja-se crise recente) lá continuam sem grandes problemas.

Eu acredito que não só há alternativas, mas um número infinito de alternativas e até que cada alternativa tem um número infinito de caminhos para lá chegar. O paradoxo reside no facto de quase sempre não sabermos como lá chegar (eu não sei e, quando pensei que sabia, não sabia). Acredito que se pensarmos num qualquer modelo social, por mais estranho e bizarro que possa parecer, desde que não contrarie as leis da física, esse modelo é possível e que há maneiras de o alcançar. Se idealizarmos por exemplo um modelo social onde só se trabalha a partir dos 50 anos, ou outro onde os governantes são escolhidos pela altura ou pelo peso, ou um modelo social onde não há pobreza nem miséria, esses modelos são todos possíveis. Compete-nos tentar idealizar o nosso e procurar o caminho, mesmo que não saibamos onde procurar e nos sintamos perdidos. Votar é apenas uma pequeníssima parte desta responsabilidade. Quem não vota não tem direito a queixar-se.

|bgcolor(#ffffff):[img[Fotografia e o tempo|./wikiImages/Stome2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Santa Catarina, ilha de S Tomé, Julho de 2009^^//}}}
{{indent{^^Come writers and critics
Who prophesize with your pen
And keep your eyes wide
The chance won't come again
And don't speak too soon
For the wheel's still in spin
And there's no tellin' who
That it's namin'
For the loser now
Will be later to win
For the times they are a-changin'.

''The Times they are a-changing'', Bob Dylan^^}}}
Se repararmos no que se passa à nossa volta em Portugal e na Europa temos a sensação de que se está apenas à espera que passe a crise para tudo continuar na mesma. Assistimos a declarações entusiasmadas, inclusive da direita!!, sobre a necessidade de regulação da finança e, se estivéssemos distraídos acreditámos, se esquecêssemos o que diriam há um ano atrás, se se pretendesse fazer qualquer regulação, como clamariam contra a intromissão do estado no mercado e como cantariam louvores à iniciativa privada, ao capital financeiro e ao sacrossanto mercado. Ouvimos muitas declarações de todos os quadrantes mas não me recordo de nenhuma medida concreta, a não ser correr a salvar os bancos. Qual foi a iniciativa para diminuir ou controlar a especulação e evitar novas crises no futuro? Não são os mesmos que estão à frente dos governos, das instituições, dos bancos? Quem vai ser o próximo presidente da Comissão Europeia? Não esteve nas Lages? Qual a mudança? Can we change it? Really?

Um resultado muito interessante a que não tenho visto dar o devido realce é o resultado das últimas europeias neste contexto. Em plena crise, foram os partidos da direita, porventura mais ligados às políticas que a provocaram, que tiveram mais votos. "Uma injustiça", clamam os socialistas. "Nós batemo-nos contra estas políticas", ouço clamar. Seria? Porque não demos então por isso? Estávamos de olhos fechados? Ou será que as pessoas percebem que foram os socialistas que muitas vezes - ver Portugal - que melhor implementaram o que defendia a direita e que por isso são responsabilizados? Ou será que todos os povos da Europa são estúpidos?

Aqueles que previram esta crise eram lunáticos, os que daqui a alguns anos a lembrarem, se a crise não se aprofundar e se houver uma recuperação temporária, serão considerados detractores da história e exagerados. As pessoas esquecem muito rapidamente, por vezes esse esquecimento é mesmo paranóico. //Will the chance come again?//

Ao contrário da Europa, nos EUA parece ainda haver lugar para alguma mudança. Talvez ela não seja (não vai ser com certeza) tão profunda quanto deveria, mas parece haver pelo menos lugar para esperanças moderadas.

|bgcolor(#ffffff):[img[Espelhos Matriciais|./wikiImages/espelhosMatriciais3.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, rosto reconstruído com 40, 70, 100, 150, 200 e 400 componentes, projecto Espelhos Matriciais, Julho de 2009^^//}}}
No projecto ''Espelhos Matriciais'' construí uma Base de Dados de 400 retratos a partir da qual calculei um conjunto de 400 componentes que me permitem reconstruir todos esses retratos.

1. Os retratos da BD são reconstruídos sem qualquer erro. Retrato reconstruído= Retrato original

2. Retratos novos podem ser reconstruídos com um erro final de cerca de 5%, o que possibilita apesar de tudo o reconhecimento.

Em rigor para reconhecer um retratado da BD necessitamos apenas de cerca de 20 a 40 componentes, ou seja menos de 10% do total.

No caso de um retrato novo, o erro perto de 5% obtém-se também com pouco mais de 40 componentes e portanto os restantes pouco acrescentam.

Assumindo a analogia com a aprendizagem de retratos no nosso cérebro, perante um retrato novo teremos de decidir se o reconstruímos com erro, com os componentes que conhecemos, ou se os recalculamos, para o novo retrato integrar a nossa BD. Seria de esperar que a quantidade de informação do novo retrato pudesse justificar em parte essa decisão. Todos conhecemos a dificuldade inicial que por vezes sentimos em reconhecer as pessoas, quando viajamos para um país onde as pessoas são fisionomicamente diferentes.

Ora na BD de retratos que construí havia muito poucos rostos negros ou orientais. Este facto deve-se apenas ao facto de a percentagem de alunos e de professores com essas características na Faculdade de Engenharia e no ISEP, onde realizei os retratos, ser baixa. Pensei por isso que a reconstrução destes rostos, com componentes calculados quase só com o que se poderia designar "grosso modo" por "brancos", apresentasse um comportamento diferente. Resolvi testar, pensando que poderia obter resultados que pudessem justificar a tal decisão de reconstruir a BD e de recalcular os componentes. Mas verifiquei que o comportamento era, pelo menos visualmente, rigorosamente o mesmo - a fotografia acima mostra a reconstrução de um rosto negro com 40, 70, 100, 150, 200 e 400 componentes - e verifiquei que a curva da evolução do erro com o nº de componentes era rigorosamente idêntica à que obtinha com qualquer outro retratado. Resolvi levar a experiência ao limite e construí uma BD sem rostos negros nem orientais e reconstruí esses rostos com os componentes que assim calculei e mais uma vez, a olho nu, o processo tem resultados absolutamente idênticos. Obtive neste caso no final mais uma vez um erro de cerca de 5%, tal com obtivera com qualquer outro retratado. Não sendo o resultado esperado, foi um resultado interessante.

Mas o texto que eu escrevi para descrever esta experiência gerou uma saudável controvérsia com um velho amigo. De início, no meu texto eu falava de raça negra. Era ainda um rascunho e eu sabia que não estava a ser rigoroso no plano científico, pois sabia que o conceito de raça não é hoje aceite pela Ciência no caso da espécie humana. Esse amigo chamou-me a atenção para esse facto e bem.

{{indent{//"Today, most scientists view human variation as distributed clinally, often without any sharp discontinuities. While acknowledging the existence of human variation among groups, anthropologists have abandoned the view that clearly delineated, discrete racial entities exist, since there often is considerable overlap in characteristics among the populations. Furthermore, in at least one study most of the variation in physical traits found was among individuals within the so-called racial groups (ver Wikipedia)".//}}}
No entanto, de acordo com esse meu amigo, eu nem sequer deveria falar em negros ou orientais, por serem conceitos subjectivos e marcados por estigmas culturais. Deveria utilizar as expressões "Fisionomia de tipo africano" e "Fisionomia de tipo asiático". Depois de alguma polémica decidi manter a referência à cor da pele ou a designação de rosto oriental no meu texto. Para mim, falar em rosto negro é equivalente a falar de cabelos loiros ou ruivos; posso dizer "Vi um negro" como posso dizer "Vi um homem de olhos azuis" ou "Vi uma mulher loura". Não é com certeza uma classificação científica. Para a fazer, se se pretender definir cores, teria com certeza de chegar ao ponto de referir o RGB ou o pantone...Mas estas designações são entendidas pelas pessoas e no meu trabalho não precisava de maior rigor na designação. Queria apenas testar a reconstrução de um rosto fisionomicamente diferente e dizendo "rosto negro", ainda para mais com as fotografias desse rosto, é totalmente claro do que estou a falar. O que eu não entendo com toda a sinceridade é a vantagem de substituir negro, por exemplo, por "Fisionomia de tipo africano", que é quanto a mim tanto ou mais vago e mais subjectivo ainda. Africano de onde? No Norte de África as populações são "quase tão brancas" como no sul da Europa. A sensação, que não posso deixar de ter, é de que estes pruridos não passam de eufemismos, motivados pela culpa colonial colectiva, que nos inibe de dizer negro, mas não nos inibe de dizer louro ou de dizer olhos azuis.

E a natureza brinca connosco e permite negros louros, de olhos azuis...

|bgcolor(#ffffff):[img[Fotografia e o tempo|./wikiImages/Stome1.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, S Tomé, Roça Agostinho Neto, Julho de 2009^^//}}}
Desde aquele instante mágico(?) em que fiz esta fotografia, a primeira de uma série, na roça Agostinho Neto que se chamava Rio de Oiro antes da independência de S. Tomé e Príncipe, que a imagem me recordou [[o trabalho do fotógrafo Sul-africano Guy Tillim|2009-03 - Regresso a Serralves]], que vi há pouco tempo em Serralves. A primeira palavra que me ocorreu para caracterizar estas imagens foi intemporalidade, mas não era a palavra que eu procurava, pois as fotografias têm de facto um tempo, depois pensei em multi-temporalidade, mas também essa não correspondia à ideia que eu pretendia expressar. O que eu de facto procurava era o conceito matemático de intervalo: [t1,t2]. Toda a fotografia - digital ou analógica, não interessa - tem inerente ao próprio processo o conceito de intervalo de tempo, um delta T que corresponde ao tempo durante o qual o obturador está aberto. Quando a fotografia foi inventada esta ideia de tempo era mais clara, pois o processo exigia tempos de exposição muito longos, de vários minutos. A evolução tecnológica permitiu, entre outras coisas, desenvolver um processo fotográfico que funciona com tempos muito curtos, da ordem dos centésimos de segundo ou menos. Isto criou a ideia do instante, ligado à fotografia: o instante decisivo. Mas, de facto, cada fotografia aprisiona um delta T dentro de si. O projecto que conheço que melhor sistematiza esta ideia é o projecto sobre cinemas e drive-ins nos EUA, do fotógrafo japonês Hiroshi Sugimoto, de que tanto gosto. O que perturba nestas imagens e também, quanto a mim, nas imagens de Guy Tillim é nos parecer que este delta T é de dezenas de anos. Como se a fotografia sobrepusesse a década de 40 e 50 ao tempo actual.

Teria eu feito esta fotografia se não tivesse visto o trabalho de Guy Tillim? Teria feito a mesma? Outra diferente? Não sei responder. Nós não somos mais do que construtores de puzzles a partir de peças que a vida nos coloca nas mãos.

<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Fotografia e o tempo|./wikiImages/Stome3.jpg]]|{{indent{^^O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,<br>Pondo grelado nas paredes…<br>O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),<br>O que eu sou hoje é terem vendido a casa,<br>É terem morrido todos,<br>É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…<br><br>//Álvaro de Campos em ''No tempo em que festejavam o dia dos meus anos''//^^}}}|

{{indent{//^^©Renato Roque, Roça de S. João, ilha de S Tomé, Julho de 2009^^//}}}
Na África colonizada por Portugal - admito que o mesmo aconteça nas Áfricas colonizadas por outros países - somos frequentemente confrontados com situações em que nos parece que há cenas que viajaram no tempo e que caíram no presente baralhando, o fluxo normal do tempo. Não é o mesmo fenómeno que descrevi ao referir [[o trabalho do fotógrafo Sul-africano Guy Tillim|2009-07 - Fotografia e o tempo]], onde as imagens sugerem um intervalo de tempo [t1,t2]. Aqui o tempo passado interfere no presente, baralhando o seu curso.

Qual o objecto insólito pousado nesta paisagem?

|bgcolor(#ffffff):[img[Há o mar|./wikiImages/afife1.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Há o mar'', Afife, Julho de 2009^^//}}}
{{indent{^^Nos fins de Setembro quando eu partir
de uma cidade seja ela qual for
quando eu pressentir que alguém morre
que alguma coisa fica para sempre nos dias
e ou nuns olhos ou numa água
num pouco de água ou em muita água
onda do mar lágrima ou brilho do olhar
eu recear seriamente vir-me a submergir
direi alto ou baixo conforme puder
com a boca toda ou já a custar-me a engolir
as palavras mar ou mulher
com certo vagar e cada vez mais devagar
mulher mar
depois quase já só a pensar
o mar a mulher
Não sei mas será
talvez mais que outra coisa qualquer
uma forma de me despedir

{{indent{//Ruy Belo, in ''Uma forma de me despedir'', in ''Toda a Terra''//}}}^^}}}

Porque razão cada vez mais sinto já o fim do Verão quando Agosto começa? Onde estão aquele Verões infindáveis de que me esqueço? E nos fins de Setembro quando eu partir de uma cidade seja ela qual for...?

Mas não, ainda não é uma forma de me despedir...
<br>

|bgcolor(#ffffff):[img[A fotonovela na Bienal de Cerveira|./wikiImages/fotonovela.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''A fotonovela na Bienal de Cerveira'', Bienal de V.N.Cerveira, Agosto de 2009^^//}}}
Construí algumas vezes, há muitos anos, pequenas narrativas, a partir de pequenos conjuntos de postais gratuitos que recolhera antes sem qualquer intenção, em galerias, cafés e bares. Há muito tempo que o não fazia. Não sei explicar porquê, tive o impulso de construir uma narrativa desse tipo, com base num conjunto de fotografias que fiz durante a visita à Bienal de Cerveira deste ano.

Uma brincadeira para o meu amigo Emílio Remelhe que vai orientar um //Workshop// Criativo de Escrita e Desenho na Reitoria da UP, chamado CINCO [MIL] SENTIDOS.

|bgcolor(#ffffff):[img[Der Photographer und der Unicorn - Eu estive aqui|./wikiImages/unikorn.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Der Photographer und der Unicorn - Eu estive aqui'', Bienal de V.N.Cerveira e ciclovia de Valença, Agosto de 2009^^//}}}
Joan Fontcuberta esteve este ano nos Encontros de Braga a apresentar o seu novo projecto construído com auto-retratos ao espelho, quase todos anónimos, roubados da internet. Enviei-lhe também alguns. A seu pedido escrevi um pequeno texto sobre o espelho na minha fotografia e as razões de me auto-retratar à frente de todo o tipo de espelhos. Desde o início que o espelho é um objecto mágico (simbólico?) na minha fotografia e na minha escrita. Desde que me lembro que os espelhos me atraem. Quando trago comigo a câmara fotográfica, imagens reflectidas, por espelhos de todo o género, funcionam muitas vezes como canto de sereia, de que não consigo escapar. Passo horas à sua volta, como as borboletas à noite cirandam à roda das lâmpadas. Acreditava que me fotografava tantas vezes reflectido nos espelhos como uma simples extensão dessa minha atracção misteriosa por essas superfícies brilhantes e reflectoras. Terei percebido, (pela primeira vez?), ao escrever o texto que ele me pediu, a relação entre o retrato e as práticas ancestrais, animais, de marcar o território? Serão os auto-retratos marcas no terreno, registos de passagem, fruto de uma necessidade biológica(?) de marcarmos o território? Um mecanismo inato, instintivo de defesa?

Fotografo e fotografo-me tal como outros escreveram o seu nome em troncos de árvores ou em paredes, ou até nas portas das casas de banho - //Eu estive aqui// - ou porventura até como os nossos antepassados longínquos se aproximavam de uma árvore, erguiam a perna e urinavam, para marcar com o seu cheiro o território? Será afinal a fotografia (toda a criação artística?) apenas um substituto civilizacional para esse alçar de perna, para marcar um novo território construído no espaço, mas sobretudo no tempo?

|bgcolor(#ffffff):[img[Jazz no Parque 2009|./wikiImages/jazzSerralves.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Jazz no Parque 2009'', Jardins de Serralves, Agosto de 2009^^//}}}
Sentei-me na cadeira para assistir ao concerto, nos 'courts' de ténis do salão de chá, nos jardins da casa de Serralves. À minha frente sentava-se uma mulher jovem e bonita. A sua figura elegante era realçada pelos raios de sol frágeis de fim de tarde de verão. A sombra, que invadia o recinto, começava mesmo à sua esquerda, como se não ousasse cobri-la, ou como se o sol se recusasse a mover e a deixá-la. Antes da primeira música, com uma enorme subtileza, ergueu as duas mãos, pô-las por detrás da nuca, levou-as ao cabelo, abraçou-o, entrelaçou-o e esculpiu um pequeno puxo. Com grande perícia colocou o gancho dourado de fantasia a segurar os cabelos longos, castanhos. No fim, como se de um ritual se tratasse, pareceu contar, um por um, o número de cabelos, que soltou e deixou pender de cada lado do rosto. 

Uma pequena mecha de cabelos soltos marcava-lhe de cada lado as linhas do rosto e parecia brincar com os longos brincos pingentes, ao som dos solos de saxofone de Bennie Wallace e dos temas de Monk. Quase não lhe vi o rosto, pois a mulher sentava-se à minha frente e nunca olhou para trás.

|bgcolor(#ffffff):[img[O Tchiloli em S. Tomé|./wikiImages/Tchiloli2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''O Tchiloli'', S. Tomé, Julhode 2009^^//}}}
//^^Não há nenhum documento da cultura que não seja também documento de barbárie^^//
{{indent{//^^Walter Benjamin^^//}}}
Em S. Tomé assisti ao fim do dia à representação de uma pequena peça de teatro popular, por convite do João Carlos Silva, que conheci no seu restaurante na roça de S. João. Apesar de não ter compreendido quase nada do texto, a representação pareceu-me extraordinária. A música era inebriante. Diria, com o atrevimento que a minha ignorância perdoa, que muitas vezes me fez lembrar alguma música contemporânea, tal como curiosamente me tinha acontecido quando assisti às Bugiadas de Sobrado. Os personagens, em grande número, alguns com máscaras que lhes encobriam os rostos, trajando vestimentas vistosas, coloridas, europeias e africanas, e onde vários tempos se pareciam misturar, entravam e saíam de cena por uma cortina, falavam, rodopiavam e cantavam. Soube depois que se tratava de um texto inspirado na peça "Tragédia do Marquês de Mântua", escrita pelo escritor cego madeirense Baltazar Dias (Séc. XVI), que foi autor de inúmeras obras dramáticas e de muita literatura de cordel. O drama original tomou a forma de um julgamento, transferido para um tribunal, mas mantêm-se vivas as linhas gerais da tragédia popular original e os seus personagens: o imperador e a imperatriz, que recebem na corte a família do marquês de Mântua, os ministros, os conselheiros do imperador e os notáveis da corte. O texto original teria sido levado para S. Tomé ainda no Séc. XVI por colonos madeirenses, trazidos para introduzir nas ilhas o cultivo da cana do açúcar, que o teriam representado à maneira tradicional da Ilha da Madeira. O texto, escrito em poesia pelo autor madeirense, foi transformado em prosa, mas ainda hoje, curiosamente, mantém o português antigo (com algumas corruptelas das línguas africanas), ainda que com alguns diálogos e e alguns personagens novos. No hibridismo do Tchilôli, nome africano para estas representações, há a componente europeia, isto é, portuguesa, mas também uma componente africana marcada, conferida sobretudo pela música, pelo canto, por algumas indumentárias - as principais personagens parecem vestir à maneira europeia do Séc. XIX, mas com elementos claramente africanos - pela magia das danças e por largas cenas mimadas e pantomímicas, como as cenas da caçada, do crime, do funeral e do julgamento. As intervenções dançadas e cantadas servem para acentuar as sequências de tempo: são a música e a dança que asseguram o ritmo da representação. E o que é extraordinário é que, tanto quanto sei, estas representações desapareceram na Madeira. Em contrapartida a peça é representada com regularidade em toda a ilha de S. Tomé, várias vezes ao ano, por vários grupos, em muitas festividades, algumas de carácter religioso. Cada um dos personagens da peça é motivo de grande honra para a família que o detém, pois cada personagem passa normalmente de pais para filhos, como uma herança familiar de grande valor.

Estes fenómenos de adopção de objectos culturais de outros povos e de outras culturas, mantidos com enlevo ao longo de gerações, são fenómenos comuns, também em Portugal, mas continuam a ser para mim difíceis de compreender. Porque razão os povos mantêm e cultivam músicas, danças e representações que aparentemente lhes são estranhas e porventura até simbólicas de uma opressão passada, difícil de aceitar? Porque razão as adoptam como suas e as mantêm ao longo de séculos, mesmo quando parecem completamente desprovidas de significado real? Porque as representam vezes sem conta, quando todos já conhecem de cor e salteado tudo aquilo que vai acontecer? Muitas razões podem com certeza ser apontadas para explicar estes fenómenos culturais, mas nenhuma é capaz de decifrar todo o mistério destes objectos insólitos pousados na paisagem do tempo.

|bgcolor(#ffffff):[img[Uma pedra em Vilar de Perdizes|./wikiImages/pedraVilarPerdizes.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Uma pedra em Vilar de Perdizes'', Vilar de Perdizes, Agosto de 2009^^//}}}
Passei o primeiro fim de semana de Agosto em Chaves e aproveitei para voltar a Vilar de Perdizes. Vilar de Perdizes é conhecida sobretudo pelos encontros de Medicina Tradicional. Tinha lá estado há muitos anos com os meus amigos da Baviera, Gudrun e Viktor. Vilar de Perdizes pareceu-me diferente. Agora todos os pontos de interesse estão bem sinalizados. Segui as indicações à procura do Penedo de Caparinho. Não o encontrei, ou melhor não sei se o encontrei, pois acabei por dar com um penedo, que não estava sinalizado, e que não me pareceu diferente de muitos outros. Fiquei sem saber se tinha chegado ao sítio certo. Mas dei o tempo por bem empregue. No regresso, uma mancha de luz atraiu-me do meio do mato. Ao contrário do que é meu hábito nestas andanças, à cata de objectos pousados na paisagem, não estava preparado para o corta-mato: vestia calções e calçava sapatos sem meias. Mas o apelo daquela luz, que percebi ser reflectida por uma pedra lisa de granito quase branco, que espreitava por entre os fetos e silvas, quase um ovo gigante pré-histórico petrificado, era mais forte que o risco de uns poucos arranhões e de umas picadelas, e lá me aventurei à procura dessa pedra misteriosa para a fotografar.

Jorge:

@@color(#993300):{{indent{^^[[Mais uma pedra que flutua|2005-10 - A pedra que flutua]]
na mesma erva
que a tua^^}}}@@

|bgcolor(#ffffff):[img[A barbearia|./wikiImages/principe1.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''A barbearia'', St. António em Príncipe, Julho de 2009^^//}}}

^^Entrei no barbeiro no modo do costume, com o prazer de me ser fácil entrar sem constrangimento nas casas conhecidas. A minha sensibilidade do novo é angustiante: tenho calma só onde já tenho estado.

Quando me sentei na cadeira, perguntei, por um acaso que lembra, ao rapaz barbeiro que me ia colocando no pescoço um linho frio e limpo, como ia o colega da cadeira da direita, mais velho e com espírito, que estava doente. Perguntei-lhe sem que me pesasse a necessidade de perguntar: ocorreu-me a oportunidade pelo local e a lembrança. "Morreu ontem", respondeu sem tom a voz que estava por detrás da toalha e de mim, e cujos dedos se erguiam da última inserção na nuca, entre mim e o colarinho. Toda a minha boa disposição irracional morreu de repente, como o barbeiro eternamente ausente da cadeira ao lado. Fez frio em tudo quanto penso. Não disse nada.

Saudades! Tenho-as até do que me não foi nada, por uma angústia de fuga do tempo e uma doença do mistério da vida. Caras que via habitualmente nas minhas ruas habituais - se deixo de vê-las entristeço; e não me foram nada, a não ser o símbolo de toda a vida.

O velho sem interesse das polainas sujas que cruzava frequentemente comigo às nove e meia da manhã? O cauteleiro coxo que me maçava inutilmente? O velhote redondo e corado do charuto à porta da tabacaria? O dono pálido da tabacaria? O que é feito de todos eles, que, porque os vi e os tornei a ver, foram parte da minha vida? Amanhã também eu me sumirei da Rua da Prata, da Rua dos Douradores, da Rua dos Fanqueiros. Amanhã também eu - a alma que sente e pensa, o universo que sou para mim - sim, amanhã eu também serei o que deixou de passar nestas ruas, o que outros vagamente evocarão com um "o que será dele?". E tudo quanto faço, tudo quanto sinto, tudo quanto vivo, não será mais que um transeunte a menos na quotidianidade de ruas de uma cidade qualquer.

//Em ''Livro do Desassossego'' de Fernando Pessoa//^^

O 'desaparecimento' completo de alguém é perturbador. Muitas vezes penso que quando a minha geração morrer mais ninguém se vai lembrar da minha avó. Será como se nunca tivesse existido. Ninguém se lembra já dos meus trisavós ou tetravós. NADA! Acredito que a criação é motivada em grande medida por uma procura vã da eternidade, mesmo se inconsciente. Mas mesmo aqueles que, como Pessoa, parecem não desaparecer, de facto desaparecem quando morre o último ser humano que os conheceu pessoalmente. O que resta são, quando muito, os seus livros e as suas fotografias.

^^O homem, ao morrer, apaga
com o último suspiro
o mundo em que viveu.

//Teixeira de Pascoais//^^

|bgcolor(#ffffff):[img[Uma roda para Duchamp|./wikiImages/roda.jpg]]|{{indent{^^O primeiro homem a comparar as maçãs do rosto de uma mulher com uma rosa foi com certeza um poeta; o primeiro que o repetiu era possivelmente um idiota. //Salvador Dali//^^}}}|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Uma roda para Duchamp'', Matosinhos, 2008^^//}}}
Duchamp é quase sempre apontado como o grande responsável por quase tudo o que hoje se faz, a que se chama arte contemporânea, às vezes de qualidade no mínimo duvidosa. Mas Duchamp, coitado, não tem culpa nenhuma se, em nome de Duchamp, muitos, sem a sua inteligência, nem o seu sentido de humor, repetem as mesmas questões, vezes sem conta e vezes sem graça, mas quase nunca de graça, pois são pagos por isso, e outros, que não eles, que os promovem, são pagos ainda melhor. Mas eu explico. Para muitos foi Duchamp quem minou os terrenos da arte, ao atrever-se a colocar a questão "O urinol, colocado de pernas para o ar, transformado por mim em 'fonte' e mostrado como arte, pode ser arte?", sendo portanto 'culpado' por todos os becos, aparentemente sem saída, em que a arte contemporânea se meteu. De facto, aquilo que Duchamp fez, quando muito, foi colocar as minas no terreno, ao mesmo tempo que nos oferecia o mapa da sua localização. Mas houve uns senhores, que logo se aperceberam do perigo que um campo de minas no terreno da arte poderia constituir, por afugentar os clientes. Com jeito para o negócio, inteligentemente, decidiram transformar o risco numa oportunidade de negócio. Porque não transformar o campo de minas artístico numa grande atracção turística? Pegaram nos mapas e esconderam-nos. Eu lembro-me de quando comecei a minha vida profissional se contarem histórias de chefias que escondiam folhinhas, onde tinham escritas as instruções de como realizar cálculos importantes, porque o segredo era a alma do seu poder. Aquelas folhinhas eram guardadas como tesouros, e ninguém podia ter acesso a elas. Os senhores esconderam a localização das minas de Duchamp, para ganharem dinheiro a conduzir os ignorantes através dos campos de minas e para os trazer de volta exactamente ao ponto de onde partiram. E nós, os ignorantes, ou os medrosos da ignorância, o que é quase a mesma coisa, pagamos pela travessia e não damos por nada. Duchamp riu-se, alinhou no esquema e vendeu não sei quantos urinóis a não sei quantos grandes museus, que assinou com R. Mutt, como se tivessem sido o verdadeiro urinol, a que chamou //Fountain// e que mostrou(?) no Salão dos Artistas Independentes em Nova Iorque.

Coitado de ti, Duchamp. Coitado? Sei que te estás a rir da triste figura que nós fazemos, ceguinhos de todo, agarrados aos braços dos guardiões dos mapas, que nos conduzem e ajudam a acreditar que estamos a atravessar o campo das tuas minas. Bem, a verdade é que me lembrei de ti ao visitar uma exposição na Culturgest e, como sei que gostas de rodas, decidi oferecer-te esta. Quero que me desculpes, pois a roda estava muito alta e não fui capaz de a assinar ...

|bgcolor(#ffffff):[img[Chuva de Março|./wikiImages/chuvaMarco2.jpg]]|{{indent{^^CHUVA DE MARÇO<br><br>A chuva detrás dos vidros,<br>a chuva de março,<br>acesa até aos lábios, dança.<br>Mas a maravilha<br>não é a primavera chegar assim<br>como se não fora nada,<br>a maravilha são os versos<br>de Williams<br>sobre a rasteira e amarela<br>flor da mostarda.<br><br>//Eugénio de Andrade//^^}}}|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Chuva de Março'',Matosinhos, Março 2008^^//}}}
A literatura é muitas vezes o único refúgio que nos resta. Frágil, falsa(?), mas sempre presente, para deitarmos e repousarmos a nossa cabeça...
<br>

|bgcolor(#ffffff):[img[Future Places?|./wikiImages/futurePlaces.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Future Places?'', Frankfurt, 2008^^//}}}
O tempo constitui para mim um dos grandes mistérios, que me fascina mas ao mesmo tempo me perturba, e que porventura nunca chegaremos a compreender. No espaço existe uma realidade física que podemos agarrar com as nossas mãos, mas o tempo flui e nunca está lá para o agarrarmos. Mesmo a fotografia mais não é do que o registo baço de uma parte ínfima de um intervalo de tempo, 1/100 ou 1/50 do segundo colados num papel, aprisionados nos sais de prata ou nos bits de um cartão. O futuro não existe, é imaginação; quando se concretiza no presente deixa de ser futuro e deixa também logo de ser presente; é imediatamente passado. Não existe portanto nem o futuro nem o presente e o passado são memórias que se esboroam com o tempo. O que existe é este correr, este fluir permanente, que não sabemos de onde veio nem para onde vai, nem sequer se é unidimensional ou multidimensional, linear ou não linear, finito ou infinito.

Muitas vezes a ideia de futuro é utilizada como símbolo de um mundo melhor. As forças revolucionárias e progressistas na história da humanidade foram sempre dinamizadas por uma visão do futuro, enquanto as forças reaccionários foram tradicionalmente associadas ao passado, à defesa do status-quo, à defesa do que está, contra o que há-de vir.

Não é de estranhar portanto que um evento que emerge num contexto académico, numa colaboração entre a Universidade do Porto e a Universidade de Austin, e que assume que pretende dinamizar a nova arte multimédia e digital numa perspectiva de desenvolvimento cultural tenha escolhido o nome de "Future Places". No site do evento pode ler-se:

>^^FUTURE PLACES 2009 is a meeting of people with one question in mind: if digital media can do so much for global communication, knowledge and creativity, how can it contribute to local cultural development?^^
Ou seja, contribuir para um local futuro, onde a multimédia possa constituir uma ferramenta para o aprofundamento de uma nova cultura local.

Nós vivemos um tempo caracterizado por muitas contradições e por muitas tendências de sinal contrário, tal como acredito aconteceu em todos os tempos no passado e acontecerá em todos os tempos no futuro. Assiste-se por um lado a uma tendência clara para a abertura das instituições e para a transparência dos processos. A internet pode ser, em muitos casos,  um exemplo vivo e paradigmático dessa abertura. Hoje podemos aceder facilmente a informação impensável há poucos anos. Mas vemos por outro lado que há em muitas situações resistências enormes a essa abertura - veja-se o caso do sigilo bancário - e há mesmo nalguns casos uma tendência clara para tornar os processos mais opacos - um exemplo são os sistemas de avaliação de desempenho nas empresas, onde ninguém conhece a avaliação dos colegas e onde por outro lado critérios pretensamente objectivos, baseados em quotas e noutros parâmetros mensuráveis, fazem com que o processo quase nunca tenha responsáveis.

Era de esperar, de uma estrutura como o ''FUTURE PLACES'', que surge no meio académico, voltada para o futuro, para novas formas de arte e de criatividade, uma atitude aberta e transparente. Mas a abertura e transparência dão mais trabalho e são muito mais exigentes e muitas vezes, por razões diversas, facilita-se ou complica-se...

OS FACTOS:
*Decidi enviar uma proposta para o FUTURE PLACES 2009
*Alguns meses mais tarde recebi uma resposta muito simpática, agradecendo a colaboração, mas informando que não tinha sido seleccionado, devido à elevada qualidade e número das propostas recebidas
*Pedi para me informarem dos resultados da revisão da minha proposta
*Recebi a primeira resposta estranha: a organização do evento teria de perguntar aos revisores se davam autorização para divulgar a revisão que tinham feito
*Acabei por receber os valores das revisões de 2 revisores. O terceiro aparentemente não dera autorização!
*Como é óbvio receber apenas uma lista de valores de 1 a 5, sem qualquer justificação, sem poder comparar com outras propostas e sem conhecer as outras propostas é o mesmo que nada
*Perguntei se poderia obter algumas dessas informações e foi-me dito que não, tinham enviado tudo o que podiam enviar
*Perguntei várias vezes se podia, ao menos, saber o nome dos três revisores e NADA. Nem isso pude saber

Eu não afirmo que as propostas escolhidas não eram porventura melhores ou mais enquadradas no âmbito do evento. Não sei e nem consigo saber, essa é a questão, pois foi tudo feito na opacidade de um grupo de 3 revisores misteriosos. Claro que nada me move em especial contra o Future Places; se utilizo este caso é apenas porque aconteceu comigo há alguns dias e porque me serve para ilustrar o que pretendo realçar: justificar a necessidade de uma luta permanente, que temos de travar, dia a dia, para tornar todos os processos, dos mais simples e pouco importantes aos mais complexos e determinantes, mais transparentes. 

O nosso espírito deve ser sempre o do Salão dos Recusados de Paris em 1863, sem o qual a arte desse tempo não teria sido o que foi, que nós conhecemos e admiramos, sem o qual os Impressionistas não teriam tido a possibilidade de mostrar o seu trabalho. O que era no século XIX uma ousadia e uma provocação é hoje natural e aceite por todos como indiscutível. Sejamos ousados hoje para sermos no futuro naturais, num local futuro mais transparente e mais democrático.

|bgcolor(#ffffff):[img[Just Girls|./wikiImages/justGirls.jpg]]|{{indent{^^não tussa madame<br>reprima a tosse<br><br>não espirre madame<br>reprima o espirro<br><br>não soluce madame<br>reprima o soluço<br><br>não cante madame<br>reprima o canto<br><br>não arrote madame<br>reprima o arroto<br><br>não cague madame<br>reprima a merda<br><br>e quando estourar<br>que seja devagarinho<br>e sem incomodar, ok madame?<br><br>ok, monsieur.<br><br>//Alberto Pimenta//^^}}} |
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Just Girls'', Aveiro, Barra, Julho de 2009^^//}}}

- A madame pode dizer-me quais as suas propostas para o país?
- Não posso, porque como sabe os nossos adversários roubam-me as ideias...
- E o que propõe a madame para a economia?
- Não posso desvendar o que só tornarei público no dia de apresentação do programa!
- Então o programa vai ter muitas novidades, madame?
- Não contem com novidades; o programa vai apenas listar tudo aquilo que eu tenho andado a dizer, mas podem ter a certeza que não prometerei nada que não vá cumprir.
- Ficamos então à espera do programa, para fazer uma nova entrevista. OK madame?
- Ok monsieur.

Depois da entrevista, a madame seguiu para Cantanhede para divulgar as suas propostas numa reunião de mulheres do seu partido: ''Just Girls''. Seguiu depois para a Buraca.

O povo parece estar de costas para estes anúncios, mas com certeza no fim ainda vai deixar-se seduzir por propostas tão aliciantes.

^^Nota: Tive vontade de desabafar depois da entrevista na RTP de alguém que se propõe aos Portugueses para governar o país, mas esta espécie de blog é sempre construído a partir da fotografia. Só hoje, ao rever algumas fotos que fiz em Aveiro, esta imagem na Barra me trouxe de novo à memória essa entrevista surreal.^^
<br>

|bgcolor(#ffffff):[img[O vendedor de meias|./wikiImages/libExp.jpg]]|{{indent{^^No ilusionismo.<br>Para se esconder<br>um acontecimento aqui<br>provoca-se um evento ali.<br>O entretenimento<br>é uma fonte extraordinária<br>de clarividência.<br><br>//in ''Arquivo de Nuvens'' de Marta Bernardes// <br><br> Deixem também falar o vendedor de meias!<br> - Um par de meias por um par de meios euros<br>e leva ainda, sem pagar mais por isso,<br> meia dúzia de panos de cozinha.^^}}}|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''O vendedor de meias'', Feira de Rebordelo, Setembro de 2009^^//}}}
Os acontecimentos recentes na TVI são difíceis de explicar no actual contexto, pois seria expectável a interferência que estão a provocar na campanha eleitoral, tal como seria óbvio quem poderia beneficiar deste gesto (in)sensato. Não tenho dados que me permitam analisar as motivações e não é esse portanto o objecto deste //tiddler//. Pretendo sim interrogar-me sobre o sentido das lágrimas de tantas carpideiras que choram o ataque à liberdade de expressão e à liberdade de informação. Confesso que não consigo compreender estas lágrimas de crocodilo. Os crocodilos choram? São muitos dos que defendem modelos neoliberais para a comunicação social e que nunca protestaram contra uma programação orientada pelas audiências, que conduz ao aumento desenfreado do lixo nos canais televisivos, à transmissão de todos os programas minimamente interessantes altas horas da madrugada, ou com o horário modificado à última da hora, para responder à programação da concorrência, ou contra uma política dominante na maioria das estações de rádio deste país que nos obriga a ouvir as mesmas //playlists//, quase sempre de qualidade duvidosa, e que nos levam a abrir a boca de espanto de cada vez que constatamos que existem em Portugal propostas musicais espantosas, que são completamente desconhecidas - já agora se puderem ouçam o CD recente do grupo [[OqueStrada|http://nimbussol.blogspot.com/2009/05/oquestrada-tasca-beat-o-sonho-portugues.html]], que só agora, muitos anos depois, conseguiu editar o seu primeiro trabalho ''Tasca beat - o sonho português'' . A programação orientada às audiências, as //playlists//, a arrumação de programas com interesse fora de horas, a arrumação em prateleiras de tantos jornalistas que não encaixam neste esquemas são, esses sim, verdadeiros atentados à liberdade de expressão, à liberdade de informação e ao serviço público de radiodifusão. Argumenta-se que o conselho de administração não pode interferir na politica de informação de acordo com a lei. Não sou jurista, em teoria estarei de acordo com essa disposição na lei, mas sinto que estão a tapar o sol com uma peneira ou a fazer de nós parvos. O conselho de administração pode nomear directores de informação subservientes para cumprir as suas políticas, pode substitui-los se não cumprirem, mas se decidem - independentemente das razões, que neste caso são obscuras - alterar uma orientação que implica retirar do ar um programa, aqui d'el rei, só porque a Manuela tem o direito inaliável de expressar a sua opinião. Quase transformam essa senhora numa mártir, a quem o país tanto devesse. E a opinião de tantos jornalistas que não têm esse direito? E a opinião de todos os cidadãos que são obrigados a ouvir sempre as mesmas opiniões dos mesmos comentadores e dos mesmos políticos, cuja opinião estamos fartos de conhecer?

Claro que seria grave, e tudo seria diferente, se houvesse algum indício de alguma pressão do governo ou do partido que o apoia, para isto ter acontecido, mas isso ninguém afirma, pelo menos não de uma forma clara...

|bgcolor(#ffffff):[img[Alendouro|./wikiImages/alendouro090906.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Regresso ao Alendouro'', Rebordelo, Serro, Setembro 2009^^//}}}
De cada vez que regresso a terras do Alendouro, prometo a mim mesmo não voltar a fotografar as ervas onde se deita o silêncio, mas de cada vez afago-as, fotografo-as e deito-me nelas...
O silêncio deita-se ao meu lado e ambos fechamos os olhos para não morrer de beleza...

{{indent{^^De muitas coisas se pode morrer
em Veneza
De velhice de susto 
de peste

ou de beleza

//Jorge Sousa Braga//^^}}}

Desta vez acordámos, o silêncio abriu os olhos e confessou-me muito baixinho, como o silêncio costuma falar

{{indent{^^Estou mesmo a precisar
de uma injecção
de essência de rosas.

//Jorge Sousa Braga//^^}}}
<br>

|[img[A linha branca caiu ao chão e partiu-se|./wikiImages/linhaBranca.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''A linha branca caiu ao chão e partiu-se'', na exposição de Augusto Alves da Silva, Serralves, Outubro 2009^^//}}}
A linha branca caiu ao chão e partiu-se. Não era uma linha branca qualquer. Era uma linha branca de um valor incalculável. Muito mais do que se tivesse sido esculpida em cerâmica da Vista Alegre ou torneada em marfim. Era Arte pura, branca, puríssima, branquíssima. Terrível acidente causado por um visitante pouco cuidadoso, que se lhe encostou, provocando a sua queda. Mas logo uma funcionária zelosa apareceu e recolheu todos os cacos com mil cuidados. A obra vai ser restaurada nos bastidores do museu para poder ser mostrada de novo ao público, que acorre ao museu, sedento de linhas brancas...
<br>

|bgcolor(#ffffff):[img[O milagre das Rosas|./wikiImages/corposCidade.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Corpos de Cidade'', Porto, 2001^^//}}}

^^O projecto ''Corpos de Cidade'' é um projecto fotográfico antigo que realizei pela 1ª vez nos Encontros da Imagem de Braga, em 2001, e de que até já mostrei algumas imagens nesta minha espécie de blog. Reúne um conjunto de imagens feitas a partir de edifícios num processo de demolição ou de degradação acelerada, grande parte na zona industrial de Matosinhos, O projecto não pretendia ser arqueologia industrial mas antes, talvez, arqueologia afectiva. Escrevi para esse projecto uma pequena história chamada ''O Milagre das Rosas'' que muitas vezes acompanhou, ao longo das paredes da exposição, as fotografias. Parece-me um texto muito apropriado para este período de eleições autárquicas, em especial em Matosinhos, onde dois, antes tão amigos, presidentes da Câmara se acusam mutuamente de especulação imobiliária.^^

''O milagre das rosas''

1. Era uma vez um rei que vivia fechado dentro do seu castelo. Mas um dia mandou abrir os portões e decidiu sair. Viu então ao longe a rainha, rodeada de figuras masculinas e femininas, todas vestidas de cinzento. Caminhou na sua direcção. Mas aqueles homens e mulheres olharam-no, reconheceram-no e afastaram-se, arrastando os pés em ritmo binário, certo, muito certinho. Aproximou-se da rainha que finalmente se apercebeu da sua presença e lhe sorriu. Mas ele pensou distinguir nos seus movimentos alguma hesitação. A rainha tinha as mãos no regaço, parecendo esconder alguma coisa.

- Que tendes aí, senhora?
- São rosas senhor!
- Rosas? Em Janeiro? – perguntou o monarca desconfiado que vislumbrara uns quantos tês a espreitar do colo da rainha.
A rainha abriu os braços e uma rosa gelada petrificada caiu sobre o dedo grande do pé direito do rei que irado praguejou. Colérico, voltou as costas à rainha, e regressou ao castelo, decidido a não voltar a passear.

2. Na Primavera seguinte a rosa descongelou, ganhou raízes, cresceu e nasceu um bloco residencial de têcincos e têseis – condomínio fechado - para os conselheiros e ministros do rei. O rei não voltou a sair do castelo. Foi obrigado a abdicar. Foi instaurada a República. A rainha deixou-o e fugiu com um construtor civil. O povo mora longe, num bairro de casas todas iguais, pintadas na sua cor, de cinzento.

|bgcolor(#ffffff):[img[O mundo não se fez para pensarmos nele|./wikiImages/alpajares2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''O mundo não se fez para pensarmos nele'', Calçada de Alpajares, Poiares, Freixo de Espada à Cinta, 4 de Outubro 2009^^//}}}
{{indent{^^''O mundo não se fez para pensarmos nele'' 

O meu olhar é nítido como um girassol. 
Tenho o costume de andar pelas estradas 
Olhando para a direita e para a esquerda, 
E de, vez em quando olhando para trás... 
E o que vejo a cada momento 
É aquilo que nunca antes eu tinha visto, 
E eu sei dar por isso muito bem... 

Sei ter o pasmo essencial 
Que tem uma criança se, ao nascer, 
Reparasse que nascera deveras... 
Sinto-me nascido a cada momento 
Para a eterna novidade do Mundo... 

Creio no mundo como num malmequer, 
Porque o vejo. Mas não penso nele 
Porque pensar é não compreender ... 

O Mundo não se fez para pensarmos nele 
(Pensar é estar doente dos olhos) 
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... 

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... 
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, 
Mas porque a amo, e amo-a por isso, 
Porque quem ama nunca sabe o que ama 
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ... 
Amar é a eterna inocência, 
E a única inocência não pensar... ^^}}}
{{indent{{{indent{^^Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos" ^^}}}}}}
Mas não resistimos e pensamos...
<br>

|bgcolor(#ffffff):[img[O mundo é uma promessa|./wikiImages/alpajares1.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''O mundo é uma promessa'', Calçada de Alpajares, Poiares, Freixo de Espada à Cinta, 4 de Outubro 2009^^//}}}
{{indent{^^O mundo é um botão de rosa que se abre em galho seco
Só se revela na mais profunda solidão
em lugares fechados
em pleno deserto
no pino do Inverno

O mundo é uma promessa^^}}}
{{indent{{{indent{^^//in Livre d'images de Saguenail//^^}}}}}}

A calçada de Alpajares é impressionante. Como e porquê uma tal construção, para subir aquela parede de xisto e de granito, até ao cimo do mundo...Quantos escravos terão perecido a construí-la?
<br>

|bgcolor(#ffffff):[img[Numa praia da minha vida|./wikiImages/autoRetrato5.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Numa praia da minha vida'', Junho 2006^^//}}}
O filme ''Respigadores e respigadora'' de Agnès Varda terá sido um dos filmes mais notáveis que tive a felicidade de ver nos últimos anos. Não sei qual foi o orçamento desse filme,  mas foi com certeza um dos mais baratos que alguma vez vi no cinema.

Fui ontem assistir, na abertura da Festa do Cinema Francês, à ante-estreia do último filme da realizadora, ''As praias de Agnès''. É um filme-documentário, auto-biográfico, feito com uma enorme ternura e alegria de viver, por uma senhora com mais de 80 anos. Não sei se o filme vai ter distribuição comercial mas, se tiver, não percam. O título do filme tem a ver com o facto de a realizadora associar cada marco da sua vida a uma determinada praia. A cena inicial, tão simples, filmada com espelhos, numa praia do Mar do Norte, vale pelo filme.  Aliás eu arriscaria outro título para o filme: ''Os espelhos de Agnès'' pois a fotografia e o cinema pouco mais são do que aquela definição de Daguerre, com mais de 150 anos : espelhos com memória.
<br>

|bgcolor(#ffffff):[img[Procura a maravilha|./wikiImages/noite.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Procura a maravilha'', Felgar, Moncorvo, 3 de Outubro 2009^^//}}}

{{indent{^^Procura a maravilha.

Onde um beijo sabe
a barcos e bruma.

No brilho redondo
e jovem dos joelhos.

Na noite inclinada
de melancolia.

Procura.

Procura a maravilha^^}}}
{{indent{{{indent{^^//Eugénio de Andrade//^^}}}}}}

Já não me lembrava de uma noite assim. Desde a minha infância longínqua numa aldeia perto da Régua, cujo nome não recordo, onde descobri o que era o luar em noite de lua cheia. A aldeia não tinha energia eléctrica. No passeio até ao Souto da Velha em Felgar, o luar, apesar de escondido por detrás de nuvens altas, iluminava a noite e eu redescobri a maravilha, naquela noite inclinada de melancolia...
<br>

|bgcolor(#ffffff):[img[Procura a maravilha|./wikiImages/noite2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Procura a maravilha'', Felgar, Moncorvo, 3 de Outubro 2009^^//}}}
{{indent{^^''A noite é muito escura''

É noite. A noite é muito escura. Numa casa a uma grande distância
Brilha a luz duma janela.
Vejo-a, e sinto-me humano dos pés à cabeça.
É curioso que toda a vida do indivíduo que ali mora, e que não sei quem é,
Atrai-me só por essa luz vista de longe.
Sem dúvida que a vida dele é real e ele tem cara, gestos, família e profissão.

Mas agora só me importa a luz da janela dele.
Apesar de a luz estar ali por ele a ter acendido,
A luz é a realidade imediata para mim.
Eu nunca passo para além da realidade imediata.
Para além da realidade imediata não há nada.
Se eu, de onde estou, só vejo aquela luz,
Em relação à distância onde estou há só aquela luz.
O homem e a família dele são reais do lado de lá da janela.
Eu estou do lado de cá, a uma grande distância.
A luz apagou-se.
Que me importa que o homem continue a existir?
 ^^}}}
{{indent{{{indent{^^//Alberto Caeiro//^^}}}}}}

Procura a maravilha na noite, porque afinal a noite não é muito escura. Há janelas iluminadas à frente dos nossos olhos
<br>

|bgcolor(#ffffff):[img[Procura a maravilha|./wikiImages/noite3.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Procura a maravilha'', Felgar, Moncorvo, 3 de Outubro 2009^^//}}}
{{indent{^^O meu olhar flutua
no mesmo céu
que a lua^^}}}

Não era tempo de nenúfares...
Desculpa Jorge, mas não consigo resistir a continuar a brincar com o teu poema...
<br>

|bgcolor(#ffffff):[img[Procura a maravilha|./wikiImages/noite4.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Procura a maravilha'', Felgar, Moncorvo, 3 de Outubro 2009^^//}}}

{{indent{^^''Noite'' 

Mais uma vez encontro a tua face,
Ó minha noite que julguei perdida.

Mistério das luzes e das sombras
Sobre os caminhos de areia, 

Rios de palidez que escorre
Sobre os campos a lua cheia,

Ansioso subir de cada voz
Que na noite clara se desfaz e morre. 

Secreto, extasiado murmurar
De mil gestos entre a folhagem

Tristeza das cigarras a cantar. 

Ó minha noite, em cada imagem
Reconheço e adoro a tua face,
Tão exaltadamente desejada,
Tão exaltadamente encontrada,
Que a vida há-de passar, sem que ela passe,
Do fundo dos meus olhos onde está gravada.^^}}}
{{indent{{{indent{^^//Sophia de Mello Breyner Andresen//^^}}}}}}

Tal como eu, Sophia encontrou a face da noite que julgava perdida. De facto a noite não se perdeu, fomos nós quem nos perdemos...
<br>

|bgcolor(#ffffff):[img[Proibido fotografar fotografias|./wikiImages/augAlvesSilva.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Proibido fotografar fotografias'', na exposição de Augusto Alves da Silva, Serralves, Outubro 2009^^//}}}
Estive novamente Serralves (eu gosto muito de lá ir) para a abertura da exposição de Augusto Alves da Silva. Para minha surpresa, depois de fazer a "inocente" fotografia que reproduzo, com a minha maquininha de bolso,o segurança dirigiu-se a mim, cheio de energia, informando-me que era PROIBIDO fotografar naquela exposição. Confesso que tal me surpreendeu: proibido fotografar numa exposição de um fotógrafo, que todos os dias "rouba" fotografias pela rua? Para além do mais, tenho de reconhecer que Serralves tem mantido uma politica de grande abertura relativamente à possibilidade de fotografar todas as exposições que tem realizado. Tenho podido sempre fotografar à vontade, sem problemas, quando muito sendo obrigado a não utilizar o flash, que de qualquer maneira nunca uso. Isto ao contrário de muitas instituições, onde o caso mais paradoxal de que me lembro era o CPF, onde nem o edifício se podia fotografar! Lembro-me de um dia, um segurança me ter chamado à pedra, depois de me apanhar a fotografar umas pedras do tecto de uma das salas! A única excepção que me ocorre em Serralves foi a [[exposição de Rauschenberg |2007-12 - Montanha de ruído]] e na altura manifestei a minha perplexidade, que hoje volto a manifestar. Curiosamente, ao jantar, tinha tido uma conversa sobre a atitude fechada, conservadora mesmo, de muitos artistas que (paradoxalmente na condição de artistas ?) tentam por todos os meios impedir a divulgação das suas obras, conversa a propósito de um vídeo, precisamente de Augusto Alves da Sila, em que ele filmou um espectáculo da Companhia Nacional de Bailado e que não pode exibir porque o autor da música, que é reproduzida parcialmente na banda sonora do vídeo, o não permite.

Recebi mais tarde uma explicação: esta proibição resulta de um acordo feito com os modelos de um dos projectos na exposição: o projecto ''book'', que mostra imagens de mulheres, algumas com conteúdo sexual explícito. As modelos quereriam impedir a difusão pública dessas imagens! Claro que esta explicação parecendo justificar a atitude de Serralves não me satisfaz e nem faz muito sentido. Primeiro, se o argumento fosse relevante e a proibição fizesse sentido, bastaria proibir a fotografia na ala onde esse projecto está montado, que está bem delimitado no espaço da exposição. De facto, as outras exposições em Serralves continuam a poder ser fotografadas. Mas a proibição não faz qualquer sentido e é fácil ver que assim é. Que sentido faz "impedir a difusão publica das imagens", quando as imagens foram publicadas em livro, que qualquer pessoa pode reproduzir com muito melhor qualidade do que aquela que eu conseguiria obter com um pequena câmara, com reflexos em vidros, etc? Se as modelos queriam controlar as imagens, só o poderiam fazer na produção dessas imagens (fizeram-no?), impedindo eventualmente algumas imagens de fazerem parte do projecto. A partir do momento em que as imagens são públicas, são públicas.

Ainda ninguém conseguiu a solução para o problema de comer o bolo e ficar com o bolo...Nem sequer os físicos quânticos! Talvez perguntando ao gato de Schroedinger, mas eu não aprendi a falar com gatos...

Claro que só este pequeno episódio poderia suscitar uma longa reflexão sobre o tema da autoria, dos direitos de autor, dos direitos à imagem, da internet, etc.

|[img[Bord de Mer|./wikiImages/bordMer.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Bord de Mer'', instalação de  Agnès Varda, Porto, Casa de Serralves, Novembro 2009^^//}}}
Todos terão que admitir que já viram vezes sem conta, em galerias e museus, instalações artísticas que não parecem mais do que repetições de outras instalações, que já estamos fartos e refartos de ver. Como exemplo apenas, os milhares de vezes que inúmeros artistas formularam a mesma pergunta "Será que isto pode ser arte, se eu o afirmar?", como se fizesse sentido repetir à exaustão a pergunta provocatória de Duchamp, transformada por ele em objecto artístico, a propósito do célebre urinol, que ele transformou, pela magia da provocação, em fonte, e que os oportunistas transformaram em obra de arte, iludindo que, se existiu arte esta residiu no acto e na pergunta e não no objecto. Alguns terão mesmo pensado que estávamos num beco sem saída. A instalação ''Bord de Mer'' de Agnès Varda em Serralves é uma prova inequívoca de que poderemos estar num beco, mas de que há saídas e de que essas saídas passam apenas por sensibilidade e por inteligência. O extraordinário é que essa prova tenha de ser dada por uma senhora com mais de oitenta anos. 

Depois de mais uma vez ficar emocionado com os objectos desta senhora, concluí que os artistas podem ser classificados em três grandes grupos:
* A- Os que não têm nada a dizer, ainda que muitas vezes sejam embrulhados com palavras de outros, como se tivessem
* B - Os que têm alguma coisa a dizer, mas não conseguem dizê-lo
* C- Os que têm alguma coisa a dizer e o dizem de uma forma sublime

Claro que também poderemos encontrar todas as situações intermédias, ao longo dos três lados do triângulo equilátero, que os três pontos (A, B e C) definem. E também nos cruzamos com artistas que ao longo do tempo se movem de um vértice para outro, infelizmente muitas vezes na direcção do vértice A: é a força de atracção do mercado.
<br>

|[img[Mantém uma distância de segurança|./wikiImages/perigo.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Mantém uma distância de segurança'', Porto, Outubro 2009^^//}}}
Tenho muito poucos //'tiddlers'//, nesta minha espécie de //'blog'//, com um conteúdo marcadamente político. Isto é assim naturalmente. Todos os //'tiddlers'// são sugeridos por uma fotografia minha, pois foi essa a regra que pus a mim mesmo e por isso quase todos são focados em questões fotográficas, poéticas, culturais ou artísticas. Claro que a política estará presente em quase todos pois, ao fim e ao cabo, tudo na nossa vida acaba por ter um lado político subjacente.

Mas desta vez, perante a operação "Face Oculta", não resisti. Eu não sei se o Armando Vara e o José Penedos, para me referir apenas aos altos quadros do PS, estão inocentes, nem é isso que me interessa. O que me interessa é dizer que há tantos sinais de que coisas deste tipo acontecem ou se preferirem têm uma enorme probabilidade de acontecer e que pouca gente parece dar-lhes importância. Não há? Quando vemos altos quadros dos partidos do poder saltitarem de lugares no governo ou nas autarquias para administrações de empresas públicas e privadas; quando sabemos de histórias de filhos, sobrinhos, amigos, colegas de partido que são nomeados para administradores, directores, consultores e para outros cargos acabados em 'ores', e se não são doutores há universidades de todas as cores; quando observamos como muitos lugares de administração são acumulados, sem sequer percebermos como arranjam eles tempo para administrar seja o que for; quando vemos a facilidade como saltam da Economia para a Defesa, para a Saúde ou para a Administração de uma empresa de Construção Civil; quando se pagam ordenados muito mais altos do que nos mais ricos países da Europa, ordenados muitas vezes em acumulação e somados a muitas mordomias; quando vemos defender essas remunerações em nome da necessidade de manter os 'talentos' em Portugal, ao mesmo tempo que jovens investigadores, jovens bolseiros, mestrados e doutorados são obrigados a sair do país ou a vender-se a troco de recibos verdes, numa precariedade absoluta, nós que somos cépticos interrogamo-nos se será isto razoável. Mas com certeza somos só nós que temos este defeito inaceitável nos dias que correm: o cepticismo, não acreditar naquilo que esses talentos nos dizem. E os talentos existem para (te)alentar.

Portanto, se queres ser bem sucedido, não podes manter uma distância de segurança dos homens e mulheres de talento deste país, pois de acordo a lei da gravitação do talento, o talento atrai-se, e se a distância a que estiveres for superior à dimensão de um olhar crítico ou de um pensamento, só pode ser sinal de falta de talento ou, como já me disseram, de falta de inteligência.
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|[img[S de saudade, E de espreita|./wikiImages/s-saudade.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''S de saudade, E de Espreita'' em //Museu de Arte Popular//, 
exposição de Paulo Mendes no espaço //"Uma certa falta de coerência"//, Porto, Novembro 2009^^//}}}
Neste último sábado visitei a última instalação de Paulo Mendes num espaço chamado ''Uma certa falta de coerência'', situado numa casa degradada da rua dos Caldeireiros, no Porto. Essa instalação chama-se ''O passado também se inventa, Museu de Arte Popular'' e é inspirada no museu com este nome, em Lisboa. O museu, que eu nunca visitei, foi encerrado ao público há anos, o espólio foi transportado para outro lado e tudo indica que o museu poderá mesmo desaparecer, pois essa era aparentemente a intenção da anterior ministra da cultura, Isabel Pires de Lima, para naquele local criar o ''Museu da Língua Portuguesa''. A ex-ministra mostrou uma aptidão extraordinária para passar atestados de óbito a instituições...O ''Museu de Arte Popular'' era o local onde se reuniu todo o espólio da grande ''Exposição do Mundo Português'', evento de grandes dimensões organizado como propaganda do ''Estado Novo'', em 1940. O projecto de Paulo Mendes insere-se num conjunto de projectos, iniciado há alguns anos, designado como ''S de Saudade'', em torno da figura tutelar de Salazar. No sábado, durante a visita tive a oportunidade de assistir a uma apresentação do Paulo Mendes, ligando esta instalação a vários projectos anteriores, nomeadamente aos que integram o conjunto ''S de Saudade''. E foi precisamente essa apresentação, bastante interessante, que me suscitou esta reflexão, por me confrontar uma vez mais com um problema antigo, que me tem preocupado e para o qual não encontro uma solução inteiramente satisfatória. A questão é de como conseguir dar aos visitantes de uma exposição toda a informação necessária e crucial para a compreensão dos projectos artísticos. Os projectos têm um contexto, resultam frequentemente de projectos anteriores, utilizam muitas vezes símbolos e linguagens cifradas, códigos pessoais, que são quase sempre fundamentais para compreender o trabalho do artista. Claro que vemos muitas vezes em galerias e museus situações em que parece que há um esforço de sinal contrário, procurando tornar hermético um trabalho, difícil, eventualmente de compreensão impossível para os comuns dos mortais. Esta atitude só se poderá justificar como um mecanismo de defesa por parte de quem sabe (será que pode não saber?) que aquele trabalho só consegue subsistir na perpetuação da ignorância, ainda que disfarçada de conhecimento inatingível, pois é na ignorância precisamente, que esses trabalhos conseguem parecer aquilo que não são, se é que são alguma coisa para além do que escondem. Como é óbvio, colocar todas as cartas em cima da mesa, ser transparente relativamente a um trabalho artístico pode constituir um risco enorme, pois é oferecermos aquilo que fazemos a todas as críticas, risco impensável se o trabalho for um bluff. Mas não é desses casos, que também existem, que pretendo tratar aqui. Neste momento só me interessam aqueles que se preocupam realmente em dar ao visitante a informação de que ele necessita, sem bluff e sem pretensiosismos. Não o querer fazer, é como pretender que alguém leia um livro extraordinário de poemas, escrito em polaco, sem lhe ensinar a língua polaca. A apresentação a que assisti do Paulo Mendes permitiu-me compreender o contexto do seu trabalho e a forma como ele tem fluído ao longo dos anos em vários projectos. O problema é que quem não assistiu à sua apresentação não será capaz de perceber esse contexto ao visitar a exposição, mesmo se tiver visitado alguns trabalhos anteriores, como era o meu caso. Depois da apresentação, eu entrava naquelas salas daquele espaço degradado e sentia-me um personagem cúmplice a espreitar cenas fragmentadas de um filme da memória, em vez de me sentir um visitante estrangeiro, a olhar de fora cenas quase incompreensíveis. Já no passado tinha sido muitas vezes confrontado com esta situação: uma informação, muitas vezes um detalhe, que alterou completamente a forma de olhar para uma obra, podendo passar da total indiferença para uma emoção profunda. Como resolver este problema? A resposta óbvia seria disponibilizar de alguma forma essa informação aos visitantes, nomeadamente em texto. Esta solução funciona algumas vezes mas não e fácil de realizar, construindo textos que façam essa integração. Uma solução que nalguns casos parece resultar bem é uma entrevista ao autor sobre o seu trabalho. O Paulo Mendes, por exemplo, tem um texto na exposição, que está muito bem escrito, que funciona como um guião poético do seu trabalho, construído um pouco como um livro de anotações de memória, mas que me parece não resolve aquilo que a apresentação dele resolveu. Não tenho respostas satisfatórias. Talvez consiga dizer que no mínimo será importante sentir esta preocupação naqueles que expõem, como um sinal de respeito por quem visita as exposições. Talvez as novas tecnologias permitam vir a resolver esta questão, pois será fácil com um telemóvel aceder a um site na internet e obter de uma forma automática toda a informação sobre qualquer obra, mesmo conversar com o autor e perceber o contexto em que a obra se integra.
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|[img[Virar as costas à paisagem|./wikiImages/costasPaisagem.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Virar as costas à paisagem'', Casamento da Inês, Penha, Guimarães, Outubro 2009^^//}}}

Com que facilidade viramos as costas à paisagem e quase esquecemos de que a paisagem existe e está ali bem perto, por detrás de nós.
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|[img[Arte contemporânea? Esta não é com certeza!|./wikiImages/serralves0911.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Arte contemporânea? Esta não é com certeza!'', Serralves, Novembro 2009^^//}}}
Estive em Serralves numa conferência (debate??), em torno da chamada arte contemporânea, com o o crítico de arte Hal Forster. Na sua conferência Hal Forster caracterizou a arte contemporânea do presente e dos tempos mais próximos como uma arte precária.

Há no entanto nesta discussão sobre arte contemporânea um conceito a priori, que não me parece bem definido, e que é essencial. De que se está a falar quando se usa a designação de arte contemporânea? Claro que a resposta poderá ser aquela que conhecemos de outras discussões: "Arte contemporânea é aquilo que os artistas contemporâneos dizem que é arte contemporânea" e resolve-se o problema, ou melhor troca-se esse problema por outro e poderia ser que, como muitas vezes acontece, muitos, ou quase todos, não dessem pela marosca. A verdade é que nunca vi este conceito de arte contemporânea definido de uma forma clara; mas a verdade é que toda a gente fala dela, inclusive eu...

Poder-se-ia pensar que arte contemporânea é a arte feita hoje, no nosso tempo. Seria a resposta óbvia, mas nesse caso teria sempre havido arte contemporânea, a arte contemporânea de cada tempo. Mas não é isso que se pretende dizer, quando se fala de arte contemporânea, como facilmente se constata. Há hoje os artistas contemporâneos e os outros... Observamos que a arte contemporânea tem algumas características, de que talvez a mais importante é a de ser uma arte global, ou mais do que global, clonada de uma forma global, já que é uma arte que repete soluções e meios em todas as partes do mundo. É uma arte massificada e nalguns casos industrializada e multinacionalizada. Um exemplo paradigmático, no caso da fotografia, seria o de todos os fotógrafos que por todo o mundo clonam o grupo de Dusseldorf, um dos grupos que conseguiu ter maior sucesso comercial. Outra característica da arte contemporânea é o modelo de negócio em que assenta, desenhado em torno de comissários e de fazedores de opinião, um modelo centrado nos elementos da cadeia que, em rigor, acrescentam menos valor. Outra característica da arte contemporânea é a de parecer constituir uma grande corrente única, independentemente de poder englobar artistas com posições diferentes ou mesmo contraditórias. Se no passado a arte foi palco de discussões, polémicas, lutas ideológicas e estéticas encarniçadas, hoje a chamada arte contemporânea parecer meter tudo no mesmo saco. Todos se dão bem, até artistas que se apresentam como anti-poder e revolucionários batem umas palmadinhas nas costas do poder e de todos os outros artistas, desde que também sejam artistas contemporâneas. Se no passado os artistas se definiam pelos projectos em que acreditavam, hoje, quando muito, definem-se pelas técnicas que utilizam. Tínhamos os impressionistas, os expressionistas, os surrealistas, os neo-realistas, os conceptuais, hoje temos os artistas que fazem instalações, que se distinguem pelos materiais que utilizam, os artistas que usam vídeo, os artistas multimédia, os artistas digitais e os artistas na web. Se pretendermos ser rigorosos, temos de afirmar que, quase sempre, quando se fala em arte contemporânea, deixa-se de fora a arte multimédia, a arte digital e a arte na web, apesar de essa ser porventura a arte mais contemporânea de todas. Bastará vermos a lista das principais exposições que aconteceram nos museus da chamada arte contemporânea. Se tem havido aí alguma arte multimédia, arte digital e arte na web, foram quase sempre deixadas para zonas periféricas e marginais dos museus. Será por ignorância, por medo, ou por ser uma arte que, pela sua natureza (em particular a arte na web), pode mais facilmente fugir ao controlo das forças dominantes no modelo de negócio actual?

Chego portanto ao fim sem uma resposta que me satisfaça. Reformulo portanto a pergunta de outra forma: fará sentido falar de uma arte contemporânea?

|[img[Auto-retrato em Madrid|./wikiImages/autoRetratoMadrid.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Auto-retrato em Madrid'', Madrid, Círculo das Belas Artes, Dezembro 2009^^//}}}
{{indent{^^ ''Câmara escura''

Devagar,
Hora a hora,
Dia a dia,
Como se o tempo fosse um banho de acidez, 
Vou vendo com mais funda nitidez
O negativo da fotografia.

E o que eu sou por detrás do que pareço!
Que seguida traição desde o começo,
Em cada gesto,
Em cada grito,
Em cada verso!
Sincero sempre, mas obstinado
Numa sinceridade
Que vende ao mesmo preço
O direito e o avesso
Da verdade.

Dois homens num só rosto!
Uma espécie de Jano sobreposto,
Inocente,
Impotente,
E condenado
A este assombro de se ver forrado
Dum pano de negrura que desmente
A nua claridade do outro lado. ^^}}}

{{indent{{{indent{^^//in Antologia Poética de Miguel Torga//^^}}}}}}
Porque continuo tantas vezes a me auto-fotografar? Porque não costumo resistir à atracção de um espelho? Hoje decidi, em vez de elaborar sobre este tema, como outras vezes tenho feito, regressar a uma das minhas actividades preferidas. Porque hoje me deu cá uma saudade das aventuras em que salto por cima do muro dos poetas, para lhes roubar um poema. Só depois do último //tiddler// me apercebi de que há muito que uso este //blog// para colocar reflexões em cima da mesa, sem roubar um único poema. O Torga serve para me satisfazer este apetite vicioso repentino. 

Dois homens num só rosto: eu e o outro e também qualquer coisa de intermédio: um pilar da ponte de tédio, que vai de mim para o outro?
<br>

<br>O projecto fotográfico ''Espelhos Matriciais'' inclui, para além de fotografias, construídas com a Base de Dados de 439 retratos que o projecto utilizou e com as ferramentas estatísticas de desconstrução e de reconstrução de retratos, um curto vídeo que pretende ser um agradecimento público a todos os que deram a cara pelo projecto. O //morphing// entre retratos não foi realizado com nenhuma ferramenta comercial, mas utilizando as ferramentas desenvolvidas no projecto, deslocando os vectores de coeficientes de um retrato até coincidir com o vector de coeficientes do outro retrato.

A tese incluiu ainda pequenos textos poéticos sobre fotografia, identidade, rostos, memória, que pedi a alguns autores amigos. Agradeço aqui, uma vez mais, utilizando como pretexto "As varandas" da Marta Bernardes, ao Elliot Rain, ao Emílio Remelhe, à Filipa Leal, ao Gonçalo M. Tavares, ao Jorge Velhote, ao Luís Tobias, à Marta Bernardes, ao Reborn Bramble, à Regina Guimarães e ao René Ronce. Obrigado também à Cristina Valadas pelos desenhos que usei como ilustrações.

<html>
<object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/xfV4iJIjKCA&hl=en_GB&fs=1&"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/xfV4iJIjKCA&hl=en_GB&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="600" height="450"></embed></object>
</html> 

{{indent{^^Há varandas em todo olhar e os que habitam vêm passear-se nelas, vêm ver quem passa, ou respirar, ou simplesmente descansar da tarefa de estar dentro, fumar os ares da cidade, sacudir os lençóis de casal, reclamar a pertença das fachadas. Poucos vão à varanda. Poucos vêm à varanda. E menos são os que vêm à varanda como quem decididamente vem à varanda. E menos ainda são os que quando vêm à varanda saem realmente, vêm de facto cá fora. Por isto, muitas varandas são enganos, são só promessas de exterior, não são mais que pequenas extensões visíveis do dentro.

Poucos, quase nenhuns, vêm à varanda com a devida importância. É importante fazer as coisas com a devida importância. Uma varanda exterior permite esse milagre do solo firme para o ver de voo. Mas muitos, quase todos, quando vêm à varanda não vêm à varanda. Estão ainda no sofá, no banho, nos afazeres da escrivaninha. Ou então nem em casa estão. Saíram há muito tempo e a verdade é que não voltaram.

Nunca regressaram. Ainda assim podemos vê-los à varanda. Eles é que não podem ver-nos. Mas há outros. Há aqueles que sabem bem dos privilégios de se ter uma varanda, têm muito presente o acrescido valor que, nos dia que correm, com a agoniante falta de lugar, representa poder estar num espaço exterior, uma real alternativa ao cansaço das paredes, das cadeiras, ao peso dos tectos, ao desarticulado arfar das alcatifas.

Umas são de ferro, umas de cimento, outras estão talhadas na própria pedra dos prédios. Essas parecem predicar o privilégio. Algumas são austeras, outras simplesmente geométricas. Muitas reservam, além da ameaça do desmoronamento, e não sei bem porquê, um ar clássico. Erguem-se em colunas, desenham-se em capitéis e terminam nos cotovelos de olhar as ruas, quase cornucópias sem natureza. 

Imagino um mundo sem varandas. Toma-me uma tristeza absoluta. Compadeço-me, contra a minha vontade, dessa visão. Comovo-me. Olho outra vez todas as fachadas ondulantes, toda a arquitectura se desfaz num bocejo. Perco momentaneamente o ar. Venho à varanda. Respiro. Volto as costas ao interior. Posso agora, graças ao maravilhoso invento da perspectiva, ver todas as varandas desenhadas sobre as linhas de fuga. Quase todas estão vazias. Que pena!

Devem estar todos muito ocupados a habitar o interior.^^}}}
{{indent{{{indent{^^//Marta Bernardes, 2009//^^}}}}}}

|[img[O presépio|./wikiImages/jesus.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''O presépio'', Feira do El Rastro, Madrid, Dezembro 2009^^//}}}
Ouvi esta semana uma reportagem na rádio, realizada em algumas escolas portuguesas e surpreendentemente uma percentagem muito grande das crianças, com idades entre os 6 e os 12 anos, pareciam desconhecer a razão de ser do Natal, nem sabiam bem o que se comemora nessa data. Quando lhes eram feitas perguntas sobre o Natal, todos conheciam o Pai Natal, todos falavam dos presentes, mas só conseguíam associar o Natal ao nascimento de Jesus quando questionados directamente se a data não teria que ver com esse evento. E mesmo assim as respostas traduziam um grande desconhecimento sobre os factos. Independentemente de sermos ou não cristãos é difícil compreender que se celebre o Natal sem conhecer a história do nascimento de Jesus, pois é impossível entender a nossa história, perceber a nossa cultura, desligadas dessa outra história e dessa outra cultura, iniciadas há cerca de 2000 anos atrás. Para cada um depois ser capaz de construir a sua própria história e de idealizar o seu próprio Jesus.

{{indent{^^ ...
Esta é a história do meu Menino Jesus,
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
...^^}}}

{{indent{{{indent{^^//In Guardador de Rebanhos de Álvaro de Campos//^^}}}}}}

|[img[Natal 2009|./wikiImages/natal2009B.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Natal 2009'', Matosinhos, Dezembro 2009^^//}}}

Gostaria de dizer alguma coisa de diferente, para fugir a estas palavras gastas, já quase vazias de verdadeiro significado, mas hoje não sou capaz. Tentei, mas fui obrigado a reconhecer a minha impotência.

Terá portanto de ser assim, igual a toda a gente: Bom Natal e Bom Ano 2010...
<br>

<html>
<object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/YBgbfj7HbJw&hl=en_GB&fs=1&"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/YBgbfj7HbJw&hl=en_GB&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object>
</html>
<br>
{{indent{{{indent{^^O coração do mar
é um cemitério
de navios e de luar

//in ''12 pm'', Jorge Sousa Braga//^^}}}}}}
''12pm'' é o meu último projecto editado em livro. O Jorge Sousa Braga voltou a ser meu cúmplice. 
//^^Edições ''Gémeo R - Colecção Diálogos'' do Rui Mendonça^^//
Na altura da apresentação do livro resolvi realizar este pequeno vídeo, utilizando as fotografias, todas feitas por volta da meia-noite na Noruega. Os poemas são lidos pelo Pedro Lamares. 

Como experiência realizei também o mesmo projecto em [[flash |http://www.renatoroque.com/12pm/index.html]]

''Achei que os poemas do Jorge poderiam ser uma forma de expressar um 2010 diferente. Para hoje às 12 pm.''
<br>

|[img[Porque continuo a fotografar?|./wikiImages/porqueFotografo2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Porque continuo a fotografar?'', Madrid, Passeio do Prado, Dezembro 2009^^//}}}
Cada vez mais me interrogo porquê continuar a fotografar. Qual o sentido de continuar a coleccionar centenas, milhares de imagens que guardo religiosamente em pequenas caixas, que eram de prata e que agora são cheias de números? Imagens que se depositam, como o pó no fundo da garrafa de vinho e que lá ficam esquecidas, à espera de ser bebidas, mas que, quase de certeza, nunca o serão. Porquê arrastar atrás de mim a pesada saca das âncoras, para as lançar no tempo, com a (des)ilusão de poder lançar ferros no presente? Porque fotografo na rua as gentes, se nunca usei essas imagens, a não ser talvez para colorir alguns //tiddlers// nesta minha espécie de //blog//? O meu amigo João, na sua sensatez, aconselha-me: "Em vez de continuares a fotografar e a carregar contigo novos bocados de tempo, que o tempo guardado pesa muito, olha, deverias procurar uma forma de usar tudo aquilo que já fotografaste". Dou-lhe razão mas, logo a seguir, aponto a objectiva e fotografo.

|[img[Porque continuo a fotografar?|./wikiImages/porqueFotografo4.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Porque continuo a fotografar?'', Madrid, Museu do Prado, Dezembro 2009^^//}}}
Sinto que devo parar mas, ao mesmo tempo, proibirem-me de fotografar, desespera-me. Sinto que me retiram parte de mim. No Museu do Prado é proibido fotografar. Com //flash// ainda compreendo, ainda que hoje essa seja uma luta quase inglória. Com a difusão das câmaras digitais e das câmaras nos telemóveis, de dois em dois minutos vemos o brilho de um disparo e os seguranças a avisar, mais ou menos polidamente de que é proibido fotografar. Eu não queria fotografar as obras de arte do museu. Queria fotografar o ambiente, as pessoas, os edifícios, mas é proibido. Imagens de acesso restringido.

|[img[Porque continuo a fotografar?|./wikiImages/porqueFotografo3.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Porque continuo a fotografar?'', Madrid, Museu do Prado, Dezembro 2009^^//}}}
Perante a impotência de não poder fotografar, entro na casa de banho do Prado e fotografo com raiva, com raiva mas, ao mesmo tempo, com uma certa alegria infantil, ao sentir que tinha, de alguma forma, furado o sistema.

|[img[Porque continuo a fotografar?|./wikiImages/porqueFotografo5.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Porque continuo a fotografar?'', Madrid, Reina Sofia, Dezembro 2009^^//}}}
Curiosamente no Reina Sofia pode-se fotografar tudo, tudo menos a Guernica, não sei porquê...

Fotografei de longe e esbocei uma vez mais aquele meu sorriso infantil, depois de ter, uma vez mais, furado o sistema.
<br>

<html>
<object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/03g4KyjAhhg&hl=en_GB&fs=1&"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/03g4KyjAhhg&hl=en_GB&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object>
</html> 

Este pequeno filme é o resultado de um compromisso: fazer um vídeo sobre as memórias da casa dos meus avós, onde nasci, no Passeio das Fontainhas nº18. ''A porta18''.  Não dispondo de actores, nem de guião, nem de qualquer equipamento (nem de som, nem de vídeo)  –  nunca tive uma câmara de filmar e a minha experiência com vídeo é zero – decidi fazer um filme, recorrendo apenas ao que estava ao meu alcance: fotografias das casas dos meus avós e excertos do Citizen Kane, onde Rosebud  desempenhasse um papel metafórico. Memórias passadas recolhidas do fundo da memória com fotografias no presente. Quando tentei lá voltar, para fotografar, não consegui ir além da escadaria de acesso aos apartamentos que construíram no seu interior.  A casa dos meus avós, protegida pelo muro do tempo e por cães vadios, que me impediram até de chegar ao jardim. Nada me pertencia, nem o mundo lá fora, nem a memória, o que ignorava ou o que sabia. Onde é que eu já lera que sentia?

{{indent{{{indent{^^Poesia, saudade da prosa;
escrevia «tu», escrevia «rosa»;
mas nada me pertencia,
nem o mundo lá fora
nem a memória,
o que ignorava ou o que sabia.

E se regressava
pelo mesmo caminho
não encontrava

senão palavras
e lugares vazios:
símbolos, metáforas,

o rio não era o rio
nem corria e a própria morte
era um problema de estilo.

Onde é que eu já lera
o que sentia, até a
minha alheia melancolia? ^^}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{^^//Manuel António Pina, in Rosa do Mundo, 366 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim//^^}}}}}}}}}
Quando a decisão já estava tomada, em casa de um meu amigo da fotografia, perguntei-lhe, como quem não quer a coisa, se tinha uma câmara de  vídeo. Disse-me que sim e que ma emprestava. Vacilei, pois estava a pôr em causa a decisão que tinha tomado, mas decidi arriscar e integrar no exercício duas pequenas sequências em vídeo, que filmei com aquela câmara emprestada, que não conhecia, sem ajuda de ninguém e para qual apenas tive uma oportunidade. 

<br>

|[img[Vendem-se muitos metros quadrados|./wikiImages/vende-se.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Vendem-se muitos m^^2^^'', Fábrica Algarve Exportador, Matosinhos, Dezembro 2009^^//}}}
Há muitos anos que vivo em frente a uma das maiores fábricas de conservas de Matosinhos. Há muitos anos fechada. A ''Algarve Exportador''. É, era, um edifício impressionante. Tenho fotografado a sua demolição nos últimos dias. Já quase NADA resta. Amontoados de pedras, cuspidas por enormes máquinas amarelas que furam as paredes à procura de espaço para mais um T3, T4 ou T5. Amarelos eram os fura-greves, ouço dizer. Isso era no tempo em que a política comandava. Hoje amarelas são as escavadoras e as retro-escavadoras. Vermelhas são as fitas que delimitam a obra. 

Durante muitos anos a fábrica foi protegida por uma tentativa de classificação como edifício com interesse arquitectónico, pois era considerado um dos melhores exemplares da arquitectura industrial em Matosinhos. E falou-se de um centro cultural ou de um centro multi-usos que recuperasse aquele espaço. Mas cada m ^^2^^  vale muito dinheiro. E mais uma vez ganharam.

Confesso que o mistério da construção imobiliária é para mim um dos grandes mistérios em Portugal. Como se pode continuar a construir tanto, depois de já ter tanto construído, quando a população não aumenta, sobretudo depois da crise anunciada? Foi afinal uma crise fictícia? Enganaram-nos ou enganam-nos agora? Vai tudo continuar na mesma?

Em 2001 realizei em Braga nos ''Encontros da Imagem'' um projecto, a que chamei ''Corpos de Cidade'', com imagens de unidades industriais moribundas, quase todas de Matosinhos. A Eduarda Dionísio escreveu um texto magnifico. Como ele então dizia:

{{indent{{{indent{^^...Gostamos mais das nossas casinhas do que das grandes fábricas 
em que uns outros que nunca vimos trabalharam para uns outros 
que nunca vimos também 
Gostamos do remanso dos lares pacatos 
pelo menos 
mais do que da cadência imposta e dos ruídos impessoais das fábricas 
que os operários vão suportando enquanto podem
Mas
cresce ao lado uma outra saudade 
daquilo que nunca vivemos 
feita dum mistério qualquer 
mas com alguma clareza de documento
e é essa clareza que o fotógrafo apanha no olhar primeiro
Pergunta mais do que responde
o fotógrafo...^^}}}}}}
O fotógrafo, de novo, perplexo, pergunta.
<br>

|[img[O chefe e os cegos, surdos e mudos|./wikiImages/ps.jpg]]|{{indent{^^os cegos dizem: veremos.<br>nós vemos e calamo-nos.<br><br>os mudos gesticulam.<br>nós temos as mãos nos bolsos.<br><br>os surdos põem a mão em concha.<br>nós tapamos os ouvidos<br><br>//Alberto Pimenta//^^}}}|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''O chefe e os cegos, surdos e mudos'', Dezembro 2009^^//}}}
Bem sei que já passou, que a votação já aconteceu, que se calhar este meu desabafo vem fora de tempo, mas desde que soube do caso que sinto necessidade de o fazer. Senão engasgo-me. Não quero ser cego nem surdo nem mudo. Quero falar do que ouço e vejo. Enquanto posso. A falta de regras, que eu prezo, nesta espécie de blog, permite-me fazê-lo fora de tempo. Estou a falar da votação sobre as diferentes propostas relativas aos casamentos entre pessoas do mesmo género. Será que pretendemos construir um mundo livre, onde cada um pensa pela sua cabeça e é capaz de lutar por aquilo em que acredita, sendo responsável pelas suas acções?  Se sim, quem ocupa lugares de responsabilidade neste país deveria dar sinais nesse sentido. É por isso para mim inaceitável que qualquer partido imponha disciplina de voto em qualquer votação. Deveria ser inadmissível para toda a gente, sobretudo para quem foi eleito democraticamente para o parlamento. Já sabíamos que muito poucos membros proeminentes dos grandes partidos pareciam pensar pela sua cabeça, mas impor disciplina de voto a pessoas supostamente livres e por isso capazes de medir a responsabilidade e as consequências das suas posições é ultrapassar o mínimo do decoro. Transforma os nossos representantes em meros bonecos sentados nas cadeiras do parlamento e dispostos a dizer o que o seu chefe quer que digam. Se isto é ultrajante, fazer o que fez o PS, que foi impor disciplina de voto aos deputados com algumas excepções - serão deputados mais livres de pensar? - se não fosse ridículo, seria um verdadeiro insulto à inteligência das pessoas e em particular à inteligência e sentido de responsabilidade dos seus deputados. 
<br>

|[img[O que nos resta|./wikiImages/principe2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, St António, Príncipe, Julho 2009^^//}}}
Perante o que ouvimos, mas sobretudo perante o que não ouvimos e que acreditávamos que iríamos continuar a ouvir, pois ouvimo-lo há uns meses atrás, por parte de quase todos os responsáveis deste país, "que havia necessidade de mudar o modelo do sistema financeiro, regulamentá-lo, acabar com os offshores, expurgar a especulação e focar na economia real feita de coisas físicas, coisas que se vêem e se podem apalpar", o que nos resta fazer senão sentarmo-nos a contemplar o mar?

Porque qualquer outra coisa a fazer, parece-me, vai ter de ser muito menos pacífica...
<br>

|[img[Vendem-se muitos m2|./wikiImages/ael4.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Vendem-se muitos m^^2^^'', Dezembro 2009^^//}}}

Este é mesmo um objecto insólito pousado numa paisagem insólita e à venda. 

A ilusão ambígua convexa/côncava leva-nos a imaginar uma paisagem implodida, sugada por aquele buraco negro, deixando atrás de si um espaço vazio, despido de história.

Lá está, como podem ver, a ranhura do mealheiro onde todos vamos colocar a moedinha, tal como fazemos nas nossas peregrinações a Fátima. Podemos apenas imaginar quem vai no fim quebrar a porcelana e recolher o dinheirinho.
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|[img[Carvalhos|./wikiImages/carvalhos2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Carvalhos'', Novembro 2009^^//}}}
Existe nos carvalhos uma ruralidade, um sabor de tempo antigo, que não encontro em mais nenhuma árvore...
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|[img[Vendem-se muitos metros quadrados|./wikiImages/ael2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Vendem-se muitos m^^2^^'', Fábrica Algarve Exportador, Matosinhos, Dezembro 2009^^//}}}
Curioso como as rosas de pedra florescem sempre em Janeiro, tal como as flores do [[Milagre das Rosas|2009-10 - Milagre das Rosas]].
<br>

|[img[Vendem-se muitos metros quadrados|./wikiImages/ael1.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Vendem-se muitos m^^2^^ - no dia 25/12/2009 era assim'', Fábrica Algarve Exportador, Matosinhos, Dezembro 2009^^//}}}
Já nada disto existe. As rosas de pedra de Janeiro murcharam mais cedo e caíram no chão...

A fotografia teve sempre, desde que foi inventada em meados do século XIX, uma componente muito forte de registo, de memória. O momento registado é sempre um momento que já passou, um momento que já não existe mais. Dessa maneira a fotografia esteve sempre muito próxima da ideia de morte. Hoje a fotografia continua a ser uma forma ilusória de vencer a morte inelutável de pessoas e de coisas. 

|[img[Vendem-se muitos metros quadrados|./wikiImages/ael3.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Vendem-se muitos m^^2^^ - no dia 02/01/2010 já era assim'', Fábrica Algarve Exportador, Matosinhos, Janeiro 2010^^//}}}
{{indent{{{indent{^^...
E nisto os bulldozers chegam uma manhã
Às vezes os jornais dão a notícia
outras vezes não ^^}}}}}}
{{indent{{{indent{^^//EDUARDA DIONÍSIO, in Catedrais de Silêncio, 2003//^^}}}}}}
<br>

|[img[Última Homenagem|./wikiImages/castanheiro3.jpg]]|{{indent{...<br><br>^^Árvores! Corações, almas que choram,<br>Almas iguais à minha, almas que imploram<br>Em vão remédio para tanta mágoa!<br><br>Árvores! Não choreis! Olhai e vede:<br>- Também ando a gritar, morta de sede,<br>Pedindo a Deus a minha gota de água!<br><br> //Florbela Espanca//^^}}}|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Última Homenagem'', Abril 2009^^//}}}
Tive uma série de reacções ao meu //post// anterior. Parece que quase todos temos árvores de estimação: carvalhos, sobreiros, oliveiras... Quem lê esta minha espécie de //blog// sabe que a árvore que por demais me encanta é o castanheiro. Tal como já revelei há castanheiros que visito a cada viagem, tal como se visita um amigo. O castanheiro é para mim a águia ou o milhafre das árvores. Nesta comparação o carvalho seria porventura o estorninho. O castanheiro marca o território, observa-o, domina-o. Os carvalhos, em bandos, sobrevoam e invadem a paisagem. Tal como a águia ou o milhafre, tal como os estorninhos.

Eu devia esta homenagem a um dos castanheiros meus amigos que morreu em 2009. Faço-a agora.
<br>

|[img[Espanta o quê?|./wikiImages/trapo3.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Um espanta o quê?'', Rebordelo, Fevereiro 2010^^//}}}
Um espanta mafarricos?
Um espanta maus-agoiros?
Um espanta pragas?
Um espanta o quê?
<br>

|[img[Espanta o quê?|./wikiImages/trapo2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Um espanta o quê?'', Rebordelo, Fevereiro 2010^^//}}}
^^Quem canta seus males espanta
Quem escreve seus males espanta
Quem fotografa seus males espanta
Quem espanta seus males espanta^^
<br>

|[img[O outro lado da Arte|./wikiImages/cbaMadrid.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''O outro lado da Arte'', Círculo das Belas Artes, Madrid, Dezembro 2009^^//}}}

''Paisagens de Silêncio, D'ouro d'Alendouro'' é um projecto sobre ~Trás-os-Montes, ou melhor,  é um projecto muito pessoal sobre a paisagem do Alendouro, a paisagem que eu atravesso e toco com as mãos, um projecto tecido com essas ervas d(ouradas), onde só o silêncio se pode deitar. 

As fotografias foram feitas entre 2000 e 2003, em todas as épocas do ano, de Bragança a Vinhais, de Miranda do Douro a ~Foz-Côa. O projecto foi realizado em 2003-2004 com a cumplicidade do poeta Jorge Sousa Braga. Percorreu todo o ~Trás-os-Montes em 2003, em versão pequeno formato, e "terminou" de alguma forma em 2004 no CPF, em versão grande formato, com várias projecções de vídeo, ocupando a sala do tribunal e a sala e os corredores de acesso. 

O projecto foi também editado em livro, com design do Rui Mendonça.

Este pequeno vídeo, que agora decidi divulgar nesta espécie de blog, foi realizado a partir de algumas das imagens desse projecto e com os pequenos textos escritos pelo Jorge.

^^Nota: agradeço à Susana Paiva e ao ''The Portfolio Project'' a guarida que me ofereceram para este vídeo. Bem haja.^^

<html>
<embed src="http://blip.tv/play/AYHFoBwC" type="application/x-shockwave-flash" width="480" height="414" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true"></embed>
</html>
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|[img[Espanta o quê?|./wikiImages/trapo1.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Um espanta o quê?'', Rebordelo, Fevereiro 2010^^//}}}
Encontramos muitas vezes em ~Trás-os-Montes plásticos, farrapos e até peças de vestuário, dependurados dos ramos das árvores, desfraldados ao vento, muitas vezes em castanheiros. E não sei porquê, mesmo os plásticos, que me ferem tanto se abandonados no solo, assumem, assim amarrados nos ramos, um lado simbólico, quase religioso, que me atrai.

Não é clara a razão desta prática. Pergunto. Há quem refira a função de espantalho, mas os pássaros não atacam os ouriços nos soutos. Espantar o quê? Os fotógrafos também não assustam, muito pelo contrário. Serão uma forma de sinalizar o terreno, de marcar a passagem? Um ritual? Tal como a fotografia sinaliza a minha passagem.
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|[img[Espanta o quê?|./wikiImages/trapo4.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Um espanta o quê?'', Rebordelo, Fevereiro 2010^^//}}}
{{indent{^^Um espanta o quê? Um espanta-fotógrafo
Um espanta o quê? Um espanta-visitantes-de-blog^^}}}
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|[img[Vendem-se muitos m2|./wikiImages/ael5.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Vendem-se muitos m^^2^^'', Fábrica Algarve Exportador, Matosinhos, Janeiro 2010^^//}}}
Era um barco, era uma cidade
Era uma promessa
Depois de derrubada, despida, violentada, ainda te humilham e com cinismo falam de erotismo. 
Liberta os teus sentidos, vê o que te estão a fazer, ouve o tilintar, sente o amargo de boca, cheira o esturro, apalpa o negócio

^^Nota: o site Haloscan decidiu deixar de disponibilizar o serviço de alojamento de comentários e, por isso, a possibilidade que existia de os fazer deixou de ser possível nesta espécie de blog, pelo menos até eu encontrar uma solução alternativa. Claro que podem sempre, e eu agradeço se o fizerem, enviar os comentários para mim por mail^^
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|[img[Vendem-se muitos m^^2|./wikiImages/ael8.jpg]]|{{indent{{{indent{{{indent{''Ode Expiatória'' }}}}}}}}}<br> {{indent{^^O vazio enche-se de tudo o que tem à mão para disfarçar o nada debaixo dos pés. Locomove-se em binário, com a lembrança e o esquecimento em braço de ferro. Até ambos sucumbirem, triunfantes: ela, entalada, ele, enlatado. Entretanto, a linguagem vai ficando enxuta da realidade. Os meios são milagrosos centrifugadores. Contra a ilusão das imagens, dos nomes e dos verbos, a (des)ilusão da realidade nada pode… O perigo dos meios, a fotogenia, o élan das palavras.<br>Então, outra vez: caminhamos com o peso de tudo na consciência, de vazio em vazio, para (o) nada. No calor tropical da câmara do comércio, pronto-a-despir de vestígios, há uma antecâmara onde se cala toda a memória sem músculo, cujas paredes só a poesia tenta atravessar, sem o conseguir (?).<br><br> //que um fantasma/ em forma de cheiro [a peixe]/ possa assombrar os corredores pintados de fresco/assim/ como quem/não podendo conversar/ pode conservar/o odor/de quem pensa tê-lo perdido/e /com a maior lata do outro mundo/empunhe o abre latas deste nosso/para dele revelar/ o verdadeiro conteúdo. (Anónimo, princípio do séc. XXI).// <br><br>Post Scriptum: reconstruir o que interessa, riscar o que não interessa.^^}}}|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Vendem-se muitos m^^2^^'', Fábrica Algarve Exportador, Matosinhos, Janeiro 2010; texto cumplescrito de ''Emílio Remelhe''^^//}}}
Nota: Emílio Remelhe é o primeiro a repetir uma cumplescrita nesta espécie de blog, escrita propositadamente para esta série: ''Vendem-se muitos m^^2''
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|[img[Dois espanta o quê?|./wikiImages/trapo7.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Dois espanta o quê?'', Rebordelo, Fevereiro 2010^^//}}}
{{indent{^^Dois espanta o quê? Um espanta-fotógrafo e um fotógrafo espantado?^^}}}

Eu espanto-me
tu espantas-te
ele espanta-se
nós espantamo-nos
vós espantai-vos
eles espantam-se
eu espanto-me que tu te espantes
tu espantas-te que ele se espante
ele espanta-se que nós nos espantemos
nós espantamo-nos que vós vos espanteis
vós espantai-vos que eles se espantem
eles espantam-se que eu me espante 
Afinal é apenas um milhão e meio de euros por ano
Afinal não é muito mais do que um catedrático ganha toda a vida
Afinal não é muito mais do que um director de serviço num hospital ganha toda a vida
Afinal não é muito mais do que cinco pescadores ganham toda vida
Afinal não é muito mais do que cinco mineiros ganham toda a vida 
Afinal porquê tanto espanto?
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|[img[BES Revelação 2009 e eu|./wikiImages/besRevelacao2009.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''BES Revelação 2009 e eu'', Museu de Serralves, Fevereiro 2010^^//}}}
Como de costume fiz a minha peregrinação ao BES Revelação em Serralves. Como falar sobre o que vi? Aquilo que poderia começar por dizer é que em minha opinião falta a contextualização dos projectos. Não há qualquer informação acessível, a não ser o livro, vendido na livraria, e que não comprei, tal como a maioria dos visitantes não compra. Vou por isso falar sem ter lido o livro. Por exemplo o projecto de Ana Braga foi construído a partir de fotografias de família, ou utilizou fotografias encontradas na feira da ladra, ou recuperadas a partir de uma outra qualquer origem? Mas esta é uma velha guerra minha pelo direito à informação nos museus. Mas para abordar o essencial do que eu quereria dizer sobre o prémio, talvez a forma mais fácil seja contar uma pequena história verídica, que me foi contada por Alejandro Castellote, que foi durante muitos anos responsável pelo Foto España. Quando ele estava à frente do festival foi falar com uma senhora, que era então responsável pela colecção de arte da Fundação Telefonica, para tentar obter apoio dessa Fundação. A senhora disse-lhe cruamente que a fotografia lhe não interessava. Passados alguns anos, quando a fotografia começou a adquiriu notoriedade nos meios artísticos, por razões que ultrapassam este //post//, a Fundação decidiu adquirir obras fotográficas e a primeira fotografia que essa senhora decidiu comprar foi um Thomas Ruff.

Suspeito que os membros do júri do BES Revelação poderiam ser confundidos, pelo menos em dias de nevoeiro, com essa senhora da Telefonica.

Hoje em dia quase todos os que têm maior influência e maior poder de decisão na Fotografia parecem não ter tido uma verdadeira ligação à fotografia, ou parecem ter uma ligação recente, tendo lá chegado porventura pela via das chamadas artes plásticas, o que poderia não ser um mal em si mesmo, mas que se tem muitas vezes revelado como castrador. Em Serralves, tal como em quase todo o lado, em vez da procura de uma revelação parece haver uma fixação em perspectivas para a fotografia no mínimo redutoras.

Nota: esta história não pretende ser uma crítica aos 3 projectos apresentados no BES Revelação. Dois deles até são em minha opinião minimamente interessantes, ainda que não verdadeiramente novos.

|[img[Espanta o quê?|./wikiImages/trapo8.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Espanta o quê?'', Rebordelo, Março 2010^^//}}}

{{indent{^^Neste espaço a si próprio condenado 
Dum momento para o outro pode entrar 
Um pássaro que levante o céu 
E sustente o olhar 

Com a tristeza acender a alegria 
Com a miséria atear a felicidade 
E no céu inocente da visão 
Fazer pulsar um pássaro por vir 
Fazer voar um novo coração^^}}}

{{indent{{{indent{//^^Alexandre O'Neill^^//}}}}}}

Seria um espanto que muito me espantaria, se tal espanto me espantasse...
<br>

|[img[Vendem-se muitos m^^2|./wikiImages/ael6.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Vendem-se muitos m^^2^^'', Fábrica Algarve Exportador, Matosinhos, Fevereiro 2010^^//}}}
É verdade que as histórias tradicionais retratam muitas vezes a crueldade da humanidade. São muitas vezes histórias cheias de maldade, histórias polvilhadas de horrores, mas quase sempre o príncipe e princesa acabam por vencer todas as contrariedades. A Cinderela casa com o príncipe, torna-se princesa, e os dois vivem felizes para sempre.

|[img[Vendem-se muitos m^^2|./wikiImages/ael7.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Vendem-se muitos m^^2^^'', Fábrica Algarve Exportador, Matosinhos, Fevereiro 2010^^//}}}
Mas na vida real quase nunca a Cinderela encontra um príncipe para casar. Na vida real os sonhos são quase sempre destruídos, derrubados, deitados ao chão e espezinhados pelos poderosos.

|[img[O monumento|./wikiImages/ael9.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''O monumento'', Fábrica Algarve Exportador, Matosinhos, Março 2010^^//}}}
Há muitos, muitos anos houve um reino onde as pessoas se sentiam tristes, debaixo do jugo de um rei tirano. Suportavam o jugo em silêncio e efabulavam sobre um rei justo e bom que alguns ainda lembravam ou julgavam lembrar. Recordavam-no por isso pelo nome carinhoso de Ricardo Grande Coração. O rei, entediado com a governação, teria partido para a guerra.

Até que um dia nesse reino, quando um camponês regressava a casa dos campos, viu ao longe um vulto que amontoava pedras num grande círculo, ainda longe da aldeia onde o camponês vivia.

Era o rei Ricardo Grande Coração que, depois de derrotado e depois de perder os seus exércitos, regressava ao seu país. Mas, envergonhado com a derrota e receoso da recepção dos seus súbditos, resolvera enterrar todos os seus pertences, que o poderiam identificar, e vestir um pobre fato de camponês. Marcara o local onde enterrara os seus bens com as pedras, dispostas de uma forma tal que sem dificuldades reconheceria o sítio do esconderijo.

O camponês aproximou-se do homem e saudou-o e perguntou-lhe quem era. O rei apanhado de surpresa respondeu “Ricardo...” e balbuciou, pois quase se desmascarara inadvertidamente. “Ricardo?” perguntou o camponês que olhou para ele como se tivesse ocorrido um milagre, pensando que poderia ser o o rei de que os mais antigos falavam. “Sim, Ricardo Longo” respondeu o rei, inventando um nome, que por acaso lhe viera à cabeça, e o camponês não conseguiu disfarçar a desilusão. “E que fazes com as pedras perguntou o camponês?”. O rei, que era habilidoso com a palavras, explicou que gostava de limpar os campos das pedras, para os tornar mais produtivos e que esperava receber dos seus donos algum pagamento por esse trabalho. Depois das explicações o camponês levou-o consigo para a aldeia.

Na aldeia, ao conversar com aquelas gentes, o rei percebeu quão tristes todos andavam. A pobreza era muita e os algozes do rei impiedosos. O rei compreendeu que não tinha a coragem suficiente para dizer quem era e para confessar que partira para ser derrotado e tudo perder. No dia seguinte, pesaroso, partiu, alistou-se como mercenário no exército de um reino distante e nunca mais ninguém soube nada dele.

O tempo passou, monarcas mais tiranos se seguíram a monarcas menos tiranos, monarcas menos tiranos a monarcas mais tiranos e as gentes continuavam a falar daquele Rei Coração Grande que um dia haveria de voltar.

Não se sabe com que intuição aquele lugar com o monte de pedras se tornou com o tempo um lugar sagrado, visitado por forasteiros de todo o mundo. Com o tempo, também não se sabe porquê, os nomes de Ricardo Coração Grande e Ricardo Longo confundiram-se. E ninguém conseguía realmente explicar em que se distinguiam aquelas aglomerações de pedras de outros montes de pedras espalhados pela região, a que aquela gente chamava, seria depreciativamente?, de mariolas, como se tentassem enganar o povo, fingindo ser o que não eram.

|[img[Cinderela esteve aqui|./wikiImages/cinderela.jpg]]|{{indent{^^''HARDCORE'' <br><br>Dez para as duas<br>Sapatos a mais para Cinderela<br>Não há orquídeas para Miss Blandish<br><br>Ela era boa rapariga - Sãozinha<br>ela era uma rapariga boa - Samantha<br>ela não era uma rapariga - Lassie<br><br>Saiu das suas tamanquinhas<br>para calçar escarpins de verniz<br>mas ficou descalça<br>depois tiveram de lhe cortar os pés<br>podres de ricos^^}}}<br><br>{{indent{{{indent{^^//Adília Lopes//^^}}}}}} |
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Cinderela esteve aqui'', Porto, Março 2010^^//}}}
Nas histórias de antigamente a Cinderela tinha de se esquecer do sapatinho para sabermos que ela tinha estado lá. Hoje é fácil saber por onde cada um de nós andou. Mesmo sem nos apercebermos disso. Basta termos connosco um telemóvel, para ser muito fácil descobrir onde estivemos todo o tempo. A somar ao telemóvel temos a via verde, os cartões de crédito, a vídeo-vigilância.  Alguns poderão dizer dizer que quem não deve não teme e que quem nada tem a esconder nada tem a recear, mas tudo depende de como essa informação é utilizada. Mas hoje é quase impossível pôr em causa todos estes dispositivos que, sendo úteis, têm também a possibilidade de nos controlar 24 horas por dia. De uma forma muito discreta e subtil...
<br>

|[img[Árvore|./wikiImages/arvore5.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Rebordelo, Março 2010^^//}}}
{{indent{^^...
crescer como árvore, resistir
ao vento, ao rigor da invernia,
e certa manhã sentir os passos
de abril
ou, quem sabe?, a floração
dos ramos, que pareciam
secos, e de novo estremecem
com o repentino canto da cotovia^^}}}
{{indent{{{indent{//^^Eugénio de Andrade^^//}}}}}}
<br>

|[img[Retrato médio de mulheres e de homens|./wikiImages/espelhosMatriciais4.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Retrato médio de mulheres e retrato médio de homens'', Espelhos Matriciais 2009^^//}}}
Quem me conhece, sabe que há muito admiro Joan Fontcuberta. E admiro-o primeiro pelos projectos fotográficos arrojados e inovadores, onde a questão central é a da mentira na fotografia, projectos que desenvolve desde os anos 80, mas admiro-o sobretudo pela forma original e desempoeirada como reflecte e escreve sobre a fotografia. É uma das vozes críticas independentes mais lúcidas, que não repete, cacarejando, como quase todos fazem,  as ideias dominantes do meio. O seu livro //El Beso de Judas// é essencial para situar aquilo que se convencionou chamar fotografia contemporânea.

Fontcuberta compreende bem que a separação, entre os artistas a fazer e os comissários/curadores a pensar, nada mais é do que uma forma de definir a relação de poder em que os criadores ficam subordinados aos curadores e outros fazedores de gosto, que quase sempre coincidem ou têm relações de proximidade com o poder económico e financeiro no mundo da arte.

Numa entrevista de Fontcuberta a Cristina Zelich, publicada em 2001 ele expressa essa ideia de que têm de ser os criadores a apresentar e a defender os seu projectos.

>''CZ'' -  Do  you really believe that if an artist is not capable of verbally articulate a discourse about his work it's because he does not have one? Don't we run the risk of confusing theory and artistic creation?
>
>''JF'' - Those risks do exist, but one must assume them, take them on, because not to do so would lead us to the mythification of the genious, of the purely intuitive, that often only serves to camouflage the absence of content. furthermore the artist who renounces explaining his work leaves the task entirely to the whims of the critics and the curators. This is a phenomen that has ocurred frequently throughout the past decades. I am simply arguing for the need to make some attempt at reflection, to inculcate the need there is to clarify or at least have some ideas about why one does what one does. In order for this to occur you have to know what people did before you, what others around are doing and why.

Sabendo dessa admiração perdoar-me-ão com certeza a minha  imodéstia ao apresentar aqui um texto de Fontcuberta, um extracto do seu último livro, lançado há poucos dias em Espanha, chamado "La Câmara de Pandora", onde Joan Fontcuberta aborda a refundação da fotografia com o processo digital e em que refere o projecto ''Espelhos Matriciais'' como um projecto importante para esta discussão.

>''Qué deﬁne nuestra apariencia?''
>
>Para responder, algunos historiadores han recogido la anécdota del retrato protocubista de Gertrude Stein, realizado por Picasso. En 1906, Picasso, que a sus 26 años ya se desenvolvía como pez en el agua en los ambientes intelectuales y artísticos parisinos, pidió a Stein que posara para él. Después de más de ochenta sesiones y cuando parecía que el lienzo ya estaba terminado, Picasso, insatisfecho, borró bruscamente el rostro y dejó el trabajo abandonado. Quienes habían tenido la oportunidad de contemplar las fases anteriores del retrato se habían mostrado muy complacidos con el resultado, pero para Picasso no era suﬁciente. Emprendió entonces un viaje a Barcelona y pasó una temporada en los Pirineos, en Gósol y en Horta de Sant Joan, donde su estilo empezó a cambiar inﬂuido por las esculturas ibéricas arcaicas y por los frescos del románico catalán. De vuelta a París, Picasso retomó el lienzo y siguió pintando de memoria la cara de Stein, sin encontrarse de nuevo con ella. Sus facciones aparecían ahora desproporcionadas, aﬁladas e inmóviles como una máscara, mientras que las manos y el resto del cuadro seguían más angulosos y suaves. El rostro había evolucionado hacia un nuevo concepto de abstracción. Cuenta Stein en sus memorias que cuando vio el cuadro exclamó desconcertada: “No me parezco en nada” y Picasso replicó: “Ya te parecerás”.
>
>Con anterioridad otros importantes pintores que se atrevieron a desaﬁar las convenciones de la representación padecieron experiencias similares. En La ronda de noche (1642), unos militares parlotean mientras empuñan sus armas y se preparan para un desﬁle. Los patricios de Ámsterdam que habían encargado a Rembrandt este cuadro rechazaron indignados el resultado porque no se reconocían en las ﬁguras pintadas. La escena además demostraba ser una alteración de la realidad: Rembrandt no sólo había introducido personajes en la composición que no habían estado presentes en las sesiones de pose sino que la utilización insólita de luz y sombra desﬁguraba la identidad de aquellos militares engalanados en sus mejores trajes de armas. Como cada uno de los dieciocho militares retratados en la pintura (y cuyo nombre se encuentra en un escudo en la puerta) había pagado 100 ﬂorines al maestro para inmortalizar su rostro, la cosa no estaba para bromas y exigieron que el pintor se ajustase a su deber de ﬁdelidad a la realidad visual. Aunque una compañía estaba compuesta por un número mucho mayor de miembros, sólo los que pagaban tenían derecho a aparecer en el retrato (a excepción del tamborilero, que podía aparecer gratis). Pero Rembrandt añadió el resto de los personajes al colectivo para obtener mejor ambientación. Y la aplicación de la técnica del claroscuro, a costa de renunciar a una nítida delineación de las ﬁguras, le permitía trascender el estatismo de un mero retrato de grupo para captar una vívida instantánea que evoca el movimiento y el bullicio de la situación. 
>
>Ambos ejemplos maniﬁestan la problemática de la semejanza. Tanto desde la ﬁlosofía del arte como desde la semiótica se ha producido un esfuerzo para diagnosticar los rasgos que en una imagen permiten identiﬁcar al objeto representado. ¿Se trata de patrones basados en una mímesis gráﬁca objetiva y universal o por el contrario dependen de sistemas de representación culturales y subjetivos? Una multiplicidad de hipótesis ha dado respuesta a estas cuestiones que en el fondo vienen impregnadas de una incertidumbre más profunda: la que atañe a nuestros modelos de construcción de la realidad. El ﬁlósofo Karel Kosik se plantea: “¿Puede ser que la realidad no sea conocida con exactitud a no ser que el hombre se reconozca en ella? Esta opinión implica que el hombre se conoce y sabe qué aspecto tiene y qué es, independientemente del arte y de la ﬁlosofía. Pero, ¿cómo el hombre sabría todo esto? ¿De dónde obtendría la certeza de que lo que sabe representa correctamente la realidad y no constituye sólo una mera representación?”7 Rembrandt y Picasso y tantos otros apuntaron con su obra al corazón de esa disyuntiva. Pero ¿sería hoy posible diseccionar el concepto de semejanza según un criterio de lógica matemática?
>
>Renato  Roque  responde  afirmativamente  con  un  estudio  titulado  ''Espejos Matriciales'',  con  el  que  obtuvo  su  maestría  en  Multimedia  por  la  Facultad  de Ingeniería de la Universidad de Oporto (www.renatoroque.com). ¿Qué tenemos en común y qué nos distingue de los demás para que alguien nos perciba como una individualidad? ¿Cuánta analogía y cuánta información nueva hay de un rostro a otro? Roque partió de las teorías de percepción visual que se ocupan de las relaciones entre originalidad y redundancia en la forma como el cerebro optimiza la comprensión de un rostro, llegando a la conclusión de que los humanos podemos reconocer caras con una gran economía de componentes: nos basta una veintena de coordenadas. Llevó entonces la investigación a una aplicación empírica con una muestra estadística de la población estudiantil de su universidad. Cada rostro fue mapeado y descompuesto en unos datos matriciales, como si fuese posible aislarlos confeccionando un alfabeto de unas pocas imágenes fundamentales. A diferencia de la construcción de los retratos arquetípicos por capas (como los analógicos de Galton o los digitales de Burson), Roque diseñó un algoritmo capaz de calcular el grado de repetición o singularidad de un componente, para acto seguido aislarlo y aplicarlo a la construcción de un rostro virtual. Además, sobre el banco de datos obtenido estableció unas “clases” o categorías según unos criterios de discriminación maximizados que simpliﬁcaban su identiﬁcación (hombre/mujer, joven/viejo, blanco/negro, etc.) y en el contexto de esos espacios matriciales podía interpolar los respectivos coeﬁcientes identiﬁcatorios para generar determinadas tipologías cruzadas. 
>
>Estéticamente las imágenes parafotográﬁcas que derivan de ese procedimiento ostentan una frialdad límpida y una pureza tonal que entronca con las experimentaciones minimalistas de la Generative Fotograﬁe que desde 1968 impulsaron autores como Gottfried Jäger y Karl Martin Holzhäuser. Roque, en efecto, prosigue, con una conceptualización ejemplar, la estela marcada por la estética generativa de Max Bense en la que la información, las matemáticas y la tecnología sentaron la base de una nueva creación artística.
>
>{{indent{{{indent{Joan Fontcuberta in //La Câmara de Pandora  - Eugenésicos sin Fronteras// - 2010}}}}}}
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|[img[Primavera 2010|./wikiImages/primavera2010.jpg]]|{{indent{^^COMO O RUMOR <br><br>Como o rumor do mar dentro dum búzio<br>O divino sussurra no universo<br>Algo emerge: primordial projecto.^^}}}<br><br>{{indent{{{indent{^^//Sophia de Mello Breyner //^^}}}}}}|
{{indent{//^^©Renato Roque,  Nozedo,  Rebordelo, Abril 2010^^//}}}
Há todos os anos um dia em que a Primavera se anuncia. É um dia mágico, um dia de renovação, mas como se repete todos os anos, depressa os esquecemos. Percorrendo esta espécie de blog recordo outras Primaveras, outras magias que me tinham tocado o coração, mas que já tinha esquecido.

|[img[Serralves|./wikiImages/serralvesAB.jpg]]|{{indent{^^Sejamos modernos, sejamos radicais<br>...<br> E além do mais eu não digo nada aos teus pais<br><br>{{indent{//Daniel Maia Pinto Rodrigues//}}}^^}}}|
{{indent{//^^©Renato Roque, Serralves, Fevereiro 2010^^//}}}
Tenho dito aqui mais do que uma vez que gosto de ir a Serralves. Gosto do espaço, gosto dos jardins. Muitas vezes gosto do que lá vejo, outras vezes não. Senti-me obrigado a afirmá-lo repetidamente porque alguns textos críticos nesta espécie de blog poderiam ser por alguns mal interpretados. Eu acho que vale a pena criticar aquilo de que se gosta, aliás só vale a pena criticar aquilo de que se gosta ou por causa de alguma coisa de que se gosta.

Também por isso aquilo que tenho lido na comunicação social sobre a forma como a Fundação de Serralves se tem portado com os seus trabalhadores não me poderia deixar sem palavras. Não que tais factos me espantem, espantar o quê?,  quando correspondem a uma visão dominante de que o trabalho deve ser precário, em nome de uma flexibilidade e às vezes até de uma utopia (uma mentira? será que acreditam nisso?): uma sociedade sem vínculos laborais, sem patrões, onde cada um seria um empresário de si próprio. 

Os prémios dos administradores das empresas públicas e privadas e a sua história poderiam permitir-nos perceber o que seria esta sociedade utópica.  Se todos eles passam com toda a facilidade de umas para outras, independentemente dos resultados, porque não há acontecer o mesmo aos funcionários de Serralves, do Continente, ou da IKEA. Se os trabalhadores quisessem, esta utopia seria possível. Não era? É uma pena ainda haver tanta gente céptica, apesar do esforço das elites deste país. Não é?

Porque haveria Serralves de ser diferente? Porque organiza umas exposições e uns eventos de alguns autores de vanguarda? Porque é uma instituição cultural de referência no Porto e no País? Porque é moderna e às vezes parece radical?
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|[img[Arte Comtemporânea|./wikiImages/arteContemporanea.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Museu de Serralves, 2009^^//}}}
Fui esta semana a uma conferência na Faculdade de Letras sobre Arte e Reconhecimento (//Art and Recognition//) por Nathalie Heinich, uma socióloga francesa do Centre National de Recherce Sociale. Eu não a conhecia, mas o tema naturalmente atraiu-me. A conferência estava integrada no Ciclo "Documente-se", organizado em parceria com Serralves.

O meu primeiro comentário tem a ver com o facto de considerar despropositado que alguém convidado - e suponho pago - para realizar uma conferência, tenha decidido ler um longo texto - cerca de uma hora de leitura densa, em voz baixa, monocórdica, em inglês com sotaque - que tornou muito difícil, quase fastidioso, sobretudo para alguém que não é especialista na área, como eu, conseguir seguir o texto do princípio ao fim. Serei porventura eu que estou "mal habituado", pois no fim da conferência alguns sociólogos com que conversei afirmaram ser habitual este formato ser adoptado em conferências. Claro que a leitura de um texto pode ser razoável em muitos contextos, mas numa conferência como aquela parece-me despropositado e desmobilizador. Para isso então teria sido preferível distribuir o texto antes no site do evento. Poderíamos tê-lo lido com todo o tempo do mundo e o tempo da conferência teria servido para discutir e conversar sobre o documento.

Mas o objecto deste //tiddler// tem sobretudo a ver com uma pergunta que, a determinada altura, alguém da assistência colocou a Nathalie Heinich. Na questão do reconhecimento, e em particular no reconhecimento em arte, ela tinha muitas vezes referido a arte contemporânea como um caso especial, onde o modelo de mediação no processo de reconhecimento social é muito particular. A pergunta portanto era "Afinal o que é arte contemporânea?" Aqueles que têm paciência para visitar algumas vezes esta minha espécie de blog sabem que "arte contemporânea" e em particular "fotografia contemporânea" são para mim conceitos pouco claros e que suscitam muitos equívocos. A resposta de Nathalie foi clara e diria até perfeitamente aceitável. Ela distingue 3 grandes "genres" na história da arte. A arte clássica, que marcou toda a arte até meados dos século XIX e que tem como foco principal a figuração e a representação do real. A arte moderna que muda o foco para o mundo interior do artista e finalmente, desde meados de século XX, um terceiro "genre" chamado arte contemporânea, que se caracteriza por colocar o foco na transgressão do conceito de arte tradicional. Esta "definição", que é aceitável e que pode até ser útil, como uma forma de percebermos a evolução muito geral da história da arte, pois dá sempre jeito irmos arrumando as coisas no espaço e no tempo, para dessa forma arrumarmos as nossas ideias, torna-se quanto a mim perigosa e equívoca se lhe dermos demasiada importância, tal como me parece que acontece hoje, quando se fala de arte contemporânea. O conceito é de facto tão vago e subjectivo que permite lá incluir quase tudo e quase nada. Seria a mesma coisa que em vez de falarmos de impressionistas, expressionistas, modernistas, surrealistas, movimento dadá, estruturalistas, etc., falássemos só de arte moderna. Aliás se definirmos arte contemporânea como uma arte que transgride ou rompe com o conceito de arre poderíamos, com algum jeito, afirmar que os impressionistas, os expressionistas ou todos aqueles movimentos também poderiam ser enquadrados na arte contemporânea. Coloquei essa questão e a resposta da conferencista foi "que não, pois os impressionistas, por exemplo, não romperam de facto com a pintura. Eram apenas "maus pintores" na opinião do público e dos críticos, ou pintores que não sabiam pintar. Mas Nathalie tinha pouco antes referido Malevich como um artista contemporâneo, para sustentar a ideia - que me parece também justa - de que arte contemporânea é um "genre" e não um período artístico - um artista pode hoje fazer arte contemporânea, mas também pode fazer arte moderna ou clássica. Na opinião de Natalie, Malevitch teria sido contemporâneo muito antes de meados do século XX, quando o "genre" se afirma, sobretudo com as experiências de Duchamp (o famoso Pissoir transvestido em Fountain) . Mas não se poderia também dizer que Malevich era apenas "mau pintor", que não sabia pintar? A ruptura de Malecich terá sido porventura uma ruptura mais funda do que a dos impressionistas no conceito de arte, mas então ter-se-ia de afirmar que a contemporaneidade se define pela dimensão da ruptura ou da transgressão. E nessa caso qual era essa dimensão? E como se mede? E o que dizer de artistas como Paula Rego ou Bacon e muito outros que nos são sempre apresentados como contemporâneos? A verdade é que com um texto bem(?) escrito, e há gente que se farta para representar esse papel, qualquer trabalho pode ser apresentado como transgressor do conceito de arte e portanto como arte contemporânea! Mas há outro problema insuperável. Quando a chamada arte contemporânea é hoje já a arte dominante, com mais visibilidade e até com a maioria dos apoios oficiais - o que em si é já uma contradição: transgredir com o apoio entusiástico do poder - transgredir teria de significar transgredir relativamente ao conceito de arte contemporânea. Transgredir o que já foi transgredido, transgredir quando a moda é transgredir não é transgressão, é quando muito academismo para não dizer que é chato e redundante.

Por isso gosto tanto daquele verso de Dali

^^O primeiro homem a comparar as maçãs do rosto de uma mulher com uma rosa foi com certeza um poeta; o primeiro que o repetiu era possivelmente um idiota.^^

E isso leva-nos onde? De regresso à arte moderna e clássica? Não me parece que faça sentido este regresso ao passado. Quais são então os campos que uma arte que pretendeu negar a própria arte, ainda que sempre de uma forma contraditória, nos deixou por abrir? Poderá ser matéria de outros //tiddlers//.

|[img[Arte Comtemporânea|./wikiImages/arteContemporanea2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Museu de Serralves, 2009^^//}}}
Recebi alguns comentários a propósito do meu último //tiddler//, manifestando todos eles simpatia e um apoio claro - há afinal muita gente a quem, por razões várias, muitas questões da arte contemporânea fazem alguma comichão atrás das orelhas, mas que muitas vezes se não atrevem a discuti-las abertamente. A arte contemporânea que, por natureza, deveria ser polémica, tornou-se curiosamente consensual. Porque será? A partir de alguns desses comentários achei que teria de esclarecer, para não restarem ambiguidades, que não pretendo de forma nenhuma iniciar uma cruzada contra a chamada arte contemporânea (AC). Acho mesmo que as poucas propostas artísticas actuais interessantes, com que temos esporadicamente a sorte de cruzar os nossos passos se situam nessa dita arte contemporânea. Sou visitante assíduo de galerias e de museus que mostram a AC e gosto de o fazer, ainda que a percentagem de projectos verdadeiramente interessantes e motivadores não seja muito alta. Aquilo que discuti foi a ambiguidade do termo que não esclarece e que serve mesmo muitas vezes para gerar e aprofundar equívocos, até porque, por definição, contemporâneo deveria ser tudo o que fosse feito no presente. Por outro lado criou-se um ambiente em que o contemporâneo é determinado por quem escreve e pelo que se escreve sobre o projecto e não pelo projecto propriamente dito. É por isso que eu preferiria, apesar de também ser um conceito vago, falar de arte conceptual. Dirão já os puristas que a arte conceptual poderá ser com certeza contemporânea mas que há muita arte contemporânea que não é conceptual. Talvez, embora para mim seja difícil compreender que uma arte (contemporânea) que, de acordo com os seus mentores, rompe e transgride os conceitos tradicionais da arte, não tenha de alguma forma de ser conceptual, a menos que o artista seja um artista contemporâneo porque diz que é um artista contemporâneo. Ou melhor, porque há gente que o diz e ele inspirado em Todolli repete "Olhem para mim que eu sou um artista contemporâneo". E depois é muito difícil descobrir qualquer conceito ou ideia que nos emocione, motive, enterneça nessa arte, uma arte que nos é vendida por contemporânea, em textos de gente influente, sem os quais talvez aquela arte não seria mais do que descontextualizada ali e em qualquer lugar.

{{indent{^^Qu'est-ce que tu penses?
Je pense pas, je lis et je récis^^}}}

|[img[Havia uma luz muito bela e luminosa|./wikiImages/luz1.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Príncipe, 2009^^//}}}
Havia uma luz muito bela e luminosa, como são todas as luzes. Quando entrava em qualquer lugar logo todos os olhares se lhe dirigiam, atraídos pela luminosidade do seu rasto. A luz no entanto vivia triste. Mas a tristeza não se lhe notava, escondida por detrás da claridade que irradiava. 

Um dia junto ao lago, que resplandecia, iluminado pela luz, confessou:

- Sabes, lago, eu gostava de ter a noite depois do dia, como tu.

O lago não compreendeu o que a luz queria dizer, encandeado pelos raios reflectidos pela superfície das águas espelhadas, e respondeu:

- A noite é de todos. Hoje, tal como sempre, virá.

A luz esperou um pouco antes de confessar:

- Eu gostava de deixar de ser luz e de poder viver um pouco voltada para mim. Gostava de ser parte da noite, em vez de ser obrigada a arrastar este manto de luz que a todos atrai e que me não dá sossego.

E o lago compreendeu finalmente a angústia da luz e disse:

- Não há luz sem sombra, tal como não há vida sem a morte que a alimenta. A tua luz existe porque existe a sombra que dela nasce. Por detrás de qualquer objecto, a sombra é a prova da tua existência.

E a partir daí a luz iluminou o dia sem mais tristezas, pois bastava-lhe esconder-se na sombra que lhe pertencia, para encontrar o refúgio de que precisava.


{{indent{{{indent{^^//Renato Roque, há muito tempo, perante uma luz que lhe iluminou o caminho//^^}}}}}}
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|[img[XXX|./wikiImages/slb&papa.jpg]]|{{indent{^^Em virgem<br>Maria Andrade<br>gostava muito<br>de fazer tricot<br>e ver corridas de Fórmula 1<br>na televisão<br>Túlio disse-lhe<br>que em virgem<br>e sem ser em virgem<br>gostava de ler<br>a ouvir corridas de Fórmula 1<br>na televisão<br>para levantar a cabeça<br>do livro<br>quando havia um desastre<br>e ver o desastre<br>então<br><br> ^^}}}{{indent{{{indent{//^^Adília Lopes^^//}}}}}}|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Lugar para assistir a um espectáculo vazio'', Porto, 2009^^//}}}
Todos terão com certeza passado pela experiência dolorosa de serem obrigados a assistir ao vídeo do casamento ou da festa de aniversário, de um filho ou de uma filha, de um amigo ou de um familiar. Horas intermináveis em que não se passa nada ou quase nada. E por educação, lá temos de suportar o frete. Tive exactamente a mesma sensação durante estes últimos dias ao assistir primeiro a horas intermináveis de comemorações do clube que venceu este ano o campeonato de futebol:  imagens repetidas, sem qualquer informação nova ou minimamente interessante, entrevistas cretinas a manifestantes e a intervenientes, sempre com as mesmas perguntas e com as mesmas respostas, longas horas vazias de qualquer conteúdo. E surpreendentemente, das 19.45 até depois da 22 h, nenhuma outra notícia passou nos telejornais, de nenhum dos 3 canais, RTP, SIC e TVI! A cena repete-se agora com o papa. Mais uma vez transmissões em directo, em que não acontece nada, em que acompanhamos o gesticular  automático do papa dentro do papamóvel,  a que somos "obrigados" a assistir. Será que esta gente não sabe que o essencial daquelas noticias poderia ser dado em dez, quinze minutos de vídeo editado? Não estou, como é óbvio, contra uma nem outra notícia, nem contra o facto de merecerem grande destaque, estou contra a forma estupidificante como são dadas. Numa primeira impressão poderíamos pensar que seria incompetência da Comunicação Social mas, perante a reacção das pessoas, talvez se trate afinal de competência, e muita...
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|[img[Vamos partilhar tudo, ouvir a mesma canção, beber a mesma cerveja|./wikiImages/partilhar.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Vamos partilhar tudo, ouvir a mesma canção, beber a mesma cerveja'', Matosinhos, 2010^^//}}}
Correm agora por aí inquéritos ao povo sobre a sua capacidade de solidariedade. Seria o povo ou não capaz de prescindir generosamente do 13º mês, ou do subsídio de férias, para Portugal sair da crise? Com estas e outras iniciativas vai-se criando um clima favorável a medidas para além das previstas no PEC e até preparando um ambiente intolerável em que fazer greve será considerado irresponsável, reivindicar e defender direitos será considerada uma atitude leviana e egoísta. Já vemos os empregados a culpar os malandros dos desempregado que ganham demais e não querem voltar a trabalhar e os desempregados a culpar os que são beneficiados com o rendimento de inserção, sem nunca terem descontado. Mas é fácil constatar que não existem quaisquer evidências de que se prescindíssemos de algum dos nossos direitos eles fossem utilizados para construir uma sociedade mais justa e menos desigual. Não há qualquer projecto político que nos dê qualquer garantia de que tal pudesse acontecer. Já viram haver alguém a ser responsabilizado pelo descalabro a que chegámos, alguém para além do "pobre" tipo do BPN? Ironicamente quase todos os dias são feitas novas denúncias de gente que ganha milhões de euros por ano, de gente que pertence a dezenas de conselhos de administração, de gente que foi eleita para conselhos de administração de grandes empresas, mesmo quando ninguém parece saber quem os escolheu nem porque razão foram escolhidos. E perante isto o que temos: uns batem com a mão no peito, tal qual velhas beatas de sacristia, e rezam baixinho:"É vergonhoso. É moralmente reprovável...", e esperam que ninguém recorde que um é primo, outro sobrinho, outro filho de um amigo e o outro correligionário. Outros, mais renitentes a prescindir do que quer que seja, inventam argumentos a seguir a argumentos. Afirmam que tem de ser assim porque, tal como acontece no futebol, para termos boas equipas, temos de pagar salários milionários. Em ano de mundial, esperam que o argumento tenha peso. Se deu para construir os estádios em 2004, porque não há-de dar para pagar a gestores craques. Esquecem-se primeiro de que o modelo do futebol não é exactamente um modelo que se recomende - mas apesar de tudo os jogadores têm de jogar perante o público, marcar golos e dar o corpo ao manifesto, e não podem receber de muitos clubes ao mesmo tempo. Argumentam que se não lhes pagássemos milhões de euros, tal como acontece no futebol, esses gestores (geniais) fugiriam para o estrangeiro, contratados por equipas milionárias de Espanha ou de Inglaterra, e não teríamos gestores com qualidade. Eu gostava de saber quais seriam os gestores que partiriam para o estrangeiro. Nós conhecemos muitos e sabemos como fizeram carreira, à sombra do estado, que agora escarnecem. Quais acrescentaram valor verdadeiro às empresas, criaram novos produtos, desenvolveram novas linhas de produção, e não se limitaram a fazer meras reengenharias financeiras? Duvido que muitos partissem, se tivessem salários decentes, com muito menos zeros do que hoje auferem. Quando muito rabeavam e inventavam metáforas futebolísticas para convencer os incautos. Muitos não partiram, quando auferiam salários mais razoáveis. E nessa altura já seriam génios, se verdadeiramente o fossem! O mais provável é que nenhum partisse. Aliás é curioso que o mesmo argumento não seja utilizado para manter em Portugal óptimos investigadores, mestrados e doutorados que, perante a precariedade absoluta e salários de 1000 euros, esses sim são obrigados a sair do país. Mas esses podem ser pagos a recibos verdes, receber 1000 euros por mês e no fim partir para o estrangeiro. Grande parte dos gestores nós conhecemo-los bem. Génios? Não brinquem connosco. Só se for por terem uma boa carteira de contactos e conseguírem ligar com facilidade para o gabinete do secretário de estado ou do ministro e conseguírem desbloquear qualquer situação embaraçosa. Pagar bem a esses génios é sobretudo uma forma de manter a promiscuidade entre a economia, a finança e as clientelas dos partidos políticos à roda do poder. Por isso, esta situação também interessa às empresas privadas. Fica-lhes mais barato do que realmente investir na investigação, na inovação, na criatividade e em salários razoáveis para todos. No fundo uma forma de corrupção limpa, em nome do mercado e da genialidade.

Se vamos partilhar a crise, ouvir a mesma canção e beber a mesma cerveja, então que não seja uma canção pimba e desculpem lá, mas vai ter de ser meia garrafa para cada um de nós. Não pode ser um de nós beber a cerveja e outro carregar a garrafa vazia para a reciclagem.

Depois de escrever este //post// pensei que afinal não tinha escrito nada de verdadeiramente original e que outros já tinham escrito sobre o mesmo, de uma forma muito mais interessante. - Não é Alberto?

{{indent{^^DISCURSO DO FILHO DA PUTA

O pequeno filho da puta
é sempre
um pequeno filho da puta;
mas não há filho da puta,
por pequeno que seja,
que não tenha
a sua própria
grandeza,
diz o pequeno filho da puta.
no entanto, há
filhos-da-puta que nascem
grandes e filhos da puta
que nascem pequenos,
diz o pequeno filho da puta.
de resto,
os filhos da puta
não se medem aos
palmos,diz ainda
o pequeno filho da puta.
o pequeno
filho da puta
tem uma pequena
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o pequeno
filho da puta.
no entanto,
o pequeno filho da puta
tem orgulho
em ser
o pequeno filho da puta.
todos os grandes
filhos da puta
são reproduções em
ponto grande
do pequeno
filho da puta,
diz o pequeno filho da puta.
dentro do
pequeno filho da puta
estão em ideia
todos os grandes filhos da puta,
diz o
pequeno filho da puta.
tudo o que é mau
para o pequeno
é mau
para o grande filho da puta,
diz o pequeno filho da puta.
o pequeno filho da puta
foi concebido
pelo pequeno senhor
à sua imagem
e semelhança,
diz o pequeno filho da puta.

é o pequeno filho da puta
que dá ao grande
tudo aquilo de que
ele precisa
para ser o grande filho da puta,
diz o
pequeno filho da puta.
de resto,
o pequeno filho da puta vê
com bons olhos
o engrandecimento
do grande filho da puta:
o pequeno filho da puta
o pequeno senhor
Sujeito Serviçal
Simples Sobejo
ou seja,
o pequeno filho da puta.

o grande filho da puta
também em certos casos começa
por ser
um pequeno filho da puta,
e não há filho da puta,
por pequeno que seja,
que não possa
vir a ser
um grande filho da puta,
diz o grande filho da puta.
no entanto,
há filhos da puta
que já nascem grandes
e filhos da puta
que nascem pequenos,
diz o grande filho da puta.
de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o grande filho-da-puta.
o grande filho da puta
tem uma grande
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o grande filho da puta.
por isso
o grande filho da puta
tem orgulho em ser
o grande filho da puta.
todos
os pequenos filhos da puta
são reproduções em
ponto pequeno
do grande filho da puta,
diz o grande filho da puta.
dentro do
grande filho da puta
estão em ideia
todos os
pequenos filhos da puta,
diz o
grande filho da puta.
tudo o que é bom
para o grande
não pode
deixar de ser igualmente bom
para os pequenos filhos da puta,
diz
o grande filho da puta.
o grande filho da puta
foi concebido
pelo grande senhor
à sua imagem e
semelhança,
diz o grande filho da puta.

é o grande filho da puta
que dá ao pequeno
tudo aquilo de que ele
precisa para ser
o pequeno filho da puta,
diz o
grande filho da puta.
de resto,
o grande filho da puta
vê com bons olhos
a multiplicação
do pequeno filho da puta:
o grande filho da puta
o grande senhor
Santo e Senha
Símbolo Supremo
ou seja,
o grande filho da puta.
^^}}}
{{indent{{{indent{^^//Alberto Pimenta//^^}}}}}}

- É - responde-me o Alberto - Mas tinhas de desabafar, não é?

- É - e terminei o //post//.

|[img[Antiguidades e Arte Contemporânia|./wikiImages/arteContemporanea3.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Figueira Foz, Junho 2010^^//}}}
Depois dos últimos //tiddlers// em que tentei reflectir sobre a chamada Arte Contemporânea(ia?) não resisti a fazer esta fotografia e a divulgá-la hoje aqui. Os dizeres deste cartaz podem parecer contraditórios - Antiguidades e Arte Contemporânia - mas, de facto, a chamada Arte Contemporânea pode ser considerada já como uma uma verdadeira antiguidade. Uma antiguidade, um classicismo, apoiados pelos poderes económico e político. A grande questão é o que resta hoje ainda para a arte - [[''O que resta da Arte'' |http://www.renatoroque.com/resta/galeria.html]], curiosamente, foi o título de um projecto fotográfico que realizei em 1987, a partir de uma visita surpreendente a uma exposição de Joseph Beuys - ou seja, o que resta depois de a Arte Contemporânea se ter afirmado negando a arte, como uma espécie de não-Arte ou anti-Arte. Quais os caminhos novos que podemos ainda descobrir? Se a resposta não pode ser a pintura nem a escultura tradicionais, também não pode ser persistir num anti-academismo académico, numa ruptura que nada rompe, numa transgressão mole subsidiada pelas instituições do poder, num modus operandi quase sempre repetitivo e monocórdico, aquilo a que alguns chamam, e eu também tantas vezes, para me fazer entender, Arte Contemporânea. Claro que sou obrigado a confessar que ainda não tenho respostas que me satisfaçam, apenas assumo aqui o compromisso de tentar participar na sua procura.
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|[img[Esta (não) é a madrugada que eu esperava|./wikiImages/acreditar.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Edral, Maio 2010^^//}}}
Creio que não será necessário demonstrar que quem acredita é mais feliz. Creio tratar-se de uma evidência fácil de comprovar. Quem acredita pode viver em função de um futuro que espera virá a ser melhor e consegue por isso aceitar provações e infelicidades. O que é verdade no plano religioso também o é no plano da política. Por isso eu gostaria de poder acreditar, um bocadinho que fosse, no que nos propõem, mas não há nenhum sinal no ar que permita a alguém com um mínimo, muito mínimo diria, de sentido crítico acreditar no que nos dizem. Basta comparar o que nos disseram antes da crise começar, começando por negá-la; o que nos disseram depois sobre ela e sobre a necessidade urgente de combater o modelo de especulação financeira, cuja ganância provocara o colapso; a forma como justificaram a seguir as medidas anti-crise, gastando muito dinheiro nas instituições financeiras e nalgumas medidas sociais, mesmo que à custa do défice, que na altura era tão menos importante; o que nos disseram depois quando se candidataram, como a crise estava em vias de superação; o que nos disseram a seguir, ao propor o primeiro PEC; o que nos disseram pouco depois ao propor outro PEC; ao anular grande parte das medidas que tinham proposto antes das eleições. Tudo isto sem se perceber realmente o que mudou no mundo, a menos das avaliações das agências de rating, que a Europa não foi capaz de combater. Mas o que me parece ser tomar-nos por tolos é vermos todos os personagens com responsabilidades, ex-ministros, ex-secretários de estado, a virem com receitas para esta crise, como se fossem senhores da verdade e sempre tivessem avisado que isto se iria passar, sem que houvesse ninguém que os ouvisse. Uma pergunta óbvia: se a situação é tão má, se o país foi tão mal gerido, porque não foi ninguém responsabilizado? O único responsável foi o coitado do BPN? Onde estão? Estão todos a gerir empresas públicas e privadas e com salários faraónicos, pois segundo consta poderão fugir para o estrangeiro, onde são desejados por todas as grandes multinacionais, que conhecem a sua genialidade. Como acreditar que as mesmas pessoas vão ser capazes de construir um mundo diferente? Bem, estou a ser injusto, pois a verdade é que não se propõem construir nada diferente. Alguém ouve alguma coisa sobre o novo país que queremos construir? Alguém ouve alguma coisa sobre um novo modelo social e económico para onde queremos ir? Alguém ouve sequer alguma proposta política? Ao menos económica? Alguma estratégia? Tudo o que ouvimos são soluções de contabilistas, porque é isso que todos são: contabilistas a navegar à vista, sem saber para onde ir. É preciso cortar, onde se corta? É preciso desinvestir, onde se desinveste? Tal como antes se fazia engenharia financeira para gastar e desperdiçar. Ainda dou o benefício da dúvida e talvez alguns daqueles que nos propõem tudo isto sejam sinceros e até acreditem no que nos dizem, como acreditaram noutras coisas antes, e vão com certeza acreditar noutras daqui a alguns meses, mas é evidente que nenhum deles sabe verdadeiramente para onde ir. O que parece é que todos gostariam era de voltar ao passado, ao modelo e ao conforto virtual onde estavam há dois ou três anos. Ao longo destes últimos anos já por diversas vezes deram sinais de acreditar que estavam quase a consegui-lo. Navegam à vista, à espera de que as correntes os façam regressar ao porto de onde partiram forçados, à pressa e sem destino... Mas a probabilidade disso acontecer é muito ténue. Nisso eu acredito.

{{indent{^^(Porque) esta (não) é a madrugada que eu esperava
o dia inicial inteiro e limpo
onde emergimos da noite e do silêncio
e livres habitamos a substância do tempo ^^}}}
{{indent{{{indent{^^A partir de Sophia Mello Breyner Andresen^^}}}}}}

|[img[Esta é a manhã que eu esperava|./wikiImages/primavera2010_B.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Rebordelo, Junho2010^^//}}}
Bem sei que já tinha anunciado nesta minha espécie de blog a Primavera 2010, mas foi só agora que ela explodiu com toda a pujança. 

Não acredito que seja possível ainda não ser trivial ao falar da Primavera. Que dizer que não tenha sido dito?  A questão é: como não parecer um idiota ao voltar a comparar as maçãs do rosto de uma mulher com uma rosa? Não basta mudar a cor à rosa ou o nome à mulher. Perdoem-me por isso esta trivialidade grosseira mas, como este espaço é meu, posso abusar. Porque a verdade é que estes campos de ervas me atraem sempre como uma melopeia encantatória. Fotografo-os e volto a fotografá-los, e parecem-me de cada vez diferentes. E o que fazer aos milhares de imagens que guardo nas minhas caixinhas de recordações? Eu não tenho grande atracção por flores ou por jardins, mas estas ervas do silêncio, que crescem sobretudo nos campos do abandono e da ausência, pintalgadas na Primavera por flores selvagens de todas as cores, obrigam-me de cada vez a mergulhar as âncoras do tempo na terra, a deitar, a repousar e a ouvir o silêncio. Conseguem ouvi-lo?
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|[img[Sabor a amargo|./wikiImages/sabor.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Felgar, Vale do rio Sabor, Junho 2010^^//}}}
{{indent{{{indent{^^Do rio que tudo arrasta, se diz que é violento. 
Mas ninguém chama violentas 
às paredes que o comprimem.^^}}}}}}
{{indent{{{indent{^^//Bertolt Brecht//^^}}}}}}

A paisagem continua a esmagar-me, de cada vez que a percorro. A pé. Esta paisagem tem de ser acariciada com os pés.

Pensar que quase tudo o que vemos vai ser coberto por água com a construção da barragem do Sabor aperta-nos o coração. Os trabalhos já começaram, não muito longe daqui. Quando a barragem inundar o vale, o processo será irreversível. Mesmo destruindo a barragem, não vai haver quem modele os campos, como foram modelados ao longo dos últimos séculos. Os argumentos a favor não me convencem. Alguns argumentos são falsos, como o do da contribuição para o desenvolvimento da região. Basta olhar para as barragens já construídas. Nem vale pena perder tempo com este argumento. O argumento da reserva de água poderá ter alguma sustentação. A questão é para quê essa reserva e é fácil compreender que o que se ganha em quantidade perde-se em qualidade. O argumento energético poderá também fazer algum sentido à partida, mas os ganhos seriam muito maiores se se diminuíssem as perdas na rede, ou se se desenvolvessem politicas mais activas de poupança. Alguns chamar-me-ão céptico, outros chamar-me-ão coisa pior, porque sou difícil de convencer. Mas em minha opinião está tudo muito mal explicado e se um dia quisermos compreender já o vale do Sabor e do Tua estarão inundados.
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|[img[Serralves em Festa 2010|./wikiImages/SerralvesEmFesta2010.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Serralves Em Festa, Junho 2010^^//}}}
Estive este ano mais uma vez algumas horas no Serralves em Festa. Tal com tem acontecido no passado [[ver Serralves em Festa 2007|2007-06 - Voltei a Serralves]] sinto-me dividido em relação ao evento. 

Por um lado é fantástico o ambiente de festa. O espaço enche-se de gente. Predominam as famílias com miudagem de todas as idades. Ocupam os espaços, brincam, deitam-se na relva, onde normalmente parece haver um quase pudor de colocar o pé. A iniciativa trará ao museu e aos jardins pessoas que nunca lá tinham estado. Voltam? 

Mas por outro lado há este peso tão visível do lado comercial. Os anúncios dos bancos e das cervejeiras invadem os nossos olhos. E se repararmos quase todas as notícias em toda a comunicação social, mais uma vez, só realçavam o sucesso obtido com o aumento do número de visitantes. Os próprios responsáveis de Serralves quando apareciam mostravam-se sobretudo orgulhosos dos números. Mais de cem mil! O objectivo tinha sido superado.

Depois esta mistura que não parece ser inocente entre entretenimento, cultura e arte, servidas todas em doses maciças, que nos obrigam a correr de um espaço para outro e a engolir meios espectáculos para logo correr para outro que está a começar.

Mas no fim é um espaço onde tudo parece ser possível: beber uma cerveja, à sombra de um anúncio do BPI e assistir a uma performance sobre este modelo social que conduz à precariedade e ao desemprego.
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|[img[Temos orgulho...|./wikiImages/orgulho.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Estaleiros Navais da Figueira da Foz, Junho 2010^^//}}}
Poderá surpreender muita gente a aparente apatia com que a maioria das pessoas tem aceitado um conjunto de medidas e de politicas mal explicadas, que mais não fazem do que diminuir as protecções sociais e contribuir para a precariedade no emprego, e é surpreendente sobretudo porque não têm nada a ver com as medidas apresentadas a sufrágio durante as eleições. Ora o governo é o mesmo e portanto deveria conhecer a situação das Finanças e das contas públicas. O pais estará numa situação insustentável, há duas ou três semanas de acordo com as contas do primeiro-ministro, mas não há responsáveis para a insustentabilidade ou, quando os identificamos, vemos que são os mesmos que levemente, sem nós darmos por nada, apresentam as medidas para sairmos da insustentabilidade: A insustentável leveza de ser (i)responsável.

Mas as pessoas esquecem muito depressa e não é fácil lembrarem-se do que lhes prometeram, ainda que há poucos meses atrás...

Poder-se-á argumentar que um conjunto de situações têm contribuído para esta alienação colectiva: a vitória do Benfica, a visita do Papa, transformado em vedeta mediática, e agora o campeonato do mundo de futebol e a nossa selecção. Temos orgulho... Porquê? Não sei. Por termos um conjunto de jogadores portugueses, alguns brasileiros, grande parte a soldo de grandes clubes europeus, que ganham mais do que mil poetas ou mais do que mil matemáticos? Os trabalhadores dos Estaleiros Navais da Figueira da Foz também tinham orgulho... Ainda terão?

Tinha previsto este desabafo há uns dias e é coincidência fazê-lo no dia em que Portugal foi eliminado. Talvez tenha sido o melhor para nós, ou o tal orgulho daria para mais uns quantos aumentos de impostos, ao mesmo tempo que sabemos mais uma vez que ex-assessores de secretários de estado estão em lugares de administração de empresas que antes eram fornecedoras dessas secretarias de estado...

|[img[Campo de champinhões no Verão|./wikiImages/daniel.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Campo de champinhões no Verão'', Norte da Alemanha, 2008^^//}}}
{{indent{{{indent{^^Isto não sei a que propósito foi
num outro dia disse-lhe que gostava de pinhões
ai eu de pinhões, disse ela, só gosto dos grandes
daqueles a que se dá o nome de champinhões.^^

{{indent{^^Daniel Maia Pinto Rodrigues^^}}}}}}}}}

Uma marca da poesia do Daniel é o absurdo, regado quanto baste com sentido de humor. Talvez até nem seja esta a marca mais importante da sua poesia, mas é sem dúvidas a que sobressai para muita gente quando ouve ou lê os seus poemas. 

Fui convidado para acompanhar a poesia do Daniel com imagens, esta quinta-feira, dia 15 de Julho, nas Quintas de Leitura no TCA. 

No fim vamos todos beber uma cerveja e comer uns champinhões.
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|[img[Linha de Costa|./wikiImages/figueiraFoz.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Praia da Figueira da Foz, Janeiro ou Fevereiro de 2001^^//}}}
Fiz há cerca de 10 anos uma série de fotografias na praia da Figueira da Foz que foram o ponto de partida para um projecto que acredito nunca acabarei e a que chamei [['Linha de Costa'' |http://www.renatoroque.com/linhaCosta/linhaCosta.htm]]. Mostro algumas destas imagens pela primeira vez no Arquivo Municipal da Figueira da Foz. 

E continuo a percorrer essa linha de costa, sem planos, sem datas marcadas, a fotografar praias e rochedos, em locais da costa portuguesa, à medida que os visito. 

Bem sei que há muitos projectos de outros fotógrafos com abordagens talvez próximas deste. Não pretende ser um projecto fotográfico de ruptura, não transgride com regras. Talvez se não possa por isso incluir na chamada fotografia contemporânea. Não me preocupa, pois a fotografia, tal como a escrita ou outras formas de expressão, é um campo para muitas sementeiras. Semear sempre o mesmo esgota a terra. Estas imagens cativaram-me desde o primeiro dia e isso é para mim razão suficiente para as fazer e para as mostrar. 

Há nestes espaços vazios, quase infinitos, onde se adivinha o mar, algo de muito real mas irreal. Um espaço sem fim mas que, ao mesmo tempo, sugere uma passagem. Não é por acaso que usei esta imagem numa sessão das Quintas de Leitura para ilustrar um poema, onde a morte era personagem central.


{{indent{^^meu amor, larga a tristeza à porta do meu corpo e
nada temas: eu já ouvi o silêncio, já vi a escuridão, já
olhei a morte debruçada nos espelhos e estou aqui,
de guarda aos pesadelos a noite é um poema
que conheço de cor e vou cantar-to até adormeceres.

//Maria do Rosário Pedreira//^^}}}

|[img[Mais um objecto insólito(?) pousado na paisagem|./wikiImages/objectoAA.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Mais um objecto insólito(?) pousado na paisagem'', Mirandela, Junho 2010^^//}}}
Ao ouvir a tomada de posição do governo, ao invocar a //golden share//, para não permitir a venda do património da PT no Brasil à Telefonica, impedindo os accionistas portugueses(?) de aquecerem os bolsos com dinheiro VIVO, ocorreu-me de imediato a metáfora do "objecto insólito pousado na paisagem". Porque era mesmo insólito, para quem privatiza ao desbarato, estar a invocar o interesse estratégico nacional para intervir neste negócio. Afinal o objecto era, mais do que insólito, efémero. Durou alguns dias. A paisagem voltou ao que era. Com muitos objectos pousados, muito lixo, mas com nada de insólito. Mesma gerência, menos serviços. Pena não ter fotografado um pavilhão insuflável...
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|[img[Campo de champinhões no Verão|./wikiImages/naoLugar.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Pedreira na Serra da Boa Viagem'', Junho 2010^^//}}}
A intervenção humana tem deixado atrás de si um rasto de não-lugares. Como definir um não-lugar? Não me parece que sejam, como muita vez se confunde, lugares desabitados ou desertos. Não são necessariamente lugares feios ou desinteressantes no plano estético. 

O conceito de não-lugar aparece muitas vezes associado a espaços de passagem, lugares de "idas e vindas", onde ninguém reside, lugares por onde apenas passamos, com outros destinos: aeroportos, auto-estradas, estações de caminho de ferro, centros comerciais, campos de refugiados. A sociedade global de hoje abunda destes não-lugares.

Mas para mim os não-lugares têm sido sobretudo lugares esvaziados de significado pelo homem, lugares descaracterizados. Lugares desumanizados, lugares desnaturados.

Muita da chamada fotografia contemporânea é fotografia daqueles e destes não-lugares. Eu próprio tenho muitas vezes sido atraído pelo outro lado - estético? poético? patético? - de não-lugares. 

Obrigado Frederica, por me teres mostrado este não-lugar tão impressionante.
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|[img[Land Art na Ria Formosa|./wikiImages/landArt.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Land Art na Ria Formosa'', Faro, Julho 2010^^//}}}

{{indent{{{indent{//^^“...Toda a obra tem de ser imperfeita...”
Fernando Pessoa por Bernardo Soares (em O Livro do Desassossego)^^//}}}}}}

{{indent{{{indent{//^^Toda a obra tem de ser efémera.^^//}}}}}}

Toda a criação artística, e se calhar não só, mesmo toda a criação humana, funciona como um rasto que deixamos na paisagem para assinalar a nossa presença ou a nossa passagem. Escrevemos, fotografamos, tal como gravamos o nosso nome na casca de uma árvore, com a ilusão de que até ao fim do mundo se há-de saber que estivemos ali. 

É frequente encontrar, curiosamente sobretudo em praias mais remotas, mais selvagens, talvez por propiciarem um tempo de reflexão junto da natureza, intervenções na paisagem, utilizando todo o tipo de materiais, resíduos e lixo. Não é fácil distinguir muitas delas de obras de arte muito valorizadas, como é o caso das escritas na paisagem de Richard Long - a chamada Land Art. É arte efémera, que as próximas marés vivas irão destruir, mas, por muito que nos custe, mesmo a arte criada para a eternidade não vai durar até ao fim do tempo. E grande parte será esquecida, que é o mesmo que desaparecer, em muito pouco tempo.
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|[img[Mais um objecto insólito(?) pousado na paisagem|./wikiImages/tempo6.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Uma folha de tempo'', projecto ''Linha de Costa'', Figueira da Foz, 18 Junho 2010^^//}}}

{{indent{^^''Uma folha de tempo''

{{indent{''I''}}}
Peguei num bocado de tempo em branco para poder escrever sobre ele.

{{indent{''II''}}}
O tempo às vezes é transparente. Vemos através do tempo como se não estivesse lá.
O tempo às vezes é opaco. Vivemos encerrados no tempo e não conseguimos ver o outro lado.
Quase sempre o tempo é translúcido. Através do tempo pressentimos as sombras do passado.

O tempo às vezes é sólido. Pregado com pregos no presente.
Às vezes respiramos um tempo gasoso que nos enche os pulmões e inunda o coração.
Quase sempre o tempo é líquido. Escorrega nas condutas do tempo a encher o presente.^^}}}

O tempo é uma entidade misteriosa que acredito nunca seremos capazes de decifrar. A sua natureza ainda é mais estranha do que a do espaço - e o espaço já é difícil de entender, onde e quando começou, será que acaba e se sim como pode acabar? - mas o espaço é algo de físico, algo de concreto, que se vê, que se pode apalpar. Para "ver" o tempo teríamos de olhar de fora dele e nós não conseguimos sequer imaginar um mundo sem tempo, pois sem tempo não existe pensamento. A natureza do tempo é um dos temas de discussão da chamada Física Teórica e nem sequer se sabe ainda se o tempo será reversível. Todas as equações da Física sugerem essa reversibilidade - seria possível ter o tempo a "avançar" do futuro para o passado, é mesmo "possível" calcular a probabilidade disso acontecer - mas muitos Físicos contestam essa reversibilidade que a experiência parece rejeitar. Existe só um tempo (i)rreversivel(?)ou pode o tempo ser multidimensional?

A fotografia tem a sua história de vida profundamente ligada à ilusão de que consegue registar o tempo, de que possibilita voltar atrás ao passado.

Em 2001 fiz um série de fotografias na Figueira da Foz, que me encantaram de tal forma, que foram o ponto de partida para o projecto Linha de Costa, um projecto infinito que vai durar para sempre, onde pretendo fotografar as praias e a costa portuguesa de norte a sul e de leste a oeste. Sem planos e sem prazos.

A convite da revista Cadernos de Fotografia regressei à Figueira cerca de dez anos depois, para mostrar no Arquivo Municipal algumas das imagens que fizera e para fotografar de novo a praia. Tive a sorte de a magia da luz ter sido (des)(re)velada nesse dia e de ter deixado as suas pegadas na areia.
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|[img[Imagem para euro 2004|./wikiImages/euro2004.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Alvaredos, Vinhais, Setembro 2010^^//}}}

{{indent{//^^Outrora eu era daqui, e hoje regresso estrangeiro, forasteiro do que vejo e ouço, velho de mim. Já vi tudo, ainda o que nunca vi, nem o que nunca verei. 
Eu reinei no que nunca fui.

Fernando Pessoa^^//}}}
Já que estamos em marés de regressos, voltei este fim de semana a um local que fotografei em Junho de 2004. Estávamos dentro da euforia histérica do Euro 2004, eu realizava então o projecto D'ouro d'Alendouro - Paisagens do Silêncio no CPF e, ao deparar com este "estádio" magnífico em Alvaredos, pensei conseguir o impossível: cruzar o euro 2004 com o meu projecto fotográfico-poético sobre a forma intima de sentir aquela paisagem, de roçar aquelas ervas douradas, onde adormece o silêncio. Acho que nunca usei as imagens que na altura fiz neste sítio, ainda em filme e slide. Decidi voltar lá e pouco mudara.

Este regresso ao futebol fez-me recordar então um texto antigo, que faz parte do meu primeiro livro ''Arcas de Sonhos''. É um texto que escrevi quando vi o filme Campo de Sonho, a partir das recordações de um jogo, que jogava em miúdo com o meu pai: [[Futebol de Botões |2006-08 - Campo de sonho]].
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|[img[O tempo da fotografia|./wikiImages/afife2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Afife, Agosto 2010^^//}}}
Visitei esta semana o museu de ~Foz-Côa. Já tinha visitado os três núcleos de gravuras abertos ao público. Cada visita tinha sido uma descoberta em paisagem e em história: a nossa. Durante a visita ao museu, numa das salas, na conversa com um dos guias, esta incidiu sobre uma das coisas que mais me intriga nas gravuras: os homens desse tempo, em vez de escolherem pedras vazias, onde seria aparentemente mais fácil fazer novos desenhos, escolhiam sempre as mesmas pedras, havendo exemplares de rochas com dezenas de animais sobrepostos, sendo mesmo muito difícil distinguir cada animal no emaranhado de riscos e de traços. Poder-se-ia pensar que aquelas pedras teriam qualidades físicas especiais - por exemplo dureza - que facilitassem o risco, mas tal não é verdade, pois encontram-se muitas pedras que parecem ter exactamente as mesmas características físicas e onde não há desenhos. Poderemos equacionar muitas razões para explicar este facto aparentemente surpreendente. Teriam essas pedras, por alguma razão que desconhecemos, um valor simbólico especial? Teria o emaranhado de traços, a sobreposição de desenhos um valor mágico ou até estético que nos escapa? Ao tentar contextualizar esse facto, o guia afirmou que o homem tem mais facilidade em recordar lugares do que momentos, as memórias humanas seriam mais facilmente associadas a locais físicos do que a instantes no tempo - o homem seria predominantemente um ser espacial - e esses lugares de desenho, essas pedras, desempenhariam um papel determinante na construção das narrativas de memórias desse tempo. Eu não sou capaz de dizer se a afirmação do guia é verdadeira ou falsa, mas verifico que, no que concerne às minhas memórias fotográficas, tal não parece ser verificável. 

Roland Barthes, no seu pequeno e conhecido livro //Câmara Clara//, afirma que cada fotografia é sempre o resultado de algo que aconteceu, de algo que "foi" - a que ele chama o referente - que marca cada fotografia, que não consegue libertar-se desse momento, e apesar de tal afirmação poder ser contestada - e eu contesto-a por poder ser redutora - é inegável o peso daquilo que "foi" na maioria das fotografias.

{{indent{^^//O nome do noema da fotografia será então “Isto foi”//
Rolland Barthes em //Câmara Clara//^^}}}
Não me recordo de alguma vez no texto, Barthes valorizar o lugar onde esse "foi" aconteceu. A fotografia parece muito mais marcada pelo sulco do tempo do que pelos rastros do espaço. A maior magia consiste em aprisionar o tempo e não em representar o espaço. Quase todas as minhas memórias fotográficas estão associadas a um momento no tempo, o que não quer dizer uma data, um ano, um mês, um dia, uma hora, mas antes algo que marca esse momento, por exemplo uma luz mágica que nos fascina. E o tempo das fotografias não parece ser um tempo contínuo, mas um tempo feito de instantes que se ligam numa rede. As fotografias neste dia de Agosto, em Afife, ligam às fotografias que fiz no [[Norte da Alemanha em 2008 |2008-08 - Luz de fim de século]]


Alemanha

|[img[O tempo da fotografia|./wikiImages/figueiraCR.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Freixeda do Torrão, Figueira de Castelo Rodrigo, Setembro 2010^^//}}}
Regressemos ao tempo da fotografia. De acordo com Rolland Barthes uma fotografia é sempre o registo de algo que "foi". A fotografia acontece por acaso, acontece porque algo aconteceu naquele momento e acontece porque o fotógrafo estava lá.

{{indent{//^^...Toda a fotografia é um certificado de presença...

...A visão do fotógrafo não consiste em “ver” mas em estar lá...

...A fotografia é contingência pura e não pode ser mais do que isso...^^//}}}

{{indent{^^Rolland Barthes em ''Câmara Clara''^^}}}

De facto, a série que integra a fotografia deste tiddler não teria sido possível se eu não tivesse viajado até Figueira de Castelo Rodrigo no primeiro fim de semana de Setembro deste ano, se não tivesse decidido sair de carro na direcção da Freixeda do Torrão, se não tivesse acontecido naquele dia aquela trovoada de verão, se ao começar a chover eu não tivesse parado na beira estrada da Freixeda, à espera do fim do dilúvio, antecipando um milagre de luz. Quando a chuva parou e o sol da tarde rompeu pela nuvens negras, o dourado dos campos explodiu, eu saltei o muro de pedra da beira da estrada e mergulhei no silêncio das ervas. Fiz aquela fotografia porque aquela luz aconteceu, ali, e eu estava lá. É verdade. E teremos de aceitar que é o que acontece na maioria das fotografias. Mas nem sempre é assim e em minha opinião não é assim em muitos dos projectos fotográficos que considero mais interessantes. Se pensarmos por exemplo nos projectos do conhecido fotógrafo catalão Joan Fontcuberta, o que parece ser a essência desses projectos não é o “isto foi” mas sim o “parece que foi mas não foi”, quando Fontcuberta assume como linha orientadora a desmistificação das ideias de verdade e de realidade, associadas ao processo fotográfico. Por exemplo no projecto muito conhecido chamado “Fauna”, ele usa a fotografia para criar um personagem chamado Ameisenhaufen e para ilustrar o trabalho inventado deste imaginado professor alemão, em prol de espécies animais exóticas em extinção, por ele pretensamente descobertas em lugares recônditos do planeta. Tudo é pensado, planeado e executado com um rigor e uma perfeição levadas ao limite. Não existe acaso e não existe "foi". Um outro exemplo paradigmático, que me parece ilustrar bem este outro lado da fotografia, é aquela fotografia muito conhecida de Robert Barry chamada "Hellium". Pretensamente, na manhã de 6 de Março de 1969 teriam sido libertadas 2 polegadas cúbicas de hélio no deserto de Mojava na Califórnia. A fotografia "mostra" esse hélio, mas o hélio é invisível. Foi? Não foi?

|[img[Por por mais longos que sejam os caminhos eu regresso|./wikiImages/sGabriel2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, S.Gabriel, Castelo Melhor, Setembro 2010^^//}}}
{{indent{^^Nas praias que são o rosto branco das amadas mortas 
Deixarei que o teu nome se perca repetido 
Mas espera-me; 
Pois por mais longos que sejam os caminhos eu regresso...

//Sophia de Mello Breyner Andresen//^^}}}

Há muita gente que não gosta de voltar aos lugares onde já esteve. Não estou a falar dos lugares onde fomos um dia felizes, isso é outra coisa, e eu até compreendo. Falo apenas de destinos de viagem. Visitar um lugar desconhecido, um país novo é quase sempre um critério fundamental para decidir o lugar para onde vão. Se já lá estiveram, argumentam de imediato que "já conhecem". Eu gosto muito de voltar aos lugares de que gosto. De regressar. Porque gosto e porque estes lugares permitem uma redescoberta, sem a tensão ou a pressão que um lugar novo implica, sobretudo para quem tem o peso da fotografia a pesar-lhe nos ombros.

Por isso quis regressar a este lugar fantástico, perto de ~Foz-Côa, e quis voltar a fotografá-lo.
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|[img[Sou fotografado, logo existo|./wikiImages/autoaRetratoAfife.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Auto-retrato'',Afife, Agosto 2008^^//}}}
Este auto-retrato na água, que pertence a uma série há muito à espera de alguma coisa, veio à tona a partir da leitura de ''La Cámara de Pandora''* de Joan Fontcuberta. Neste seu último livro ele aprofunda, de uma forma muito interessante e muito inteligente, a reflexão sobre a fotografia, antes e depois do digital, que iniciou com ''El Beso de Judas''. Defende que a digitalização, o vídeo e a internet introduziram rupturas profundas no processo imagético, que estão a alterar o paradigma da fotografia e a forma com ela se relaciona com o contexto social. Em sua opinião teríamos mesmo já, em vez da fotografia, o que ele chama pós-fotografia.

Ora nesse livro a determinada altura Fontcuberta afirma peremptoriamente que a sua vida se deve à fotografia. Quem lê esta afirmação, pensa que ele pretende realçar a importância que a fotografia tem tido para si, pois tem-lhe dedicado grande parte da sua energia e tempo. Mas não, não é disso que se trata. Também não se trata de uma variação da frase tão conhecida de Descartes "penso, logo existo" traduzida à luz do pensamento Barthiano para "fotografo, logo existo". Em rigor, a partir do pensamento de Barthes, seríamos conduzidos a: "O que fotografo existe" ou se preferirmos na forma passiva "sou fotografado, logo existo". Surpreendentemente a afirmação de Fontcuberta é literal. Fontcuberta conta depois uma história verdadeira, a sua: o seu pai esteve no serviço militar em Mellila durante a 2ª Guerra Mundial. Os soldados, aborrecidos, sempre à espera de que pudesse acontecer alguma coisa, decidiram organizar uma espécie de jogo amoroso: reuniram moradas de raparigas conhecidas de cada um dos elementos do regimento, e sortearam-nas entre si, para ensaiar com cada uma uma tentativa de correspondência. A rapariga que calhou ao pai de Fontcuberta parece ter começado por não reagir muito bem às cartas de um desconhecido, mas numa das cartas seguintes o pai teve a ideia brilhante de enviar uma fotografia sua, fardado, feita em Melila por um daqueles fotógrafos "à la minuta". E a fotografia mudou tudo. Não se sabe exactamente o que continha de tão especial essa fotografia, que Fontcuberta reproduz no livro - ao contrário de Barthes que nunca mostra a célebre fotografia da mãe, que era o exemplo de supremo punctum para si - mas a verdade é que, o punctum da imagem do soldado parece ter vindo à tona para tocar o coração da senhora e no fim do recrutamento os dois casaram e assim nasceu o jovem Joan Fontcuberta. Poder-se-á argumentar que há hoje na era do digital processos sociais que não são tão diferentes: jovens que se conhecem nas redes sociais como o Facebook ou o Hi5 e que a parir daí decidem partilhar projectos de vida em comum.

É para alcançarem essa ilusão de existência Barthiana ("sou fotografado, logo existo") que muitos fotógrafos recorreram sempre e continuam a recorrer ao auto-retrato, pois tantas vezes fotografam tudo e todos, mas raramente são fotografados. O auto-retrato assegura-lhes a ilusão de existência, prova a sua passagem por aquele lugar. Pode mesmo dar-lhes uma ilusão de eternidade.

Eu então existia em 2008 e estava em Afife. A série de auto-retratos flutuantes, que na altura fiz, para o provar, esteve à espera de ser mostrado pela 1ª vez. Foi agora. Obrigado Fontcuberta pelo pretexto! Os melhores livros são os que nos dão pretextos.

^^*A Caixa de Pandora da mitologia grega (que em rigor na versão clássica seria um ânfora e não uma caixa), depois de aberta, libertou todos os males do mundo. Tal como o processo digital parece querer libertar as qualidades inerentes ao processo fotográfico tradicional. ^^

|[img[Sou fotografado, logo existo|./wikiImages/candedo2010.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Candedo, Vinhais, Setembro 2010^^//}}}

{{indent{//^^Por isso digo que valeu a pena
a dura realidade
desta viagem trágico-terrena
sempre batida pela tempestade.

Miguel Torga^^//}}}

As tempestades parecem correr atrás de mim. Depois da tormenta em [[Freixeda de Torrão |2010-09 - O tempo da fotografia 2]], desta vez a borrasca apanhou-me na estrada para Candedo, perto de Vinhais. Depois da trovoada e da chuva, o milagre da luz, que acordou as ervas adormecidas nos braços do silêncio.

Fotografo no meio das ervas a olhar de frente os castanheiros e sigo para Candedo, onde no dia seguinte começam as festas: missa e procissão, cerveja, vinho e frango assado, música e bailarico...
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^^Para o João Paulo Seara Cardoso^^

|[img[Apesar das ruínas e da morte|./wikiImages/GiestasQueimadas.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Apesar das ruínas e da morte'', Rebordelo, Serro, Outubro 2007^^//}}}
{{indent{^^Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos //teus// sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as //nossas// mãos ficam vazias.^^}}}

{{indent{//^^Sophia de Mello Breyner Andresen^^//}}}

Se algo nos pode indignar é a vida ser tantas vezes demasiado curta para termos oportunidades para conviver com toda a gente boa que sabemos viver tão perto de nós. Cruzei-me várias vezes com o João Paulo Seara Cardoso. Ele era grande amigo de grandes amigos meus. Habituei-me a admirar-lhe a inteligência e a subtileza mordaz nas marionetas, mas nunca houve um cruzar tão próximo das linhas das nossas vidas, que propiciasse um projecto comum. Neste momento triste, a Sophia perdoar-me-á certamente, ter ousado alterar dois pronomes possessivos do seu poema, para o poder ler em voz alta para o João Paulo.
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|[img[Escolhe o relento|./wikiImages/serro_013.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Escolhe o relento'' Serro, Rebordelo, Setembro 2010^^//}}}
{{indent{^^Se tiveres de escolher um reino 
escolhe o relento...

//José Tolentino Mendonça//^^}}}
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|[img[Espanta o quê|./wikiImages/espantaSTiago2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Espanta o Quê?'' em Edral, a caminho de Santiago, onde voltei a passar ontem, Vinhais, Setembro 2010^^//}}}
Como abelhas eles zunem à volta dos nossos ouvidos e já NADA, NADA nos espanta. 

Era mas já não é. É e não era. Espanta o quê? NADA.

Nada nos espanta, nada nos encanta.

Como zombies surdos já nem sequer ouvimos o zunido.
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|[img['Mergulhar nas cidades de Grazia Toderi|./wikiImages/serralvesAC.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Mergulhar nas cidades de Grazia Toderi'', Em Serralves, Outubro 2010^^//}}}
Regressei a Serralves, um sítio onde gosto muito de ir, como aqui estou farto de afirmar, razão por que lhe dedico tantos //tiddlers// nesta minha espécie de blog. Levo sempre comigo a minha pequena câmara de bolso e fotografo. Felizmente Serralves é um lugar onde quase sempre fui livre de fotografar tudo o que queria. Nalguns casos, em que fui proibido, protestei. Acho que com razão. Aliás tenho uma enorme dificuldade em compreender as instituições artísticas que proíbem a fotografia sem flash.

Curiosamente tenho-me muitas vezes auto-fotografado dentro dos objectos de arte. A arte é um lugar onde se pode entrar. Entrar não é fácil, mas depois de entrar, sair é mais difícil.

Deixem-me contar uma história a propósito destas fotografias feitas dentro das projecções de Grazia Toderi. Eu gosto de fotografias com histórias ou das histórias que as fotografias contam. Quando fotografava numa das salas do museu, uma funcionária de Serralves chamou-me e informou-me que não me podia aproximar da projecção, porque perturbava a visibilidade da obra. Eu expliquei que compreenderia a observação, se houvesse mais alguém na sala - eu tinha tido o cuidado de esperar por momentos sem mais ninguém presente - mas como era eu o único visitante, aproximar-me da parede, onde as imagens eram projectadas, não prejudicava nada nem ninguém e permitia-me "entrar" na obra de arte, para a fotografar do lado de dentro. De nada valeram os meus argumentos, pois a senhora respondia sempre que eram essas as instruções precisas que tinha recebido da direcção do museu: ninguém podia tapar a projecção das imagens em nenhum momento.  Felizmente só numa das salas me fizeram este reparo e fotografei à vontade em todas as outras. Será que as instruções precisas e inflexíveis da direcção, mesmo se sem sentido numa sala deserta, só se referiam a aquela sala e mais nenhuma?

|[img[Mergulhar no mar de Grazia Toderi|./wikiImages/serralvesAD.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Mergulhar no mar de Grazia Toderi'', Em Serralves, Outubro 2010^^//}}}

{{indent{^^No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

//Sophia de Mello Breyner Andresen//^^}}}

No fundo da arte as plantas podem ser animais e os animais podem ser plantas e tudo pode ser o que se quiser, mesmo o nada.
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|[img[Paíse Bálticos|./wikiImages/kaunas4.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Na Lituânia'', Kaunas, Setembro 2010^^//}}}

|[img[Paíse Bálticos|./wikiImages/kaunas3.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Na Lituânia'', Vilnius, Setembro 2010^^//}}}
Visitei recentemente, pela primeira vez, dois países bálticos: a Lituânia e a Letónia. À primeira vista - superficial - parecem ser países muito semelhantes, mas ao mesmo tempo vamos observando pequenos indícios de que poderão ser bastante diferentes. Têm uma história comum de mais de 100 anos. Antes do colapso da URSS, a Letónia, a Lituânia e a Estónia tiveram apenas cerca de 20 anos de independência entre 1919 a 1939, quando foram invadidos pelas tropas soviéticas, à sombra do pacto germano-soviético. Seguiram-se os nazis e de novo os soviéticos. Mas a Letónia é maioritariamente luterana, por influência alemã, e a Lituânia, por influência da Polónia, é maioritariamente católica. A Estónia, onde não estive, parece que tem uma influência relativamente pequena de qualquer religião. Mas há nos dois países que visitei, Letónia e Lituânia, um enorme caldo de religiões, como herança de cada um dos múltiplos invasores. 

Confesso que não é fácil compreender o que lá está a acontecer. O que vi parece ser em muitos aspectos contraditório. É certo que o tempo foi demasiado curto para me permitir conhecer pessoas, para conversar  com elas e para tentar entender o que se passa e o que se passou. O que vemos indicia coexistirem duas sociedades distintas e disjuntas. Como se criaram? Como encaixam? 

Há por um lado uma sociedade ocidentalizada, muito visível nas zonas urbanas, onde encontramos as mesmas lojas que existem em todas as grandes capitais europeias, onde vemos passar gente que se parece com gente de outros países da Europa. Vemos passar uma juventude alegre, colorida, vestida exactamente da mesma maneira que em Portugal. Quase todas as raparigas são extremamente belas e elegantíssimas. Não se vêem jovens obesos, o que é outro mistério a decifrar. Vemos carros topo de gama, como em Portugal, vemos telemóveis e restaurantes //fast-food//. As grandes cidades estão a ser renovadas - Riga é o exemplo supremo de uma cidade muito bonita, muito bem restaurada e extremamente rica no plano arquitectónico. Tudo parece estar a mudar muito depressa.

|[img[Paíse Bálticos|./wikiImages/kaunas1.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Na Lituânia'', Kaunas, Setembro 2010^^//}}}
Mas ao mesmo tempo somos confrontados com gente mais velha, com mais de 50 anos?, que parece completamente perdida. Sobretudo mulheres, mas também homens, que vemos passar a arrastar sacos de plástico, sentados em bancos de jardim, ou a pedir à porta das igrejas, porque igrejas não faltam, de todas as confissões, sobretudo na Lituânia. E o que impressiona mais não é a pobreza desse gente, mas o seu olhar triste. Pedem com um copo na mão, a olhar o chão. Nunca olham a quem pedem nos olhos. Não pronunciam uma palavra.
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|[img[Objectos pousados na paisagem|./wikiImages/lituania1.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Objectos pousados na paisagem'', Lituania, Setembro 2010^^//}}}
Depois de atravessar a fronteira entre a Letónia e a Lituânia, vindo de Riga, passando pela costa em Jurmala e tendo como destino Siauliai - penso dedicar a este sítio surreal um dos meus próximos //tiddlers// nesta espécie de //blog// - vi do meu lado direito este campo magnífico, coberto de dezenas destes objectos cilíndricos, que hoje encontramos com alguma frequência nalgumas paisagens de alguns países da Europa. Hesitei em parar para fotografar: seguia a grande velocidade, com carros atrás de mim e não viajava sozinho. Aqueles que fazem fotografia e passaram por situações como esta percebem a angústia do fotógrafo, de ter de decidir perante tais impulsos de sinal contrário. Querer parar e muitas vezes não parar. E depois arrepender-se. Não parei. Quis o destino que me tivesse enganado no trajecto e tivesse de voltar para trás. Enganei o destino ou fui enganado por ele? Desta vez o campo apareceu-me do lado esquerdo, já estava a contar com ele e não podia contrariar o destino. Não sou supersticioso mas acredito que dá azar. Parei e fotografei estes objectos que, apesar de serem hoje relativamente comuns, não deixam de ser belos e insólitos.
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|[img[Objectos pousados na paisagem|./wikiImages/crosses2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Objectos pousados na paisagem'', Lituania, Siauliai, Setembro 2010^^//}}}
Era este o local que eu procurava, quando o destino me forçou a parar para fazer a fotografia do campo coberto de objectos cilíndricos, do meu //tiddler// anterior. Chamam-lhe ''A Colina das Cruzes'' - Hill of the Crosses - e corresponde a uma área de um ou dois hectares, cobertos quase integralmente com centenas de milhares de cruzes. É difícil saber exactamente quantas são, pois cada cruz maior suporta dezenas ou centenas de cruzes mais pequenas, nela dependuradas, pregadas, depositadas. Há cruzes com um tamanho de muitos metros e cruzes com apenas alguns milímetros. É um local surreal. Há pontos onde nos sentimos sufocados por cruzes a toda a nossa volta. Se tiverem curiosidade, há muitas fotografias e vídeos sobre este lugar na internet.

Não se conhece bem a origem deste local, que parece existir, com altos e baixos, desde o século XIV ou XV. Conta-se uma lenda antiga, que como seria de esperar envolve um milagre e a filha do senhor daquelas terras naquele tempo. A donzela teria sido salva de alguma maldição por uma cruz construída nesta colina pelo pai. O que se conhece bem é o papel que este local desempenhou na resistência a ocupações mais recentes do território, em particular a ocupação soviética. Com a bênção da igreja e do papa, que visitou o local em peregrinação, o número de cruzes vai com certeza crescer e tornar este local ainda mais surreal e fantasmagórico.

É difícil encontrar objectos tão insólitos pousados na paisagem...

|[img[Prometemos ser breves|./wikiImages/crise2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Prometemos ser breves'', Porto, 2009^^//}}}
Já disse aqui, [[nesta minha espécie de blog|2010-06 - Esta (não) é a madrugada que eu esperava]], e hoje, depois do que nos querem fazer engolir, sinto-me forçado a repetir, que gostaria muito de conseguir acreditar naqueles que nos pedem sacrifícios, temos de reconhecer não sem ter o cuidado e a atenção de prometer que vão ser os últimos, tal como prometeram nos anteriores, e nos anteriores a esses. 

Como acreditar, se o que pedem agora desmentiam veementemente há alguns dias e tem sido assim há alguns anos? Mas se fosse só isso...Se olharmos para a sequência de acontecimentos desde que a crise foi reconhecida, algum tempo depois de anunciada por tantos, convenhamos, o que vemos?
^^
#Começou-se por responsabilizar as instituições financeiras pela crise, mas apoiaram-nas com muito, muito dinheiro, ao mesmo tempo que se prometeram medidas para combater a especulação financeira;
#Tomaram-se medidas para apoiar os desempregados e estimular a economia, mesmo que isso aumentasse o défice, pois o importante era recuperar a economia e ajudar as pessoas
#Antes das eleições aumentaram-se os funcionários públicos e prometeu-se que não haveria aumentos de impostos, pois a crise estava a ser ultrapassada
#Pouco depois retiraram-se as medidas de apoio à economia e à sociedade, para conseguir baixar o défice, por imposição da UE; o apoio à economia e às pessoas já não era prioritário
#Entretanto anunciou-se várias vezes o fim da recessão
#Lançou-se o ~PEC1 para baixar o défice mais depressa
#E o ~PEC2 para baixar o défice ainda mais depressa
#Impõem-se agora baixas de salários e novos cortes nos apoios sociais para dar um sinal aos mercados financeiros, que diziam eram responsáveis pela crise
#Utilizam-se manobras de engenharia financeira (fundo de pensões da PT) que antes condenavam com veemência
^^
A lista poderia ser aumentada e revista. 

E como nos podemos disponibilizar a aceitar tudo isto se o que vemos se não passam de medidas de contabilistas - tudo não passa de um mero exercício de contabilidade: quanto cortar para ter tantos por cento no fim do ano, porque onde cortar já nem sequer é uma questão-  sem qualquer estratégia económica e muito menos política. Como aceitar, se não há uma análise critica dos desmandos dos nossos governantes (Afinal porque estamos como estamos? Porque não dos diziam nada?), que desperdiçaram recursos e esbanjaram dinheiros públicos a construir auto-estradas e Scuts sem trânsito e que ofereceram negociatas a toda a mediocridade que zumbe à volta dos partidos, que se auto-atribuíram todo o tipo de benesses e de regalias? Aliás os desmandos e as regalias continuam. Como acreditar, se não se adivinha sequer um esboço de um novo modelo de desenvolvimento, que nos seja proposto para substituir o modelo imoral assente na especulação financeira?

''Prometemos ser breves, mas não tão breves que não nos seja possível quebrar esta promessa''
<br>

|[img[Prometemos ser breves|./wikiImages/pcas2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Nove componentes PCA'', Projecto Fotográfico Espelhos Matriciais, 2009^^//}}}
A imagem que utilizo neste "tiddler" integra o projecto fotográfico ''Espelhos Matriciais'' e representa um conjunto de 9 dos últimos componentes PCA, calculados a partir de uma BD de 400 retratos que construí na Universidade do Porto em 2009. O projecto ''Espelhos Matriciais'' recorre a um conjunto de ferramentas matemáticas e estatísticas para calcular diversos tipos de componentes e para obter um conjunto de retratos estatísticos. É um projecto em torno da identidade humana e da forma com a relacionamos com imagens da face, e reflecte sobre o papel que a fotografia teve e continua a ter neste contexto. Recomendo a leitura de "tiddlers" mais antigos nesta espécie de blog sobre este projecto, ou o [[site|http://www.renatoroque.com/EspelhosMatriciais/index.htm]] para quem ficar curioso e quiser saber mais. 

A  verdade é que esta abordagem deixa baralhada muita gente ligada à fotografia. Ainda que possam considerar os resultados interessantes e mesmo relevantes, o recurso a software e a algoritmos matemáticos e informáticos, deixa-os de pé atrás. Esquecem-se pura e simplesmente que a partir do momento que se utiliza o processo digital, o software e os algoritmos estão presentes, ainda que porventura invisíveis: os algoritmos do software da câmara e da impressora, para já não mencionar o photoshop. Não há fotografia digital sem software ou sem algoritmos. A fotografia digital é imaterial e virtual. Qualquer imagem resulta de software que implementa algoritmos que (re)produz ficheiros com zeros e uns. A única diferença ao fim e ao cabo é que normalmente o fotógrafo desconhece o que esse software e esses algoritmos fazem e no projecto Espelhos Matriciais controlo o processo de transformação de cada pixel. 

Uma questão pertinente é se faz sentido continuar a falar de fotografia? Recorrendo uma vez mais a Fontcuberta, que é uma das minhas fontes preferidas, pois é quanto a mim uma das vozes mais lúcidas a reflectir sobre a fotografia hoje, a fotografia digital introduziu uma ruptura tão profunda no paradigma fotográfico que se deveria utilizar outra palavra. Ele propõe "pós-fotografia". É evidente que por muita razão que Fontcuberta possa ter, se vai continuar a utilizar o termo fotografia, pois ele faz parte do nosso património cultural. Fontcuberta ilustra a sua ideia no livro "La Cámara de Pandora" contando uma experiência pessoal em Londres - ainda estávamos nos anos noventa - onde, ao pretender obter uma fotografia tipo passe para um documento, numa máquina Photomaton, foi confrontado com um grande número de possibilidades e acabou por obter uma fotomontagem, onde aparece ao lado das Spice Girls. Fontcuberta explica que a fotografia, tal como a conhecemos, aparece indissoluvelmente associada à revolução industrial no século XIX e conotada com uma ideia de veracidade e de registo científico. Descrevendo a evolução desde a pintura à imagem digital, ele considera a fotografia um acidente histórico, as palavras são dele, entre a pintura e o processo digital, que na sua opinião se aproxima mais do conceito da pintura, ou da escrita, do que da fotografia tradicional. Fontcuberta argumenta como a imagem digital se desprende da ideia de memória e da ideia de morte, que eram centrais na fotografia, e como contém como dominante a construção de uma ficção.

Reconhecendo a ruptura que o digital implicou, que de alguma forma está a pôr em causa o maior valor que era associado à fotografia: a ideia de verdade e de autenticidade, eu tenho alguma dificuldade em ir tão longe quanto Fontcuberta já que reconheço que o digital e o filme são apenas tecnologias - diferentes é certo - à disposição do fotógrafo e do artista para ele se poder expressar. Existe para mim no digital, tal como já existia, ainda que doutra forma e com outras limitações na fotografia em filme, uma enorme proximidade entre fotografia e escrita. E quando escrevemos o resultado pode ser um poema, um trabalho jornalístico, uma crónica, um ensaio, ou um texto de reflexão filosófica.

Por isso afirmo com convicção que ''Espelhos Matriciais'' é um projecto fotográfico, um projecto sobre retrato e sobre identidade, e sobre a forma como nós associamos a identidade de alguém às imagens do seu rosto, o que constitui a base de uma parte importante da história da Fotografia, e quando falo de história da Fotografia não me refiro apenas aos retratos realizados por quase todos os grandes fotógrafos, mas também a uma outra parte dessa historia, escrita muitas vezes sobre um lado mais obscuro, ligado a arquivos de identificação, ao serviço do poder muitas vezes autoritário, e chegando a constituir a base para a o desenvolvimento de teorias xenófobas e racistas.

|[img[Performance(songe) contemporânea na Culturgest Porto|./wikiImages/culturgest2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Performance(songe) contemporânea na Culturgest Porto'', Novembro 2010^^//}}}
Uma amiga fez-me chegar recentemente às mãos um ensaio conhecido de Giorgio Agamben sobre "O que é ser Contemporâneo". Nesse ensaio ele afirma:

{{indent{//^^Pertence realmente ao seu tempo, é verdadeiramente contemporâneo aquele que não coincide perfeitamente com ele, nem se adapta às suas exigências e é por isso, nesse sentido, inactual. Mas, justamente por isso, a partir do seu afastamento e do seu anacronismo, é capaz de perceber e de captar o seu tempo melhor do que os outros.
...
A contemporaneidade é, assim, uma relação singular com o nosso próprio tempo, que a ele adere e dele se distancia em simultâneo.
... 
Os que coincidem demasiado plenamente com a época, que concordam perfeitamente com ela, não são contemporâneos, porque, justamente por isso, não conseguem vê-la^^//}}}
{{indent{{{indent{^^''O que é o Contemporâneo'' - Ensaio de Giorgio Agamben^^}}}}}}
Começo por repetir que continuo a não gostar do termo //contemporâneo// para designar movimentos artísticos ou escolas de pensamento, por toda a ambiguidade que, como vemos, isso acarreta. Por vezes uso-o, porque é uma forma quase consensual de referir algumas obras e alguns autores e, fugir à sua utilização, obrigar-me-ia a muitas explicações, de cada vez que o não usasse.  A seguir  constato que, de acordo com o conceito de contemporaneidade de Giorgio Agamben - que já agora não coincide com outras definições que deste conceito tenho ouvido e que nesta espécie de blog tenho referido - os impressionistas, os expressionistas, os surrealistas e os modernistas, apenas para mencionar alguns, todos teriam sido contemporâneos, curiosamente, ao contrário de muitos dos que hoje se apresentam pomposamente como artistas contemporâneos. Os impressionistas, os expressionistas, os surrealistas e os modernistas, como é reconhecido historicamente, não se adaptaram às exigências da Arte no seu tempo e inclusive sofreram as consequências por essa atitude de ruptura, até serem reconhecidos e, se calhar, deixarem de ser contemporâneos. Pelo contrário, muitos contemporâneos dos nossos dias são artistas institucionais, apoiados e divulgados de todas as formas pelo poder. Ou seja, continua a persistir, também de acordo com o conceito de contemporaneidade de Agamben, um problema insuperável: Quando a chamada arte contemporânea é a arte dominante, com mais visibilidade e até com a maioria dos apoios oficiais, não aceitar as exigências do nosso tempo teria de significar transgredir relativamente à chamada arte contemporânea. Porque transgredir o que já foi transgredido, transgredir, quando a moda é transgredir, não é transgressão. E, de acordo com Giorgio Agamben, não se é contemporâneo, se estamos a aceitar as exigências do nosso tempo.
<br>

|[img[Festa de Candedo, Vinhais|./wikiImages/candedo2010_2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Festa de Candedo, Vinhais, Setembro 2010^^//}}}
{{indent{^^...
Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou

E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor

Chico Buarque de Holanda^^}}}
Desde há muitos anos que visito com regularidade o interior de Portugal, o Nordeste Transmontano, na região de Vinhais, e a Beira Alta, na região de Figueira de Castelo Rodrigo, terra da minha mãe. E aquilo que me surpreende, apesar de tudo, é a capacidade de resistência e de sobrevivência das gentes que teimam em viver nas pequenas aldeias, um pouco longe de tudo. Parece-me que seria de esperar uma desertificação ainda mais acentuada do que a que observamos. Evidentemente é tudo uma questão de tempo, pois a cada nova geração a situação agrava-se. Se nada mudar, quase todas as aldeias estão condenadas a desaparecer mais ano menos ano e não sei mesmo qual o futuro para localidades de pequena dimensão, usualmente designadas por vilas. Seria urgente um projecto sustentado de ordenamento do território nacional, que poderia ser, acredito, uma forma de a médio prazo se pouparem muitos recursos esbanjados. Mas tal projecto mexe com muitos interesses e nem se ouve falar dele. A actividade económica nas aldeias do interior resume-se a uma agricultura de subsistência: uma pequena horta, uma vinha familiar, porventura uma pequena plantação de castanha ou de oliveiras. Para a sobrevivência frugal das populações envelhecidas, aos produtos da terra juntam-se as pensões rurais muito baixas. Mas ainda mais surpreendente é continuarem a subsistir, e nalguns casos mesmo a ser criadas, algumas bandas musicais, que constituem quase sempre a única actividade cultural e lúdica desses lugares. Em Rebordelo há uma, em Candedo, que visitei nas festas deste ano, fiquei a saber que há outra. Em Rebordelo o maestro vem de Chaves, em Candedo o maestro, que nasceu na aldeia e está reformado, vem todas as semanas do Porto para ensaiar. Quantos anos mais, até já ninguém sequer cantar "Mas para meu desencanto / o que era doce acabou / Tudo tomou seu lugar / depois que a banda passou..."?

|[img[Façam de anjinhos mas não façam de nós parvos|./wikiImages/anjinhos.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Façam de anjinhos mas não façam de nós parvos'', Porto 2010^^//}}}
Confesso que o despudor e a lata de alguns, que como nos lembramos, há tão pouco tempo ainda tão de esquerda eram - à esquerda do PS reformista todos - não deixa de me surpreender. Bem sabemos que podem existir razões sonantes para tais alterações e até nem pretendo ser arrogante neste direito inalienável a mudar de opinião; essas mudanças, apesar de profundas e muito rápidas, até estaria disposto a compreender - ninguém sabe como reagiria perante propostas tão aliciantes, se não as recebeu e não as recusou. Mas mandaria o bom-senso e o pudor que usufruíssem das suas novas posições e estivessem calados, em vez de as publicarem orgulhosos em jornais diários. Poderão argumentar que publicar as opiniões é afinal sinal de coragem, mas coragem é publicar contra a corrente. Vejam o que escreveram sobre a inutilidade das greves e em suma de todos os movimentos sociais. E qual a alternativa que se pode colocar? Nenhuma, a não ser aceitar o desbarato, a irresponsabilidade, a promiscuidade e a incompetência. E poder votar de 4 em 4 anos num partido e num programa falso que acabam por não valer nada. Ah e dar bons sinais aos mercados, já me esquecia... E nem sequer mostrar indignação, porque não vale de nada. A greve não mudou nada, é verdade, "nem sequer foi geral, foi parcial..."; não mudou nada tal como todas as greves que eles apoiaram no passado que também por si não mudaram nada. Esquecem que uma greve é um sinal com leitura política e que pode ser apenas um aviso do que pode estar para acontecer. O que eles mereciam era a radicalização desses movimentos sociais, para terem a oportunidade de voltar a perceber que quase sempre as transformações profundas, boas e más, começaram com greves e pequenas lutas dispersas, que ao princípio pareciam não adiantar nada, que se radicalizaram, até provocar a mudança, boa ou má. Até acredito que, se a mudança acontecer, possam alguns voltar a ser radicais de esquerda e a publicar orgulhosos as suas novas opiniões em jornais diários. E daí talvez não, talvez já estejam demasiado velhos para tal.

{{indent{^^''Nada É Impossível De Mudar''

Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural.
Pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural.
Nada deve parecer impossível de mudar.

//Bertolt Brecht//^^}}}

|[img[Nos países bálticos|./wikiImages/kaunas7.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Vilnius, Lituânia, Setembro 2010^^//}}}
Já referi aqui o contraste que começamos a sentir existir nos países bálticos, depois do contacto inicial, geralmente com o centro histórico das grandes cidades, onde nos parece que visitamos uma cidade alemã ou dinamarquesa, onde as pessoas, sobretudo os jovens, nos olham a sorrir e onde as transformações operadas nos últimos vinte anos já quase se não detectam. O primeiro sinal de alerta são os velhos de olhar amargurado, quase sempre sós, que olham o chão e que arrastam consigo sacos de plástico. 

Se nos afastarmos do centro das capitais vemos então que muitas marcas do que estes países eram antes ainda lá estão. Em Vilnius, capital da Lituânia, passei uma parte da manhã do 2º dia no mercado. As pessoas e as lojas surpreendem-nos só pelo facto de lá estarem, de ainda existirem. Há quem, perante lojas, produtos, cartazes e pessoas, que nos parecem retiradas de filmes antigos, se sinta chocado e até veja nestes sinais algo de escandaloso. Eu diria que esta atitude poderá não ser mais do que um preconceito grosseiro de quem vive há tão pouco tempo neste mundo mercantil global, forjado pelo consumismo desenfreado, suportado na publicidade e no design, materializado nos centros comerciais e nas grandes cadeias, e que já não se lembra de como se apresentava o comércio em Portugal há muito poucos anos atrás. 
<br>

|[img[Um Xis(X) entre Zeros(Os)|./wikiImages/UmXem0s.jpg]]|^^{{indent{...<br>Mas <br> não nos olhem assim<br>como <br>se fossem nos excluir<br><br>Ou incluir<br>(penso que é o mesmo)}}}<br> <br>{{indent{{{indent{//Alberto Pimenta//}}}}}}^^|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Um Xis(X) entre Zeros(Os)'', Matosinhos, Novembro 2010^^//}}}
Somos confrontados quase diariamente com a contradição entre um apelo permanente à criatividade e à inovação, uma valorização aparente do desenvolvimento do sentido critico na educação, e o ambiente visível em quase todas as instituições, de marginalização, se não até de liquidação de toda a capacidade de cada um pensar pela sua própria cabeça. Basta ver o que acontece todos os dias nos partidos que nos governam e até noutros, nas empresas, nas escolas, em quase todo o lado, onde o sucesso de cada um está claramente associado ao servilismo mais bacoco e à ausência de qualquer pensamento próprio. 

Um ''X'' que questiona, que põe tenta pôr em equação os problemas, para os procurar resolver, é silenciado por uma imensidão de zeros (0s) que, como zeros que são, se colocam no denominador da fracção e impossibilitam os cálculos, mas que no fim recebem os restos da divisão mal calculada.
<br>

|[img[As fotografias contam histórias|./wikiImages/computadores.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''As fotografias contam histórias'', Monteverde, Costa Rica, Dezembro 2010^^//}}}
Quase todas as fotografias contam histórias. Se calhar, poderia mesmo afirmar que todas as fotografias podem contar uma história, mas há algumas para as quais a história é mais fácil de contar e até outras que sem a história se esvaziam, como um balão que furamos com um alfinete.

Cheguei a Monteverde na Costa Rica, a cerca de 1500 metros de altitude, noite cerrada, e tivemos de dar umas quantas voltas pelo //pueblo// de Sta. Helena à procura do hotel que tínhamos reservado. Numa curva do caminho em terra batida, aquele muro de acesso a uma casa com "COMPUTADORES" escrito a letras grandes, iluminadas pelos faróis do táxi, atraiu-me o olhar como se fosse um castanheiro desenhado ao fundo de uma seara. No dia seguinte não descansei antes de encontrar aquele muro para o fotografar. Enquanto o resto do grupo descansava, saí do hotel, confiante no meu sentido de orientação e tentei refazer o percurso do taxista na noite anterior, quando tinha andado perdido, à procura do endereço onde deveríamos dormir.

Encontrei o sítio e fotografei-o. Pude finalmente ir descansar.

Mesmo no local mais recôndito, no meio da Costa Rica, num parque Natural a 1500 metros de altitude, encontramos lojas onde se vendem e reparam computadores. Ao fundo, colado na porta da loja, o símbolo da Microsoft e do sistema operativo Windows. À esquerda um sinal que indica //Iglesia de Dios// a 25 metros. É isto a globalização.

|[img[Uma historinha de Natal|./wikiImages/destino.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Uma historinha de Natal'', Dezembro 2010^^//}}}
Um velho amigo perguntou-me pelo postal de Natal deste ano. A verdade é que em anos anteriores tenho enviado aos amigos e publicado nesta espécie de //blog// mensagens e imagens que podem considerar-se próximas de postais de Natal, ainda que tentando, reflectir de alguma forma a incomodidade que o Natal me suscita desde há algum tempo a esta parte. Confesso que a situação, que este ano se vive, me fez perder o entusiasmo para enviar o que quer que fosse, mas essa pergunta e o desejo expresso por ele, de que o postal deste ano deveria reflectir a nossa indignação, fez-me repensar. Decidi então construir esta espécie postal, que também pode ser lido em jeito de historinha aos quadradinhos de Natal, a partir de uma série de fotografias, que fui buscar à minha arca de imagens, algo que também já fiz em Natais anteriores. Para expressar a indignação, a incredulidade e a impotência. Que fazer quando os instrumentos da democracia estão a ser rapidamente esvaziados de todo o conteúdo? 

Como a história usa várias imagens, resolvi fazer um pdf.

Quem estiver curioso pode fazer download do pequeno pdf em:

[[Historinha de Natal|http://www.renatoroque.com/umaespeciedeblog/pdfs/PostalNatal_2010.pdf]]

Desejo a todos um 2011 pelo menos com alguma esperança e alguma confiança!
<br>

|[img[Proibido fotografar|./wikiImages/proibido3.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Proibido fotografar'', Madrid, Museu Thyssen, Dezembro 2010^^//}}}
Continuarei a lavrar fundo o meu protesto de cada vez que visitar uma exposição de fotografia, onde seja proibido fotografar. Tal proibição é completamente absurda... Desta vez foi numa exposição do fotógrafo de moda Mario Testino, em Madrid, no museu Thyssen. O argumento para tal contradição será com certeza a questão dos direitos das imagens mas, sem pretender discutir aqui esse direito, a justificação é ridícula. Quem pretenderia copiar imagens com tal iluminação e cobertas com um vidro, a provocar todo o tipo de reflexos? Consegue-se melhor qualidade comprando um livro e reproduzindo-o.
<br>

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/* NOVAS CORES*/

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Decidi experimentar uma ferramenta do tipo Wiki, chamada Tiddly Wiki, para desenvolver esta espécie de blog, por me parecer que ela possibilita uma navegação simples e agradável.

A informação está organizada em pequenos pacotes ou ''tiddlers''. A página de entrada contém por defeito os últimos tiddlers, todos os outros podem ser procurados na tabela de busca à direita. Cada tiddler tem associados ''tags'' que permitem a sua fácil procura, por data ou por tipo. Por exemplo todos os pacotes com TAG=2005-08 corresponderão a informação que disponibilizei durante o mês de Agosto de 2005. Todos os pacotes com TAG=Alendouro corresponderão a imagens de ~Trás-os-Montes. Utilizando esta facilidade, (as ~TAGs) ou o mecanismo de //Search//, facilmente se descobrem os pacotes de informação - tiddlers - que se pretendam. 

//Se quiserem fazer algum comentário, podem contactar-me por// 
[[mail_rroque|mailto:rroque@renatoroque.com]]

/***
|Name|CoreTweaks|
|Source|http://www.TiddlyTools.com/#CoreTweaks|
|Version|none|
|Author|Eric Shulman - ELS Design Studios|
|License|http://www.TiddlyTools.com/#LegalStatements <<br>>and [[Creative Commons Attribution-ShareAlike 2.5 License|http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.5/]]|
|~CoreVersion|2.2|
|Type|plugin|
|Requires||
|Overrides|replaceSelection, restart, config.macros.edit.handler, Story.prototype.closeTiddler, Story.prototype.refreshTiddler, Slider.prototype.tick |
|Description|a small collection of overrides to TW core functions|

This tiddler contains some quick tweaks and modifications to TW core functions to provide minor changes in standard features or behavior.  It is hoped that some of these tweaks may be incorporated into later versions of the TW core, so that these adjustements will be available without needing these add-on definitions.
>''//Note: the changes contained in this tiddler are ONLY applicable for the current release of TiddlyWiki.  Please view //[[CoreTweaksArchive]]// for tweaks and modifications that may be used with earlier versions of TiddlyWiki//''
----
***/
// // {{groupbox small{
// // calculate version number for conditional inclusion of tweaks below...
//{{{
var ver=version.major+version.minor/10;
//}}}
// // }}}

// // {{groupbox small{
/***
BUG: missing links list includes items contained within "quoted" text (i.e., content that will not render as wiki-syntax, and so CANNOT create any tiddler links, even if the quoted text matches valid link syntax)
FIX: remove content contained between certain delimiters before scanning tiddler source for possible links.

Delimiters include:
{{{
/%...%/
{{{...}}}
"""..."""
<nowiki>...</nowiki>
<html>...</html>
<script>...</script>
}}}
***/
//{{{
Tiddler.prototype.coreTweaks_changed = Tiddler.prototype.changed;
Tiddler.prototype.changed = function()
{
	var savedtext=this.text;
	// remove 'quoted' text before scanning tiddler source
	this.text=this.text.replace(/\/%((?:.|\n)*?)%\//g,""); // /%...%/
	this.text=this.text.replace(/\{{3}((?:.|\n)*?)\}{3}/g,""); // {{{...}}}
	this.text=this.text.replace(/"{3}((?:.|\n)*?)"{3}/g,""); // """..."""
	this.text=this.text.replace(/\<nowiki\>((?:.|\n)*?)\<\/nowiki\>/g,""); // <nowiki>...</nowiki>
	this.text=this.text.replace(/\<html\>((?:.|\n)*?)\<\/html\>/g,""); // <html>...</html>
	this.text=this.text.replace(/\<script((?:.|\n)*?)\<\/script\>/g,""); // <script>...</script>
	this.coreTweaks_changed.apply(this,arguments);
	// restore quoted text to tiddler source
	this.text=savedtext;
};
//}}}
// // }}}

// // {{groupbox small{
/***
This tweak adds mouseover handling to the "permaview" button, so that HREF can be automatically set to the correct permaview link.  This permits use of browser's right-click menu to "bookmark this link..." (or similar).
***/
//{{{
config.macros.permaview.handler = function(place)
{
	var btn=createTiddlyButton(place,this.label,this.prompt,this.onClick);
	addEvent(btn,"mouseover",function(event) {
		var links = [];
		story.forEachTiddler(function(title,element) { links.push(String.encodeTiddlyLink(title)); });
		var newURL=document.location.href;
		var hashPos=newURL.indexOf("#");
		if (hashPos!=-1) newURL=newURL.substr(0,hashPos);
		this.href=newURL+"#"+encodeURIComponent(links.join(" "));
	});
};
//}}}
// // }}}

// // {{groupbox small{
// // This tweak adds URL paramifier handlers for "hide:elementID" and "show:elementID".  This is useful for forcing the display state of specific TW page elements, without requiring StyleSheet changes.  For example, if your customized StyleSheet hides the sidebar (useful for 'read only' published documents), you can force it to display when you need to edit the document by adding {{{#show:sidebar}}} to the document URL.  Alternatively, you might want to supress non-tiddler content when printing by hiding the sidebars and header (e.g., {{{#hide:mainMenu hide:sidebar hide:header}}})
//{{{
if (config.paramifiers) { // check for backward-compatibility
	config.paramifiers.hide = { onstart: function(id) { var e=document.getElementById(id); if (e) e.style.display="none"; } };
	config.paramifiers.show = { onstart: function(id) { var e=document.getElementById(id); if (e) e.style.display="block"; } };
}
//}}}
// // }}}

// // {{groupbox small{
// // This HIJACK tweak pre-processes source content to convert "double-backslash-newline" into {{{<br>}}} before wikify(), so that literal newlines can be embedded in line-mode wiki syntax (e.g., tables, bullets, etc.).  Based on a suggestion from Sitaram Chamarty.
//{{{
window.coreWikify = wikify;
window.wikify = function(source,output,highlightRegExp,tiddler)
{
	if (source) arguments[0]=source.replace(/\\\\\n/mg,"<br>");
	coreWikify.apply(this,arguments);
}
//}}}

/***
|''Name:''|CryptoFunctionsPlugin|
|''Description:''|Support for cryptographic functions|
***/
//{{{
if(!version.extensions.CryptoFunctionsPlugin) {
version.extensions.CryptoFunctionsPlugin = {installed:true};

//--
//-- Crypto functions and associated conversion routines
//--

// Crypto "namespace"
function Crypto() {}

// Convert a string to an array of big-endian 32-bit words
Crypto.strToBe32s = function(str)
{
	var be = Array();
	var len = Math.floor(str.length/4);
	var i, j;
	for(i=0, j=0; i<len; i++, j+=4) {
		be[i] = ((str.charCodeAt(j)&0xff) << 24)|((str.charCodeAt(j+1)&0xff) << 16)|((str.charCodeAt(j+2)&0xff) << 8)|(str.charCodeAt(j+3)&0xff);
	}
	while (j<str.length) {
		be[j>>2] |= (str.charCodeAt(j)&0xff)<<(24-(j*8)%32);
		j++;
	}
	return be;
};

// Convert an array of big-endian 32-bit words to a string
Crypto.be32sToStr = function(be)
{
	var str = "";
	for(var i=0;i<be.length*32;i+=8)
		str += String.fromCharCode((be[i>>5]>>>(24-i%32)) & 0xff);
	return str;
};

// Convert an array of big-endian 32-bit words to a hex string
Crypto.be32sToHex = function(be)
{
	var hex = "0123456789ABCDEF";
	var str = "";
	for(var i=0;i<be.length*4;i++)
		str += hex.charAt((be[i>>2]>>((3-i%4)*8+4))&0xF) + hex.charAt((be[i>>2]>>((3-i%4)*8))&0xF);
	return str;
};

// Return, in hex, the SHA-1 hash of a string
Crypto.hexSha1Str = function(str)
{
	return Crypto.be32sToHex(Crypto.sha1Str(str));
};

// Return the SHA-1 hash of a string
Crypto.sha1Str = function(str)
{
	return Crypto.sha1(Crypto.strToBe32s(str),str.length);
};

// Calculate the SHA-1 hash of an array of blen bytes of big-endian 32-bit words
Crypto.sha1 = function(x,blen)
{
	// Add 32-bit integers, wrapping at 32 bits
	add32 = function(a,b)
	{
		var lsw = (a&0xFFFF)+(b&0xFFFF);
		var msw = (a>>16)+(b>>16)+(lsw>>16);
		return (msw<<16)|(lsw&0xFFFF);
	};
	// Add five 32-bit integers, wrapping at 32 bits
	add32x5 = function(a,b,c,d,e)
	{
		var lsw = (a&0xFFFF)+(b&0xFFFF)+(c&0xFFFF)+(d&0xFFFF)+(e&0xFFFF);
		var msw = (a>>16)+(b>>16)+(c>>16)+(d>>16)+(e>>16)+(lsw>>16);
		return (msw<<16)|(lsw&0xFFFF);
	};
	// Bitwise rotate left a 32-bit integer by 1 bit
	rol32 = function(n)
	{
		return (n>>>31)|(n<<1);
	};

	var len = blen*8;
	// Append padding so length in bits is 448 mod 512
	x[len>>5] |= 0x80 << (24-len%32);
	// Append length
	x[((len+64>>9)<<4)+15] = len;
	var w = Array(80);

	var k1 = 0x5A827999;
	var k2 = 0x6ED9EBA1;
	var k3 = 0x8F1BBCDC;
	var k4 = 0xCA62C1D6;

	var h0 = 0x67452301;
	var h1 = 0xEFCDAB89;
	var h2 = 0x98BADCFE;
	var h3 = 0x10325476;
	var h4 = 0xC3D2E1F0;

	for(var i=0;i<x.length;i+=16) {
		var j,t;
		var a = h0;
		var b = h1;
		var c = h2;
		var d = h3;
		var e = h4;
		for(j = 0;j<16;j++) {
			w[j] = x[i+j];
			t = add32x5(e,(a>>>27)|(a<<5),d^(b&(c^d)),w[j],k1);
			e=d; d=c; c=(b>>>2)|(b<<30); b=a; a = t;
		}
		for(j=16;j<20;j++) {
			w[j] = rol32(w[j-3]^w[j-8]^w[j-14]^w[j-16]);
			t = add32x5(e,(a>>>27)|(a<<5),d^(b&(c^d)),w[j],k1);
			e=d; d=c; c=(b>>>2)|(b<<30); b=a; a = t;
		}
		for(j=20;j<40;j++) {
			w[j] = rol32(w[j-3]^w[j-8]^w[j-14]^w[j-16]);
			t = add32x5(e,(a>>>27)|(a<<5),b^c^d,w[j],k2);
			e=d; d=c; c=(b>>>2)|(b<<30); b=a; a = t;
		}
		for(j=40;j<60;j++) {
			w[j] = rol32(w[j-3]^w[j-8]^w[j-14]^w[j-16]);
			t = add32x5(e,(a>>>27)|(a<<5),(b&c)|(d&(b|c)),w[j],k3);
			e=d; d=c; c=(b>>>2)|(b<<30); b=a; a = t;
		}
		for(j=60;j<80;j++) {
			w[j] = rol32(w[j-3]^w[j-8]^w[j-14]^w[j-16]);
			t = add32x5(e,(a>>>27)|(a<<5),b^c^d,w[j],k4);
			e=d; d=c; c=(b>>>2)|(b<<30); b=a; a = t;
		}

		h0 = add32(h0,a);
		h1 = add32(h1,b);
		h2 = add32(h2,c);
		h3 = add32(h3,d);
		h4 = add32(h4,e);
	}
	return Array(h0,h1,h2,h3,h4);
};


}
//}}}

Cumplescritas é um projecto que iniciei nesta espécie de blog a partir de fotografia. É um projecto para o qual convidei amigos, quase todos [[cúmplices referenciados|http://www.renatoroque.com/rroque/cumplices.htm]] de há muito para todo o tipo de banditagens foto-poéticas. Todos aceitaram enviar um pequeno texto para acompanhar uma fotografia.

É um projecto sem prazo, sem plano, que vai ser desenvolvido à medida das respostas que receber.

A lista ao lado reúne as contribuições que já recebi.

[[Espécie de blog 2008-2010]]

/***
|''Name:''|DeprecatedFunctionsPlugin|
|''Description:''|Support for deprecated functions removed from core|
***/
//{{{
if(!version.extensions.DeprecatedFunctionsPlugin) {
version.extensions.DeprecatedFunctionsPlugin = {installed:true};

//--
//-- Deprecated code
//--

// @Deprecated: Use createElementAndWikify and this.termRegExp instead
config.formatterHelpers.charFormatHelper = function(w)
{
	w.subWikify(createTiddlyElement(w.output,this.element),this.terminator);
};

// @Deprecated: Use enclosedTextHelper and this.lookaheadRegExp instead
config.formatterHelpers.monospacedByLineHelper = function(w)
{
	var lookaheadRegExp = new RegExp(this.lookahead,"mg");
	lookaheadRegExp.lastIndex = w.matchStart;
	var lookaheadMatch = lookaheadRegExp.exec(w.source);
	if(lookaheadMatch && lookaheadMatch.index == w.matchStart) {
		var text = lookaheadMatch[1];
		if(config.browser.isIE)
			text = text.replace(/\n/g,"\r");
		createTiddlyElement(w.output,"pre",null,null,text);
		w.nextMatch = lookaheadRegExp.lastIndex;
	}
};

// @Deprecated: Use <br> or <br /> instead of <<br>>
config.macros.br = {};
config.macros.br.handler = function(place)
{
	createTiddlyElement(place,"br");
};

// Find an entry in an array. Returns the array index or null
// @Deprecated: Use indexOf instead
Array.prototype.find = function(item)
{
	var i = this.indexOf(item);
	return i == -1 ? null : i;
};

// Load a tiddler from an HTML DIV. The caller should make sure to later call Tiddler.changed()
// @Deprecated: Use store.getLoader().internalizeTiddler instead
Tiddler.prototype.loadFromDiv = function(divRef,title)
{
	return store.getLoader().internalizeTiddler(store,this,title,divRef);
};

// Format the text for storage in an HTML DIV
// @Deprecated Use store.getSaver().externalizeTiddler instead.
Tiddler.prototype.saveToDiv = function()
{
	return store.getSaver().externalizeTiddler(store,this);
};

// @Deprecated: Use store.allTiddlersAsHtml() instead
function allTiddlersAsHtml()
{
	return store.allTiddlersAsHtml();
}

// @Deprecated: Use refreshPageTemplate instead
function applyPageTemplate(title)
{
	refreshPageTemplate(title);
}

// @Deprecated: Use story.displayTiddlers instead
function displayTiddlers(srcElement,titles,template,unused1,unused2,animate,unused3)
{
	story.displayTiddlers(srcElement,titles,template,animate);
}

// @Deprecated: Use story.displayTiddler instead
function displayTiddler(srcElement,title,template,unused1,unused2,animate,unused3)
{
	story.displayTiddler(srcElement,title,template,animate);
}

// @Deprecated: Use functions on right hand side directly instead
var createTiddlerPopup = Popup.create;
var scrollToTiddlerPopup = Popup.show;
var hideTiddlerPopup = Popup.remove;

// @Deprecated: Use right hand side directly instead
var regexpBackSlashEn = new RegExp("\\\\n","mg");
var regexpBackSlash = new RegExp("\\\\","mg");
var regexpBackSlashEss = new RegExp("\\\\s","mg");
var regexpNewLine = new RegExp("\n","mg");
var regexpCarriageReturn = new RegExp("\r","mg");

}
//}}}

<!--{{{-->
<div class='toolbar' macro='toolbar +saveTiddler -cancelTiddler deleteTiddler'></div>
<br>
<div class='title' macro='view title'></div>
<div class='editor' macro='edit title'></div>
<div macro='annotations'></div>
<div class='editor' macro='edit text'></div>
<div class='editor' macro='edit tags'></div><div class='editorFooter'><span macro='message views.editor.tagPrompt'></span><span macro='tagChooser'></span></div>
<!--}}}-->

Contém os tiddlers desta espécie de blog do ano de 2008 a 2010

/***
|Name|GotoPlugin|
|Source|http://www.TiddlyTools.com/#GotoPlugin|
|Version|1.4.0|
|Author|Eric Shulman - ELS Design Studios|
|License|http://www.TiddlyTools.com/#LegalStatements <<br>>and [[Creative Commons Attribution-ShareAlike 2.5 License|http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.5/]]|
|~CoreVersion|2.1|
|Type|plugin|
|Requires||
|Overrides||
|Description|view any tiddler by entering it's title - displays list of possible matches|

''View a tiddler by typing its title and pressing //enter//.''  Input just enough to uniquely match a single tiddler title and ''press //enter// to auto-complete the title for you!!''  If multiple titles match your input, a list is displayed.  You can scroll-and-click (or use arrows+enter) to select/view a tiddler, or press //escape// to close the listbox to resume typing.  When the listbox is ''//not//'' being displayed, press //escape// to clear the current text input and start over.

Note: ''At any time, you can move the focus directly to the text input field by using the ~ALT-G keyboard shortcut.''
!!!!!Examples
<<<
| //IMPORTANT NOTE:// ''As of version 1.4.0 (2007.04.25), the {{{<<goto>>}}} macro has been renamed to {{{<<gotoTiddler>>}}}'' |
syntax: {{{<<gotoTiddler quiet insert inputstyle liststyle>>}}}
All parameters are optional.
* ''quiet'' prevents //automatic// display of the list as each character is typed.  To view the list when ''quiet'', use //down// or //enter//.
* ''insert'' causes the selected tiddler title to be inserted into the tiddler source currently being edited (use with EditTemplate)
* ''inputstyle'' and ''liststyle'' are CSS declarations that modify the default input and listbox styles.  Note: styles containing spaces must be surrounded by ({{{"..."}}} or {{{'...'}}}) or ({{{[[...]]}}}).
{{{<<gotoTiddler>>}}}
<<gotoTiddler>>
{{{<<gotoTiddler quiet>>}}}
<<gotoTiddler quiet>>
{{{<<goto width:20em width:20em>>}}}
<<gotoTiddler width:20em width:20em>>

You can also invoke the macro with the "insert" keyword.  When used in the [[EditTemplate]], like this:
{{{
<span macro="gotoTiddler insert"></span>
}}}
it allows you to type/select a tiddler title, and instantly insert a link to that title (e.g. {{{[[TiddlerName]]}}}) into the tiddler source being edited.
<<<
!!!!!Configuration
<<<
The following ~TiddlyWiki search options (see AdvancedOptions) are applied when matching tiddler titles:
><<option chkRegExpSearch>> use regular expressions (text patterns)
><<option chkCaseSensitiveSearch>> use case sensitive matching
You can also create a tiddler tagged with <<tag systemConfig>> to control listing of tiddlers/shadows/tags, as well as the maximum height of the listbox.  //The default values are shown below://
//{{{
config.macros.gotoTiddler.includeTiddlers=true;
config.macros.gotoTiddler.includeShadows=true;
config.macros.gotoTiddler.includeTags=true;
config.macros.gotoTiddler.listMaxSize=10;
//}}}
<<<
!!!!!Installation
<<<
import (or copy/paste) the following tiddlers into your document:
''GotoPlugin'' (tagged with <<tag systemConfig>>)
<<<
!!!!!Revisions
<<<
''2007.04.25 [1.4.0]'' renamed macro from "goto" to "gotoTiddler".  This was necessary to avoid a fatal syntax error in Opera (and other browsers) that require strict adherence to ECMAScript 1.5 standards which defines the identifier "goto" as "reserved for FUTURE USE"... *sigh*
''2007.04.21 [1.3.2]'' in html definition, removed DIV around droplist (see 1.2.6 below).  It created more layout problems then it solved. :-(
''2007.04.01 [1.3.1]'' in processItem(), ensure that correct textarea field is found by checking for edit=="text" attribute
''2007.03.30 [1.3.0]'' tweak SideBarOptions shadow to automatically add {{{<<goto>>}}} when using default sidebar content
''2007.03.30 [1.2.6]'' in html definition, added DIV around droplist to fix IE problem where list appears next to input field instead of below it.  
''2007.03.28 [1.2.5]'' in processItem(), set focus to text area before setting selection (needed for IE to get correct selection 'range')
''2007.03.28 [1.2.4]'' added prompt for 'pretty text' when inserting a link into tiddler content
''2007.03.28 [1.2.3]'' added local copy of core replaceSelection() and modified for different replace logic
''2007.03.27 [1.2.2]'' in processItem(), use story.getTiddlerField() to retrieve textarea control
''2007.03.26 [1.2.1]'' in html, use either 'onkeydown' (IE) or 'onkeypress' (Moz) event to process <esc> key sooner, to prevent <esc> from 'bubbling up' to the tiddler (which will close the current editor).
''2007.03.26 [1.2.0]'' added support for optional "insert" keyword param. When used in [[EditTemplate]], (e.g. {{{<span macro="goto insert"></span>}}}) it triggers alternative processing: instead of displaying the selected tiddler, that tiddler's title is inserted into a tiddler's textarea edit field surrounded by {{{[[...]]}}}.
''2006.05.10 [1.1.2]'' when filling listbox, set selection to 'heading' item... auto-select first tiddler title when down/enter moves focus into listbox
''2006.05.08 [1.1.1]'' added accesskey ("G") to input field html (also set when field gets focus).  Also, inputKeyHandler() skips non-printing/non-editing keys. 
''2006.05.08 [1.1.0]'' added heading to listbox for better feedback (also avoids problems with 1-line droplist)
''2006.05.07 [1.0.0]'' list matches against tiddlers/shadows/tags.  input field auto-completion... 1st enter=complete matching input (or show list)... 2nd enter=view tiddler.  optional "quiet" param controls when listbox appears.
''2006.05.06 [0.5.0]'' added handling for enter (13), escape(27), and down(40) keys.   Change 'ondblclick' to 'onclick' for list handler to view tiddlers (suggested by Florian Cauvin - prevents unintended trigger of tiddler editor).  shadow titles inserted into list instead of appended to the end.
''2006.05.05 [0.0.0]'' started
<<<
!!!!!Credits
>This feature was developed by EricShulman from [[ELS Design Studios|http:/www.elsdesign.com]]
!!!!!Code
***/
//{{{
version.extensions.gotoTiddler = {major: 1, minor: 4, revision: 0, date: new Date(2007,4,25)};

// automatically tweak shadow SideBarOptions to add "sendTiddler" toolbar command (following "editTiddler")
config.shadowTiddlers.SideBarOptions=config.shadowTiddlers.SideBarOptions.replace(/<<search>>/,"{{button{goto}}}\n<<gotoTiddler>><<search>>");

config.macros.gotoTiddler= { 
	handler:
	function(place,macroName,params) {
		var quiet=(params[0] && params[0]=="quiet"); if (quiet) params.shift();
		var insert=(params[0] && params[0]=="insert"); if (insert) params.shift();
		var instyle=params.shift(); if (!instyle) instyle="";
		var liststyle=params.shift(); if (!liststyle) liststyle="";
		var keyevent=window.event?"onkeydown":"onkeypress";
		createTiddlyElement(place,"span").innerHTML
			=this.html.replace(/%keyevent%/g,keyevent).replace(/%insert%/g,insert).replace(/%quiet%/g,quiet).replace(/%instyle%/g,instyle).replace(/%liststyle%/g,liststyle);
	},

	html:
	'<form onsubmit="return false" style="display:inline;margin:0;padding:0">\
		<input name=gotoTiddler type=text autocomplete="off" accesskey="G" style="%instyle%"\
			title="enter a tiddler title"\
			onfocus="this.select(); this.setAttribute(\'accesskey\',\'G\');"\
			%keyevent%="return config.macros.gotoTiddler.inputEscKeyHandler(event,this,this.form.list);"\
			onkeyup="return config.macros.gotoTiddler.inputKeyHandler(event,this,this.form.list,%quiet%,%insert%);">\
		<select name=list style="%liststyle%;display:none;position:absolute"\
			onchange="if (!this.selectedIndex) this.selectedIndex=1;"\
			onblur="this.style.display=\'none\';"\
			%keyevent%="return config.macros.gotoTiddler.selectKeyHandler(event,this,this.form.gotoTiddler,%insert%);"\
			onclick="return config.macros.gotoTiddler.processItem(this.value,this.form.gotoTiddler,this,%insert%);">\
		</select>\
	</form>',
	
	getItems:
	function() {
		var items=[];
		var tiddlers=store.reverseLookup("tags","excludeSearch",false,"title");
		if (this.includeTiddlers) for(var t=0; t<tiddlers.length; t++) items.push(tiddlers[t].title);
		if (this.includeShadows) for (var t in config.shadowTiddlers) items.pushUnique(t);
		if (this.includeTags) { var tags=store.getTags(); for(var t=0; t<tags.length; t++) items.pushUnique(tags[t][0]); }
		return items;
	},
	includeTiddlers: true, includeShadows: true, includeTags: true,

	getItemSuffix:
	function(t) {
		if (store.tiddlerExists(t)) return "";  // tiddler
		if (store.isShadowTiddler(t)) return " (shadow)"; // shadow
		return " (tag)"; // tag 
	},

	keyProcessed:
	function(ev) { // utility function: exits handler and prevents browser from processing the keystroke
		ev.cancelBubble=true; // IE4+
		try{event.keyCode=0;}catch(e){}; // IE5
		if (window.event) ev.returnValue=false; // IE6
		if (ev.preventDefault) ev.preventDefault(); // moz/opera/konqueror
		if (ev.stopPropagation) ev.stopPropagation(); // all
		return false;
	},

	inputEscKeyHandler:
	function(event,here,list) {
		var key=event.keyCode;
		// escape... hide list (2nd esc=clears input)
		if (key==27) {
			if (list.style.display=="none")
				here.value=here.defaultValue;
			list.style.display="none";
			return this.keyProcessed(event);
		}
		return true; // key bubbles up
	},

	inputKeyHandler:
	function(event,here,list,quiet,insert) {
		var key=event.keyCode;
		// non-printing chars... bubble up, except: backspace=8, enter=13, space=32, down=40, delete=46
		if (key<48) switch(key) { case 8: case 13: case 32: case 40: case 46: break; default: return true; }
		// blank input... if down/enter... fall through (list all)... else, hide list
		if (!here.value.length && !(key==40 || key==13))
			{ list.style.display="none"; return this.keyProcessed(event); }
		// find matching items...
		var pattern=config.options.chkRegExpSearch?here.value:here.value.escapeRegExp();
		var re=new RegExp(pattern,config.options.chkCaseSensitiveSearch?"mg":"img");
		var found = []; var items=this.getItems();
		for(var t=0; t<items.length; t++) if(items[t].search(re)!=-1) found.push(items[t]);
		// matched one item... enter... not *exact* match... autocomplete input field
		if (found.length==1 && quiet && key==13 && here.value!=found[0])
			{ list.style.display="none"; here.value=found[0]; return this.keyProcessed(event); }
		// no match/exact match... enter... create/show it
		if (found.length<2 && key==13)
			return this.processItem(found.length?found[0]:here.value,here,list,insert);
		// quiet/no match... hide list...
		list.style.display=(!quiet && found.length)?"block":"none";
		// no matches... key bubbles up
		if (!found.length) return true;
		// down/enter... show/move to list...
		if (key==40 || key==13)  { list.style.display="block"; list.focus(); }
		// list is showing... fill list...
		if (list.style.display!="none") {
			while (list.length > 0) list.options[0]=null; // clear list...
			found.sort();
			list.options[0]=new Option(found.length==1?this.listMatchMsg:this.listHeading.format([found.length]),"",false,false);
			for (var t=0; t<found.length; t++)  // fill list...
				list.options[t+1]=new Option(found[t]+this.getItemSuffix(found[t]),found[t],false,false);
			list.size=(found.length<this.listMaxSize?found.length:this.listMaxSize)+1; // resize list...
			list.selectedIndex=(key==40 || key==13)?1:0;
		}
		return true; // key bubbles up
	},
	listMaxSize: 10,
	listHeading: 'Found %0 matching titles:',
	listMatchMsg: 'Press enter to open tiddler...',

	selectKeyHandler:
	function(event,list,editfield,insert) {
		if (event.keyCode==27) // escape... hide list, move to edit field
			{ editfield.focus(); list.style.display="none"; return this.keyProcessed(event); }
		if (event.keyCode==13 && list.value.length) // enter... view selected item
			{ this.processItem(list.value,editfield,list,insert); return this.keyProcessed(event); }
		return true; // key bubbles up
	},

	askForText: "Enter the text to display for this link",

	processItem:
	function(title,here,list,insert) {
		if (!title.length) return; here.value=title; list.style.display='none';
		if (insert) {
			var tidElem=story.findContainingTiddler(here); if (!tidElem) { here.focus(); return false; }
			var e=story.getTiddlerField(tidElem.getAttribute("tiddler"),"text");
			if (!e||e.getAttribute("edit")!="text") return false;
			var txt=prompt(this.askForText,title); if (!txt||!txt.length) { here.focus(); return false; }
			e.focus(); // put focus on target field before setting selection
			this.replaceSelection(e,"[["+txt+"|"+title+"]]"); // insert selected tiddler as a PrettyLink
		}
		else
			story.displayTiddler(null,title); // show selected tiddler
		return false;
	},

	replaceSelection:
	function (e,text) { // copied from 2.1.3 core and then tweaked
		if (e.setSelectionRange) {
			var oldpos = e.selectionStart;
			var isRange=e.selectionEnd-e.selectionStart;
			e.value = e.value.substr(0,e.selectionStart) + text + e.value.substr(e.selectionEnd);
			e.setSelectionRange( isRange?oldpos:oldpos+text.length, oldpos+text.length);
			var linecount = e.value.split('\n').length;
			var thisline = e.value.substr(0,e.selectionStart).split('\n').length-1;
			e.scrollTop = Math.floor((thisline-e.rows/2)*e.scrollHeight/linecount);
		}
		else if (document.selection) {
			var range = document.selection.createRange();
			if (range.parentElement() == e)	{
				var isCollapsed = range.text == "";
				range.text = text;
				 if (!isCollapsed) {
					range.moveStart('character', -text.length);
					range.select();
				}
			}
		}
	}
}
//}}}

/***
|''Name:''|abego.IncludePlugin|
|''Version:''|1.0.1 (2007-04-30)|
|''Type:''|plugin|
|''Source:''|http://tiddlywiki.abego-software.de/#IncludePlugin|
|''Author:''|Udo Borkowski (ub [at] abego-software [dot] de)|
|''Documentation:''|[[IncludePlugin Documentation|http://tiddlywiki.abego-software.de/#%5B%5BIncludePlugin%20Documentation%5D%5D]]|
|''Community:''|([[del.icio.us|http://del.icio.us/post?url=http://tiddlywiki.abego-software.de/index.html%23IncludePlugin]]) ([[Support|http://groups.google.com/group/TiddlyWiki]])|
|''Copyright:''|&copy; 2007 [[abego Software|http://www.abego-software.de]]|
|''Licence:''|[[BSD open source license (abego Software)|http://www.abego-software.de/legal/apl-v10.html]]|
|''~CoreVersion:''|2.1.3|
|''Browser:''|Firefox 1.5.0.9 or better; Internet Explorer 6.0|
***/
/***
This plugin's source code is compressed (and hidden). Use this [[link|http://tiddlywiki.abego-software.de/archive/IncludePlugin/Plugin-Include-src.1.0.0.js]] to get the readable source code.
***/
///%
if(!window.abego){window.abego={};}var invokeLater=function(_1,_2,_3){return abego.invokeLater?abego.invokeLater(_1,_2,_3):setTimeout(_1,_2);};abego.loadFile=function(_4,_5,_6){var _7=function(_8,_9,_a,_b,_c){return _8?_5(_a,_b,_9):_5(undefined,_b,_9,"Error loading %0".format([_b]));};if(_4.search(/^((http(s)?)|(file)):/)!=0){if(_4.search(/^((.\:\\)|(\\\\)|(\/))/)==0){_4="file://"+_4;}else{var _d=document.location.toString();var i=_d.lastIndexOf("/");_4=_d.substr(0,i+1)+_4;}_4=_4.replace(/\\/mg,"/");}loadRemoteFile(_4,_7,_6);};abego.loadTiddlyWikiStore=function(_f,_10,_11,_12){var _13=function(_14,_15){if(_12){_12(_14,"abego.loadTiddlyWikiStore",_15,_f,_11);}};var _16=function(_17,_18){var _19=_18.indexOf(startSaveArea);var _1a=_18.indexOf("<!--POST-BODY-END--"+">");var _1b=_18.lastIndexOf(endSaveArea,_1a==-1?_18.length:_1a);if((_19==-1)||(_1b==-1)){return config.messages.invalidFileError.format([_f]);}var _1c="<html><body>"+_18.substring(_19,_1b+endSaveArea.length)+"</body></html>";var _1d=document.createElement("iframe");_1d.style.display="none";document.body.appendChild(_1d);var doc=_1d.document;if(_1d.contentDocument){doc=_1d.contentDocument;}else{if(_1d.contentWindow){doc=_1d.contentWindow.document;}}doc.open();doc.writeln(_1c);doc.close();var _1f=doc.getElementById("storeArea");_17.loadFromDiv(_1f,"store");_1d.parentNode.removeChild(_1d);return null;};var _20=function(_21){_13("Error when loading %0".format([_f]),"Failed");_10(undefined,_f,_11,_21);return _21;};var _22=function(_23){_13("Loaded %0".format([_f]),"Done");_10(_23,_f,_11);return null;};var _24=function(_25,_26,_27,_28){if(_25===undefined){_20(_28);return;}_13("Processing %0".format([_f]),"Processing");var _29=config.messages.invalidFileError;config.messages.invalidFileError="The file '%0' does not appear to be a valid TiddlyWiki file";try{var _2a=new TiddlyWiki();var _2b=_16(_2a,_25);if(_2b){_20(_2b);}else{_22(_2a);}}catch(ex){_20(exceptionText(ex));}finally{config.messages.invalidFileError=_29;}};_13("Start loading %0".format([_f]),"Started");abego.loadFile(_f,_24,_11);};(function(){if(abego.TiddlyWikiIncluder){return;}var _2c="waiting";var _2d="loading";var _2e=1000;var _2f=-200;var _30=-100;var _31=-300;var _32;var _33=[];var _34={};var _35=[];var _36;var _37=[];var _38;var _39=function(){if(_32===undefined){_32=config.options.chkUseInclude===undefined||config.options.chkUseInclude;}return _32;};var _3a=function(url){return "No include specified for %0".format([url]);};var _3c=function(){var _3d=_35;_35=[];if(_3d.length){for(var i=0;i<_37.length;i++){_37[i](_3d);}}};var _3f;var _40=function(){if(_36!==undefined){clearInterval(_36);}_3f=0;var _41=function(){abego.TiddlyWikiIncluder.sendProgress("","","Done");};_36=setInterval(function(){_3f++;if(_3f<=10){return;}clearInterval(_36);_36=undefined;abego.TiddlyWikiIncluder.sendProgress("Refreshing...","","");refreshDisplay();invokeLater(_41,0,_2f);},1);};var _42=function(_43){var _44;for(var i=0;i<_33.length;i++){var _46=abego.TiddlyWikiIncluder.getStore(_33[i]);if(_46&&(_44=_43(_46,_33[i]))){return _44;}}};var _47=function(){if(!window.store){return invokeLater(_47,100);}var _48=store.fetchTiddler;store.fetchTiddler=function(_49){var t=_48.apply(this,arguments);if(t){return t;}if(config.shadowTiddlers[_49]!==undefined){return undefined;}if(_49==config.macros.newTiddler.title){return undefined;}return _42(function(_4b,url){var t=_4b.fetchTiddler(_49);if(t){t.includeURL=url;}return t;});};if(_33.length){_40();}};var _4e=function(){if(!window.store){return invokeLater(_4e,100);}var _4f=store.getTiddlerText("IncludeList");if(_4f){wikify(_4f,document.createElement("div"));}};var _50=function(_51){var _52=function(){var _53=store.forEachTiddler;var _54=function(_55){var _56={};var _57;var _58=function(_59,_5a){if(_56[_59]){return;}_56[_59]=1;if(_57){_5a.includeURL=_57;}_55.apply(this,arguments);};_53.call(store,_58);for(var n in config.shadowTiddlers){_56[n]=1;}_56[config.macros.newTiddler.title]=1;_42(function(_5c,url){_57=url;_5c.forEachTiddler(_58);});};store.forEachTiddler=_54;try{return _51.apply(this,arguments);}finally{store.forEachTiddler=_53;}};return _52;};var _5e=function(_5f,_60){return _5f[_60]=_50(_5f[_60]);};abego.TiddlyWikiIncluder={};abego.TiddlyWikiIncluder.setProgressFunction=function(_61){_38=_61;};abego.TiddlyWikiIncluder.getProgressFunction=function(_62){return _38;};abego.TiddlyWikiIncluder.sendProgress=function(_63,_64,_65){if(_38){_38.apply(this,arguments);}};abego.TiddlyWikiIncluder.onError=function(url,_67){displayMessage("Error when including '%0':\n%1".format([url,_67]));};abego.TiddlyWikiIncluder.hasPendingIncludes=function(){for(var i=0;i<_33.length;i++){var _69=abego.TiddlyWikiIncluder.getState(_33[i]);if(_69==_2c||_69==_2d){return true;}}return false;};abego.TiddlyWikiIncluder.getIncludes=function(){return _33.slice();};abego.TiddlyWikiIncluder.getState=function(url){var s=_34[url];if(!s){return _3a(url);}return typeof s=="string"?s:null;};abego.TiddlyWikiIncluder.getStore=function(url){var s=_34[url];if(!s){return _3a(url);}return s instanceof TiddlyWiki?s:null;};abego.TiddlyWikiIncluder.include=function(url,_6f){if(!_39()||_34[url]){return;}var _70=this;_33.push(url);_34[url]=_2c;var _71=function(_72,_73,_74,_75){if(_72===undefined){_34[url]=_75;_70.onError(url,_75);return;}_34[url]=_72;_35.push(url);invokeLater(_3c);};var _76=function(){_34[url]=_2d;abego.loadTiddlyWikiStore(url,_71,null,_38);};if(_6f){invokeLater(_76,_6f);}else{_76();}};abego.TiddlyWikiIncluder.forReallyEachTiddler=function(_77){var _78=function(){store.forEachTiddler(_77);};_50(_78).call(store);};abego.TiddlyWikiIncluder.getFunctionUsingForReallyEachTiddler=_50;abego.TiddlyWikiIncluder.useForReallyEachTiddler=_5e;abego.TiddlyWikiIncluder.addListener=function(_79){_37.push(_79);};abego.TiddlyWikiIncluder.addListener(_40);if(config.options.chkUseInclude===undefined){config.options.chkUseInclude=true;}config.shadowTiddlers.AdvancedOptions+="\n<<option chkUseInclude>> Include ~TiddlyWikis (IncludeList | IncludeState | [[help|http://tiddlywiki.abego-software.de/#%5B%5BIncludePlugin%20Documentation%5D%5D]])\n^^(Reload this ~TiddlyWiki to make changes become effective)^^";config.shadowTiddlers.IncludeState="<<includeState>>";var _7a=function(e,_7c,_7d){if(!anim||!abego.ShowAnimation){e.style.display=_7c?"block":"none";return;}anim.startAnimating(new abego.ShowAnimation(e,_7c,_7d));};abego.TiddlyWikiIncluder.getDefaultProgressFunction=function(){setStylesheet(".includeProgressState{\n"+"background-color:#FFCC00;\n"+"position:absolute;\n"+"right:0.2em;\n"+"top:0.2em;\n"+"width:7em;\n"+"padding-left:0.2em;\n"+"padding-right:0.2em\n"+"}\n","abegoInclude");var _7e=function(){var e=document.createElement("div");e.className="includeProgressState";e.style.display="none";document.body.appendChild(e);return e;};var _80=_7e();var _81=function(_82){removeChildren(_80);createTiddlyText(_80,_82);_7a(_80,true,0);};var _83=function(){invokeLater(function(){_7a(_80,false,_2e);},100,_30);};var _84=function(_85,_86,_87,url,_89){if(_87=="Done"||_87=="Failed"){_83();return;}if(_86=="abego.loadTiddlyWikiStore"){_3f=0;if(_87=="Processing"){_81("Including...");}}else{_81(_85);}};return _84;};abego.TiddlyWikiIncluder.setProgressFunction(abego.TiddlyWikiIncluder.getDefaultProgressFunction());config.macros.include={};config.macros.include.handler=function(_8a,_8b,_8c,_8d,_8e,_8f){_8c=_8e.parseParams("url",null,true,false,true);var _90=parseInt(getParam(_8c,"delay","0"));var _91=_8c[0]["url"];var _92=getFlag(_8c,"hide",false);if(!_92){createTiddlyText(createTiddlyElement(_8a,"code"),_8d.source.substring(_8d.matchStart,_8d.nextMatch));}for(var i=0;_91&&i<_91.length;i++){abego.TiddlyWikiIncluder.include(_91[i],_90);}};config.macros.includeState={};config.macros.includeState.handler=function(_94,_95,_96,_97,_98,_99){var _9a=function(){var s="";var _9c=abego.TiddlyWikiIncluder.getIncludes();if(!_9c.length){return "{{noIncludes{\nNo includes or 'include' is disabled (see AdvancedOptions)\n}}}\n";}s+="|!Address|!State|\n";for(var i=0;i<_9c.length;i++){var inc=_9c[i];s+="|{{{"+inc+"}}}|";var t=abego.TiddlyWikiIncluder.getState(inc);s+=t?"{{{"+t+"}}}":"included";s+="|\n";}s+="|includeState|k\n";return s;};var _a0=function(){removeChildren(div);wikify(_9a(),div);if(abego.TiddlyWikiIncluder.hasPendingIncludes()){invokeLater(_a0,500,_31);}};var div=createTiddlyElement(_94,"div");invokeLater(_a0,0,_31);};var _a2=Tiddler.prototype.isReadOnly;Tiddler.prototype.isReadOnly=function(){return _a2.apply(this,arguments)||this.isIncluded();};Tiddler.prototype.isIncluded=function(){return this.includeURL!=undefined;};Tiddler.prototype.getIncludeURL=function(){return this.includeURL;};var _a3={getMissingLinks:1,getOrphans:1,getTags:1,reverseLookup:1,updateTiddlers:1};for(var n in _a3){_5e(TiddlyWiki.prototype,n);}var _a5=function(){if(abego.IntelliTagger){_5e(abego.IntelliTagger,"assistTagging");}};var _a6=function(){if(config.macros.forEachTiddler){_5e(config.macros.forEachTiddler,"findTiddlers");}};_47();invokeLater(_4e,100);invokeLater(_a5,100);invokeLater(_a6,100);})();
//%/

/***
|Name|InlineJavascriptPlugin|
|Source|http://www.TiddlyTools.com/#InlineJavascriptPlugin|
|Version|1.6.0|
|Author|Eric Shulman - ELS Design Studios|
|License|http://www.TiddlyTools.com/#LegalStatements <<br>>and [[Creative Commons Attribution-ShareAlike 2.5 License|http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.5/]]|
|~CoreVersion|2.1|
|Type|plugin|
|Requires||
|Overrides||
|Description|Insert Javascript executable code directly into your tiddler content.|

''Call directly into TW core utility routines, define new functions, calculate values, add dynamically-generated TiddlyWiki-formatted output'' into tiddler content, or perform any other programmatic actions each time the tiddler is rendered.
!!!!!Usage
<<<
When installed, this plugin adds new wiki syntax for surrounding tiddler content with {{{<script>}}} and {{{</script>}}} markers, so that it can be treated as embedded javascript and executed each time the tiddler is rendered.

''Deferred execution from an 'onClick' link''
By including a {{{label="..."}}} parameter in the initial {{{<script>}}} marker, the plugin will create a link to an 'onclick' script that will only be executed when that specific link is clicked, rather than running the script each time the tiddler is rendered.  You may also include a {{{title="..."}}} parameter to specify the 'tooltip' text that will appear whenever the mouse is moved over the onClick link text

''External script source files:''
You can also load javascript from an external source URL, by including a src="..." parameter in the initial {{{<script>}}} marker (e.g., {{{<script src="demo.js"></script>}}}).  This is particularly useful when incorporating third-party javascript libraries for use in custom extensions and plugins.  The 'foreign' javascript code remains isolated in a separate file that can be easily replaced whenever an updated library file becomes available.

''Display script source in tiddler output''
By including the keyword parameter "show", in the initial {{{<script>}}} marker, the plugin will include the script source code in the output that it displays in the tiddler.

''Defining javascript functions and libraries:''
Although the external javascript file is loaded while the tiddler content is being rendered, any functions it defines will not be available for use until //after// the rendering has been completed.  Thus, you cannot load a library and //immediately// use it's functions within the same tiddler.  However, once that tiddler has been loaded, the library functions can be freely used in any tiddler (even the one in which it was initially loaded).

To ensure that your javascript functions are always available when needed, you should load the libraries from a tiddler that will be rendered as soon as your TiddlyWiki document is opened.  For example, you could put your {{{<script src="..."></script>}}} syntax into a tiddler called LoadScripts, and then add {{{<<tiddler LoadScripts>>}}} in your MainMenu tiddler.

Since the MainMenu is always rendered immediately upon opening your document, the library will always be loaded before any other tiddlers that rely upon the functions it defines.  Loading an external javascript library does not produce any direct output in the tiddler, so these definitions should have no impact on the appearance of your MainMenu.

''Creating dynamic tiddler content''
An important difference between this implementation of embedded scripting and conventional embedded javascript techniques for web pages is the method used to produce output that is dynamically inserted into the document:
* In a typical web document, you use the document.write() function to output text sequences (often containing HTML tags) that are then rendered when the entire document is first loaded into the browser window.
* However, in a ~TiddlyWiki document, tiddlers (and other DOM elements) are created, deleted, and rendered "on-the-fly", so writing directly to the global 'document' object does not produce the results you want (i.e., replacing the embedded script within the tiddler content), and completely replaces the entire ~TiddlyWiki document in your browser window.
* To allow these scripts to work unmodified, the plugin automatically converts all occurences of document.write() so that the output is inserted into the tiddler content instead of replacing the entire ~TiddlyWiki document.

If your script does not use document.write() to create dynamically embedded content within a tiddler, your javascript can, as an alternative, explicitly return a text value that the plugin can then pass through the wikify() rendering engine to insert into the tiddler display.  For example, using {{{return "thistext"}}} will produce the same output as {{{document.write("thistext")}}}.

//Note: your script code is automatically 'wrapped' inside a function, {{{_out()}}}, so that any return value you provide can be correctly handled by the plugin and inserted into the tiddler.  To avoid unpredictable results (and possibly fatal execution errors), this function should never be redefined or called from ''within'' your script code.//

''Accessing the ~TiddlyWiki DOM''
The plugin provides one pre-defined variable, 'place', that is passed in to your javascript code so that it can have direct access to the containing DOM element into which the tiddler output is currently being rendered.

Access to this DOM element allows you to create scripts that can:
* vary their actions based upon the specific location in which they are embedded
* access 'tiddler-relative' information (use findContainingTiddler(place))
* perform direct DOM manipulations (when returning wikified text is not enough)
<<<
!!!!!Examples
<<<
an "alert" message box:
><script show>
	alert('InlineJavascriptPlugin: this is a demonstration message');
</script>
dynamic output:
><script show>
	return (new Date()).toString();
</script>
wikified dynamic output:
><script show>
	return "link to current user: [["+config.options.txtUserName+"]]";
</script>
dynamic output using 'place' to get size information for current tiddler:
><script show>
   if (!window.story) window.story=window;
   var title=story.findContainingTiddler(place).id.substr(7);
   return title+" is using "+store.getTiddlerText(title).length+" bytes";
</script>
creating an 'onclick' button/link that runs a script:
><script label="click here" title="clicking this link will show an 'alert' box" show>
   if (!window.story) window.story=window;
   alert("Hello World!\nlinktext='"+place.firstChild.data+"'\ntiddler='"+story.findContainingTiddler(place).id.substr(7)+"'");
</script>
loading a script from a source url:
>http://www.TiddlyTools.com/demo.js contains:
>>{{{function demo() { alert('this output is from demo(), defined in demo.js') } }}}
>>{{{alert('InlineJavascriptPlugin: demo.js has been loaded'); }}}
><script src="demo.js" show>
	return "loading demo.js..."
</script>
><script label="click to execute demo() function" show>
	demo()
</script>
<<<
!!!!!Installation
<<<
import (or copy/paste) the following tiddlers into your document:
''InlineJavascriptPlugin'' (tagged with <<tag systemConfig>>)
<<<
!!!!!Revision History
<<<
''2007.02.19 [1.6.0]'' added support for title="..." to specify mouseover tooltip when using an onclick (label="...") script
''2006.10.16 [1.5.2]'' add newline before closing '}' in 'function out_' wrapper.  Fixes error caused when last line of script is a comment.
''2006.06.01 [1.5.1]'' when calling wikify() on script return value, pass hightlightRegExp and tiddler params so macros that rely on these values can render properly
''2006.04.19 [1.5.0]'' added 'show' parameter to force display of javascript source code in tiddler output
''2006.01.05 [1.4.0]'' added support 'onclick' scripts.  When label="..." param is present, a button/link is created using the indicated label text, and the script is only executed when the button/link is clicked.  'place' value is set to match the clicked button/link element.
''2005.12.13 [1.3.1]'' when catching eval error in IE, e.description contains the error text, instead of e.toString().  Fixed error reporting so IE shows the correct response text.  Based on a suggestion by UdoBorkowski
''2005.11.09 [1.3.0]'' for 'inline' scripts (i.e., not scripts loaded with src="..."), automatically replace calls to 'document.write()' with 'place.innerHTML+=' so script output is directed into tiddler content.  Based on a suggestion by BradleyMeck
''2005.11.08 [1.2.0]'' handle loading of javascript from an external URL via src="..." syntax
''2005.11.08 [1.1.0]'' pass 'place' param into scripts to provide direct DOM access 
''2005.11.08 [1.0.0]'' initial release
<<<
!!!!!Credits
<<<
This feature was developed by EricShulman from [[ELS Design Studios|http:/www.elsdesign.com]]
<<<
!!!!!Code
***/
//{{{
version.extensions.inlineJavascript= {major: 1, minor: 6, revision: 0, date: new Date(2007,2,19)};

config.formatters.push( {
	name: "inlineJavascript",
	match: "\\<script",
	lookahead: "\\<script(?: src=\\\"((?:.|\\n)*?)\\\")?(?: label=\\\"((?:.|\\n)*?)\\\")?(?: title=\\\"((?:.|\\n)*?)\\\")?( show)?\\>((?:.|\\n)*?)\\</script\\>",

	handler: function(w) {
		var lookaheadRegExp = new RegExp(this.lookahead,"mg");
		lookaheadRegExp.lastIndex = w.matchStart;
		var lookaheadMatch = lookaheadRegExp.exec(w.source)
		if(lookaheadMatch && lookaheadMatch.index == w.matchStart) {
			if (lookaheadMatch[1]) { // load a script library
				// make script tag, set src, add to body to execute, then remove for cleanup
				var script = document.createElement("script"); script.src = lookaheadMatch[1];
				document.body.appendChild(script); document.body.removeChild(script);
			}
			if (lookaheadMatch[5]) { // there is script code
				if (lookaheadMatch[4]) // show inline script code in tiddler output
					wikify("{{{\n"+lookaheadMatch[0]+"\n}}}\n",w.output);
				if (lookaheadMatch[2]) { // create a link to an 'onclick' script
					// add a link, define click handler, save code in link (pass 'place'), set link attributes
					var link=createTiddlyElement(w.output,"a",null,"tiddlyLinkExisting",lookaheadMatch[2]);
					link.onclick=function(){try{return(eval(this.code))}catch(e){alert(e.description?e.description:e.toString())}}
					link.code="function _out(place){"+lookaheadMatch[5]+"\n};_out(this);"
					link.setAttribute("title",lookaheadMatch[3]?lookaheadMatch[3]:"");
					link.setAttribute("href","javascript:;");
					link.style.cursor="pointer";
				}
				else { // run inline script code
					var code="function _out(place){"+lookaheadMatch[5]+"\n};_out(w.output);"
					code=code.replace(/document.write\(/gi,'place.innerHTML+=(');
					try { var out = eval(code); } catch(e) { out = e.description?e.description:e.toString(); }
					if (out && out.length) wikify(out,w.output,w.highlightRegExp,w.tiddler);
				}
			}
			w.nextMatch = lookaheadMatch.index + lookaheadMatch[0].length;
		}
	}
} )
//}}}

<<gradient hori #aaaaaa #eeeeee>>{>>
[img[RRoque|./wikiImages/AutoRetrato_Serro.jpg]] [img[rss feed| ./wikiImages/rss1.gif]]| ''[[rss feed|./index.xml]]''[[ © rroque|http://www.renatoroque.com]]  [[mail_rroque|mailto:rroque@renatoroque.com]]
*[[Uma pequena explicação]]
*[[Como usar esta espécie de blog?]] 
<<gradient hori #aaaaaa #eeeeee>>}>>

/***
|''Name:''|LegacyStrikeThroughPlugin|
|''Description:''|Support for legacy (pre 2.1) strike through formatting|
|''Version:''|1.0.2|
|''Date:''|Jul 21, 2006|
|''Source:''|http://www.tiddlywiki.com/#LegacyStrikeThroughPlugin|
|''Author:''|MartinBudden (mjbudden (at) gmail (dot) com)|
|''License:''|[[BSD open source license]]|
|''CoreVersion:''|2.1.0|
***/

//{{{
// Ensure that the LegacyStrikeThrough Plugin is only installed once.
if(!version.extensions.LegacyStrikeThroughPlugin) {
version.extensions.LegacyStrikeThroughPlugin = {installed:true};

config.formatters.push(
{
	name: "legacyStrikeByChar",
	match: "==",
	termRegExp: /(==)/mg,
	element: "strike",
	handler: config.formatterHelpers.createElementAndWikify
});

} //# end of "install only once"
//}}}

config.options.chkAnimate = false;

config.numRssItems= 1;

config.options.chkHttpReadOnly = true;

readOnly = (window.location.protocol != "file:");

<!--{{{-->
<div class='header' macro='gradient vert [[ColorPalette::TitleBackground]] [[ColorPalette::TitleBackground]]'>
<div class='headerShadow'>
<span class='siteTitle' refresh='content' tiddler='SiteTitle'></span>&nbsp;
<span class='siteSubtitle' refresh='content' tiddler='SiteSubtitle'></span>
</div>
<div class='headerForeground'>
<span class='siteTitle' refresh='content' tiddler='SiteTitle'></span>&nbsp;
<span class='siteSubtitle' refresh='content' tiddler='SiteSubtitle'></span>
</div>
</div>



<!-- horizontal MainMenu -->
<div id='topMenu' refresh='content' tiddler='MainMenu'></div>
<!--original MainMenu menu-->


<div id='sidebar'>
<div id='sidebarOptions' refresh='content' tiddler='SideBarOptions'></div>
<div id='sidebarTabs' refresh='content' force='true' tiddler='SideBarTabs'></div>
</div>
<div id='displayArea'>
<div id='messageArea'></div>
<div id='tiddlerDisplay'></div>
</div>
<!--}}}-->

/***
|PageTemplate|MyPageTemplate|
|ViewTemplate|MyViewTemplate|
***/

<!--{{{-->
<div class='toolbar'><span macro='toolbar closeTiddler closeOthers +editTiddler jump'></span></div>

<div class='title' macro='view title'> </div>


<div class='subtitle'><span macro='view modifier link'></span>, (<span macro='message views.wikified.createdPrompt'></span> <span macro='view created date [[DD MMM YYYY]]'></span>)</div>

<div class='tagging' macro='tagging'></div>

<div class='viewer' macro='view text wikified'></div>

<div class='tagged' macro='tags'></div>
<div class='tagClear'></div>

<!--}}}-->

/***
|Name|NestedSlidersPlugin|
|Source|http://www.TiddlyTools.com/#NestedSlidersPlugin|
|Version|2.0.5|
|Author|Eric Shulman - ELS Design Studios|
|License|http://www.TiddlyTools.com/#LegalStatements <<br>>and [[Creative Commons Attribution-ShareAlike 2.5 License|http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.5/]]|
|~CoreVersion|2.1|
|Type|plugin|
|Requires||
|Overrides|Slider.prototype.stop|
|Description|Make any tiddler content into an expandable 'slider' panel, without needing to create a separate tiddler to contain the slider content.|

++++!!!!![Configuration]>
Enable animation for slider panels
<<option chkFloatingSlidersAnimate>> allow sliders to animate when opening/closing
>(note: This setting is in //addition// to the general option for enabling/disabling animation effects:
><<option chkAnimate>> enable animations (entire document)
>For slider animation to occur, you must also allow animation in general.

Debugging messages for 'lazy sliders' deferred rendering:
<<option chkDebugLazySliderDefer>> show debugging alert when deferring slider rendering
<<option chkDebugLazySliderRender>> show debugging alert when deferred slider is actually rendered
===
++++!!!!![Usage]>
When installed, this plugin adds new wiki syntax for embedding 'slider' panels directly into tiddler content.  Use {{{+++}}} and {{{===}}} to delimit the slider content.  You can also 'nest' these sliders as deep as you like (see complex nesting example below), so that expandable 'tree-like' hierarchical displays can be created.  This is most useful when converting existing in-line text content to create in-line annotations, footnotes, context-sensitive help, or other subordinate information displays.

Additional optional syntax elements let you specify
*default to open
*cookiename
*heading level
*floater (with optional CSS width value)
*mouse auto rollover
*custom class/label/tooltip/accesskey
*automatic blockquote
*deferred rendering
The complete syntax, using all options, is:
//{{{
++++(cookiename)!!!!!^width^*{{class{[label=key|tooltip]}}}>...
content goes here
===
//}}}
where:
* {{{+++}}} (or {{{++++}}}) and {{{===}}}^^
marks the start and end of the slider definition, respectively.  When the extra {{{+}}} is used, the slider will be open when initially displayed.^^
* {{{(cookiename)}}}^^
saves the slider opened/closed state, and restores this state whenever the slider is re-rendered.^^
* {{{!}}} through {{{!!!!!}}}^^
displays the slider label using a formatted headline (Hn) style instead of a button/link style^^
* {{{^width^}}} (or just {{{^}}})^^
makes the slider 'float' on top of other content rather than shifting that content downward.  'width' must be a valid CSS value (e.g., "30em", "180px", "50%", etc.).  If omitted, the default width is "auto" (i.e., fit to content)^^
* {{{*}}}^^
automatically opens/closes slider on "rollover" as well as when clicked^^
* {{{{{class{[label=key|tooltip]}}}}}}^^
uses custom label/tooltip/accesskey.  {{{{{class{...}}}}}}, {{{=key}}} and {{{|tooltip}}} are optional.  'class' is any valid CSS class name, used to style the slider label text.  'key' must be a ''single letter only''.  Default labels/tootips are: ">" (more) and "<" (less), with no default access key assignment.^^
* {{{">"}}} //(without the quotes)//^^
automatically adds blockquote formatting to slider content^^
* {{{"..."}}} //(without the quotes)//^^
defers rendering of closed sliders until the first time they are opened.  //Note: deferred rendering may produce unexpected results in some cases.  Use with care.//^^

//Note: to make slider definitions easier to read and recognize when editing a tiddler, newlines immediately following the {{{+++}}} 'start slider' or preceding the {{{===}}} 'end slider' sequence are automatically supressed so that excess whitespace is eliminated from the output.//
===
++++!!!!![Examples]>
simple in-line slider: 
{{{
+++
   content
===
}}}
+++
   content
===
----
use a custom label and tooltip: 
{{{
+++[label|tooltip]
   content
===
}}}
+++[label|tooltip]
   content
===
----
content automatically blockquoted: 
{{{
+++>
   content
===
}}}
+++>
   content
===
----
all options combined //(default open, cookie, heading, sized floater, rollover, class, label/tooltip/key, blockquoted, deferred)//
{{{
++++(testcookie)!!!^30em^*{{big{[label=Z|click or press Alt-Z to open]}}}>...
   content
===
}}}
++++(testcookie)!!!^30em^*{{big{[label=Z|click or press Alt-Z to open]}}}>...
   content
===
----
complex nesting example:
{{{
+++^[get info...=I|click for information or press Alt-I]
   put some general information here, plus a floating slider with more specific info:
   +++^10em^[view details...|click for details]
      put some detail here, which could include a rollover with a +++^25em^*[glossary definition]explaining technical terms===
   ===
===
}}}
+++^[get info...=I|click for information or press Alt-I]
   put some general information here, plus a floating slider with more specific info:
   +++^10em^[view details...|click for details]
      put some detail here, which could include a rollover with a +++^25em^*[glossary definition]explaining technical terms===
   ===
===
===
!!!!!Installation
<<<
import (or copy/paste) the following tiddlers into your document:
''NestedSlidersPlugin'' (tagged with <<tag systemConfig>>)
<<<
!!!!!Revision History
<<<
''2007.06.10 - 2.0.5'' add check to ensure that window.adjustSliderPanel() is defined before calling it (prevents error on shutdown when mouse event handlers are still defined)
''2007.05.31 - 2.0.4'' add handling to invoke adjustSliderPanel() for onmouseover events on slider button and panel.  This allows the panel position to be re-synced when the button position shifts due to changes in unrelated content above it on the page.  (thanks to Harsha for bug report)
''2007.03.30 - 2.0.3'' added chkFloatingSlidersAnimate (default to FALSE), so that slider animation can be disabled independent of the overall document animation setting (avoids strange rendering and focus problems in floating panels)
''2007.03.01 - 2.0.2'' for TW2.2+, hijack Morpher.prototype.stop so that "overflow:hidden" can be reset to "overflow:visible" after animation ends
''2007.03.01 - 2.0.1'' in hijack for Slider.prototype.stop, use apply() to pass params to core function
|please see [[NestedSlidersPluginHistory]] for additional revision details|
''2005.11.03 - 1.0.0'' initial public release
<<<
!!!!!Credits
<<<
This feature was implemented by EricShulman from [[ELS Design Studios|http:/www.elsdesign.com]] with initial research and suggestions from RodneyGomes, GeoffSlocock, and PaulPetterson.
<<<
!!!!!Code
***/
//{{{
version.extensions.nestedSliders = {major: 2, minor: 0, revision: 5, date: new Date(2007,6,10)};
//}}}

//{{{
// options for deferred rendering of sliders that are not initially displayed
if (config.options.chkDebugLazySliderDefer==undefined) config.options.chkDebugLazySliderDefer=false;
if (config.options.chkDebugLazySliderRender==undefined) config.options.chkDebugLazySliderRender=false;
if (config.options.chkFloatingSlidersAnimate==undefined) config.options.chkFloatingSlidersAnimate=false;

// default styles for 'floating' class
setStylesheet(".floatingPanel { position:absolute; z-index:10; padding:0.5em; margin:0em; \
	background-color:#eee; color:#000; border:1px solid #000; text-align:left; }","floatingPanelStylesheet");
//}}}

//{{{
config.formatters.push( {
	name: "nestedSliders",
	match: "\\n?\\+{3}",
	terminator: "\\s*\\={3}\\n?",
	lookahead: "\\n?\\+{3}(\\+)?(\\([^\\)]*\\))?(\\!*)?(\\^(?:[^\\^\\*\\[\\>]*\\^)?)?(\\*)?(?:\\{\\{([\\w]+[\\s\\w]*)\\{)?(\\[[^\\]]*\\])?(?:\\}{3})?(\\>)?(\\.\\.\\.)?\\s*",
	handler: function(w)
		{
			// defopen=lookaheadMatch[1]
			// cookiename=lookaheadMatch[2]
			// header=lookaheadMatch[3]
			// panelwidth=lookaheadMatch[4]
			// rollover=lookaheadMatch[5]
			// class=lookaheadMatch[6]
			// label=lookaheadMatch[7]
			// blockquote=lookaheadMatch[8]
			// deferred=lookaheadMatch[9]

			 lookaheadRegExp = new RegExp(this.lookahead,"mg");
			lookaheadRegExp.lastIndex = w.matchStart;
			var lookaheadMatch = lookaheadRegExp.exec(w.source)
			if(lookaheadMatch && lookaheadMatch.index == w.matchStart)
			{
				// location for rendering button and panel
				var place=w.output;

				// default to closed, no cookie, no accesskey
				var show="none"; var title=">"; var tooltip="show"; var cookie=""; var key="";

				// extra "+", default to open
				if (lookaheadMatch[1])
					{ show="block"; title="<"; tooltip="hide"; }

				// cookie, use saved open/closed state
				if (lookaheadMatch[2]) {
					cookie=lookaheadMatch[2].trim().slice(1,-1);
					cookie="chkSlider"+cookie;
					if (config.options[cookie]==undefined)
						{ config.options[cookie] = (show=="block") }
					if (config.options[cookie])
						{ show="block"; title="<"; tooltip="hide"; }
					else
						{ show="none"; title=">"; tooltip="show"; }
				}

				// parse custom label/tooltip/accesskey: [label=X|tooltip]
				if (lookaheadMatch[7]) {
					title = lookaheadMatch[7].trim().slice(1,-1);
					var pos=title.indexOf("|");
					if (pos!=-1) { tooltip = title.substr(pos+1,title.length); title=title.substr(0,pos); }
					if (title.substr(title.length-2,1)=="=") { key=title.substr(title.length-1,1); title=title.slice(0,-2); }
					if (pos==-1) tooltip += " "+title; // default tooltip: "show/hide <title>"
				}

				// create the button
				if (lookaheadMatch[3]) { // use "Hn" header format instead of button/link
					var lvl=(lookaheadMatch[3].length>6)?6:lookaheadMatch[3].length;
					var btn = createTiddlyElement(createTiddlyElement(place,"h"+lvl,null,null,null),"a",null,lookaheadMatch[6],title);
					btn.onclick=onClickNestedSlider;
					btn.setAttribute("href","javascript:;");
					btn.setAttribute("title",tooltip);
				}
				else
					var btn = createTiddlyButton(place,title,tooltip,onClickNestedSlider,lookaheadMatch[6]);

				// set extra button attributes
				btn.sliderCookie = cookie; // save the cookiename (if any) in the button object
				btn.defOpen=lookaheadMatch[1]!=null; // save default open/closed state (boolean)
				btn.keyparam=key; // save the access key letter ("" if none)
				if (key.length) {
					btn.setAttribute("accessKey",key); // init access key
					btn.onfocus=function(){this.setAttribute("accessKey",this.keyparam);}; // **reclaim** access key on focus
				}

				// "non-click" MouseOver opens/closes slider
				if (lookaheadMatch[5]) btn.onmouseover=onClickNestedSlider;
				// otherwise, mouseover aligns floater position with button
				else btn.onmouseover=function(event)
					{ if (window.adjustSliderPos) window.adjustSliderPos(this.parentNode,this,this.sliderPanel,this.sliderPanel.className); }

				// create slider panel
				var panelClass=lookaheadMatch[4]?"floatingPanel":"sliderPanel";
				var panel=createTiddlyElement(place,"div",null,panelClass,null);
				panel.button = btn; // so the slider panel know which button it belongs to
				panel.defaultPanelWidth=(lookaheadMatch[4] && lookaheadMatch[4].length>2)?lookaheadMatch[4].slice(1,-1):""; // save requested panel size
				btn.sliderPanel=panel;
				panel.style.display = show;
				panel.style.width=panel.defaultPanelWidth;
				panel.onmouseover=function(event) // mouseover aligns floater position with button
					{ if (window.adjustSliderPos) window.adjustSliderPos(this.parentNode,this.button,this,this.className); }

				// render slider (or defer until shown) 
				w.nextMatch = lookaheadMatch.index + lookaheadMatch[0].length;
				if ((show=="block")||!lookaheadMatch[9]) {
					// render now if panel is supposed to be shown or NOT deferred rendering
					w.subWikify(lookaheadMatch[8]?createTiddlyElement(panel,"blockquote"):panel,this.terminator);
					// align floater position with button
					if (window.adjustSliderPos) window.adjustSliderPos(place,btn,panel,panelClass);
				}
				else {
					var src = w.source.substr(w.nextMatch);
					var endpos=findMatchingDelimiter(src,"+++","===");
					panel.setAttribute("raw",src.substr(0,endpos));
					panel.setAttribute("blockquote",lookaheadMatch[8]?"true":"false");
					panel.setAttribute("rendered","false");
					w.nextMatch += endpos+3;
					if (w.source.substr(w.nextMatch,1)=="\n") w.nextMatch++;
					if (config.options.chkDebugLazySliderDefer) alert("deferred '"+title+"':\n\n"+panel.getAttribute("raw"));
				}
			}
		}
	}
)

// TBD: ignore 'quoted' delimiters (e.g., "{{{+++foo===}}}" isn't really a slider)
function findMatchingDelimiter(src,starttext,endtext) {
	var startpos = 0;
	var endpos = src.indexOf(endtext);
	// check for nested delimiters
	while (src.substring(startpos,endpos-1).indexOf(starttext)!=-1) {
		// count number of nested 'starts'
		var startcount=0;
		var temp = src.substring(startpos,endpos-1);
		var pos=temp.indexOf(starttext);
		while (pos!=-1)  { startcount++; pos=temp.indexOf(starttext,pos+starttext.length); }
		// set up to check for additional 'starts' after adjusting endpos
		startpos=endpos+endtext.length;
		// find endpos for corresponding number of matching 'ends'
		while (startcount && endpos!=-1) {
			endpos = src.indexOf(endtext,endpos+endtext.length);
			startcount--;
		}
	}
	return (endpos==-1)?src.length:endpos;
}
//}}}

//{{{
window.onClickNestedSlider=function(e)
{
	if (!e) var e = window.event;
	var theTarget = resolveTarget(e);
	var theLabel = theTarget.firstChild.data;
	var theSlider = theTarget.sliderPanel
	var isOpen = theSlider.style.display!="none";
	// if using default button labels, toggle labels
	if (theLabel==">") theTarget.firstChild.data = "<";
	else if (theLabel=="<") theTarget.firstChild.data = ">";
	// if using default tooltips, toggle tooltips
	if (theTarget.getAttribute("title")=="show")
		theTarget.setAttribute("title","hide");
	else if (theTarget.getAttribute("title")=="hide")
		theTarget.setAttribute("title","show");
	if (theTarget.getAttribute("title")=="show "+theLabel)
		theTarget.setAttribute("title","hide "+theLabel);
	else if (theTarget.getAttribute("title")=="hide "+theLabel)
		theTarget.setAttribute("title","show "+theLabel);
	// deferred rendering (if needed)
	if (theSlider.getAttribute("rendered")=="false") {
		if (config.options.chkDebugLazySliderRender)
			alert("rendering '"+theLabel+"':\n\n"+theSlider.getAttribute("raw"));
		var place=theSlider;
		if (theSlider.getAttribute("blockquote")=="true")
			place=createTiddlyElement(place,"blockquote");
		wikify(theSlider.getAttribute("raw"),place);
		theSlider.setAttribute("rendered","true");
	}
	// show/hide the slider
	if(config.options.chkAnimate && (theSlider.className!='floatingPanel' || config.options.chkFloatingSlidersAnimate))
		anim.startAnimating(new Slider(theSlider,!isOpen,e.shiftKey || e.altKey,"none"));
	else
		theSlider.style.display = isOpen ? "none" : "block";
	// reset to default width (might have been changed via plugin code)
	theSlider.style.width=theSlider.defaultPanelWidth;
	// align floater panel position with target button
	if (!isOpen && window.adjustSliderPos) window.adjustSliderPos(theSlider.parentNode,theTarget,theSlider,theSlider.className);
	// if showing panel, set focus to first 'focus-able' element in panel
	if (theSlider.style.display!="none") {
		var ctrls=theSlider.getElementsByTagName("*");
		for (var c=0; c<ctrls.length; c++) {
			var t=ctrls[c].tagName.toLowerCase();
			if ((t=="input" && ctrls[c].type!="hidden") || t=="textarea" || t=="select")
				{ ctrls[c].focus(); break; }
		}
	}
	if (this.sliderCookie && this.sliderCookie.length) {
		config.options[this.sliderCookie]=!isOpen;
		if (config.options[this.sliderCookie]!=this.defOpen)
			saveOptionCookie(this.sliderCookie);
		else { // remove cookie if slider is in default display state
			var ex=new Date(); ex.setTime(ex.getTime()-1000);
			document.cookie = this.sliderCookie+"=novalue; path=/; expires="+ex.toGMTString();
		}
	}
	return false;
}

// TW2.1 and earlier:
// hijack Slider animation handler 'stop' handler so overflow is visible after animation has completed
Slider.prototype.coreStop = Slider.prototype.stop;
Slider.prototype.stop = function()
	{ this.coreStop.apply(this,arguments); this.element.style.overflow = "visible"; }

// TW2.2+
// hijack Morpher animation handler 'stop' handler so overflow is visible after animation has completed
if (version.major+.1*version.minor+.01*version.revision>=2.2) {
	Morpher.prototype.coreStop = Morpher.prototype.stop;
	Morpher.prototype.stop = function()
		{ this.coreStop.apply(this,arguments); this.element.style.overflow = "visible"; }
}

// adjust floating panel position based on button position
if (window.adjustSliderPos==undefined) window.adjustSliderPos=function(place,btn,panel,panelClass) {
	if (panelClass=="floatingPanel") {
		var left=0;
		var top=btn.offsetHeight; 
		if (place.style.position!="relative") {
			var left=findPosX(btn);
			var top=findPosY(btn)+btn.offsetHeight;
			var p=place; while (p && p.className!='floatingPanel') p=p.parentNode;
			if (p) { left-=findPosX(p); top-=findPosY(p); }
		}
		if (findPosX(btn)+panel.offsetWidth > getWindowWidth())  // adjust position to stay inside right window edge
			left-=findPosX(btn)+panel.offsetWidth-getWindowWidth()+15; // add extra 15px 'fudge factor'
		panel.style.left=left+"px"; panel.style.top=top+"px";
	}
}

function getWindowWidth() {
	if(document.width!=undefined)
		return document.width; // moz (FF)
	if(document.documentElement && ( document.documentElement.clientWidth || document.documentElement.clientHeight ) )
		return document.documentElement.clientWidth; // IE6
	if(document.body && ( document.body.clientWidth || document.body.clientHeight ) )
		return document.body.clientWidth; // IE4
	if(window.innerWidth!=undefined)
		return window.innerWidth; // IE - general
	return 0; // unknown
}
//}}}

Objectos pousados na paisagem é uma série que apareceu naturalmente, sem ser planeada por mim, a partir do 1º objecto, na Praia da Madalena, em Março 2007

<!--{{{-->
<div class='header' macro='gradient hor[[ColorPalette::TitleBackground]] [[ColorPalette::TitleBackground]]'>
<div class='headerShadow'>
<span class='siteTitle' refresh='content' tiddler='SiteTitle'></span>&nbsp;
<span class='siteSubtitle' refresh='content' tiddler='SiteSubtitle'></span>
</div>
<div class='headerForeground'>
<span class='siteTitle' refresh='content' tiddler='SiteTitle'></span>&nbsp;
<span class='siteSubtitle' refresh='content' tiddler='SiteSubtitle'></span>
</div>
</div>


<!-- horizontal MainMenu -->
<div id='topMenu' refresh='content' tiddler='MainMenu'></div>
<!--original MainMenu menu-->

<div id='sidebar'>
<div id='sidebarOptions' refresh='content' tiddler='WebSideBarOptions'></div>
<div id='sidebarTabs' refresh='content' force='true' tiddler='WebSideBarTabs'></div>
</div>
<div id='displayArea'>
<div id='messageArea'></div>
<div id='tiddlerDisplay'></div>
</div>
<!--}}}-->

<<search>><<closeAll>><<newTiddler>><<saveChanges>><<slider chkSliderOptionsPanel OptionsPanel 'options »' 'Change TiddlyWiki advanced options'>>

renato roque [[© rroque|http://www.renatoroque.com]]

Uma espécie de blog a partir da fotografia

http://www.renatoroque.com/umaespeciedeblog

/***
|''Name:''|SparklinePlugin|
|''Description:''|Sparklines macro|
***/
//{{{
if(!version.extensions.SparklinePlugin) {
version.extensions.SparklinePlugin = {installed:true};

//--
//-- Sparklines
//--

config.macros.sparkline = {};
config.macros.sparkline.handler = function(place,macroName,params)
{
	var data = [];
	var min = 0;
	var max = 0;
	var v;
	for(var t=0; t<params.length; t++) {
		v = parseInt(params[t]);
		if(v < min)
			min = v;
		if(v > max)
			max = v;
		data.push(v);
	}
	if(data.length < 1)
		return;
	var box = createTiddlyElement(place,"span",null,"sparkline",String.fromCharCode(160));
	box.title = data.join(",");
	var w = box.offsetWidth;
	var h = box.offsetHeight;
	box.style.paddingRight = (data.length * 2 - w) + "px";
	box.style.position = "relative";
	for(var d=0; d<data.length; d++) {
		var tick = document.createElement("img");
		tick.border = 0;
		tick.className = "sparktick";
		tick.style.position = "absolute";
		tick.src = "data:image/gif,GIF89a%01%00%01%00%91%FF%00%FF%FF%FF%00%00%00%C0%C0%C0%00%00%00!%F9%04%01%00%00%02%00%2C%00%00%00%00%01%00%01%00%40%02%02T%01%00%3B";
		tick.style.left = d*2 + "px";
		tick.style.width = "2px";
		v = Math.floor(((data[d] - min)/(max-min)) * h);
		tick.style.top = (h-v) + "px";
		tick.style.height = v + "px";
		box.appendChild(tick);
	}
};


}
//}}}

.twocolumns {
   display:block;
   -moz-column-count:2;
   -moz-column-gap:1em;
   -moz-column-width:50%;
} 

.indent 
{ display:block;margin:0;padding:0;border:0;margin-left:2em; } 
.whitespace 
{ white-space: pre; } 
.left
 { display:block;text-align:left; }
.center
 { display:block;text-align:center; }
.right 
 { display:block;text-align:right; }
.justify
 { display:block;text-align:justify; }
.indent
 { margin:0;padding:0;border:0;margin-left:2em; }
.indent2
 { margin:0;padding:0;border:0;margin-left:4em; }
.floatleft
 { float:left; }
.floatright
 { float:right; }
.clear
 { clear:both; }
.wrap
 { white-space:normal; }
.nowrap
 { white-space:nowrap; }
.hidden
 { display:none; }
.span
 { display:span; }
.block
 { display:block; }

/* font sizes */
.big
 { font-size:14pt;line-height:120% }
.medium
 { font-size:12pt;line-height:120% }
.normal
 { font-size:9pt;line-height:120% }
.small
 { font-size:8pt;line-height:150% }
.fine
 { font-size:7pt;line-height:120% }
.tiny
 { font-size:6pt;line-height:120% }
.larger
 { font-size:120%; }
.smaller
 { font-size:80%; line-height:80%}

/* font styles */
.bold
 { font-weight:bold; }
.italics
 { font-style:italics; }
.underline
 { text-decoration:underline; }


/* colors */
.green { color:#6f6 !important }
.red { color:#f66 !important }
.blue { color:#99f !important }
.white { color:#fff !important }
.grey { color:#888 !important }
.black { color:#000 !important }

/*{{{*/

/* horizontal main menu */

#displayArea { margin: 1em 15.5em 0em 1em; } /* use the full horizontal width */

#topMenu 
{ 
background: [[ColorPalette::TitleBackground]]; 
color: [[ColorPalette::Title]]; 
padding: 0.2em 0.2em 0.2em 0.5em; 
border-bottom: 2px solid #000000; 
}

#topMenu br { display: none; }

#topMenu .button, #topMenu .tiddlyLink, #topMenu a 
{ 
margin-left: 0.25em; 
margin-right: 0.25em; 
padding-left: 0.5em; 
padding-right: 0.5em; 
color: [[ColorPalette::ButtonTop]]; 
font-size: 1.15em; 
}

#topMenu .button:hover, #topMenu .tiddlyLink:hover 
{ 
background: [[ColorPalette::ButtonTopOver]]; 
}

/*}}}*/


[[StyleSheetColors2]] 
[[StyleSheetLayout2]] 
[[ColorPalette2]]

/*{{{*/
body {
	background: [[ColorPalette::Background]];
	color: [[ColorPalette::Foreground]];
}

a{
		color: [[ColorPalette::Link]];
}

a:hover{
	color: [[ColorPalette::LinkOver]];
	background: [[ColorPalette::LinkOverBackground]];
	
	}

a img{
/*separador das imagens*/
	border: 0;
}


h1,h2,h3,h4,h5 {
	color: [[ColorPalette::Header]];
	background: [[ColorPalette::HeaderBackground]];
}

.button {
	color: [[ColorPalette::Button]];
	border: 1px solid [[ColorPalette::ButtonBorder]];
	background: [[ColorPalette::ButtonBackground]];
}

.button:hover {
	color: [[ColorPalette::ButtonOver]];
	background: [[ColorPalette::ButtonOverBackground]];
	border-color: [[ColorPalette::ButtonOverBorder]];

}

.button:active {
	color: [[ColorPalette::ButtonActive]];
	background: [[ColorPalette::ButtonActiveBackground]];
	border: 1px solid [[ColorPalette::ButtonActiveBorder]];
}

.header {
	background: [[ColorPalette::HeaderBackground]];
}

.headerShadow {
	color: [[ColorPalette::Foreground]];
}

.headerShadow a {
	font-weight: normal;
	color: [[ColorPalette::Foreground]];
}

.headerForeground {
	color: [[ColorPalette::Background]];
}

.headerForeground a {
	font-weight: normal;
	color: [[ColorPalette::TitleLink]];
}

.tabSelected{
	color: [[ColorPalette::TabSelected]];
	background: [[ColorPalette::TabSelectedBackground]];
	border-left: 1px solid [[ColorPalette::TabSelectedBackground]];
	border-top: 1px solid [[ColorPalette::TabSelectedBackground]];
	border-right: 1px solid [[ColorPalette::TabSelectedBackground]];
}

.tabUnselected {
	color: [[ColorPalette::TabNotSelected]];
	background: [[ColorPalette::TabNotSelectedBackground]];
}

.tabContents {
	color: [[ColorPalette::TabContent]];
	background: [[ColorPalette::TabContentBackground]];
	border: 1px solid [[ColorPalette::TabContentBorder]];
}

.tabContents .button {
	color: [[ColorPalette::TabItem]];
	background: [[ColorPalette::TabContentBackground]];
	border: [[ColorPalette::TabContentBackground]];
}

.tabContents .button:hover {
	color: [[ColorPalette::TabItemOver]];
	background: [[ColorPalette::TabItemOverBackground]];
	border-color: [[ColorPalette::TabItemOverBackground]];
}


#sidebar {
	color: [ColorPalette::SideBar]];
	background:[ColorPalette::SideBarBackground]];
}


#sidebar .button {	
/*Se quiser buttons diferentes*/
}

#sidebar .button:hover {	
}

#sidebarOptions input {
	border: 1px solid [[ColorPalette::SearchBorder]];
}

#sidebarOptions .button {	
	color: [[ColorPalette::Button]];
	border: 1px solid [[ColorPalette::ButtonBorder]];
}

#sidebarOptions .button:hover {	
	color: [[ColorPalette::ButtonOver]];
	background: [[ColorPalette::ButtonOverBackground]];
	border-color: [[ColorPalette::ButtonOverBorder]];
}


#sidebarOptions .sliderPanel {
	background: [[ColorPalette::SideOptionsBackground]];
	color: [[ColorPalette::SideOptions]];
}

#sidebarOptions .sliderPanel a {
	border: none;	
	color: [[ColorPalette::Link]];
}

#sidebarOptions .sliderPanel a:hover {
	color: [[ColorPalette::LinkOver]];
	background: [[ColorPalette::LinkOverBackground]]
}

#sidebarOptions .sliderPanel a:active {
	
}


#messageArea {
	border: 1px solid [[ColorPalette::MessageBorder]];
	background: [[ColorPalette::MessageBackground]];
	color: [[ColorPalette::Message]];
}

#messageArea .button {
	padding: 0.2em 0.2em 0.2em 0.2em;
	color: [[ColorPalette::Button]];
	background: [[ColorPalette::ButtonBackground]];
}

.popup {
/* para a lista de tiddlers de cada tag*/
	
	background: [[ColorPalette::SecondTableBackground]];
	color: [[ColorPalette::SecondTable]];
	border: 1px solid [[ColorPalette::SecondTableBorder]];
}

.popup hr {
	color: [[ColorPalette::PrimaryDark]];
	background: [[ColorPalette::PrimaryDark]];
	border-bottom: 1px;
}

.listBreak div{
	border-bottom: 1px solid [[ColorPalette::PrimaryDark]];
}

.popup li.disabled {
	color: [[ColorPalette::PrimaryMid]];
}

.popup li a, .popup li a:visited {
	border: none;
	color: [[ColorPalette::SecondTableItem]];
}

.popup li a:hover {
	background: [[ColorPalette::SecondTableItemOverBackground]];
	color: [[ColorPalette::SecondTableItemOver]];
	border: none;
}

.tiddler .defaultCommand {
 font-weight: bold;
}

.shadow .title {
	color: [[ColorPalette::TertiaryDark]];
}

.title {
	color: [[ColorPalette::TiddlerTitle]];
}

.subtitle {
	color: [[ColorPalette::TiddlerSubTitle]];

}

.toolbar {
	color: [[ColorPalette::InputBorder]];
}

.tagging, .tagged {
	border: 1px solid [[ColorPalette::TagBackground]];
	background: [[ColorPalette::TagBackground]];
	color: [[ColorPalette::Tag2]];
}

.selected .tagging, .selected .tagged {
	background: [[ColorPalette::TagBackground2]];
	border: 1px solid [[ColorPalette::TagBackground2]];
	color: [[ColorPalette::Tag2]];
}

.tagging .listTitle, .tagged .listTitle {
/*cabecalho de tags*/
	color: [[ColorPalette::Foreground]];
}

.tagging .button, .tagged .button {
	color: [[ColorPalette::Tag]];
	background: [[ColorPalette::TagBackground]];
	border: none;
}

.tagging .button:hover,  .tagged .button:hover{	
	color: [[ColorPalette::ButtonOver]];
	background: [[ColorPalette::ButtonOverBackground]];
	border-color: [[ColorPalette::ButtonOverBorder]];
}


.footer {
	color: [[ColorPalette::TertiaryLight]];
}

.selected .footer {
	color: [[ColorPalette::TertiaryMid]];
}

.sparkline {
	background: [[ColorPalette::PrimaryPale]];
	border: 0;
}

.sparktick {
	background: [[ColorPalette::PrimaryDark]];
}

.error, .errorButton {
	color: [[ColorPalette::Foreground]];
	background: [[ColorPalette::Error]];
}

.warning {
	color: [[ColorPalette::Foreground]];
	background: [[ColorPalette::SecondaryPale]];
}

.cascade {
	background: [[ColorPalette::TabContentBackground]];
	color: [[ColorPalette::TabContent]];
	border: 1px solid [[ColorPalette::TabContentBorder]];
}

.imageLink, #displayArea .imageLink {
	background: transparent;
}

.viewer .listTitle {list-style-type: none; margin-left: -2em;}

.viewer .button {
	border: 1px solid [[ColorPalette::SecondaryMid]];
}

.viewer blockquote {
	border-left: 3px solid [[ColorPalette::TertiaryDark]];
}

.viewer table {
	/*tabelas dentro de um tiddler*/
	border: 1px solid [[ColorPalette::TiddlerTableBorder]];
}

.viewer th, thead td {
	background: [[ColorPalette::SecondaryMid]];
	border: 2px solid [[ColorPalette::TiddlerTableBorder]];
	color: [[ColorPalette::Background]];
}

.viewer td, .viewer tr {
	/*Linhas das tabelas nos tiddlers*/
	border: 2px solid [[ColorPalette::TiddlerTableBorder]];
}

.viewer pre {
	border: 1px solid [[ColorPalette::SecondaryLight]];
	background: [[ColorPalette::SecondaryPale]];
}

.viewer code {
	color: [[ColorPalette::SecondaryDark]];
}

.viewer hr {
	border: 0;
	border-top: dashed 1px [[ColorPalette::TertiaryDark]];
	color: [[ColorPalette::TertiaryDark]];
}

.highlight, .marked {
	background: [[ColorPalette::SecondaryLight]];
}

.editor input {
	border: 1px solid [[ColorPalette::InputBorder]];
}

.editor textarea {
	border: 1px solid [[ColorPalette::InputBorder]];
	width: 100%;
}

.editorFooter {
	color: [[ColorPalette::InputBorder]];
}

/*}}}*/

/*{{{*/
* html .tiddler {
    height: 1%;
}

body {
	font-size: .75em;
	/*font-family: arial,helvetica;*/
	font-family: verdana,helvetica;
	margin: 0;
	padding: 0;
}

h1,h2,h3,h4,h5 {
	font-weight: bold;
	text-decoration: none;
	padding-left: 0.4em;
}

h1 {font-size: 1.35em;}
h2 {font-size: 1.25em;}
h3 {font-size: 1.1em;}
h4 {font-size: 1em;}
h5 {font-size: .9em;}

.viewer h4 
{
	font-size: 8pt;
	text-indent: +20px;
        font-weight: normal;
}



#mainMenu {
	position: absolute;
	left: 0em;
	width: 10px;	line-height: 166%;
	padding: 1.5em 0.5em 0.5em 0.5em;
	font-size: 10pt;		
        text-align: right;
}

#sidebar {
	position: absolute;
	right: 0em;		
        width: 160px;
	font-size: 8pt;
}

#sidebarOptions {
	padding-top: 0.3em;
}

#sidebarOptions a {
	margin: 0em 0.2em;
	padding: 0.2em 0.3em;
	display: block;
}

#sidebarOptions input {
	margin: 0.4em 0.5em;
}

#sidebarOptions .sliderPanel {
	margin-left: 1em;
	padding: 0.5em;
	font-size: .85em;
}

#sidebarOptions .sliderPanel a {
	font-weight: bold;
	display: inline;
	padding: 0;
}

#sidebarOptions .sliderPanel input {
	margin: 0 0 .3em 0;
}

#sidebarTabs .tabContents {
	width: 140px;
	overflow: hidden;
}

.tagging {
margin: 0.5em 0.5em 0.5em 0;
float: left;
display: none;
}

.isTag .tagging {
display: block;
}

.tagged {
margin: 0.5em;
/*float: right;*/
float:left !important; /*left-aligned with the tiddler content*/

/*You may also want to change or eliminate the background for the .tagged area*/
/*background:transparent !important; border:0 !important; */

}

/*eliminate the 'newlines' between tag values, so that they all appear on a single line instead of one-per-line (note: if you have a LOT of tags, they may still wrap onto additional lines if the line gets wider than the tiddler display area) */

.tagged li { display:inline; }


.tagging, .tagged {
font-size: 0.9em;
padding: 0.25em;
}

.tagging ul, .tagged ul {
list-style: none;margin: 0.25em;
padding: 0;
}

.tagClear {
clear: both;
}
/*}}}*/

/***
|Name|SwitchThemePlugin|
|Source|http://www.TiddlyTools.com/#SwitchThemePlugin|
|Documentation|http://www.TiddlyTools.com/#SwitchThemePluginInfo|
|Version|5.1.3|
|Author|Eric Shulman - ELS Design Studios|
|License|http://www.TiddlyTools.com/#LegalStatements <br>and [[Creative Commons Attribution-ShareAlike 2.5 License|http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.5/]]|
|~CoreVersion|2.3|
|Type|plugin|
|Requires||
|Overrides|Story.prototype.switchTheme |
|Description|Select alternative TiddlyWiki template/stylesheet 'themes' from a droplist|
!!!!!Usage
>see [[SwitchThemePluginInfo]]
!!!!!Example
>{{{<<switchTheme width:auto>>}}}
><<switchTheme width:auto>>
>{{{<<randomTheme>>}}}
><<randomTheme>>
!!!!!Revision History
<<<
2008.02.01 [5.1.3] in response to a change for core ticket #435 (see http://trac.tiddlywiki.org/changeset/3450) -- in switchTheme, use config.refresherData.* values (if defined), instead of config.refreshers.*  This change allows the plugin to work with both the current release (TW2.3.0) AND the upcoming release.
2008.02.01 [5.1.2] in switchTheme, replace hard-coded "StyleSheet" with config.refreshers.stylesheet (used as name of loaded styles)
2008.01.30 [5.1.1] changed tag-detection to use "systemTheme" instead of "theme" for compatibility with core theme switching mechanism.
2008.01.26 [5.1.0] added support for txtTheme="*" (applies random theme at startup) and {{{<<randomTheme>>}}} macro (selects/applies a random theme when a command link is clicked)
2008.01.25 [5.0.1] in refresh() and set(), removed use of ">" to indicate current theme 
2008.01.22 [5.0.0] Completely re-written and renamed from [[SelectStylesheetPlugin]] (now retired)
>//previous history for [[SelectStylesheetPlugin]] omitted//
2005.07.20 [1.0.0] Initial Release
<<<
!!!!!Code
***/
//{{{
version.extensions.switchTheme = {major: 5, minor: 1, revision: 3, date: new Date(2008,2,1)};

// define macro rendering handler
config.macros.switchTheme = {
	handler: function(place,macroName,params) {
		setStylesheet(".switchTheme {width:100%;font-size:8pt;margin:0em}","switchThemePlugin");
		if (params[0] && (params[0].substr(0,6)=="width:"))	var width=(params.shift()).substr(6);
		if (params[0] && (params[0].substr(0,6)=="label:"))	var label=(params.shift()).substr(6);
		if (params[0] && (params[0].substr(0,7)=="prompt:"))	var prompt=(params.shift()).substr(7);
		if (params[0] && params[0].trim().length) // create a link that sets a specific theme
			createTiddlyButton(place,label?label:params[0],prompt?prompt:params[0],
				function(){ config.macros.switchTheme.set(params[0]); return false;});
		else { // create a select list of available themes
			var theList=createTiddlyElement(place,"select",null,"switchTheme",null);
			theList.size=1;
			if (width) theList.style.width=width;
			theList.onchange=function() { config.macros.switchTheme.set(this.value); return true; };
			this.refresh(theList);
		}
	},
	refresh: function(list) {
		var indent = String.fromCharCode(160)+String.fromCharCode(160);
		while(list.length > 0){list.options[0]=null;} // clear list
		list.options[list.length] = new Option("select a theme:","",true,true);
		list.options[list.length] = new Option(indent+"[default]","StyleSheet");
		list.options[list.length] = new Option(indent+"[random]","*");
		var themes=store.getTaggedTiddlers("systemTheme");
		for (var i=0; i<themes.length; i++) if (themes[i].title!="StyleSheet")
			list.options[list.length]=new Option(indent+themes[i].title,themes[i].title);
		// show current selection
		for (var t=0; t<list.options.length; t++)
			if (list.options[t].value==config.options.txtTheme)
				{ list.selectedIndex=t; break; }
	},
	set: function(theme) {
		if (!theme||!theme.trim().length) return;
		if (theme=="[default]") theme="StyleSheet";
		if (theme=="[random]") theme="*";
		story.switchTheme(theme);
		// sync all theme droplists
		var elems=document.getElementsByTagName("select");
		var lists=[]; for (var i=0; i<elems.length; i++)
			if (hasClass(elems[i],"switchTheme")) lists.push(elems[i]);
		for (var k=0; k<lists.length; k++)
			for (var t=0; t<lists[k].options.length; t++)
				if (lists[k].options[t].value==theme)
					{ lists[k].selectedIndex=t; break; }
		return;
	}
}
//}}}

//{{{
config.macros.randomTheme = {
	label: "randomize",
	tooltip: "select another theme at random",
	handler: function(place,macroName,params) {
		createTiddlyButton(place,this.label,this.tooltip,this.set);
	},
	set: function() {
		var themes=store.getTaggedTiddlers("systemTheme"); if (!themes.length) return false;
		var which=Math.floor(Math.random()*themes.length);
		while (themes[which].title==config.options.txtTheme||themes[which].isTagged("noRandom"))
			which=Math.floor(Math.random()*themes.length);
		config.macros.switchTheme.set(themes[which].title);
		return false;
	}
}
//}}}

//{{{
// OVERRIDE CORE FUNCTION: story.switchTheme()
// * If templates have not changed, only refresh CSS.   Prevent re-rendering of content unless needed.
// * if (readOnly), use Web* template slice definitions (when present)
Story.prototype.switchTheme = function(theme)
{
	if(safeMode) 
		return;
		
	isAvailable = function(title) { 
		var s = title ? title.indexOf(config.textPrimitives.sectionSeparator) : -1; 
		if(s!=-1) 
			title = title.substr(0,s); 
		return store.tiddlerExists(title) || store.isShadowTiddler(title); 
 	};

	getSlice = function(theme,slice) {
		if (readOnly) var r = store.getTiddlerSlice(theme,'Web'+slice); //ELS
		var r = r || store.getTiddlerSlice(theme,slice); // ELS
		if(r && r.indexOf(config.textPrimitives.sectionSeparator)==0)
			r = theme + r;
		return isAvailable(r) ? r : slice;
	};

	replaceNotification = function(i,name,newName) {
		if(name==newName)
			return name;
		if(store.namedNotifications[i].name == name) {
			store.namedNotifications[i].name = newName;
			return newName;
		}
		return name;
	};

	// ELS: select a random theme (excluding themes tagged with "noRandom")
	var randomize=theme=="*";
	if (randomize) { 
		var themes=store.getTaggedTiddlers("systemTheme");
		var which=Math.floor(Math.random()*themes.length);
		while (themes[which].isTagged("noRandom"))
			which=Math.floor(Math.random()*themes.length);
		theme=themes[which].title;
	}

	// remember current templates
	var pt=config.refresherData?config.refresherData.pageTemplate:config.refreshers.pageTemplate; //ELS
	var vt=config.tiddlerTemplates[DEFAULT_VIEW_TEMPLATE]; //ELS
	var et=config.tiddlerTemplates[DEFAULT_EDIT_TEMPLATE] //ELS

	for(var i=0; i<config.notifyTiddlers.length; i++) {
		var name = config.notifyTiddlers[i].name;
		switch(name) {
		case "PageTemplate":
			config.refreshers.pageTemplate = replaceNotification(i,config.refreshers.pageTemplate,getSlice(theme,name));
			break;
		case "StyleSheet":
			removeStyleSheet(config.refresherData?config.refresherData.styleSheet:config.refreshers.styleSheet);
			config.refreshers.styleSheet = replaceNotification(i,config.refreshers.styleSheet,getSlice(theme,name));
			break;
		case "ColorPalette":
			config.refreshers.colorPalette = replaceNotification(i,config.refreshers.colorPalette,getSlice(theme,name));
			break;
		default:
			break;
		}
	}
	config.tiddlerTemplates[DEFAULT_VIEW_TEMPLATE] = getSlice(theme,"ViewTemplate");
	config.tiddlerTemplates[DEFAULT_EDIT_TEMPLATE] = getSlice(theme,"EditTemplate");

	// check to see if templates have changed
	var switchTemplate=((config.refresherData?config.refresherData.pageTemplate:config.refreshers.pageTemplate)!=pt) //ELS
		||(config.tiddlerTemplates[DEFAULT_VIEW_TEMPLATE]!=vt) //ELS
		||(config.tiddlerTemplates[DEFAULT_EDIT_TEMPLATE]!=et); //ELS

	var ss=config.refresherData?config.refresherData.styleSheet:config.refreshers.styleSheet;
	if(!window.startingUp) {
		if (switchTemplate) { refreshAll(); story.refreshAllTiddlers(true); }
		else setStylesheet(store.getRecursiveTiddlerText(ss,"",10),ss);
		config.options.txtTheme=randomize?"*":theme;
		saveOptionCookie("txtTheme");
	}
};
//}}}

||line 1 <br> line2|
{{green big underline center{teste}}}

([[2007-06 - Eu não sou fotojornalista]])

''INDENTATION'' - várias soluções

&#160;Apples 
&#160;&#160;Bananas 
&#160;&#160;&#160;Peaches 
&#160;&#160;&#160;&#160;Watermellon 

{{whitespace{ 
    Apples 
       bananas 
          Peaches 
             Watermelon 

}}} 

one 
{{indent{two 
{{indent{three 
{{indent{four}}}}}}}}} 

{{twocolumns{
aSDAs
asddd
asdadasd
asdadadsads
adadasd
adad
sadasd
asdasdasdADSadsiyu
kjlkjj
hjhj
rrr
yoo
ljçljlçj
çll
lkoioii
lk
}}}

<<list shadowed>>

<<allTags>>

<<gradient vert #ffff99#ffff99>>//Vou falar-lhes de um Reino Maravilhoso. Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade, e o coração, depois, não hesite.
...
- Entre!
A gente entra, e já está no Reino maravilhoso.//

^^ //Miguel Torga//^^>>

A aquisição de uma máquina digital (uma pequena Canon IXUS 40), no final de 2004, possibilitou-me a abordagem da fotografia sobre um ponto de vista de um registo mais frequente de imagens. Ainda que sem regras, sem disciplina, em suma sempre que me apetece fazê-lo.

Isto deu lugar ao envio relativamente frequente de emails aos amigos, relatando algumas das experiências imagéticas vividas por mim. Mais uma vez sem regras, sem disciplina, sem obrigações. Estes mails são de conteúdo muito diversificado, desde umas fotografias simples da praia de Matosinhos, de que gostei por alguma razão, até por exemplo uma brincadeira-séria como num dos primeiros tiddlers  "[[Onde está o Wally|./index_2005_2006.htm]]?" usando uma imagem manipulada de uma exposição na Culturgest, que me permitiu relançar a discussão sobre a Arte Contemporânea.

Devido à tendência natural de enviar mails com cada vez mais Megabytes, muito pesados para acessos mais lentos, resolvi criar uma página no site para permitir aos meus amigos o acesso a estes registos, sem terem de receber esses mails enormes.

Decidi experimentar uma ferramenta do tipo Wiki, chamada ~TiddlyWiki, por me parecer que possibilita uma navegação simples e agradável numa página deste tipo. 

[[Como usar esta espécie de blog?]]


[[© rroque|http://www.gesto-coop-cultural.pt/rroque/renato.htm]] [[mail_rroque|mailto:rroque@renatoroque.com]]

<!--{{{-->
<div class='toolbar' macro='toolbar closeTiddler closeOthers jump'></div>
<div class='title' macro='view title'></div>

<div class='subtitle'> <span macro='view created date [[DD MMM YYYY]]'></span></div>

<div class='tagging' macro='tagging'></div>
<div class='viewer' macro='view text wikified'></div>

<div class='tagged' macro='tags'></div>
<div class='tagClear'></div>

<!--}}}-->

<<search>><<closeAll>>

<<tabs txtMainTab 'Todos tiddlers' 'All tiddlers' TabAll Tags 'All tags' WebTabTags>>

@@color(#000000):@@''LISTA DE TAGS''
datas  - ord.cronológica
outras - ord.alfabética
----
<<tag ----
<<tag 2010-12>>
<<tag 2010-11>>
<<tag 2010-10>>
<<tag 2010-09>>
<<tag 2010-08>>
<<tag 2010-07>>
<<tag 2010-06>>
<<tag 2010-05>>
<<tag 2010-04>>
<<tag 2010-03>>
<<tag 2010-02>>
<<tag 2010-01>>
----
<<tag 2009-12>>
<<tag 2009-11>>
<<tag 2009-10>>
<<tag 2009-09>>
<<tag 2009-08>>
<<tag 2009-07>>
<<tag 2009-06>>
<<tag 2009-05>>
<<tag 2009-04>>
<<tag 2009-03>>
<<tag 2009-02>>
<<tag 2009-01>>
----
<<tag 2008-12>>
<<tag 2008-11>>
<<tag 2008-10>>
<<tag 2008-09>>
<<tag 2008-08>>
<<tag 2008-07>>
<<tag 2008-06>>
<<tag 2008-05>>
<<tag 2008-04>>
<<tag 2008-03>>
<<tag 2008-02>>
<<tag 2008-01>>
----
<<tag 2007-12>>
<<tag 2007-11>>
<<tag 2007-10>>
<<tag 2007-09>>
<<tag 2007-08>>
<<tag 2007-07>>
<<tag 2007-06>>
<<tag 2007-05>>
<<tag 2007-04>>
<<tag 2007-03>>
<<tag 2007-02>>
<<tag 2007-01>>
----
<<tag 2006-12>>
<<tag 2006-11>>
<<tag 2006-10>>
<<tag 2006-09>>
<<tag 2006-08>>
<<tag 2006-07>>
<<tag 2006-06>>
<<tag 2006-05>>
<<tag 2006-04>>
<<tag 2006-03>>
<<tag 2006-02>>
<<tag 2006-01>>
----
<<tag 2005-12>>
<<tag 2005-11>>
<<tag 2005-10>>
<<tag 2005-09>>
<<tag 2005-08>>
<<tag 2005-07>>
<<tag 2005-06>>
<<tag 2005-05>>
<<tag 2005-04>>
----
<<tag 12pm>> 
<<tag Alendouro>> 
<<tag Arte>> 
<<tag Auto-retrato>>
<<tag Azul>> 
<<tag Bicicleta>>
<<tag Castanheiros>> 
<<tag CPF>> 
<<tag Cumplescritas>> 
<<tag Douro>> 
<<tag EspantaOQuê>> 
<<tag Europa>> 
<<tag Figueira>> 
<<tag Fumo>> 
<<tag Girassóis>> 
<<tag Histórias>>
<<tag Hollywood>>
<<tag Homenagem>>
<<tag Ideias>>
<<tag Informação>> 
<<tag JSB>> 
<<tag Mar>>
<<tag Natal>>
<<tag Noite>>
<<tag Objectos>>
<<tag Poesia>> 
<<tag Serralves>> 
<<tag Tempête>> 
<<tag Tese>>
<<tag TRRS>> 
<<tag ValeArmeiro>>

[[Renato Roque|http://www.renatoroque.com]] nasceu no Porto há muitos anos. Não se lembra! Dizem-lhe que era uma segunda-feira e fazia sol. Apesar de céptico por natureza, acredita. 

É engenheiro de Telecomunicações da FEUP. Por vezes esquece. 

Nos anos 80 descobriu que era possível contar histórias com a fotografia.

Desde os anos oitenta que participa em projectos de [[Fotografia |http://www.renatoroque.com/rroque/curFot.html]], projectos de [[Escrita |http://www.renatoroque.com/rroque/curEsc.html]]e outros projectos culturais. 

[[mail_rroque|mailto:rroque@renatoroque.com]]

<<switchTheme width:nnn>>