A desforra de Joseph Beuys

Era ele ! Aquele chapéu não me deixava enganar. Chamava as pessoas para junto do taipal. Fazia pequenas vénias e levantava um pouco o chapéu da cabeça. Rodopiava. À medida que as pessoas se aproximavam lançava um sorriso irónico que ficava a flutuar no ar. Por vezes parecia que ia estalar uma gargalhada, mas era só aquele sorriso de gozo. Levantava então a mão, como que a proteger os olhos da luz do projector e poder ver as pessoas que tinha seduzido, e desenhava corpos de mulher, cavalos e pássaros nas tábuas em madeira. Mas os pássaros não lhe saíam bem. Era obrigado a deixá-los levantar voo. Chamou o Jorge de Sousa Braga que ia a passar por ali para o ajudar a distrair o pássaro enquanto o desenhava. O Jorge recitou um poema e o pássaro sossegou. Eu, fascinado, esqueci-me da vernissage

Renato Roque